quarta-feira, 31 de janeiro de 2007

Isto faz-me lembrar uma história

Excerto imperdível de uma entrevista a Gordon Brown - que pode ser lida na íntegra no site da Fabian Society -, onde relata um diálogo ocorrido num encontro entre Ronald Reagan e Olaf Palme:

'You know, there’s this great story, of Olaf Palme going to see Ronald Reagan in America, and Olaf Palme was the great Swedish social democratic Prime Minister, leading the campaigns against poverty and inequality, and he went to see Ronald Reagan in the White House. Before he saw Ronald Reagan, Reagan turned to his advisors, and he said, ‘Isn’t this man a Communist?’ And Ronald Reagan’s advisors said, 'No, Mr President, he’s an Anti-Communist'. And Ronald Reagan said, 'I don’t care what kind of Communist he is'.
But Ronald Reagan asked Olaf Palme, ‘What do you really believe? Do you believe in abolishing the rich?’ And he said, ‘No, I believe in abolishing the poor.’

Alguém tem um par de meias a mais?

É que o Presidente do Banco Mundial, Paul Wolfowitz, está a precisar. Haja solidariedade.

Imagens retiradas do News Blog do The Guardian.

Continua...

Debate sobre política de educação e seus derivados continua um pouco mais abaixo.

Finalmente

Já conseguimos introduzir o cabeçalho.
Obrigado Zèd!

terça-feira, 30 de janeiro de 2007

Aborto e história oral

Está por fazer uma história social do aborto no Portugal contemporâneo, antes e depois do 25 de Abril de 1974. Essa história só poderá ser feita com recurso à história oral.
Sábado passado, à entrada do mercado de Benfica, numa acção de campanha pelo Sim no Referendo, ouvi algumas ‘confidências’ que me tocaram profundamente. Por momentos, antevi o desespero de mulheres trabalhadoras, sem recursos económicos nem acesso a meios contraceptivos, cujos maridos não aceitavam um «não», que, para conseguirem sustentar os filhos que já tinham, praticaram abortos sucessivos. À falta de dinheiro para irem a uma ‘curiosa’, induziam o aborto, recorrendo a métodos caseiros, com enorme risco para a própria vida. Nesses casos, o aborto foi o espaço (possível, íntimo e sofrido) de liberdade para mulheres, em tudo o resto, subjugadas ao poder discricionário dos homens. «Nós só dizemos se quisermos! Nem o marido, nem o padre, nem o juiz, ninguém consegue saber.» «Filha, o que se passa dentro de nós, é connosco»: duas falas de mulheres com mais de sessenta anos, quando lhes estendi o folheto do Movimento Cidadania e Responsabilidade pelo Sim e expliquei que era informação a favor da despenalização do aborto, por opção da mulher, até às 10 semanas, em estabelecimento de saúde autorizado.
Por defeito de vocação, parece-me urgente que os cientistas sociais portugueses se dediquem ao estudo desta temática e de outras correlativas (por exemplo, as relações de género, a sexualidade, a condição da mulher), numa perspectiva histórica. Faz falta um grande projecto de investigação multidisciplinar sobre a história do aborto em Portugal no século XX; faz falta uma recolha séria e vasta de testemunhos orais de mulheres portuguesas de diferentes origens sociais, de diferentes regiões do país, de diferentes posicionamentos políticos e credos religiosos que recorreram ao aborto nalgum momento das suas vidas.
Entre as reservas que muitos investigadores colocam à história oral destaca-se a carga subjectiva dos testemunhos. Ora esse óbice poderia ser uma mais-valia num estudo sobre o aborto, onde estão em causa vivências e emoções. As fontes documentais escritas, produzidas por entidades públicas como os Tribunais, a Polícia, os Hospitais, podem ajudar a compreender uma parte do objecto de estudo. Porém, apenas a história oral poderá introduzir-nos na história do aborto do lado do vivido na primeira pessoa.
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Imagem: Paula Rego, s/ título [série sobre o Aborto], 1997-1999.

Teorias da evolução

Por estes dias, saiu nos jornais uma notícia extraordinária: foi descoberta uma mulher que esteve perdida na selva cambodjana durante 19 anos! Claro que o seu processo educativo já foi iniciado e, segundo os jornais, «a selvagem» (também segundo os jornais, neste caso o Correio da Manhã de 29.01), já diz «papá» e «mamã» ou «dói-me».
Imagino que daqui a três meses, ela possa dizer «a mula comeu a papoila», «o hipópotamo foi à horta», ou até «a menina deu a nota ao anão». No que diz respeito a fazer amigos, terá alguma dificuldade, porque os nomes, geralmente, apresentados nos manuais do 1º ano ficam-se por Quinito, que comprou um quilo de queijo; Veiga, que toca viola; Viviana que ouve o Veiga e finalmente Zélia que viu doze vezes o filme do Zorro.
Com tal linguarejar não prevejo nada de bom para Rochom Phoeung, assim se chama a aluna que, ainda para mais, tem por hábito esperar que todos adormeçam para gatinhar nua, em busca da saída da cabana. Seria, talvez mais útil ensinar-lhe, «Ó chefe, tira-me um fino» ou «orienta aí um cigarro».
Espero que a RTP2 possa incluir brevemente o desenrolar de tão apaixonante caso à hora dos documentários. Já estamos um bocadinho cansados do homem da palafita e da vida sexual das centopeias.

Um passo em frente, dois passos atrás

O cardeal patriarca, D. José Policarpo, considera que a educação sexual "é bem-vinda e necessária", mas para ser "verdadeira" tem que ser feita na "perspectiva da castidade".

P.S. 1 - Agora é só aguardar pela caricatura do Ricardo Araújo Pereira.

P.S. 2 - Num certo sentido, eu também acho que a "educação sexual" é uma perda de tempo: afinal, é muitíssimo provável que os alunos saibam bastante mais que os professores. É um bocado como criar uma cadeira chamada "educação para jogar playstation".

A grande conspiração anti-capitalista...

...continua.

Ora por uma vez estamos de acordo

"O que há de insuportável neste debate [sobre o aborto] é a hipocrisia com que se defende a vida e se ignora a realidade social, o sofrimento, a discriminação."

Teresa de Sousa, PÚBLICO, 30-01-2007

Já que estamos nesta onda..

As informed in our last weekly bulletin, the Department of Spanish and Portuguese at theAs informed in our last weekly bulletin, the Department of Spanish and Portuguese at the University of Cambridge has proposed the closure of Portuguese in the Tripos of Modern and Medieval Languages, and this proposal has been approved by the Faculty of Modern and Medieval Languages.You can protest against this decision by: 1-) Signing an online petition on http://www.petitiononline.com/acportCU/petition.html 2-) Joining the facebook groups http://cambridge.facebook.com/group.php?gid=2230772080 and http://cambridge.facebook.com/group.php?gid=2232343980. 3-) Writing to the Vice-Chancellor, expressing your views on the proposed closure of Portuguese at Cambridge: Prof. Alison Richard, Vice-Chancellor, University of Cambridge, The Old Schools, Cambridge CB2 1TT E-mail:v-c@admin.cam.ac.ukYou may use the following text:Esteemed Prof. RichardI am writing in much dismay and in protest about the news of the closure of the Portuguese tripos within the Department of Spanish and Portuguese at the University of Cambridge.As you know Portuguese in Cambridge is a thriving and growing subject. It is vigorous in terms of research and publications and its undergraduate student numbers have grown exponentially by 500-600% in the last ten years.Prior to the arrival of the current Lecturer (Reader) in Portuguese there had never been a postgraduate (Ph.D.) student in Portuguese in Cambridge.At present, one third of the Ph.D. students in the Department of Spanish and Portuguese are working in a Portuguese area. Past postgraduates all now hold academic posts either in Russell Group universities or in major universities in the USA. Not only is it the fifth most spoken language in the world, it is a language spoken by many students and lecturers that study and teach at Cambridge.Portuguese has been twice singled out for praise by University Reviews of the Faculty of Modern and Medieval Languages, and it is officially regarded by the Faculty and by the University as one of its success stories. It has thrived under conditions of chronic understaffing, difficulties regarding severe illness of staff and overwork. It is growing in student applications and it is fully research active. Furthermore, I am informed that the Portuguese tripos receives funding from Instituto Camões, a portuguese foundation that is dedicate to promote the Portuguese language around the world. It is hard to comprehend how the tripos is closing due to funding issues when having this informationThis proposal was initiated not by the University but by the Head and Deputy head of the Department of Spanish and Portuguese, under no pressure and at no suggestion from either the University or the Faculty of Modern and Medieval Languages. I find it very hard to believe that there are any reasons why this course should be ended after the points exposed above.I hope you can please reconsider this decision and maintain the Portuguese tripos as it will, with no doubt, become even more vigorous than it is already.CAMBRIDGE UNIVERSITY PORTUGUESE SPEAKERS SOCIETYVisit our web-page at http://www.cam.ac.uk/societies/cuport/Send queries or requests to , and this proposal has been approved by the Faculty of Modern and Medieval Languages.

