Continuando o post anterior... Lionel Jospin, no seu "L'Impasse" também faz várias críticas bastante válidas, e equitativamente distriuídas. À direcção PSF critica não ter escolhido a sua candidata mais cedo. Efectivamente a escolha dos militantes foi provavelmente determinada mais pelas sondagens do que pelo debate interno. Se a escolha tivesse sido feita um ano antes, ou mais, os militantes não se teriam baseado em sondagens a uma tão longa distância das eleições, teria ficado mais espaço para o (verdadeiro) debate, e - acrescento eu - teria ficado mais tempo para a candidata preparar um projecto eleitoral sólido. A François Hollande critica não ter sido ele própio nem candidato, nem líder do PSF. Aquele que foi o secretário geral do PSF durante 10 anos deveria ser o líder e candidato natural do partido. François Hollande presidente é uma ideia que ninguém, nem o próprio, leva a sério. Constata-se afinal que Hollande foi conseguindo manter-se na sua posição com a estratégia da rolha: limitou-se a manter-se à tona, distribuindo cadeiras pelos elefantes para conseguir um equilíbrio de forças no PSF que agrade a todos. Criou uma situação que não serve a ninguém (acho que esta última frase é mais a minha opinião que a do Jospin). E finalmente a crítica mais certeira a Ségolène Royal é a de não ter apetência para o debate político. Apesar de ter um projecto político, o pacto presidencial, Royal foi tentando fazer campanha com soundbytes que na realidade não querem dizer nada. A "ordem justa" ou a "fórmula todos ganham" (formule gagnant-gagnant, no original) são sloogans que qualquer um à direita ou à esquerda poderia adoptar. Alguém proporia uma "ordem injusta"?, ou uma "fórmula uns-ganham-outros-perdem"? Sarkozy pelo contrário atira-nos com "trabalhar mais para ganhar mais", que encerra em si mesmo todo um projecto político, neo-liberal de direita obviamente. Sarkozy não tem sloogans, muito menos soundbytes, tem o que falta a Ségolène Royal: retórica. Sarkozy fez o que muitos à esquerda não fazem (embora alguns conseguiam até ganhar eleições), simplesmente tinha um projecto político, e defendeu-o com argumentos. Se a esquerda não entrar nesse terreno, dificilmente ganhará eleições.
Jospin dedica ainda algumas linhas a Sarkozy, certeiras, mas nada de novo. Igualmente para a esquerda da esquerda, denuncia - e bem - uma esquerda que não quer o poder, que se contenta com estar na oposição e não ter que governar para não ter que por à prova aquilo que defende (os Verdes, ou a LCR de Olivier Besancenot), ou uma esquerda que vive cristalizada no passado e que nunca será alternativa de poder (o Partido Comunista, ou a Lute Ouvrière). Mais uma vez certeiro, mais uma vez nada de novo.
Lamentavelmente, é preciso chegar ao último capítulo para Jospin entrar no debate ideológico, e naturalmente muito ao de leve. Pisca o olho à Social-Democracia, ao mesmo tempo que diz que em França dificilmente seria possível. E eu bem gostaria de saber qual é afinal a diferença entre socialismo e social-democracia. Fala também de uma aliança alargada à esquerda, e novamente mais do que razões ideológicas a sua motivação é simplesmente estratégica, e os seus argumentos são mais de ordem histórica. Evoca a sua própria experiência de primeiro-ministro e sobretudo o exemplo de Mitterand, e é verdade que desde o pós-guerra a esquerda francesa só conseguiu estar no poder com base em alianças. E nunca, ao longo de todo o livro Jospin faz propostas políticas concretas (embora por vezes se dedique ao auto-elogio do seu tempo de primeiro-ministro). Medidas que seriam pertinentes em economia, desenvolvimento, educação, solidariedade social, segurança, etc...: nada, zero, nunca são abordados. Aquilo que seria afinal realmente importante debater acaba por ser secundário ou simplesmente deixado de fora. Jospin acaba por dar razão aos que o criticam o livro por ser um mero ataque a Ségolène Royal. Discute pessoas, discute forma, mas conteúdo nem por isso.
