segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

O capital não tem fronteiras, a falta de civismo também não

Mas não são só os franceses ricos que mudam de residência fiscal para escapar aos impostos. Segundo o El País, o arquitecto espanhol Santiago Calatrava transferiu a sua fortuna para a Suíça. No passado dia 23 de Novembro, a sociedade familiar Calatrava Family Investments passou a estar domiciliada no cantão de Zurique, deixando Madrid para trás.

Ainda que possamos achar que a taxação sobre fortunas decidida em França devia ficar aquém dos 75%, o que é um facto é que ela vigorará só 2 anos e as tomadas de posição de cidadãos endinheirados que mudam de país (e de nacionalidade!) como quem muda de roupa revelam falta de solidariedade social e nacional num momento crítico das nações europeias.
Ademais, o caso Calatrava mostra como tal tipo de reacção tem pouco a ver com taxas de 75%, pois em Espanha não chegou a esse montante, nem de perto nem de longe, e quanto à transferência para a Suiça, sabemos que ela serve só para pagar menos impostos, neste caso por parte de uma empresa de um conhecido arquitecto.

Adenda: o governo belga saiu a terreiro admoestando o homólogo francês para reflectir sobre a medida dos 75%, mas sai-se mal na resposta - então e a solidariedade entre concidadãos, isso não importa à Bélgica, onde se advogam as virtudes da coesão nacional entre comunidades distintas para evitar a secessão? Então e a nacionalidade, para uns exige condições e papelada a monte, para outros é tipo instantâneo?

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Dar o salto, em análise

Comeceu hoje o Colóquio Internacional «Fronteiras e Mobilidades na Península Ibérica», coordenado por Victor Pereira na FCSH-UNL (vd. programa aqui). Mais informações sobre o evento e reprodução sem texto da belíssima foto ao lado de Gérald Bloncourt, «passages clandestin d’immigrés portugais à travers les Pyrennées – mars 1965», neste blogue específico.

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Oscar Niemeyer (1907-2012): um modernismo poético


Outro grande nome da cultura que desaparece. Merece todos os elogios e tributos, uma boa parte pode ler-se no dossiê do Público. Gostei especialmente da expressão poeta da linha curva, casa bem com a sua transpiração duma certa brasilidade.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Joaquim Benite (1943-2012), marco do teatro independente

Através do seu papel central na consolidação do teatro independente em Portugal, Joaquim Benite tornou-se um dos melhores representantes da vitalidade da cultura portuguesa. Junto com Luís Miguel Cintra, Jorge Silva Melo e muitos outros, consolidaram um novo teatro, sintonizado com a contemporaneidade, com a leitura da sociedade e da política actuais através de interpretações críticas de textos clássicos ou modernos. Resistência, coerência e espírito inovador são traços duma geração singular.
Além disso, promoveu um diálogo regular com um público alargado, construindo-se mutuamente na descoberta de novos textos, novas perspectivas. E criou um festival internacional de teatro - o Festival de Almada, em 1984 - que ficou como referência mundial.
Na hora da sua morte, é tempo de sublinhar que a sua geração merece mais reconhecimento da sociedade. A onda de evocações presente num bom dossiê do Público vai no bom caminho.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Quando é que faz frio?

Quem julga que o frio é só teimosia invernal bem pode meditar no adagiário dos meses:

- Bom tempo no Janeiro e mau no estio, bom ano de fome, mau ano de frio.
- Chuva em Janeiro e não frio, dá riqueza no estio.
- Janeiro frio e molhado não é bom para o gado.
- Janeiro frio e molhado, enche a tulha e farta o gado.
- Janeiro frio ou temperado, passa-o enroupado.
- Janeiro geoso, Fevereiro nevoso. Março frio e ventoso, Abril chuvoso e Maio pardo, fazem um ano abundoso.
- Em Fevereiro neve e frio, é de esperar calor no estio.
- Em Fevereiro, frio ou quente, chova sempre.
- Fevereiro, fêveras de frio e não de linho.
- Abril frio e molhado, enche o celeiro e o gado.
- Abril frio, pão e vinho.
- Frio de Abril as pedras vai ferir.
- Maio frio e Junho quente fazem o lavrador valente.
- Maio frio e Junho quente: bom pão, vinho valente.
- Maio frio e ventoso, faz o ano formoso.
- Em Junho, frio como punho.
- Agosto, frio em rosto.
- Em Agosto passa o frio pelo rosto.
- Ande o frio onde andar, no Natal cá vem parar.
- Ande o Natal por onde andar, que ele o frio há-de ir buscar.
- Dezembro com Junho ao desafio, traz Janeiro frio.
- Dezembro frio, calor no estilo.
- Em Dezembro treme de frio cada membro.

(in «Adagiário do frio», blogue Do Tempo da Outra Senhora)

domingo, 2 de dezembro de 2012

Se lhes dessem trela, Portugal seria o único país da UE com propinas no ensino obrigatório!

Sobre a inaudita declaração do premiê português Passos Coelho, de ser necessário equibilibrar despesas entre Estado e famílias no pagamento do ensino obrigatório via introdução de propinas (não disse esta palavra mas estava implícita) ver a síntese no post «Mentiroso compulsivo e imperdoavelmente ignorante».

sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Palestina, novo Estado observador na ONU

A mediação pela ONU é a via desejável para a paz entre palestinianos e israelitas, apesar de ter sido mal acolhida pelo governo israelita, que logo anunciou a construção de novos colonatos.
Longa vida para um pacífico e democrático Estado palestiniano!

terça-feira, 13 de novembro de 2012

Jornada europeia pelo emprego e solidariedade já arrancou

Pelo menos em Portugal já começou a greve geral, com o piquete dos Bombeiros Sapadores de Lisboa, em Chelas, às 20h de hoje!
Mais informação sobre desfiles em c. de 40 cidades portuguesas no site da CGTP.
Para restantes países vd. outros detalhes aqui.

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Colóquio Internacional 100 anos de Jorge Amado

Arrancou hoje o maior encontro em terras lusas dedicado ao grande escritor de língua portuguesa Jorge Amado.
Tem como subtítulo «O Escritor, Portugal e o Neorrealismo» e decorre em várias cidades e instituições do país (ver detalhes no programa).
Segue-se este a um outro encontro realizado no Brasil, o «Colóquio Internacional 100 anos de Jorge Amado: História, Literatura e Cultura», onde participaram alguns dos presentes oradores.
Outras iniciativas de tributo a Amado podem ser conhecidas em post do Lusografias.

Hoje a luta veste-se de negro

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Charadas orientais

Le Monde.fr 9/11/12
Papier de verre
Hervé le Tellier

Le dernier congrès du Parti communiste chinois vient de s'ouvrir.
Jeu des trois erreurs :
1) Il n'est pas très ouvert.
2) Il n'est pas très communiste.
3) Ce ne sera pas le dernier.