Por um serviço público saudável e escrutinado

É possível uma instituição da sociedade civil receber património e fundos do Estado e ao mesmo tempo degradar a qualidade dos estabelecimentos de ensino que herdou despedindo vários funcionários, à revelia dos pais representados numa associação? É, em Portugal é. Trata-se da Fundação D. Pedro IV e o caso é muito grave, além de inaceitável.
Não se percebe como as entidades públicas (no caso, a Inspecção da Segurança Social) não respondem às queixas dos pais e não intervêm nesta questão, impedindo que um serviço público suportado pelo Estado seja deteriorado sem nexo.
Há um apelo na Internet daquela Associação de Pais. Mais detalhes no RamdomBlog02.

segunda-feira, 29 de janeiro de 2007

And here we go again...

Nem tudo o que brilha é ouro ou escrever direito por linhas tortas

A minha primeira posta não poderia ser outra coisa para além de um delírio científico. Não é só hoje que os há, pelo contrário eles abundam na história. A alquimia, conhecimento impulsionador de uma racionalização da ciência, busca o domínio completo das matérias dos cosmos: tudo é transformável desde que se saiba a fórmula certa. Foi na busca destas fórmulas que o experimentalismo metódico e crítico foi desenvolvido durante o século XV– que elementos formam a raiz do ouro, que elementos combinar para ‘construir’ ouro. Como dominar o universo.







O ouro nunca foi construído, mas este movimento marcou a intelligentsia Europeia tal como as representações da alquimia e do alquimista, da ciência e do cientista.
Entre admiração, empenho, medo e fascínio o conhecimento tem um custo social que na maioria das vezes não origina o resultado pretendido.
O Alquimista, homem poderoso, de letras e números, ordena o seu aprendiz fórmulas que revolucionarão o mundo enquanto camponeses sacrificam o seu tempo, os seus filhos e os seus bens. Em pano de fundo, vê-se o futuro: a delapidação de bens não originou ouro, apenas a misericórdia pode agora salvar aqueles cujos bens foram alienados. O que não se vê é um Newton ou um Einstein, um laboratório de microbiologia ou a ascensão das ciências sociais. O conhecimento tem um custo, como avalia-lo? Como construir realistas modelos/politicas de desenvolvimento científico que se adeqúem a um pais no canto esquerdo da Europa?

Onde andaram hoje cerca de 11 mil pessoas?

Hoje fui à missa. Não sou católica. Sou totalmente agnóstica, o que talvez faça de mim uma agnóstica não praticante e uma não católica praticante (?) enfim.. The least said the soonest mended. Vamos ao que interessa: No final da celebração, uma entusiasta menina do coro (que por acaso era um grande "coiro") resolveu falar à assembleia, esfuziante de alegria, porque a marcha pela vida tinha tido a participação de 20 mil pessoas, entre as quais milhares de casais vindos de Espanha, França, etc.. Imediatamente abandonei a igreja e acendi um cigarro. Cheguei a casa e vi no público online: "Movimentos pelo “não” reúnem oito mil a nove mil apoiantes em marcha em Lisboa". Uma diferença de , pelo menos, 11 mil pessoas é obra! Eu não me fio nas sondagens do Público, mas ainda menos na sondagem do "coiro". 20 mil pessoas?!? Que diabo! Espero que estivessem mais de 20 mil pessoas ontem a ver O Glorioso no estádio do Restelo!

domingo, 28 de janeiro de 2007

Ode aos Sapos

Conheci, quando andava pelo Alentejo a brincar aos antropólogos, um poeta popular que também era presidente da junta e que também era desagradável. Um tipo chato, chamado Heitor, cuja existência desmente o paternalismo do pessoal cultivado em relação aos poetas populares. Mas isto vem a propósito do pequeno lugar de Sapos, já não muito longe da fronteira com Espanha e onde consta fazer-se o melhor pão alentejano num raio de alguns quilómetros. Ora, o poeta Heitor dedicou um pequeno poema à localidade de Sapos. Como a poesia popular anda mal representada na blogosfera, e apesar do autor ser um bajulador insuportável, e do livro, vá lá, ter um desinteresse relativo, cá fica. Rima, e tudo.

Sapos

Entre o verde renasceste
com cheiro a gado a pastar
água boa de fartar
quase do nada cresceste
Bonitas casas recebestes
gente boa cativastes
nos Sapos é um prazer
seus momentos de lazer
novo Alentejo criaste

A dimensão oculta

A propósito da discussão à volta de um post anterior, parece-me que convém salientar alguns pontos essenciais sobre as divisões da esquerda. Na verdade, perante a mobilização em torno de um programa comum, a esquerda parece que acaba sempre por se desmembrar no apoio a uma série de candidaturas e de figuras políticas. Esta situação não é específica de França. Por exemplo, nas últimas eleições presidenciais realizadas em Portugal verificou-se algo de semelhante. A direita conseguiu unificar-se em torno de um candidato, enquanto a esquerda se dividiu em quatro candidaturas, duas das quais oriundas do mesmo partido. Esta irracionalidade teve como consequência a vitória da direita logo na 1ª volta. Ainda não se reflectiu o suficiente sobre as causas destas divisões, mas estou plenamente convencido de que se as eleições se repetissem hoje elas voltariam a suceder.
O que leva a esquerda a não se entender e a não conseguir mobilizar-se em nome de programas e de candidatos únicos? Não tenho uma resposta clara, mas acho que esta reincidência passa por uma incapacidade em definir um mínimo denominador comum capaz de congregar diferentes posições. Este facto não se deve a um excesso de ideologia que esmiúça a discussão e o debate, mas a um deficit de pragmatismo incapaz de concretizar numa efectiva estratégia de mobilização e de congregação de interesses. Como é que se justifica que um partido como o CDS não tenha dificuldade em apoiar um candidato presidencial que se intitula social-democrata, enquanto o PS nem sequer consegue avançar com um candidato único?
Na verdade, perante a perspectiva de obtenção de resultados eleitorais a direita consegue pôr de lado as diferenças e realçar as aproximações. Fá-lo, não por ser mais pobre de ideologia, mas porque se esforça por anular as divisões em nome de um programa comum. Curiosamente, a esquerda que comunga de uma visão mais colectivizante da sociedade, deixa-se esfumar por idiossincrasias individuais e egoístas sempre que tenta empreender uma aliança entre partidos e programas. E falha quase sempre! Entra-se numa toada esquizofrénica em que as pequenas rivalidades parecem valer mais do que as grandes vitórias. É um fenómeno estranho, que provavelmente só pode ser verdadeiramente descodificado à luz da 5ª dimensão.

Sobre o trabalho


N°179 Février 2007 (5,50 €)
"Travail : je t'aime, je te hais"
La plupart des salariés aiment leur travail et en même temps ils trouvent beaucoup de raison de s’en plaindre. Les statistiques montrent une augmentation des maladies professionnelles et du stress chez les actifs. Si le travail reste une valeur précieuse pour l’autonomie financière et le statut qu’il confère, il suscite bien des sentiments ambivalents.

Entre o Céu e a Terra


«There are more things in heaven and earth,
Than are dreamt of in your philosophy.»
[Hamlet, Acto 1, Cena 5]

Começa, amanhã, uma série de conferências na Culturgest sobre as três religiões do Livro: judaísmo, islamismo e cristianismo que me parece interessante acompanhar.
Temos assistido a uma tentativa cada vez maior de compreensão dos fenómenos religiosos, talvez sinal dos tempos inseguros (será?), mas que em todo o caso, possibilita uma mais vasta compreensão do mundo.