Ségolène Royal por seu lado, conseguiu estar bem pior do que Jopin. A sua reacção ao livro de Jospin foi posar em Jeanne D'Arc, citar o Cristo na cruz e acusar os seus detractores de uma misoginia comparável ao racismo (ver aqui e aqui). Se Jospin se dedica a discutir a parte que menos interessa da questão política, Royal na política nem toca, torna a o debate numa não-discussão. Não responde sequer às críticas que lhe são feitas, que - concorde-se ou não com elas - são legítimas de de ordem política. Diga-se que nunca em momento algum Jopin critica a sua condição de mulher, pelo contrário, diz até que seria bom para a França uma presidente, nada no seu livro revela misoginia (a não ser que se lhe mova um processo de intenções baseado em algo que ele não diz). Royal acaba por dar razão a Jospin quando diz que ela não gosta do debate político. E a verdade é que o contributo de Ségolène Royal para o debate da esquerda depois das eleições foi nulo. Ainda não se lhe ouviu uma ideia, uma reflexão, um projecto político, nada. Por outro lado aparece na capa de revistas cor-de-rosa com frases do género (cito de cor) "Não tenho o direito de me deixar abater", mesmo a puxar a lagrimazinha. E lança agora um livro com o sugestivo título "Ma plus belle histoire, c'est vous" (A minha mais bela história, sois vós), mais uma vez a puxar ao sentimento. Hélas, estamos a falar de política, e em política um livro "mais bela história" no título é no mínimo bizarre. Consta que ataca tudo e todos, até os centros de sondagens, culpados da sua derrota. Esse livro não vou ler. A simpatia que tinha por Ségolène Royal foi-se toda... E estam(os) num impasse, para que lado se deve a esquerda francesa voltar?
Jospin dedica ainda algumas linhas a Sarkozy, certeiras, mas nada de novo. Igualmente para a esquerda da esquerda, denuncia - e bem - uma esquerda que não quer o poder, que se contenta com estar na oposição e não ter que governar para não ter que por à prova aquilo que defende (os Verdes, ou a LCR de Olivier Besancenot), ou uma esquerda que vive cristalizada no passado e que nunca será alternativa de poder (o Partido Comunista, ou a Lute Ouvrière). Mais uma vez certeiro, mais uma vez nada de novo.
Lamentavelmente, é preciso chegar ao último capítulo para Jospin entrar no debate ideológico, e naturalmente muito ao de leve. Pisca o olho à Social-Democracia, ao mesmo tempo que diz que em França dificilmente seria possível. E eu bem gostaria de saber qual é afinal a diferença entre socialismo e social-democracia. Fala também de uma aliança alargada à esquerda, e novamente mais do que razões ideológicas a sua motivação é simplesmente estratégica, e os seus argumentos são mais de ordem histórica. Evoca a sua própria experiência de primeiro-ministro e sobretudo o exemplo de Mitterand, e é verdade que desde o pós-guerra a esquerda francesa só conseguiu estar no poder com base em alianças. E nunca, ao longo de todo o livro Jospin faz propostas políticas concretas (embora por vezes se dedique ao auto-elogio do seu tempo de primeiro-ministro). Medidas que seriam pertinentes em economia, desenvolvimento, educação, solidariedade social, segurança, etc...: nada, zero, nunca são abordados. Aquilo que seria afinal realmente importante debater acaba por ser secundário ou simplesmente deixado de fora. Jospin acaba por dar razão aos que o criticam o livro por ser um mero ataque a Ségolène Royal. Discute pessoas, discute forma, mas conteúdo nem por isso.
Ségolène Royal por seu lado, conseguiu estar bem pior do que Jopin. A sua reacção ao livro de Jospin foi posar em Jeanne D'Arc, citar o Cristo na cruz e acusar os seus detractores de uma misoginia comparável ao racismo (ver aqui e aqui). Se Jospin se dedica a discutir a parte que menos interessa da questão política, Royal na política nem toca, torna a o debate numa não-discussão. Não responde sequer às críticas que lhe são feitas, que - concorde-se ou não com elas - são legítimas de de ordem política. Diga-se que nunca em momento algum Jopin critica a sua condição de mulher, pelo contrário, diz até que seria bom para a França uma presidente, nada no seu livro revela misoginia (a não ser que se lhe mova um processo de intenções baseado em algo que ele não diz). Royal acaba por dar razão a Jospin quando diz que ela não gosta do debate político. E a verdade é que o contributo de Ségolène Royal para o debate da esquerda depois das eleições foi nulo. Ainda não se lhe ouviu uma ideia, uma reflexão, um projecto político, nada. Por outro lado aparece na capa de revistas cor-de-rosa com frases do género (cito de cor) "Não tenho o direito de me deixar abater", mesmo a puxar a lagrimazinha. E lança agora um livro com o sugestivo título "Ma plus belle histoire, c'est vous" (A minha mais bela história, sois vós), mais uma vez a puxar ao sentimento. Hélas, estamos a falar de política, e em política um livro "mais bela história" no título é no mínimo bizarre. Consta que ataca tudo e todos, até os centros de sondagens, culpados da sua derrota. Esse livro não vou ler. A simpatia que tinha por Ségolène Royal foi-se toda... E estam(os) num impasse, para que lado se deve a esquerda francesa voltar?