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Esperançados mas lúcidos, Bell tem razão

Aproxima-se a 1.ª greve geral europeia!

No próximo dia 14 de Novembro ocorrerá uma greve geral em Portugal, Espanha, Grécia e Itália, bem como greves sectoriais ou grandes manifestações unitárias na Alemanha, Áustria, Bélgica, França, Holanda, Reino Unido, Roménia e Suiça.
Estas iniciativas estão incluídas no Dia Europeu de Acção e Solidariedade, dinamizado pelo European Trade Union Confederation sob o lema «Por Empregos e Solidariedade - Não à Austeridade».
A 17 seguem-se manifs na Eslovénia e Republica Checa. Mais informação actualizada aqui.

terça-feira, 6 de novembro de 2012

Tributo a Alves Redol

O encontro decorrerá até dia 10 na FCSH-UNL, em Lisboa, e no Museu do Neo-Realismo, em Vila Franca de Xira.
Hoje já estava montada a exposição documental no edifício principal da FCSH, com uma dezena de painéis graficamente bem concebidos.

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

À falta de razão, DDT sobre eles (a máscara protectora só pode ser a liberdade de investigação científica, sempre)

Um investigador da Universidade do Minho, Sergio Denicoli, revelou na sua tese de doutoramento que o processo de implementação da Televisão Digital Terrestre (TDT) foi altamente lesivo do interesse geral, ao transformar um serviço gratuito acessível a todos (4 canais em sinal aberto) num serviço a que apenas teve acesso quem pagou (ou já tinha tv adaptada). Com isso beneficiou a empresa PT, arrebanhado mais 715 mil clientes para o serviço MEO, boa parte no território onde o sinal da TDT não chega. Em Espanha e Reino Unido não ocorreu assim - aí existe oferta gratuita de dezenas de canais.
Não bastando isto, quem vai ser processado é o investigador (pela PT) e não a PT que foi ilegalmente bafejada!! Além disso, os dirigentes da própria Universidade do Minho demitiram-se da sua responsabilidade ética e científica, dizendo nada ter a ver com as posições expressas, quando a tese foi aprovada no seu espaço por unanimidade por um júri interuniversitário!!! Então nem ao menos pugnam pela liberdade de expressão e crítica, não apoiam juridicamente um seu representante?!
Já que os governantes de turno não mexerão uma palha para esclarecer este assunto, cabe aos cidadãos pressionar pelo debate público, circulando já uma petição pela Liberdade de Investigação Científica, criada por um grupo de universitários solidários com Denicoli e que já conta com mais de 1200 apoiantes. Nesta petição sustenta que «a liberdade académica é um requisito essencial da actividade científica» e que qualquer pressão para silenciar o trabalho académico feito segundo as regras instituídas deve ser denunciado publicamente (vd. mais aqui).
Como bem refere Sérgio Lavos, os portugueses suportam da oferta mais cara do mundo nos combustíveis, energia, telecomunicações, Internet e agora na TDT. Isto deve-se, adito eu, a má regulação e a privatizações de monopólios ou afins, as tais privatizações que iam gerar a concorrência virtuosa, sempre com os melhores preços para os clientes, claro...

terça-feira, 30 de outubro de 2012

Está em curso uma guerra de classes, dos ricos contra os pobres e a classe média

E ela desenrola-se em várias frentes, consoante o país. Em Portugal, os episódios mais recentes são o Orçamento de Estado para 2003, cuja rejeição foi alvo de petição lançada pela comissão promotora do Congresso Democrático das Alternativas, e a ofensiva contra os estivadores dos portos portugueses.
Esta última visa impôr mais flexibilização no trabalho portuário e cortes nos salários. Segundo o governo e os empregadores, o "problema essencial da competitividade dos portos portugueses incide no custo do trabalho resultante da sua regulação". Mas o perito Alan Stoleroff discorda frontalmente: "destacam-se como mais relevantes os dados referentes aos custos comparados da exportação e importação de um contentor". Além disso, "em termos dos custos totais, Portugal está relativamente bem posicionado nos rankings calculados pelo Banco Mundial".
Que gato com rabo de fora se esconde então nesta manobra governamental e patronal? Se quiser saber continue a ler o texto de Stoleroff, «All’s fair in love and (class) war».

domingo, 28 de outubro de 2012

Lições de vida: termo de comparação, para reflexão

terça-feira, 23 de outubro de 2012

Os outros da colonização: ensaios sobre o colonialismo tardio em Moçambique

Na próxima quinta-feira, 25 de Outubro, será lançado o livro colectivo Os outros da colonização: ensaios sobre o colonialismo tardio em Moçambique, organizado por Cláudia Castelo, Omar Ribeiro Thomaz, Teresa Cruz e Silva e Sebastião Nascimento (Lisboa, Imprensa de Ciências Sociais,).
A apresentação cabe a Valdemir Zamparoni (Centro de Estudos Afro-Orientais, Univ. Federal da Bahia, S. Salvador, Brasil).
A sessão terá lugar no Jardim Tropical de Belém - Palácio dos Condes da Calheta (R. Gen. João de Almeida, n.º 15, Lisboa), às 17h30, integrada no programa do Congresso Internacional Saber Tropical em Moçambique: História, Memória e Ciência (organizado pelo IICT).

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Manuel António Pina (1943-2012): sonho, humor e sabedoria

Poeta celebrado (Prémio Camões de 2011), escritor de livros de literatura infantil por redescobrir e cronista reconhecido por muitos (na coluna «Por outras palavras»). E ainda jornalista inovador. Um cidadão generoso, interventivo. Enfim, um homem quase perfeito.
Para mim, era o melhor cronista político da praça, tal como bem realçou Germano Silva, seu companheiro de jornada no Jornal de Notícias.
Depois deste texto de Osvaldo Silvestre («Manuel António Pina, aliás Billy the Kid de Mota de Pina») fiquei também muito curioso por ler as histórias para crianças que também servem para ensinar os adultos.
Agora é lê-lo, evocá-lo e aprender com ele. Há muito para reflectir e tentar emular.
Obituários no JN e  Público. Adeus sentido dos seus muitos amigos nas folhas do JN.

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

A imperatriz passeia-se pelos protectorados, parte II

Depois da Grécia, parando Atenas, é a vez da Tugalândia. Irá obrigar a dispositivo policial inédito e a barrar meia Lisboa. Custará caro e infernizará a vida dos que trabalham e vivem na capital dum país europeu. Mas então não devíamos trabalhar mais?
Ainda faltam 3 semanas para a parada, mas é melhor ir avisando: preparar os conterrâneos para o enxovalho... e os atalhos alternativos...
PS: para quem ainda embarca em milagres, aconselho a leitura do post «O golpe de Estado alemão».

terça-feira, 16 de outubro de 2012

Para os detractores de Chavez, que tal o pleno tele-governamental de ontem na tv portuguesa?