Ainda, neste contexto, e lá mais para a frente, a 8 de Fevereiro, no cinema Nimas, vai estrear o documentário de Philip Gröning que ganhou o Prémio de Melhor Documentário Europeu, O grande silêncio, belíssima incursão na vida dos monges da Cartuxa.

sábado, 27 de janeiro de 2007

Escolhe o teu esquerdista preferido

O meu primeiro post aqui no Peão vai ser sobre as eleições presidenciais em França (e palpita-me que não vai ser o último sobre o tema).
Há cinco anos Jean-Marie Le Pen conseguiu passar à segunda volta da eleições, ultrapassando Lionel Jospin. Apesar de gozar de uma boa imagem Jospin viu os votos da esquerda distribuídos por uma miríade de candidatos (o que não desresponsabiliza Jospin e p PSF da derrota). Este ano parece que o eleitorado "aprendeu" a lição e mais que provavelmente a candidata do PS, Ségolène Royal, vai beneficiar do voto útil, as sondagens apontam para mais de 30% à primeira volta, o que seria o dobro de Jospin em 2002.
A questão é de saber se os partidos à esquerda do PS "aprenderam" também alguma coisa, e quer-me parecer que não. A esquerda alternativa (quero dizer alternativa ao PSF) encontra-se num beco sem saída, se se verificarem as previsões das sondagens serão os grandes prejudicados pelo voto útil, se não for o caso arriscam-se a levar de novo a extrema-direita à segunda volta. A solução seria uma candidatura unitária que permitisse uma convergência dos vários partidos e movimentos de esquerda, que até já se vem desenhando desde o movimento anti-globalização. Seria uma excelente ocasião para o aparecimento de um novo movimento político à esquerda, com possiblidades de ter um expressão importante. Mas não foi o que aconteceu.
Alguns simplesmente apoiam Ségolène Royal, como Christiane Taubira (Parti Radical de Gauche), deputada guianesa que em 2002 ganhou muitos votos das Antilhas, e Nicolas Hulot apresentador de televisão ecologista que seria a figura mediática para uma candidatura dos "Verdes". No resto repete-se mais ou menos o cenário de 2002. Arlette Laguiller (Lute Ouvirère) decidiu candidatar-se pela sexta (!) vez às presidenciais, esteve desde início fora de qualquer possibilidade de convergência. O Partido Comunista (PCF) ainda tentou fazer crer que estaria interessado numa candidatura unitária. Foi lançada uma iniciativa conjunta com outros partidos e colectividades da sociedade civil para encontrar um candidato comum, fixou-se que seria um candidato de consenso e não eleito por simples maioria. O PCF recuperou os maus hábitos de comunistas, enviou militantes para as colectividades para tentar influenciar a escolha do candidato e forçou a mão. O PCF nunca esteve interessado numa candidatura conjunta, simplesmente quis aproveitar o movimento em benefício da sua própria candidatura, a de Marie-George Buffet. Nem quando viu que essa estratégia estava condenada desistiu, o resultado foi um estrondoso falhanço da candidatura unitária. Além de Buffet, que avançou sozinha, resultou deste falhanço também a candidatura Olivier Besancenot (Ligue Comuniste Révolutionaire), a candidatura dos Verdes, e muito provavelmente de José Bové. Pelos Verdes, com a retirada de Nicolas Hulot apresenta-se Dominique Voynet. José Bové, inicialmente tinha posto de parte uma candidatura por não ser consensual, mas neste cenário vai seguramente avançar. E espero não me ter esquecido de ninguém...
O que me incomoda nesta fragmentação é que uma esquerda que ser diz defensora de valores como a solidariedade e a tolerância não consiga viver com a diversidade. Vendo bem, todos estes candidatos se diferenciam muito pouco em termos do programa político, para o eleitor torna-se uma questão quase pessoal escolher entre um deles. Ainda assim, para mais sabendo que avançam para o suicídio político, continuam.
Mesmo sem acompanhar muito a cena política fora de Portugal e França, parece-me que não há muitos exemplos, se é que há de todo, de convergência entre a esquerdas alternativas como o Bloco de Esquerda em Portugal. Nitidamente o resultado é mais do que a soma das partes, mas é um exemplo que ninguém parece seguir, e em França está bem patente que não vai acontecer tão cedo.

Porque nunca é demais recordar o Holocausto...


Um conjunto de artigos sobre o Holocausto e a repressão nazifascista está disponível desde agora no nosso lado b. Para mais informação sobre a iniciativa da ONU e sobre os centros de documentação específicos vd. aqui.
Nb: na imagem, o acesso ferroviário ao campo de concentração de Birkenau (extraída daqui).

sexta-feira, 26 de janeiro de 2007

Vaga de frio


«Reunidos no meu quarto, fumávamos, enquanto conversávamos sobre as más condições em que nos encontrávamos. Más, sob o ponto de vista da saúde, está claro.»

Nesta semana, em que um elevado número da população activa entrou de baixa, e os que ficaram a trabalhar se sentiram bastante isolados, tenho-me lembrado do livro de Jerome K. Jerome, Três homens num barco, ou pelo menos do seu hilariante e hipocondríaco começo (sim, porque aqueles que ficaram a trabalhar, também desejavam estar de baixa e começaram a experimentar sintomas de viroses várias).

A história é simples: três amigos decidem fazer uma viagem de barco por Inglaterra como remédio para os males de que padecem. O próprio autor realizou, na segunda metade do séc. XIX, essa viagem, que ficou como um grande relato cómico da literatura inglesa.

É, portanto, leitura adequada aos tempos, os doentes podem rever-se nas enfermidades destes homens, ou ficarem até mais doentes - «Lembro-me de ter ido um dia ao Museu Britânico, para colher umas informações sobre o tratamento de ligeira indisposição de que me queixava... [...] Saí de lá dobrado ao meio, todo curvado. Era um farrapo miserável.» - os ainda saudáveis, podem ficar a imaginar três portugueses, grandes ou pequenos, a viajar pelo país. Que meio de transporte escolheriam? De que falariam (para além das doenças, claro está)?

Em ambos os casos, aqui deixo o site da Cotovia, que reeditou o livro, depois de uma antiga publicação Unibolso/Bertrand. www.livroscotovia.pt

Em audição*


Dustin O'Halloran,
Piano Solos Vol.2


*Rubrica desavergonhadamente copiada daqui.

quinta-feira, 25 de janeiro de 2007

A gente de Lisboa

Deu-se um passo não sei para onde. Para bem? para mal? O futuro o dirá. Com a camada nova, educada no sport e na admiração pelos ases, lá se vão os parlamentos, os discursos, os homens pomposos e decorativos. O humanismo deu à costa - e com ele certa graça, certa sensibilidade, que nos fazia melhor a vida.
Raul Brandão
(Memórias- tomo III, Relógio D'Água, 2000, p.133)

Nb: imagem do fotógrafo Alberto Carlos Lima (AFML).

quarta-feira, 24 de janeiro de 2007

A Eva não traiu o Peão

Mas...


Morreu um dos decanos historiadores lusos


O historiador e catedrático A. H. de Oliveira Marques faleceu ontem à noite, noticiou a LUSA esta madrugada.
Oliveira Marques foi um historiador singular, que conciliou as grandes sínteses da História de Portugal com distintas monografias, como as que redigiu sobre a Idade Média, a Maçonaria ou a I República. Era um estudioso polifacetado e curioso, atento tanto aos grandes temas como a temas ditos menores mas igualmente enriquecedores duma cultura humanista. Aí se inserem os seus
estudos sobre a filatelia, a alimentação e o quotidiano na Idade Média ou este maravilhoso sobre os gatos domésticos na História. Uma amostra do seu contributo para o relevante debate sobre o significado da crise de 1383-85 pode ler-se aqui.
A sua marca fez-se sentir também na universidade: docente na FLUL até ser expulso por Salazar (crise académica de 1962), leccionou depois nos EUA e ajudou a erigir a FCSH da UNL. Foi ainda director da BNL e dirigente maçon do Grande Oriente Lusitano. Mais informações sobre a sua vida e obra
aqui.

É pró menino e prá menina!


Está fart@ de chegar a casa e de ver tudo na mesma? De não poder fazer uma loucura, porque @ cônjuge só quer roncar, a mãe acharia mal ou @ vizinh@ sentir-se-ia incomodad@? Alivie-se, os maus tempos acabaram! Agora chegou a “lâmpada muda-cor”!! Sim, a “lâmpada muda-cor”, que produz uma “atmosfera simultaneamente dinâmica e relaxante”!!! Fim aos abat-jours duma só cor, viva a alegria em casa! E a poupança que isto é, já viu? Deixará de ter que comprar novos candeeiros, de ter que ir àquelas lojas de decoração a que você só ia porque era obrigad@...
Se, mesmo assim, o/a seu/sua parceir@ for daquele(a)s insaciáveis, que prefere outras partes da casa, então, dê-lhe com um ambiente especial como só você sabe, uma “luz mágica” que–
nem vai acreditar quando lhe disser– “
dispõe de rosca fêmea e de dois adaptadores com rosca macho de medidas diferentes”. Uau! Que polivalência! Que potencialidades! Então, de que está à espera? Corra, antes que esgote…
PS: quem conseguir encontrar aqui um "decote" diga-me s.f.f.. Eu não consegui e até vejo bem.

terça-feira, 23 de janeiro de 2007

Dende Galicia. Sen Estatuto de nación.

Dende a primeira coalición electoral do goberno tripartito catalán – aló polo outono de 2003 – a reforma dos Estatutos de Autonomía pasou a ser un tema central da axenda política en España. Tamén en Galicia, onde diversos proxectos e rascuños de reforma estatutaria, presentados polo Bloque Nacionalista Galego – BNG – e polo Partido Socialista de Galicia – PSdG – PSOE – viron a luz. Pola súa parte, o daquela gobernante Partido Popular (PP) amosou un claro desinterese polo asunto e mesmo fechou as portas ós primeiros pasos da reforma lexislativa.