Ontem à noite, um momento estalinista único: os dirigentes governativos portugueses ocuparam parte do horário nobre de todas as tv's generalistas, e isto para dizer o que já se sabia há muito: «trabalhadores e pensionistas vão pagar 70% do défice».
Pela Venezuela parece que ainda sobrou uma ou duas tv's privadas independentes. Por cá, nem isso. Aguardo ansioso os comentários dos críticos habituais de Chavez.

Despedimentos em magote regressam ao diário português de referência = um ultraje e um atentado ao pluralismo. Mas é possível contrariar esta espiral demente

O Público prepara-se para despedir 48 funcionários, sob a capa cínica da «reestruturação» e da «sustentabilidade» (em mais um uso abusivo do termo), isto num grupo empresarial que teve lucros de 62,5 milhões de euros em 2012 e que beneficia com o prestígio que este jornal lhe tem granjeado. Quando soube que 36 deles seriam jornalistas tive o mesmo espanto que muitos: mas isso é um rombo enorme numa redacção de referência!
Apesar de todas as derivas ideológicas e editoriais conhecidas dos últimos tempos, e que neste blogue comentámos (por vezes com tom duro, como na era da direcção de José Manuel Fernandes), aquele corpo de jornalistas permanecia conhecido pela sua qualidade e pluralismo.
Depois disso li testemunhos de ex-jornalistas e actuais jornalistas do Público, e foi difícil acabar a leitura. Já não foi espanto que senti mas uma profunda mágoa e indignação. Pretender despedir assim duma assentada, e com os critérios controversos que estão a ser ventilados nas redes sociais, compromete a memória e o futuro deste jornal! Um grupo de ex-jornalistas do jornal da Sonae divulgou entretanto um manifesto onde argumentar que «este despedimento coletivo é efetivamente um saneamento de quadros por discordâncias várias». A ser assim, o ultraje é a dobrar.
Por que não chega mostrar indignação, é necessário que os defensores do pluralismo se mobilizem. Entre outras coisas, podem ler e, se concordarem, assinar a seguinte petição online:
«EM DEFESA DA MANUTENÇÃO DA QUALIDADE DO JORNAL PÚBLICO E DOS PROFISSIONAIS QUE FAZEM DELE UM JORNAL DE REFERÊNCIA NACIONAL»
Eu concordei com essa petição, por isso a assinei.
Pela sua parte, os jornalistas do Público decidiram avançar com um dia de greve para esta sexta-feira. Oxalá tenho o apoio que merece.
Ainda vamos a tempo de barrar esta espiral de desrespeito pelo pluralismo e pelo trabalho alheio.

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Reforma do Estado: como aplicar mal uma boa medida

A ideia de avaliar os apoios concedidos pelo Estado às fundações foi uma boa ideia deste governo. Sucede que foi muito mal aplicada, tal como demonstrou recentemente o Público: maus critérios para a avaliação, desrespeito pelas conclusões e pela meta assumida (poupança de 150 milhões de euros reduzida a pouco mais de 88), manutenção de apoios injustificados a fundações como a do PSD-Madeira, de Belmiro de Azevedo, de Francisco Manuel dos Santos. Então estes últimos não andam sempre a dizer que o Estado não deve subsidiar as empresas, e que estas devem ser independentes?
Seja como for, não faz sentido o Estado financiar a intervenção cultural e assistencial das grandes empresas com isenções fiscais múltiplas (IRC, IVA, IMI, IRS...). Nem mesmo alimentar o autêntico Estado paralelo em que se tornaram as fundações de autarquias e regiões, de par com as empresas públicas municipais (outro problema mal resolvido pelo governo: a solução certa teria sido extinguir todas estas empresas e transferir pessoal e recursos donde eles vieram, dos departamentos municipais). Urge repensar o mecenato cultural e filantrópico, para que os procedimentos possam ser mais simples, transparentes e justos.
Importa ressalvar que nem todas as fundações de autarquias e regiões deviam ser extintas ou ter menores apoios do Estado central, isso evidentemente depende duma avaliação transparente das actividades específicas e das capacidades de cada autarquia promotora. Agora, a única forma de acabar com esta gula de criação de fundações é desburocratizar o mais possível a gestão na administração pública. Criar fundações e empresas públicas mais não é do que uma fuga em frente, nova fonte de clientelismo e despesismo, e um factor enorme para desincentivar a desburocratização do Estado.
Bem aplicadas, estas reformas do Estado teriam tido um impacto muito maior na diminuição da despesa pública. Depois não digam que não há alternativas.

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Tão liberais que eles são

A notícia do Público de hoje, «Empresa de que Passos foi gestor ficou com a parte de leão de fundos geridos por Relvas entre 2002 e 2004», deve ter suscitado a muitos leitores o seguinte comentário: está explicado porque o primeiro-ministro não demite Relvas, mesmo após os escândalos das equivalências e a controvérsia em torno de vários processos de privatizações (p.e., RTP e ANA).
Mas há outra questão por referir: o facto destes gestores/ políticos/ ideólogos que criticam a subsidio-dependência serem os mais colados aos subsídios desse mesmo Estado.
PS: mais desenvolvimentos desta notícia aqui.

domingo, 7 de outubro de 2012

Cultura e alternativa

O regresso à Praça de Espanha é já no próximo sábado, mas agora com muito boa música.
A iniciativa chama-se «A Cultura Junta-se à Resistência» ou, na sua versão mais rigorosa, «Grande concerto - Que se lixe a troika, queremos a nossa cultura de volta».
Venham mais cinco...

Adenda: a música arranca às 17h, para poder complementar a marcha contra o desemprego promovida pela CGTP.

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Resgatar Portugal para um futuro decente

Há muito que muitos de nós esperávamos por um fórum como este. O Congresso Democrático das Alternativas é um espaço inédito de reflexão, debate e propostas na vida democrática portuguesa.
Não podia ser mais completo o lema do congresso. O seu projecto de declaração, bem como as sínteses das 5 sessões temáticas, são muitos pertinentes. Aí se encontram duas coisas que não é costume no debate em Portugal: um projecto alternativo em construção, complementado por excelentes propostas e medidas para reformar as políticas públicas no sentido da justiça social e do aprofundamento democrático.
Do que pude ler neste particular, no geral achei de grande valor. Parece-me, porém, que as propostas para a política cultural ainda precisam de aditamentos; falta falar, por exemplo: 1) da necessidade de completar a rede de leitura pública, que pode ser feita com a cooperação do associativismo voluntário nos municípios cujos edis não estão receptivos a abraçar o serviço público bibliotecário (e são ainda muitos, c.1/3); 2) duma nova concepção de salvaguarda de património (que inclue o imaterial e a preservação de segmentos ainda descurados, como os arquivos do mundo da edição - editoras, livreiros, distribuidores, etc.); 3) de parcerias para aprofundar a animação cultural, a participação comunitária e a criação e fruição culturais (educação artística e cultural, reforçando curricula próprio nas escolas e serviço educativo nos museus, mas não só: também apostando em formação nas empresas, nas associações, em departamentos estatais).
Não basta proclamar bons princípios, é preciso também dizer como se aplicam, na prática comezinha do quotidiano das pessoas. Este encontro ambiciona ser um bom contributo para superar atavismos duma intervenção política corrente, muitas vezes mais preocupada em afirmar o brilho abstracto da sua retórica do que em construir alternativas reais para os cidadãos.

terça-feira, 2 de outubro de 2012

Eric Hobsbawm (1917-2012): o historiador da contemporaneidade

Foi talvez o mais inovador e completo historiador do nosso tempo, e não só pelo tríptico das eras (das revoluções, do império, dos extremos).
Recomendo a leitura dos textos evocativos do Público e The Guardian.

Federalismo em debate

Volta a falar-se de federalismo, agora como alternativa urgente para fazer face ao intergovernamentalismo que uns poucos querem impingir aos europeus. Já não era sem tempo.
Os 3.º e 4.º maiores partidos europeus, Liberais e Verdes, lançaram um manifesto em prol duma Europa federal. E o caso catalão, com a possibilidade duma independência unilateral, é para ser pensado a sério, dadas as tentações independentistas que espreitam noutros pontos da Europa: País Basco, Escócia, Padânia, Córsega, etc. Também aqui a via federalista merece debate alargado, tanto assim que o próprio PSOE alinhou agora com essa via.

domingo, 30 de setembro de 2012

Terreiro do povo

Nb: retirada daqui.

sábado, 29 de setembro de 2012

Alternativas à ruína anunciada

terça-feira, 25 de setembro de 2012

Hipótese mm: o papa-formigas não quer aquela pasta, pudera...

No rescaldo da polémica do excesso de cigarras no país, despoletada pelo ministro da Administração Interna, Miguel Macedo:
«Macedo tem sido apontado como uma possibilidade para o lugar de Miguel Relvas, numa eventual remodelação do governo, com o objectivo de melhorar a comunicação política» (in Luís Claro, «Macedo diz que Portugal não pode ser um país de “muitas cigarras”», i, 24/IX).

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Sermão do bom ladrão


“Não são ladrões apenas os que cortam as bolsas. Os ladrões que mais merecem este título são aqueles a quem os reis encomendam os exércitos e as legiões, ou o governo das províncias, ou a administração das cidades, os quais, pela manha ou pela força, roubam e despojam os povos.
Os outros ladrões roubam um homem, estes roubam cidades e reinos; os outros furtam correndo risco, estes furtam sem temor nem perigo.
Os outros, se furtam, são enforcados; mas estes furtam e enforcam.”
(excerto de texto homónimo do Padre António Vieira)

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Albardar o burro à vontade do dono

Ainda a propósito da manif de sábado passado, não consigo engolir a 'lição' de certos comentadores tidos por "moderados": ontem, Carlos Abreu Amorim achava credível dizer que a manif era contra o legado que nos trouxe à crise actual (leia-se, socratismo) e não contra o governo actual; esta noite, Marques Mendes reincidia, aditando que a principal virtude da acção tinha sido o ser "despolitizada", porque até pessoas que tinham votada nos partidos da
coligação governamental tinham comparecido. Ó meus amigoze, só não vê quem não quer! Então, as pessoas que não costumam ir a manifs vão a uma com lema público anunciado ("Que se lixe a troika" Queremos as nossas vidas!"), mas nem sabiam ou vão com outro lema, e só porque não é organizado por partidos já não é um acto político?!! Chama-se a isto tapar o sol com uma peneira. Ou albardar o burro à vontade do dono.
Por esse andar, vão esbarrar na parede. O trágico é se levam os outros atrás...

terça-feira, 18 de setembro de 2012

Livros para a rentrée

É já esta tarde o lançamento do livro O tempo das criadas. A condição servil em Portugal (1940-1970), da Inês Brasão. Mais informações em página da editora e nesta entrevista à SIC.

domingo, 16 de setembro de 2012

Era um mar de gente a perder de vista...

E quem disser o contrário é tolo.
Ou não consegue ver o sol senão com uma peneira.
E para memória futura: «Os números totais disponíveis, de norte a sul».
Nb: a imagem deve ser do cameraman do helicóptero da SIC e foi retirada por mim daqui.

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Que se lixe a troika! Queremos as nossas vidas! (é já amanhã!!)


Em Lisboa, a manif. sai da Pr. José Fontana, às 17h (de sábado, bem entendido).
Para as outras cidades envolvidas (e são muitas, em Portugal e «lá fora») vd. aqui.
O texto de apresentação da iniciativa pode ser lido aqui.

Como certas multinacionais actuam na sombra para desregular ainda mais o mundo

A indústria do Tabaco, do Petróleo, a Farmacéutica, o Walmart e quase 600 lobistas representando as empresas privadas procuram impingir aos governos um Acordo Transpacífico prejudicial para o interesse público, afectando desde a Internet livre, regulamentações ambientais, e direito à saúde.

A última rodada de negociações termina hoje - e a contestação pode ajudar a contrariar as más intenções. A ong Avaaz vai entregar um abaixo-assinado (já com quase meio milhão de subscritores), cujo texto principal é:

Para todos os governos negociando o Acordo de Parceria Transpacífica:

Enquanto cidadãos globais preocupados, exigimos que os senhores tornem o processo do Acordo Transpacífico (TPP) transparente e prestem contas para todos. Rejeitem quaisquer planos que limitem o poder de nossos governos no que diz respeito a regulação em prol do interesse público. O TPP é uma ameaça à democracia, e enfraquece a soberania nacional, os direitos dos trabalhadores, as proteções ambientais e a liberdade da Internet. Exigimos que rejeitem essa tentativa de dominação do mundo pelas empresas.