As disputadísmas eleccións autonómicas de xuño de 2005 (37 deputados o PP, 25 o PSdG e 13 o BNG) mudaron de vez o panorama político galego e deron lugar a unha nova maioría, PSdG – BNG, tras dezaséis anos ininterrompidos de goberno da dereita na persoa de Manuel Fraga. O novo Estatuto pasou a ser un tema central no debate político galaico, aínda que, a diferencia do que aconteceu en Cataluña, sen ocupar por completo a vida pública e sen ocultar a acción de goberno ou moitos outros debates políticos de relevancia (política forestal e incendios, política urbanística...) .

Despois de ano e medio de tiras e afrouxas, de intensas negociacións no seo da ponencia parlamentaria do Estatuto, de entrevistas persoais entre os líderes das tres forzas políticas galegas, o pasado mércores 17 de xaneiro chegouse a un desenlace, do que aínda non sabemos se será só unha “parada técnica” ou un bloqueo a longo prazo. Os tres líderes políticos galegos (o socialista E. Pérez Touriño – presidente da Xunta de Galicia - o nacionalista Anxo Quintana e o “popular” Alberto Núñez Feijoo) foron incapaces de acadar un acordo na xa denominada como “Xuntanza do Monte Pío”, a residencia oficial do presidente da Xunta de Galicia. Os tres, aparte de botarse as culpas reciprocamente (en especial os socios de goberno ó PP e viceversa) só coincidiron na terminoloxía futbolística empregada para xustificar o fracaso das negociacións: “non puido ser” en troques do que tería sido máis axeitado: “fumos incapaces”.

¿Cáles son os principais puntos de desencontro, de polémica, xenerados polo novo proxecto de Estatuto? En principio, poderían reducirse a catro ou cinco: o financiamento, os investimentos do Estado en Galicia nos vindeiros dez anos, a reforma da Lei Electoral, o status da lingua galega e a definición identitaria de Galicia no preámbulo desta nova Lei Orgánica do Estado que sería o novo Estatuto.

As diferencias en financiamento e en investimentos infraestructurais parecen salvables. Os tres grupos están de acordo en que o Estado español deberá investir en Galicia en torno a un 8% dos seus orzamentos nos vindeiros dez anos, en especial para correxir os nosos déficits infraestructurais. Tamén é factible un acordo en canto á porcentaxe que ingresará a facenda galega en concepto de IVE e doutros impostos indirectos. A reforma da Lei Electoral semella un escollo máis difícil de salvar, no que as proxeccións demográficas e as súas consecuencias políticas xogan un papel determinante. A idea é que o Estatuto fixe, por consenso, a representatividade proporcional (en deputados) de cada provincia e, deste xeito, non se poida (como até de agora) modificar a lei pola vía das maiorías parlamentarias. A actual coalición de goberno (PSdG – BNG) pretende reducir, seguindo criterios de proporcionalidade demográfica na representación política, o peso electoral das dúas provincias do interior (Lugo e Ourense), dende hai medio século en caída libre en canto ó seu peso demográfico e dinamismo económico, e fortemente avellentadas. Nas dúas, o PP é o claro dominador da escea política. Os populares opóñense, xa que logo, a unha reforma da lei neste sentido (polo demais, na miña opinión, bastante razoable) e pretenden fixar no novo Estatuto que as modificacións futuras da lei electoral galega só se poidan realizar polo acordo dos 3/5 do parlamento. É dicir, queren contar con posibilidade de veto.

Nembargantes, o núcleo das desavinzas entre o goberno de coalición e o PP e, nalgunhas ocasións, entre os dous socios de goberno (PSdG – BNG), estivo na definición identitaria de Galicia. O artigo primeiro do proxecto de Estatuto que se negociou definía a Galicia como unha “nacionalidade histórica” que, no marco da constitución española, se constitúe en Comunidade Autónoma. Aquí non houbo problema. As dificultades chegaron no texto do preámbulo. O PP non acepta, de ningún xeito, a posibilidade de que Galicia poida ser conceptuada como nación, e propuxo “alternativas” para a súa definición como: “Rexión histórica do mundo occidental” (que para min ten un non sei que de reminiscencias da linguaxe franquista) ou, como máximo, estaría disposto a recoñecer que, certos galegos – os nacionalistas – representan en Galicia a “manifestación dun sentimento nacional”. O BNG, pola súa banda, partindo de posicións maximalistas e, en principio, irrenunciables, dada a súa propia natureza ideolóxica, non aceptaba unha rebaixa do termo “nación”, aínda que, a responsabilidade de formar parte do goberno e a necesidade de chegar a un acordo fíxoo ir cedendo nas súas pretensións. Por fin, o PSdG, un partido que non é nacionalista (a diferencia do seu homónimo catalán) pero que goberna en coalición cos nacionalistas galegos e se move no marco de reforma territorial pulada polo propio J.L. Rodríguez Zapatero, viuse obrigado a facer permanentes equilibros e decantouse por fórmulas indirectas como “nazón de Breogán” (recollida no himno oficial) ou outras semellantes.

A proposta definitiva do presidente da Xunta, Emilio Pérez Touriño, na xuntanza do pasado mércores foi, interpretando á actual Lei de Símbolos de Galicia (aprobada en 1984 por unanimidade do parlamento), definir a Galicia como “fogar e nación común de tódolos galegos”. Semella que o BNG tería aceptado esta definición. O PP non o fixo alegando que o desexo de que Galicia sexa recoñecida legalmente como nación é tan só unha manifestación das pretensión do BNG (que conta cun 20% dos votos no parlamento), e asegurando que eles non poderían traicionar ós seus 750.000 votantes para os que, eles así os interpretan, nin Galicia é unha nación nin unha parte moi importante dos galegos (os que lles votan) queren que o sexa. O argumento podería parecer razoable e, dende logo, é politicamente impecable.

Estas intepretacións diverxentes explicarían que o proxecto de novo Estatuto esté agora na nevera. Pero hai outras razóns máis de fondo que explican a situación actual. En primeiro lugar, o clima de fortísima crispación política que se vive en España, cunha liorta permanente e sen respiro entre oposición e goberno, que xira en torno do modelo e das prácticas da política antiterrorista do goberno de Rodríguez Zapatero. En segundo lugar, penso que o líder da oposición en Galicia, A. Núñez Feijoo, xogou a empregar a negociación do Estatuto como un posible mecanismo de desgaste do goberno galego, tratando de forzar un acordo estatutario PP – PSdG que deixara á marxe ós nacionalistas galegos e fixese, como colofón, saltar polos aires ó goberno de coalición entre socialistas e nacionalistas. En conclusión, a diferencia das sensación que o líder “popular” transmitía nos comezos do proceso (a vontade de acadar a un acordo) dá a impresión de que chegou á derradeira etapa negociadora sen ningunha intención de lograr un texto consensuado que, por outra parte, temía que puidese ser capitalizado politicamente pola coalición de goberno.
¿Cales son as perspectivas de futuro do novo Estatuto? ¿Está definitivamente morto e haberá que empezar de cero, como di o BNG, ou estamos, como manifestan dende o “PP”, no “descanso do partido”?

Semella que haberá novos episodios. Ou iso agardamos da responsabilidade dos nosos políticos (alomenos por unha vez). Galicia non se pode permitir quedar á marxe do proceso. Cataluña, Andalucía, Valencia, Baleares, Aragón… ou xa teñen aprobado polas Cortes do Estado o seu Estatuto ou están en vías de telo. Que se retomen as negociacións vai depender dos propios acontecementos políticos, tanto en Galicia como no conxunto de España. En maio haberá eleccións municipais. Servirán como o primeiro test serio para saber se o goberno de coalición se consolida en Galicia e o PP perde posicións ou se, pola contra, Núñez Feijoo é quen de manter a presenza institucional – nos concellos e nas Deputacións provinciais – que o PP tiña con Fraga. Por outra banda, a evolución da negociación vai depender, en boa medida, do que o Tribunal Constitucional determine respecto da “constitucionalidade” ou non da definición de Cataluña como nación que se inclúe no preámbulo do Estatuto catalán (xa aprobado polo parlamento español e refrendado en referendo en Cataluña polos cidadáns). Por último, está a situación política estatal, que tan só se clarexará despois das vindeiras eleccións xerais (previstas para 2008). O resultado que obteñan nelas o PP e Mariano Rajoy, inclinará a posición negociadora de Núñez Feijoo en Galicia ou cara a intransixencia e o afastamento da reforma estatutaria ou cara a busca dun consenso co goberno de coalición da Xunta. As vindeiras eleccións autonómicas están previstas para 2009.