terça-feira, 11 de setembro de 2012

Castells: como as elites estão a romper o pacto social

O que estamos a viver em todo o mundo, no contexto da crise financeira, é uma transição – do Estado de Bem-estar social para um Estado de Mal-estar. [...]
O Estado de Bem-estar é a base da produtividade e da solidariedade social. No livro que publiquei alguns anos atrás, com Pekka Himanen, sobre o modelo finlandês, mostramos como a produtividade e competitividade da Finlândia – uma das mais altas na Europa, e superior à alemã – baseava-se na qualidade de capital humano, da educação, das universidades, da pesquisa. E também da saúde pública (sem corpore sano não há mens sana).
Nestas condições, surge um círculo virtuoso: o Estado de Bem-estar social gera capital humano de qualidade, que gera produtividade, que permite financiar sobre bases não inflacionárias o Estado de Bem-estar. Se as partes se desconectam, o sistema afunda. Porque o argumento do suposto desencontro entre trabalhadores ativos e inativos, que inviabilizaria uma Segurança Social digna não leva em conta fatores essenciais. Por exemplo: o importante não é o número de pessoas que sustentam o sistema, mas a produtividade gerada por eles para custear o apoio aos aposentados. Se, além disso, os benefícios sociais forem oferecidos por um Estado de Bem-estar dinâmico, apoiado nas tecnologias de informação, os custos são reduzidos. De modo que os benefícios são perfeitamente sustentáveis, desde que ampliem a produtividade da economia, e diminuam a ineficiência no Estado não por meio do desemprego – mas de uma modernização organizativa e tecnológica do setor público.
Mas há algo ainda mais importante. O Estado de Bem-estar social não foi um presente de governos ou empresas. Resultou, entre 1930 e 1970, de potentes lutas sociais, que conseguiram renegociar as condições de repartição da riqueza. Estabeleceu, como resultado, uma paz social que permitiu concentrar esforços em produzir, consumir, viver e conviver.
Agora, questionam-se as bases desta convivência. Péssimo cálculo. Porque a destruição deliberada do Estado de Bem-estar social conduzirá ao surgimento de um Estado de mal-estar de perfis sinistros. E isso não acaba assim. Novos movimentos estão a gerar-se, unindo indignados e sindicatos. Daí poderá surgir um novo Estado e um novo Bem-estar.
(artigo completo aqui)

quinta-feira, 5 de julho de 2012

Para o Tribunal Constitucional, governo acentuou desigualdades de modo ilegítimo ao cortar subsídios dos funcionários públicos e reformados

«Tribunal Constitucional veta corte nos subsídios e de Natal», por Luísa Meireles. Paro o TC, foi violado o princípio da igualdade proporcional. E mais: «apesar da Constituição não poder ficar alheia à realidade económica e financeira, sobretudo em situações de graves dificuldades, ela possui uma específica autonomia normativa que impede que os objetivos económico-financeiros prevaleçam, sem qualquer limites, sobre parâmetros como o da igualdade, que a Constituição defende e deve fazer cumprir» (TC dixit).

Contudo, temos um premiê tão obcecado com a penalização assimétrica, que é bem capaz de, no próximo ano, estender a medida aos privados, como ameaçou hoje em jeito de resposta ao TC, deixando de lado tudo aquilo onde fazia sentido ir: a taxação das transacções financeiras, das holdings e dos rendimentos dos ricos, a redução dos salários e regalias de presidentes de empresas públicas, a extinção de todas as empresas públicas municipais e incorporação de funções donde foram retiradas (os departamentos municipais), a fiscalização e limitação das parcerias público-privadas. É preciso mais?

sexta-feira, 29 de junho de 2012

Pelo direito ao trabalho e à dignidade: 1.ª manifestação de desempregados é já amanhã

«No dia 30 de Junho de 2012, o Movimento Sem Emprego chama a primeira manifestação de desempregados em Portugal.» (vd. + aqui)

Dados úteis para a manifestação Pelo Direito ao Trabalho, convocada pelo MSE
  • Data: Sábado, 30 de Junho de 2012 - 15:00
  • Lisboa: Largo do Camões » São Bento
    Porto: Praça da Batalha » Praça D. João I
  • Pelo direito ao trabalho e por políticas de pleno emprego!
  • Evento no Facebook: página oficial
  • Outros cartazes bem feitos: aqui

quinta-feira, 28 de junho de 2012

Os deuses finalmente ouviram-nos

«Itália na final, Alemanha fora do Euro», por David Andrade

sexta-feira, 22 de junho de 2012

Cimeira Rio+20: reinvestir impostos dados aos poluidores em energia verde (petição)

Em baixo transcrevo parte da petição Salve a Rio+20, Salve o Planeta, da ONG Avaaz, a entregar à presidente brasileira Dilma Rousseff, a qual precisa de 500 mil assinaturas para ser enviada. A sua assinatura ajudará à alternativa.

Mais de um milhão de pessoas pediram aos líderes mundiais que acabassem com os subsídios aos combustíveis fósseis na Rio+20 – uma medida óbvia que poderia reinvestir um trilhão de dólares em impostos, que atualmente são repassados para grandes empresas petrolíferas, em energia verde. Mas eles se recusaram a atender esse pedido, mesmo com o apoio da UE, os EUA e da maioria dos países do G20! As negociações terminam em 48 horas. Agora é a nossa chance de salvar a Conferência e o futuro do planeta.
A presidenta Dilma é a anfitriã do encontro e tem o poder de reabrir a discussão e exigir um cronograma para acabar com esses subsídios poluidores, mas ela está pensando em se esquivar com um texto vago apresentado por uma equipe de burocratas. Nós podemos impedir o Brasil de seguir por este triste caminho.
Dilma tem 2 dias para emergir como uma líder global nas discussões sobre mudanças climáticas. Assine esta petição urgente agora e encaminhe para todos – quando tivermos 500.000 assinaturas, a Avaaz irá entregá-la diretamente às mãos de Dilma e publicar um anúncio publicitário impactante no Financial Times.

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Os contos dos irmãos Grimm fazem 200 anos!

As evocações desta efeméride são muitas.
Eis duas: a radiodifusão de estórias suas na TSF e o simpósio internacional «The Grimm Brothers Today», que arrancou hoje na FCSH, em Lisboa.

terça-feira, 19 de junho de 2012

Recolocar a cultura na agenda pública

Um conjunto de cidadãos ligados ao sector cultural divulga hoje a proposta de reflexão «Cultura e Futuro». A sessão pública decore no Teatro S. Luiz, a partir das 18h, e terá transmissão em directo via webstreaming no Público online.
Deixo-vos com uma passagem eloquente deste oportuno documento:
«Ao contrário daquilo que enuncia o discurso corrente, é precisamente nos momentos de crise, como o que vivemos, que as políticas públicas para a Cultura ganham renovada atualidade. A Cultura é um instrumento fundamental de construção de uma qualquer ideia de futuro, quer do ponto de vista simbólico, enquanto conjunto de valores e práticas que têm como referência a identidade e a diversidade cultural dos povos e que compatibiliza modernização e desenvolvimento humano, quer do ponto de vista económico. A produção cultural dinamiza uma série de cadeias produtivas que lhe permitem multiplicar o investimento público como nenhum outro setor. E é ainda um elemento estratégico da economia do conhecimento».