En conclusión, penso que o fracaso do proceso supón que se deixou pasar unha boa oportunidade, porque, unha vez máis, a “racionalidade” política primou os intereses partidarios (en especial no caso do PP) sobre a posibilidade de acadar un acordo de todos que puidera ser, tamén, bo para todos, e que puxera a Galicia no lugar que, na miña opinión, debe ocupar dentro do noso Estado plurinacional. A nosa constitución define a Galicia, xunto con Cataluña e o País Vasco, como unha das tres “nacionalidades históricas”. Con tódolos respectos para os murcianos ou os riojanos, Galicia, polas súas especificidades culturais, lingüísticas e mesmo históricas, non é Murcia ou La Rioja, o que non implica que estas comunidades teñan tamén os seus “feitos diferenciais”. En todo caso e, para min, máis importante aínda que a definición identitaria como nación, o futuro Estatuto de Autonomía de Galicia debe estar o nivel (de dereitos, de competencias, de investimentos estatais, de recursos financieiros...) que marca aquel Estatuto de Autonomía que se pode considerar como “de máximos”, é dicir, o de Cataluña. A responsabilidade está nas mans dos nosos representantes políticos, sí, pero tamén de nós, os galegos, como cidadáns con dereito a reclamar dereitos.

Livre acesso ao saber

A 1.ª série de ferramentas do saber em linha realizada pelos peões está já disponível no Peão, lado b. Trata-se dos posts:
A ilustração ao lado é a capa do último n.º da New Left Review (ou NLR para os amigos), uma revista que tentou conciliar o lado académico com o lado teórico, doutrinário e divulgador. E consta da tal lista de 51 revistas em livre acesso. No tal post... do lado b.
Absolutamente a não perder!

segunda-feira, 22 de janeiro de 2007

Um fim inglório...

para o "Blairismo"?

domingo, 21 de janeiro de 2007

Eu voto SIM

No próximo referendo, os eleitores portugueses serão chamados a responder à pergunta:

"Concorda com a despenalização da interrupção voluntária da gravidez, se realizada, por opção da mulher, nas primeiras 10 semanas, em estabelecimento de saúde legalmente autorizado?"
Eu respondo SIM, porque:
1) defendo que todas as mulheres têm o direito de escolher o seu projecto de vida;
2) defendo uma maternidade desejada e responsável;
3) defendo que a opção da mulher pela IVG se faça em segurança médica e dentro da legalidade;
4) defendo que o Estado não deve perseguir e condenar nenhuma mulher por ter abortado nas primeiras 10 semanas de gravidez.
Partilho os valores da liberdade, da igualdade e da solidariedade. Quero viver num Estado republicano, democrático, secular e laico, e numa sociedade livre, aberta, solidária, inclusiva e justa.
Lamento que largos sectores da Igreja católica se afanem a limitar o livre arbítrio dos crentes e que estes se deixem manipular e aterrorizar. Revolta-me que queiram mandar na consciência dos não crentes, julgar as suas opções, impor-lhes um modelo de vida sexual e familiar. Sempre o medo e a culpa…
Encaro o sexo e a sexualidade como algo saudável, lúdico, bonito e fundamental na vida das pessoas. Importa garantir a educação sexual nas escolas e o planeamento familiar nos centros de saúde.
Todas as crianças merecem ser criadas com amor e têm direito a uma vida condigna.

sábado, 20 de janeiro de 2007

Recordando o Morgado

Transcrevo esta relíquia que recebi por email:

Agora que temos novo referendo sobre a IVG aqui fica o poema de Natália Correia para recordarmos.
«O acto sexual é para ter filhos» - disse na Assembleia da República, no dia 3 de Abril de 1982, o então deputado do CDS João Morgado num debate sobre a legalização do aborto. A resposta de Natália Correia, em poema - publicado depois pelo Diário de Lisboa em 5 de Abril desse ano - fez rir todas as bancadas parlamentares, sem excepção, tendo os trabalhos parlamentares sido interrompidos por isso:
Já que o coito - diz Morgado -
tem como fim cristalino,
preciso e imaculado
fazer menina ou menino;

e cada vez que o varão
sexual petisco manduca,
temos na procriação
prova de que houve truca-truca.

Sendo pai só de um rebento,
lógica é a conclusão de
que o viril instrumento
só usou - parca ração! - uma vez.
E se a função faz o órgão - diz o ditado -
consumada essa excepção,
ficou capado o Morgado.

( Natália Correia - 3 de Abril de 1982 )

sexta-feira, 19 de janeiro de 2007

Debates do Diplô, n.º 2 (agenda)

A renovada edição portuguesa do Le Monde Diplomatique organiza hoje o seu 2.º debate, sobre a IVG, tendo os seguintes participantes:

quinta-feira, 18 de janeiro de 2007

Comentários para quê?

Notícia da LUSA de hoje:
"Empresas públicas pagaram mais de 5 milhões de indemnizações a gestores
Lisboa, 18 Jan (Lusa) - Dez empresas públicas pagaram 5,137 milhões de euros de indemnizações a gestores que cessaram funções antes do fim do mandato, entre 2003 e 2006, revela uma auditoria hoje divulgada pelo Tribunal de Contas."
Registo: 18-01-2007 15:48:00. Fonte LUSA. Notícia SIR-8679252.

quarta-feira, 17 de janeiro de 2007

Leituras em tempo de campanha


Life's Dominion: An Argument About Abortion, Euthanasia and Individual Freedom (Vintage Books, 1994)

terça-feira, 16 de janeiro de 2007

And the Oscar goes to...

Nem o Miguel Soares, com mais de 15 anos disto, conseguiu chegar tão longe. É obra!

domingo, 14 de janeiro de 2007

A direita repugnante

O projecto liberal da direita é fundamentalmente de natureza económica. Neste sentido, ao apregoar-se a desregulação de todo o tipo de proteccionismos transforma-se o Estado no alvo principal de contestação. No entender da direita liberal, a liberdade individual só se concretiza plenamente por intermédio de um mercado livre despido das amarras perversas do Estado social. Tendo por base uma lógica meramente racionalista, a direita tende a confiar no indivíduo como um agente que toma a opção acertada perante a oferta e a procura. Por feitiços de uma tal 'mão invisível' as opções individuais são encaradas como o garante necessário para a auto-regulação do mercado.
Contudo, perante os valores, os indivíduos deixam de merecer a mesma confiança. Passa-se a não reconhecer as suas opções como uma tomada de posição consciente e eminentemente racional. Curiosamente, na questão dos valores, o Estado é encarado como um agente regulador que define as regras do jogo independentemente das vontades particulares. Assim, para a direita o primado da liberdade individual é uma concepção fundamentalmente materialista. Fora da mercadoria o indivíduo é reduzido a uma entidade irracional, imatura e destituída de senso. Esta postura de desconfiança relativamente ao direito da opção individual tem determinado, ao longo destas décadas, a posição da direita na campanha pelo ‘não’ à despenalização da interrupção voluntária da gravidez.
No entanto, na presente campanha assistimos uma novidade: a utilização do argumento materialista para legitimar o voto contra. A opção em não aceitar a liberdade do outro é justificada pelo direito em não pagar a assistência médica de quem escolheu abortar. O acto de abortar é assim transformado numa mercadoria que se rege em função das mesmas leis mercantis de qualquer outro objecto. Paradoxalmente, a direita tenta impor a racionalidade materialista à liberdade de opção individual. O mercado passa a dominar tudo! Os valores (entre os quais o da liberdade) são reduzidos à simples lógica das contas. Este argumento é em si execrável e repugnante. Representa o esvaziamento de qualquer sentido de humanidade.

sábado, 13 de janeiro de 2007

Porque o sangue importa

Gosto imenso de votar e de dar sangue. Para mim, são dois direitos/ deveres cívicos e éticos a que me entrego com verdadeiro entusiasmo desde os meus 18 anos. Tenho semelhante orgulho no meu cartão de eleitor e no meu cartão de dador.
Às eleições dedicarei um próximo post. Hoje «quero escrever o borrão vermelho de sangue / com gotas e coágulos pingando» (Clarice Lispector), de dentro para fora: o Instituto Português do Sangue continua a discriminar os dadores em função da opção sexual. Depois de inúmeras queixas e denúncias, a discriminação deixou de constar do seu site e do seu regulamento. Porém, no exame médico ao dador, a avaliação dos seus hábitos de vida pressupõe um juízo moral sobre a sua sexualidade. Quando um potencial dador afirma que faz amor com alguém do mesmo sexo é encarado como promíscuo e impedido de fazer a sua dádiva. Passou-se recentemente com uma pessoa minha amiga, a quem eu tinha pedido para dar sangue em nome do meu Pai. Quando ela me contou, fiquei entre o chocada e o incrédula, mas as notícias dos últimos dias vieram confirmar as suspeitas.
Na Wikipédia, encontrei referência à ética amoral de alguns heterónimos de Fernando Pessoa. Ricardo Reis, na ode «Ouvi contar que outrora, quando a Pérsia», apresenta-nos dois jogadores de xadrez que prosseguem a partida mesmo sabendo que a destruição e a morte alastram na sua cidade, invadida pelo inimigo. E sentencia este heterónimo epicurista: «Quando o rei de marfim está em perigo / Que importa a carne e o osso / Das irmãs e das mães e das crianças? / Quando a torre não cobre / A retirada da rainha branca, / O sangue pouco importa».
Perante a ética moralista do Instituto Português do Sangue – quando os «bons costumes» estão em perigo, o sangue pouco importa (o mesmo é dizer, as vidas humanas pouco importam!) – temos todos que tomar posição. Quero continuar a dar sangue com a mesma alegria de sempre, mas exijo fazê-lo num serviço público que respeite todas as pessoas. Afinal, o sangue não tem fronteiras, idioma, ideologia, preferências sexuais.
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quinta-feira, 11 de janeiro de 2007

Pelo Sim


Saiu o número de Janeiro do Le Monde Diplomatique (edição portuguesa). Este número tem uma particularidade: o conselho editorial assume uma posição de voto perante o referendo sobre a despenalização da interrupção voluntária da gravidez, a realizar no próximo dia 11 de Fevereiro. Transcrevemos em seguida um extracto do editorial.

Optar por escolher

A 11 de Fevereiro de 2007 vai realizar-se, pela segunda vez em Portugal, um referendo que perguntará aos eleitores se concordam com a despenalização da interrupção voluntária da gravidez (IVG), se realizada, por opção da mulher, nas primeiras 10 semanas, em estabelecimento de saúde legalmente autorizado.
Consciente de que se trata de um tema fracturante na sociedade portuguesa, e sem pôr em causa o respeito integral pelos diferentes posicionamentos e pela sua expressão no quadro democrático – quando nos identificamos e (talvez sobretudo) quando não nos identificamos com eles –, o Conselho Editorial do Le Monde diplomatique – edição portuguesa decidiu tomar posição pelo «Sim» na questão que agora se coloca aos eleitores e interpela a sociedade no seu conjunto.
Optamos por escolher. Por usar a liberdade de escolher para aprofundar a liberdade de escolha. Consideramos que a difícil opção pela interrupção da gravidez que a mulher faz, sozinha ou acompanhada, não deve ser penalizada pelo Estado. Que o Estado não deve atribuir-se o direito, materializado em instrumentos públicos, de punir uma decisão que é essencialmente um acto de consciência do foro íntimo, da vida privada, uma decisão que num Estado laico e democrático não pode ser escrutinada na praça pública nem ser condenada nos tribunais.
Colocamo-nos do lado dos que têm dúvidas, dos que questionam os valores absolutos por se confrontarem constantemente com a complexidade da vida. Não pensamos ter respostas para tudo, mas algumas preocupações parecem-nos centrais. A despenalização da IVG não faz com que passe a existir a liberdade de optar pela interrupção voluntária da gravidez. Faz com que essa liberdade possa ser exercida, em segurança, por mulheres de grupos sociais económica e socialmente mais desfavorecidos. Trata-se, nesse sentido, de defender uma liberdade que tem uma dimensão individual e uma dimensão social, o que se enquadra numa perspectiva de combate das desigualdades sociais.
Clarificando desde logo a nossa posição, dirigimo-nos sem ambiguidades aos leitores. Assumimos que fizemos uma escolha, de alguma forma traduzida no conteúdo editorial do dossiê que nestas páginas dedicamos à IVG.
O Conselho Editorial do Le Monde diplomatique – edição portuguesa

quarta-feira, 10 de janeiro de 2007

Noticias da Espanha. Panorama despois dunha bomba.

O pasado día 30 de decembro a organización terrorista ETA facía estoupar nunha sección do parking da Terminal 4 (T4) do aeroporto madrileño de Barajas, unha bomba con entre 200 e 500 Kgs dun tipo de explosivo aínda por determinar. Dúas persoas, dous traballadores inmigrantes (ecuatorianos) morrían por asfixia, atrapados e aplastados dentro dos seus vehículos baixo toneladas de ferros e de cemento.

O estalido do artefacto facía saltar tamén polos aires (alomenos en apariencia) o proceso de negociación/pacificación entablado entre a banda armada e o goberno de España, a partir da declaración polos terroristas, o pasado 22 de marzo de 2006, dunha tregua indefinida (a terceira deste tipo, despois das frustradas de 1989 e 1998, nas súas catro décadas de historia).

Nos seguintes parágrafos tratarei de explicar – na medida das miñas posibilidades como observador – cales foron os pasos máis importantes dados no “proceso de paz” entre o 22 de marzo e o 30 de decembro de 2006 e, sobre todo, valorarei cales son as súas posibles perspectivas de futuro, ou se, pola contra, o proceso está morto a estas alturas.

O anuncio dunha tregua indefinida por parte de ETA a finais de marzo do ano pasado, causou máis expectativas que nunca e, desencadeou, polo menos nas semanas e meses inmediatos, unha onda de optimismo no seo das opinións públicas vasca e española. Na explicación desta situación confluían varios factores:

1) A percepción da debilidade da banda terrorista (non causara vítimas mortais dende 2003) como consecuencia en parte da alta efectividade da estratexia policial franco – española; 2) O irreversible cansanzo das sociedades vasca e española, e o seu común rexeitamento, moi maioritario, tamén no País Vasco – mesmo entre sectores da esquerda abertxale - do recurso á violencia como mecanismo de acción política e, sobre todo, 3) A impresión de que dende marzo de 2004 se instalara en Madrid un novo goberno, o de José Luis Rodríguez Zapatero (PSOE), cunha meirande sensibilidade na comprensión da pluralidade nacional de España e das demandas de descentralización e autogoberno dos nacionalismos periféricos, tal e como quedaba demostrado cos debates en torno ós novos Estatutos de Autonomía, en especial, pero non só, no caso do catalán.

O goberno socialista demostrou entón que a súa aposta, fronte a outros períodos da nosa historia recente, polo parlamentarismo non era unha pose ou un farol, e consensuou na primavera co resto das forzas con representación nas Cortes unha declaración que establecía en que condicións o parlamento autorizaba ó goberno a levar iniciar un diálogo con ETA. A condición básica era a constatación polas forzas de seguridade do Estado da paralización de calquera tipo de actividade violenta por parte da banda, en especial, o fin da violencia callexeira (“Kale Borroka”) e da extorsión – chantaxe económica ós empresarios vascos (“Imposto revolucionario”). Tan só o Partido Popular (PP) rexeitou esta declaración, anticipando o que ten sido a súa actitude até hoxe, centrada na reivindicación da loita policial como única vía posible para poñer fin á ETA e á súa violencia, e na utilización do “proceso de paz”, da súa crítica e posta en dúbida permanentes, como un dos elementos chave da súa política de oposición, no que na miña opinión constitúe unha mostra de deslealdade para co goberno e a súa política antiterrorista (até o de agora considerada como unha “cuestión de Estado” á marxe da contenda política cotiá) que non se dera nunca antes en vintecinco anos de réxime democrático.

Finalmente, o 29 de xuño, o presidente do goberno anunciaba a verificación policial da paralización da actividade de ETA e informaba á opinión pública de que o goberno se dispuña a comezar un diálogo político e un proceso de negociación que sería “largo, duro y difícil”. Foi a partir de aquí, cando todo se comezou a torcer, en especial dende o mes de setembro.

Por un lado estaría, sobre todo, a actuación dos propios terroristas, cos periódicos comunicados de ETA a través do seu órgano de expresión “Zutabe”, así como as repetidas roldas de prensa dos dirixentes da ilegalizada formación política independentista “Batasuna”, nos que se insistía na situación de bloqueo no que se atopaba o proceso e se criticaba a non paralización polo goberno das actividades policiais e xudiciais respecto de membros e presos da organización; o roubo de 300 pistolas e fusís por ETA en outubro nunha armería do Sur de Francia; o reinicio da violencia callexeira (queima de mobiliario urbán, de caixas automáticas, de autobuses de transporte público)… A isto habería que unir a imposibilidade de obter un consenso pleno das forzas políticas democráticas en torno á actuación do goberno durante a tregua. O goberno do PSOE tentou novamente – consciente de que representa a uns dez millóns de votantes – incorporar ó Partido Popular ó proceso de paz. Só conseguiu deste a esixencia de que se volvera á política antiterrorista da anterior lexislatura – na que gobernaba o PP – de consenso entre as dúas grandes forzas políticas - PSOE e PP – arredor do chamado “Pacto Antiterrorista e polas Libertades”, unha fórmula – ultrapasada – que insiste fundamentalmente na loita policial e que exclúe da política antiterrorista ó resto de forzas políticas do Estado. Por último, habería que citar, entre os factores que semellaban conducir á crise, a tendencia á improvisación do noso actual goberno, e do seu presidente, fundamentada na práctica do optimismo como metodoloxía política. Ás veces semella que Rodríguiez Zapatero pensa que con crer que as cousas sairán ben, mesmo en asuntos tan complexos como é este, abonda. É como se para el houbera un círculo virtuoso do optimismo que todo o arranxa. O día antes do atentado de ETA declarou que consideraba que “en un año estaremos mejor que hoy”. Na súa primeira declaración trala bomba tivo que admitir que “hoy estamos peor que ayer”.