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Reflectindo sobre Dickens no bicentenário do seu nascimento

Começou hoje o Congresso Internacional «Dickens and His Time», que decorrerá na FCSH da Universidade Nova de Lisboa até sexta-feira.

domingo, 17 de junho de 2012

Nova ronda eleitoral: 2.ª volta dá maioria parlamentar ao PS francês e centrão grego ganha por uma unha negra

«Maioria absoluta do PS travou entrada de Marine Le Pen no Parlamento francês», por Clara Barata
«Partido pró-austeridade venceu as eleições gregas», por Cláudia Sobral e Maria João Guimarães

domingo, 10 de junho de 2012

Em França, a esquerda reforça posições em novas eleições

«Esquerda consegue garantir maioria na primeira volta das legislativas em França»

Saudades doutros tempos

A democracia segue dentro de momentos: onde é que já ouvimos isto?

Na Europa, há dois pesos e duas medidas

Afinal a ajuda a Espanha não é ajuda mas outra coisa, ou seja, só mesmo os fraquinhos é que são totalmente subjugados, os outros já têm direito a um tratamento diferenciado, eufemístico. Países de 2.ª e países de 3.ª classe. Não há regra universal, é o império da arbitrariedade do poder, sem racionalidade nem justa medida. Dividir para reinar continua a ser o lema. Isto vai acabar mal, já muito boa gente disse isso. Depois não se admirem: qualquer semelhança com democracia é pura fantasia.
PS: o premier luso teve agora uma tardia ameaça de marcha a ré, mas continua com as palas colocadas. Passou um ano. Muito do que fez não se esquece.

sábado, 9 de junho de 2012

Que, por uma vez, os deuses vejam futebol e imponham uma teca aos bárbaros

Há quem diga que não se deve misturar futebol e política, mas duvido que a maioria dos cidadãos minimamente cidadãos (briosos!) não tenha sentido um desejo incontido de envergonhar a Merkel e seus muchachos através da derrota da sua querida selecção de futebol, já daqui a uma hora.
Ela, que foi visitar os seus mininos, e pôs a mão no ombro do criativo Ozil, um descendente de turcos cuja história colectiva é o oposto do que a chanceler quer impôr na Europa a todos os europeus.

sexta-feira, 8 de junho de 2012

Endividualismo? Um debate necessário

Manuel Maria Carrilho propõe-nos uma leitura da era actual assente na adesão voluntária de todos a um consumo interminável, ao crédito sem fim e na renúncia à responsabilidade individual (tudo junto criando o tal «endividualismo»).
É uma visão muito controversa e, em certos aspectos, muito colada a uma tendência autopunitiva do estilo 'o povo gastou o que não tinha e agora tem que pagar a conta', como se a dívida maior fosse equitativa e feita pelo 'povo' (p.e., quem propôs e negociou as PPP que estrangulam o Estado?).
Além disso, o crédito fácil em Portugal começou por volta de 2000, nuns dos governos Guterres do qual Carrilho fez parte, como relembrado oportunamente em comentário no final da transcrição do artigo do ex-ministro da cultura.
Ainda assim, vale a pena ler e reflectir sobre esse texto, porque interpela o modo de debater duma certa esquerda bem pensante, que nas últimas décadas se revelou débil na discussão aberta, construtiva e não dogmática de certos fenómenos novos (p.e., o financismo, o tecnologismo e o individualismo) que minaram as nossas sociedades e democracias.

quarta-feira, 6 de junho de 2012

A sua bicicleta precisa de arranjo gratuito?

Então agora já tem onde ir: Cicloficina dos Anjos, 4.ªs feiras, 19-23h, R. Regueirão dos Anjos, 69.
Mais informações em «No Regueirão dos Anjos, convive-se sobre rodas e a oficina é de borla».

Da liberdade de imprensa nos tempos que correm

Primeiro foi o caso Pedro Rosa Mendes, afastado de correspondente da Lusa em Paris e de cronista da Antena 1.
Depois foi o caso de João Paulo Guerra, no Diário Económico, que viu não renovada a sua coluna que vinha de 1999.
Por fim, o caso mais grave, cujos efeitos negativos alastram. Pode resumir-se nisto: o ministro Miguel Relvas pressionou o jornal Público para deixar de o interpelar a propósito do seu nexo a figuras do caso das secretas, incluindo ameaças de revelação de um segredo alegadamente comprometedor da vida privada da jornalista em serviço Maria José Oliveira. A direcção cai no erro clamoroso de contemporizar com essa pressão inadmissível. O conselho de redação discorda e faz sabê-lo cá fora. De seguida a direcção opta por expor o caso detalhadamente, mas já era tarde. Além disso, cai no novo erro de anunciar qual era o 'segredo' que Relvas ameaçara revelar, sem autorização da jornalista, sem dizer logo que era mentira e sem antecipar que isso seria usado contra a jornalista (e contra o próprio jornal!). Anteontem, a jornalista Maria José Oliveira demitiu-se do Público, fundamentando a sua decisão na perda de confiança na direcção do jornal, por esta ter tomado o partido do ministro.
Como comenta Sérgio Lavos no Arrastão: «Depois de Pedro Rosa Mendes [...], Relvas consegue uma vez mais  que alguém incómodo para si deixe de fazer o seu trabalho de denúncia jornalística. Assim vão as coisas no país. Asfixia democrática?».

terça-feira, 5 de junho de 2012

Como assegurar ensino para todos: um debate recorrente

Depois do Chile é a vez do Canadá.
Um movimento que começou como protesto estudantil contra um aumento desproporcionado das propinas universitárias alargou-se a toda a sociedade a partir do momento em que o governo neo-liberal do Quebéc criou a Lei 78 para restringir a liberdade de manifestação. Retrato do líder estudantil e do seu sindicato pró-democracia directa na reportagem «Gabriel Nadeau-Dubois: o porta-voz dos estudantes canadianos é o Cohn-Bendit do século XXI», por Maria João Guimarães.

Ainda bem que reconsiderou, Olivença é ibérica

«Alcaide de Olivença retira carga bélica à recriação da Guerra das Laranjas», por Carlos Dias
Sobre o mesmo assunto vd. este post anterior.

segunda-feira, 4 de junho de 2012

Novas da frente cultural: cinema e museus

Nem só de desgraças vive a política cultural tuga: acaba de sair a ansiada nova lei do cinema, que reformula o mecanismo de financiamento do cinema português, alargando à tv cabo a taxa audiovisual. Ainda assim, o governo descurou a auscultação de parceiros da sociedade civil, como a secção de Audiovisual do Conselho Nacional de Cultura. Para quem quiser ler algumas opiniões sobre os problemas de financiamento do sector pode ir aqui.
Outra boa notícia foi a inauguração do museu do motociclismo, em Faro, pelo Moto Clube de Faro.

quinta-feira, 31 de maio de 2012

História da resistência estudantil em colóquio

O Colóquio 1962 - Uma Perspectiva Histórica, dedicado à revolta estudantil desse ano e cuja efeméride evocámos recentemente, decorre amanhã e depois na FCSH-UNL.
A organização é do IHC.