Foi así como chegamos ás nove da mañá do día 30 de decembro, a hora do estoupido da bomba na T4 de Barajas. O atentado sorprendeu a todos: o goberno español, o goberno e ós partidos democráticos vascos e mesmo ó propio nacionalismo independentista vasco (esquerda abertxale). Dá a sensación de que ETA pretendía – equivocadamente unha vez máis – meter presión ó goberno para acelerar o proceso, ó tempo que intimidaba á opinión pública e lembrábanos a todos a súa capacidade operativa. É posible que – como ten dito no seu derradeiro comunicado – non pretendera causar vítimas mortais, pero a súa tendencia a megalomanía e a elección dun obxectivo civil tan simbólico como é a T4 de Barajas perdeu ós terroristas, de cuxa palabra, por certo, tampouco nos podemos fiar. Nembargantes, este tipo de atentado intimidatorio, no medio dun proceso de paz, remite en algo ós cometidos polo IRA a mediados dos anos noventa en puntos do corazón financierio de Londres como a City ou Canary Wharf.

A reacción do goberno foi, cando menos, confusa ou poco hábil. O presidente, nunha intervención ambigua na tarde do mesmo día 30, declaraba o proceso “suspendido” namentres non se verificara a paralización total da violencia etarra. Ó tempo, responsabilizaba á organización terrorista do fracaso do proceso e insistía na grave equivocación que este feito supuña. A presión de certos sectores da opinión pública e do Partido Popular (PP) levou, ós poucos días, ó Ministro do Interior, Alfredo Pérez Rubalcaba, a afirmar que o proceso estaba “roto y liquidado” e a endurecer a postura do goberno no sentido (aparente) de dar o proceso por finalizado. Mesmo agromaron unhas primeiras autocríticas gubernamentais respecto de posibles fallos de comunicación e de información na interlocución coa banda, que apenas comezara a dúas semanas antes do atentado de Barajas.

¿Que pode acontecer de agora en adiante? ¿Esta o proceso definitivamente roto? ¿Non debe este goberno seguilo intentando? ¿Hai que volver a unha política antiterrotista meramente policial?

É difícil predecir cal vai ser o futuro inmediato da estratexia antiterrorista do goberno ou a evolución do proceso en si mesmo (cara ó esgotamento definitivo ou cara a unha dinamización).

Particularmente, dáme a impresión de que Rodríguez Zapatero, Pérez Rubalcaba e o resto do goberno desexan continuar co proceso, como dá a entender a inicial proclama de “suspender” (temporalmente) que non romper (definitivamente) o diálogo. Na miña opinión sería unha escolla correcta. Os últimos trinta anos serviron para demostrar que unha resolución do problema pola vía policial en exclusiva é inviable. Nembargantes, as cousas non poden ser xa exactamente iguais que antes do día 30 de decembro. O goberno debe aproveitar na negociación a perda de lexitimidade, e a debilidade, dunha das partes implicadas (ETA) despois da bomba do día 30 para fortalecer a súa posición e a do conxunto dos sectores demócratas do país. Quizais a chave esté na capacidade de presión que forzas como o Partido Socialista de Euskadi (PSE) ou o Partido Nacionalista Vasco (PNV), así como os gobernos autonómico vasco e central español teñan sobre a “esquerda abertxale” (Batasuna) para convencer ós dirixentes desta, da necesidade de emanciparse dunha vez por todas da tutela e da coacción da propia ETA e adquirir un papel moi relevante no proceso de negociación política. Arnaldo Otegui, a figura máis visible do nacionalismo independentista vasco, ergueuse un día, mirouse ó espello e pensou que ía ser a reencarnación de Gerry Adams en Euskadi. Polo momento, non foi quen de pasar de obediente chico dos recados da propia organización terrorista.

Por último, o goberno de Rodríguez Zapatero ten que cambiar en algo a súa actitude. O atentado podería chegar a ter unha consecuencia (a única) positiva. Poñelo diante da percepción do grao de dificultades reais dun proceso de paz desta natureza. Pero tamén cómprelle superar a súa apariencia dubitativa e amosar con claridade que o respecto polas normas do Estado de dereito e a firmeza na dimensión policial da loita antiterrorista non son en si mesmos incompatibles cunha negociación política cos terroristas. Por último, está obrigado a involucrar e facer máis participativas no proceso (aínda que sen comprometer a operatividade e a discreción precisas para o mesmo) ó resto de forzas políticas. É preciso facer comprender a tódolos partidos políticos (aínda que o PP non quera nin oír falar do asunto) que a resolución do problema vasco incúmbenos a todos como sociedade, de aí a importancia dunha posición consensuada e sen fisuras do conxunto dos demócratas españois que permita encarar unha negociación “larga, dura y difícil” porque, como ven de dicir o propio Rodríguez Zapatero: “el terrorismo es el único problema realmente grave de nuestra democracia”.

Quando as urgências entopem

As urgências dos hospitais estão sem condições desde que o ministro da Saúde resolveu apelar à sua frequência em substituição dos entretanto encerrados centros de saúde (ou com horário encurtado). Isto nos revela o médico José Manuel Silva, dando os exemplos dos hospitais de Coimbra (UHC), de Santa Maria (Lx.) e de Aveiro (vd. «É impossível um médico trabalhar assim!», Público, 8/I, p. 5).
José Manuel Silva vai mais longe e põe em causa grande parte da actuação do ministro da Saúde nesta área, denunciando 10 pontos negros:
1) falta de alternativas efectivas ao fecho de serviços de atendimento permanente nos centros de saúde; 2) ausência duma reforma profunda do sistema de saúde a par com o fecho de serviços de urgência; 3) desorganização dos serviços de urgência com a contratação de empresas de mão-de-obra médica desligada da respectiva instituição; 4) défice de mecanismos de assistência aos idosos (daí o recurso sistemático à urgência hospitalar); 5) défice de investimento sério em efectivos cuidados paliativos; 6) primado do orçamento em detrimento dos doentes; 7) falta de conhecimento suficiente para introduzir reformas racionais (e não racionamento cego); 8) ausência de dimensionamento dos recursos técnicos e humanos em função das necessidades; 9) não resolução dos constrangimentos ao fluxo de doentes; 10) ausência de mecanismos de compensação e rotatividade.
Este quadro geral suscita grande perplexidade e só reforça a suspeita já instalada de que, no sector da saúde, se olha apenas a uma lógica estritamente economicista e semi-privatizadora.
Hoje, também Vital Moreira oferece outro contributo relevante para se pensar a questão do serviço público, a propósito da contestação popular à redução de horários nos transportes públicos do Porto (vd. «Os autocarros da Pasteleira»; nb: neste texto faltou referir o sector da cultura, pois o modelo social europeu de base municipal também começou por incorporar as bibliotecas e museus municipais, entre outros equipamentos e funções).
Cabe, por isso, questionar o seguinte: o modelo de serviço público que se diz estar a salvaguadar em Portugal é mesmo o do tal «modelo social europeu» ou é, simplesmente, um novo «modelo social» ainda indefenido? E, seja qual for, está ou não mais fragilizado do que devia? Deixo-vos estas questões para reflexão.

terça-feira, 9 de janeiro de 2007

A origem dos extremos (agenda)