História da resistência conta agora com Mulheres de armas

O lançamento deste livro sobre o papel da resistência feminina na actuação do Partido Revolucionário do Proletariado - Brigadas Vermelhas está agendado para hoje.
Extensa reportagem em «Quando em Portugal as mulheres pegaram em armas e puseram bombas», por São José Almeida (transcrição do texto aqui).

terça-feira, 29 de maio de 2012

A ditadura síria acaba de assinar a sua sentença de morte

Foi preciso esperar muito, demasiado para os mais de 12 mil assassinados, dezenas de milhares de feridos e desalojados. Mas agora já nem a real politik consegue aguentar mais esta vergonha internacional. O massacre de Houla, na sexta-feira passada, foi a gota de água. Finalmente: «Kofi Annan: O que aconteceu em Houla “foi um acto repugnante, com consequências profundas”».
E ainda bem que algum europeu avança, após a recusa reiterada em aplicar as resoluções da ONU, é o mínimo de decência: «Hollande sublinha a possibilidade de intervenção militar na Síria após massacre».

A União Europeia está prestes a acabar?

Esta é a tese do economista do FMI Stephen Jen, por haver «dois países da UE [Grécia e Espanha] em iminência de ruptura ao mesmo tempo». Acredita nela Domingos Ferreira, em «Iniciou-se a desagregação do euro». Esperemos que não, e que a alegada 'corrida aos bancos' não passe dum exagero. Mas ainda bem que existem estes catastrofistas, doutro modo os governantes seriam ainda mais lentos na tomada de decisão, o que só agravaria a situação. É que a lentidão é um dos factores que agravou a situação.
Para Ferreira, a alternativa passa pelo BCE assumir-se como emprestador de último recurso, apoiar-se rmedidas expansionistas, aumentar-se o firewall europeu com vista a refinanciar os bancos dos PIIGS (de 780 biliões para c.5,5 triliões de euros) e criar-se uma união política para a redistribuição fiscal. O que só será possível com apoio do G20.

terça-feira, 22 de maio de 2012

Lisboa acolhe Congresso Europeu do Património: aproveite-se a oportunidade para propor uma política cultural europeia

Este influente encontro cultural é organizado pela rede Europa Nostra e decorrerá este ano em Lisboa entre 29 de Maio e 2 de Junho. O Centro Nacional de Cultura integra essa rede que pretende ser «a voz do património cultural europeu» e que congrega 250 ONG com c.5 milhões de associados em toda a Europa. «Conta ainda com o apoio direto de mais de 1500 membros individuais e mais de 150 entidades públicas e empresas». A principal ideia é «salvaguardar o património cultural e natural europeu para as gerações presente e futuras», tendo já trabalhado um elenco relevante de questões (vd. lista de documentos).
O seu extenso programa inclui a atribuição de prémios pela comissária europeia da pasta, visitas guiadas a monumentos e um fórum com o pertinente tema «Salvaguardar o Património ameaçado na Europa» (a 1/VI, na FCG). Entre as intervenções sectoriais, que poderão ser acompanhadas via internet, destaco as seguintes: «Emergence d’un mécénat populaire en France pour sauver le patrimoine en péril», por Bertrand de Feydeau (Fondation du Patrimoine, França);  «Lisbon Heritage in Danger», por António Sérgio Rosa de Carvalho (historiador); e «Cities need integrated and sustainable urban regeneration urgently”, por João Teixeira (European Council of Spatial Planners). Mais informações neste folheto.
ADENDA 1: «Seis prémios para um património que une pessoas»: restauro da torre siderúrgica de Sagunto (Valência, 1920); casa comunitária de arquitectura popular (Cornualha, séc.XV/XVI); Edifício Averof, neoclássico, agora centro universitário de arquitectura (Atenas, 1878); livro de pesquisa The Augustus Botanical Code of Ara Pacis, sobre o alfabeto botânico do baixo-relevo do imperador romano Augusto; inventário dos portões decorados da minoria étnica sícula, pela professora Kovacs (Transilvânia); programa norueguês de salvaguarda do património dirigido a crianças e jovens (recuperou 1128 sítios e monumentos desde 2000).
ADENDA 2: Por ocasião da entrega dos prémios acima referidos, a comissária da cultura da UE Androulla Vassiliou afirmou que o seu orçamento subirá 37% em 2014 (via programa Europa Criativa, com 1,8 mil milhões de euros ). Para si a cultura é um factor de desenvolvimento, contribuindo para a coesão social, a sanidade mental e a esperança no futuro. O sector emprega 8,5 milhões de pessoas na Europa e contribui com 4,5% para o respectivo PIB. Além disso, 40% do turismo tem motivações culturais, sendo a Europa o seu 1.º destino, devido aos seus museus, festivais e património. Neste âmbito a UE instituiu recentemente o Heritage Label para distinguir bens patrimoniais ligados ao ideal de integração europeia (cf. entrevista «"É difícil convencer os políticos de que a cultura não pode ser negligenciada"», por Lucinda Canelas).

sexta-feira, 18 de maio de 2012

TPC pró troikó passos: mais 'empreendedor' que isto é difícil, mas permanece desempregado - como explicar?

Sr. primeiro-ministro:
apresento-lhe Chullage, português, licenciado em sociologia, rapper amador apesar do ror de sons já feitos. Era animador sociocultural em bairros sociais no Seixal, ajudando na inclusão social e a desviar os miúdos da droga e dos gangs. Está no desemprego porque V. Ex.ª resolveu suspender sine die a aplicação do QREN, do qual depende este tipo de empregos. A música «Já não dá» integra o novo álbum Rapressão, bem avaliado pela crítica (vd. João Bonifácio, no Público de hoje). O que é que ele precisa de fazer mais para não continuar preso no desemprego? Montar uma empresa de construção civil?

quinta-feira, 17 de maio de 2012

São bem-vindos fóruns completos: para debate, intervenção e propostas

Foi hoje publicamente apresentado um novo movimento cívico, o Para uma esquerda livre. Antes disso, já incomodava certas vozes que costumam dizer que há falta de intervenção cívica e de mobilização popular, etc. e tal., mas que só toleram novidades se forem da sua banda (uma boa amostra reside em posts do blogue 5 Dias e em certos comentários no Arrastão).
Uns criticam porque é só mais um movimento, outros porque quer ser partido. Entendamo-nos: tem legitimidade e pertinência para ser uma coisa ou outra, ou uma coisa e depois outra. O que interessa é que, seja o que for que consubstancie, que o faça de modo consequente. Mai nada.
Por isso, felicito publicamente os seus dinamizadores de primeira hora e saúdo a sua intervenção inicial, pois parece-me que vai no sentido certo: «Manifesto para esquerda livre quer provocar partidos». É que precisamos de mobilização da sociedade civil se queremos chegar romper com a actual claustrofobia do espaço público.
Aproveito a deixa para vos deixar um outro manifesto, o «Manifesto for universities that live up to their missions/ Université en débat: Pour des universités à la hauteur de leurs missions». Alerta para o facto dos rankings de universidades estarem a ser usados para estrangular ainda mais o financiamento duma boa parte das universidades públicas, concentrando o que já está concentrado demais e acentuando a mercadorização deste bem público. Além disso, apresenta-se uma visão alternativa, com propostas consentâneas.

quarta-feira, 16 de maio de 2012

Aonde leva o troikismo: 1 milhão de desempregados, a angústia como quotidiano

«Desemprego real próximo dos 20% no primeiro trimestre», por Paulo Miguel Madeira e Raquel Martins
«Retrato: o desemprego tem rosto», blogue de Daniel Rocha

segunda-feira, 14 de maio de 2012

Bernardo Sassetti (1970-2012): mágico cometa jazz

Um grande talento que desaparece ainda novo. A ideia de perpetuar o seu trabalho, proposta por amigos como o maestro Paulo Lourenço, parece-me a melhor das homenagens a alguém que declarava sempre estar imerso em projectos. A sua música e fotografia têm boa amostra no seu belo site (gosto particularmente desta sua série de imagens). Gostei muito do improviso ao piano que fez para a «Menina do mar», de Sophia, história infantil contada pela sua mulher Beatriz Batarda (seria uma benção se se pudesse disponibilizar a todos um registo dum desses espectáculos de 2010-11, caso tenha sido gravado). Mais informação sobre a morte acidental, exéquias e depoimentos aqui.

quarta-feira, 9 de maio de 2012

Por uma política cultural para o cinema português (manifesto)

Tendo em conta o estado actual do Cinema português, que apesar de continuar a ser reconhecido no estrangeiro continua a não ser apoiado pelo nosso Governo, um grupo de organizações e pessoas ligadas ao sector, decidiram tomar a iniciativa de marcar uma acção de protesto em forma de sessão de cinema.
Será na próxima quarta feira, pelas 21h em frente à Assembleia da República. Aqui fica um pequeno texto criado por esta "plataforma":
 
TODOS AO CINEMA EM SÃO BENTO!
Porque um país sem cultura não tem futuro
Porque um país sem cinema não tem memória
Para todos os que se recusam a assistir passivamente ao seu extermínio, vamos projectar, ao ar livre, mais de 100 anos de cinema português.
Pela aprovação da nova lei do cinema!
Todos a S. Bento
9 de Maio, 4.ª feira, 21h
Entrada livre

Fontes: facebook; Cena.

terça-feira, 8 de maio de 2012

Maurice Sendak (1928-2012), um autor que não se ralava de ser etiquetado de escritor de livros para crianças

Não o conhecia e fiquei curioso por ler a sua história mais badalada, Where the wild things are/ Onde vivem os monstros (1963). O filme em baixo baseia-se nas suas ilustrações. Obituário aqui.

domingo, 6 de maio de 2012

Da austeridade ao crescimento: eleições ditam reconfiguração política na Europa

Foram muitas as eleições num espaço de dias: Inglaterra, Grécia, França e Alemanha. As mais decisivas ocorreram na Grécia e França.
Os gregos ditaram uma reconfiguração partidária, com o 1.º partido apenas com 19% (e com queda de -15%!) e surgindo em 2.º lugar um partido similar ao BE, o Syriza (com 17%). O partido no poder, no caso o PASOK, é fortemente punido (passa de 31 para 13%). Seguem-se, em 4.º, uma cisão dos ganhadores conservadores, em 5.º os comunistas, em 6.º a extrema-direita e em 7.º o DIMAR, esquerda pró-europeísta (o PASOK considera-se agora de centro). Além destes, é possível mais entradas no parlamento, ainda se contam os votos (verdes e LAOS ficaram à beira dos 3% necessários). Quase certo é a Nova Democracia coligar-se com o PASOK, mantendo-se os mesmos no poder, agora tipo bloco central. Este tipo de alternância sem alternativa é sintoma de falta de qualidade democrática. E pode agravar a crise, em vez de a ajudar a resolver.
Em França, Hollande é o 2.º presidente socialista em 50 anos! Parece pouco consentâneo com um país pintado pelos opinadores conservadores como pátria revolucionária sem cura, delírio jacobino e esquerdista. Por outro lado, Sarkozy é apenas o 2.º presidente sem conseguir revalidar mandato, numa eleição maciça, com apenas 19% de abstenção! Despediu-se com fair play (ao contrário da sua entourage), mas de modo tão exagerado que parecia estar já a pensar nas próximas eleições. Será? Seja o que for, o mais importante é que a vitória de François Hollande marca claramente uma viragem na Europa. O PPE- Partido Popular Europeu perde aqui um dos seus pilares e deixa de liderar a fórmula polítitca para a Europa.
Para quem insistia que a situação nos países euromeridionais era um problema 'sulista', teve aqui uma refutação bem eloquente. Se Hollande e Sarkozy são parecidos, como dizem, então porquê este ânsia de apear um presidente em tempos instáveis que costumam convidar a manter o governante de serviço? O mesmo sentimento de punição do político de serviço? Talvez. Não apagará, porém, a mudança que comporta. Sobretudo contra os cínicos, e são tantos por aí.

quinta-feira, 3 de maio de 2012

E eis senão quando um injustamente relegado obriga a reescrever toda a história da literatura portuguesa!!!

O tipo escreveu o 1.º romance histórico português aos 14 anos, o 1.º romance moderno luso uns anos depois; e foi traduzido para alemão antes de Herculano. As obras são boas. Apesar de tudo isto, foi esquecido pelos escritores coevos e pelos historiadores da literatura até um outro escritor amante do  romance histórico português se interessar pelo caso.
Pedro Almeida Vieira, é dele que falo, reedita agora o tal  1.º romance moderno luso. Está a ter boa publicidade (i; Clube dos Livros; Da Literatura), deixando encavacado todo um friso de ilustres, desde Herculano a Carlos Reis. É bem feita. Parabéns a Pedro Almeida Vieira, pela persistência e pelo cuidado.
Mas não cuidem que se tenha sentido mal. Na época, até rebuçados vendeu. E muitos!

quarta-feira, 2 de maio de 2012

Fernando Lopes (1935-2012): o pioneiro do «novo cinema português»

Preparou-se cedo, na meca londrina, e começou novo, tal como o cinema que fez. Tem filmes marcantes, alguns percursores. Ontem, revendo Belarmino, não pude deixar de repisar a sensação de obra inspiradora de filmes como Touro enraivecido, de Scorcese, feito muito anos depois.
Fernando Lopes foi um cineasta importante mas algo secundarizado, pela sombra de Manoel de Oliveira e César Monteiro. Ousou transpor para cinema obras grandes da literatura portuguesa, como Uma abelha na chuva, de Carlos de Oliveira, e O delfim, de José Cardoso Pires.
Obituários no Público, DN e JN.