«A origem dos extremos: economistas radicais americanos durante a guerra do Vietname, 1965-1978» é o título da conferência que Tiago Mata apresentará hoje, às 13h30, no ISCTE (sala C301). Faz parte dum seminário do DINÂMIA.
Eis um breve resumo desta conferência dedicada à emergência e estrangulamento da economia política radical nos EUA:
"A teoria económica Americana no pós-Segunda Guerra Mundial é caracterizável por um consenso de Keynesianismo macroeconómico e microeconomia Walrasiana, e pela aplicação de métodos derivados da matemática aplicada. Durante duas décadas este regime serviu bem os economistas, pois conquistou-lhes o papel de neutros comentadores da vida pública, granjeando prestígio junto dos media e dos condutores da política económica. Mas nos finais dos anos 60, a disciplina entrou em crise com o emergir de um conjunto vasto de dissidências – a escola austríaca, o monetarismo, a radical political economics, o pós-keynesianismo, e a economia social. Esta apresentação aborda as origens sociais e doutrinais de uma das correntes dissidentes: a radical political economics.
O confronto nas Universidades norte-americanas entre administrações e estudantes sobre o tema da guerra do Vietname, foi o impulso para a formação de uma identidade radical nas ciências sociais. A primeira expressão deste movimento na disciplina da Economia foi a criação da Union for Radical Political Economics (URPE) em 1968. Através das actividades, por vezes escandalosas, promovidas pela URPE e por um grupo vasto de radicais em Harvard, esta crítica ganhou ouvintes junto da disciplina e do público.
Esta apresentação examina a definição do programa intelectual radical, expresso nas publicações da URPE, como uma instância de boundary work. O grupo dissidente demarcou um novo espaço cultural para a Economia, onde as fronteiras entre os domínios "politica" e "ciência" foram esbatidas. Esta cartografia cultural facilitou a aliança entre os díspares interesses dos vários membros da Union, e ao mesmo tempo agravou a crise de credibilidade que afligia a ciência económica. Esta era uma estratégia de desafio e de transformação, mas o resultado a curto prazo foi a marginalização dos economistas radicais.
O enquadramento da controvérsia em termos de boundary work ajuda-nos a compreender o seu desenlace. Os sucessos e as derrotas dos dissidentes resultaram da adopção ou rejeição da sua cartografia cultural. Os dois eventos que merecem relevo são a criação de departamentos de investigação radical em algumas universidades, embora longe dos grandes centros da produção de ciência económica; e a ocorrência de um conjunto de despedimentos de economistas radicais, alegadamente por discriminação politica. Com o fim do movimento de protesto estudantil, os radicais perderam os seus mais determinados apoiantes. Em paralelo, a American Economic Association através do estabelecimento de um Committee on Political Discrimination, sancionou os despedimentos de radicais, para reafirmar a diferença entre ciência e politica e a neutralidade da disciplina."

domingo, 7 de janeiro de 2007

Qual o tempo dos peões que hão-de vir?

Noutros tempos, interessei-me pela obra do sociólogo brasileiro Gilberto Freyre (1900-1987). Apresentei, em trabalho académico, uma leitura crítica da génese e estruturação do luso-tropicalismo, desde Casa-grande & senzala (Rio de Janeiro) até O luso e o trópico (Lisboa, 1961), e analisei a recepção daquela doutrina em Portugal e as apropriações a que foi sujeita pelo Estado Novo. Não obstante aquilo que me separa de Freyre em termos políticos e ideológicos e as reservas que a sua doutrina me merece no plano científico, sempre admirei a sua escrita, perspicácia e imaginação. Tem a capacidade de nos surpreender e desafiar. Obriga-nos a pensar, sobretudo porque o que nos diz ecoa em impressões muito enraizadas e generalizadas.
A propósito do tempo, Freyre volta a discorrer sobre a excepcionalidade ibérica. No livro O Brasileiro entre os outros Hispanos (Rio de Janeiro, 1975), desenvolve o argumento de que os povos ibéricos teriam um sentido próprio de tempo, mais semelhante ao dos povos orientais e diferente do dos norte-europeus. O tempo como vida e não o tempo como dinheiro («time is money»), bem precioso e escasso. O desprezo pelo tempo cronométrico, pela hora exacta dos britânicos seria característica e virtude dos hispanos. Ao tempo dos negócios, contrapunham o tempo do ócio. Esta atitude em relação ao tempo era marcada pelo mito, pela religião, pelo folclore, o que lhe conferia uma enorme capacidade criadora e criativa. O hispano teria assimilado expressões de uma filosofia de espaço-tempo não-europeu.
«Isto é aquilo que vier a ser» – responde o pintor a Dom Quixote, quando este lhe pergunta o que está a pintar. Esta fórmula, segundo Gilberto Freyre, caracterizaria a maneira de estar dos povos ibéricos, a sua capacidade de improvisação, a sua tendência para procurar novas cores e formas de homens e de culturas. "Dando-se tempo ao tempo, sem pressa e sem cálculo" (1975: 7).
Tudo indica que a maioria dos peões que se propõe participar neste blogue partilha de uma concepção de teeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeempo longo. Resta-me uma curiosidade: Trata-se de pensar longamente antes de cada jogada? Ou de viver intensamente fora do tabuleiro?
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Imagem: Salvador Dalí, La Persistencia de la Memoria (1931). Museu de Arte Moderna - Nova Iorque.

sábado, 6 de janeiro de 2007

A globalização falida

O modelo de globalização económica que tem imperado, assenta, em grande medida, numa premissa política que foi posta em prática em várias zonas do Mundo. A premissa de que o mercado livre e aberto é o melhor e o mais eficaz meio para o desenvolvimento económico. Instituições mundiais como o FMI, a Organização Mundial do Comércio e, até certo ponto, o Banco Mundial, não foram mais do que agentes no terreno deste postulado. Ao longo das décadas de 80 e 90, fomentou-se a liberalização e desregulação dos mercados (sobretudo os financeiros) em países com economias e sistemas políticos frágeis e recentes.
O resultado não podia ser mais claro. Em vez de promover o desenvolvimento esta política acabou por favorecer, por um lado, a corrupção das elites locais e, por outro, a acumulação de capital dos maiores grupos financeiros e económicos. Veja-se o que aconteceu em muitos países africanos, e em alguns países da Europa do Leste (nomeadamente a Rússia). Em contrapartida, os países que conseguiram bons índices de desenvolvimento foram precisamente aqueles que não cederam à atordoada liberalizante e fortaleceram e/ou reformaram certas instituições nacionais de carácter regulador.
Ao nível do comércio mundial fez-se a apologia da abertura das fronteiras livres de tarifas e impostos, que se impôs principalmente nos países mais pobres e fracos. No mundo desenvolvido os proteccionismos e os subsídios à produção não só não caíram, como se mascararam sob os feitiços da retórica liberal. Esta hipocrisia mundial, com a conivência da maior parte dos governos do Norte, tem provocado uma autêntica sangria nas já débeis economias subdesenvolvidas.
A generalização simultânea destes dois processos - liberalização financeira para todos e comércio livre só para alguns – teve como consequência o favorecimento dos interesses especulativos e o aumento do empobrecimento dos mais pobres. O Mundo tornou-se ainda mais assimétrico. E para muitos países a promessa de desenvolvimento económico e social não passou de uma miragem.
Duas décadas depois, podemos dizer que o mercado faliu para o desenvolvimento. Este não é a receita única. Pelo contrário, só em países com Estados relativamente estáveis e sólidos é possível encontrar mercados dinâmicos e equilibrados. Os mercados não podem continuar a ser encarados como um meio e um fim (em si mesmo) para o desenvolvimento. Esta foi a ideologia da direita liberal que falhou rotundamente.

quinta-feira, 4 de janeiro de 2007

Propolis, e a vida rélex

Meus caros amigos: chegou o Propolis, a vida vai mudar!
Esqueçam o Polis e o simplex. Agora é Propolis complex.
Antes, cada um de nós tinha que arcar com prazos, carimbos uniformizadores e outras tácticas ditas amigas do «utente». Antes, os construtores civis iam construindo o puguésso com menos chatices pelo caminho, graças à diligente acção descomplicadora de todos os governos juntos, valha-nos isso.
Agora tudo mudou; agora todos temos direito ao mesmo: comprimidos Propolis, cada um toma quando quer, como quer (podem ser pastilhas de chupar, drageias, xarope..) e com quem quiser! É uma maravilha. Ademais, cura as tosses irritantes. E é das abelhinhas operárias, irmãs dos peões. Que santo remédio! Não me digam que isto não é fantástico. Este governo é incansável, meus amigos. Tudo por amor a nozes. A nozezes. Num é?

terça-feira, 2 de janeiro de 2007

O ano passado

O ano passado não passou,
continua incessantemente.
Em vão marco novos encontros.
Todos são encontros passados.
As ruas, sempre do ano passado,
e as pessoas, também as mesmas,
com iguais gestos e falas.
O céu tem exatamente
sabidos tons de amanhecer,
de sol pleno, de descambar
como no repetidíssimo ano passado.
Embora sepultos, os mortos do ano passado
sepultam-se todos os dias.
Escuto os medos, conto as libélulas,
mastigo o pão do ano passado.
E será sempre assim daqui por diante.
Não consigo evacuar
o ano passado.

Carlos Drummond de Andrade (1902-1987).

N.B.: Este e outros poemas deste magnífico poeta brasileiro podem ser lidos aqui.