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terça-feira, 30 de junho de 2009

...e os motins da banlieue (2005) foram há tanto tempo que já ninguém se lembra.

Um estudo publicado recentemente mostra que um negro em França (ou pelo menos em Paris) tem quase 8 (OITO!) vezes mais de probabilidade de ser interpelado pela polícia do que um branco, e um árabe 6 (SEIS!) vezes mais. Embora as interpelações presenciadas pelos investigadores (mais de 500) tenham decorrido sem problemas, os membros de minorias étnicas interpelados queixaram-se do carácter repetitivo das mesmas. Ainda para mais sabe-se que interpelar com base na pertença a um grupo étnico nem sequer é eficaz na prevenção da delinquência. O que é curioso é que em França não há estatísticas oficiais que tenham em conta critérios étnicos, porque seria, note-se, uma forma de discriminação. Interpelar preferencialmente negros e árabes não é discriminação, mas fazer estatísticas que o demonstrem já o é. Faz todo o sentido. Sobretudo quando a própria polícia, em resposta a este estudo, alega "basear-se em critérios empíricos incontornáveis", sempre gostaria de conhecer esses estudos empíricos, já que as estatísticas étnicas oficiais são proibidas.
Entretanto nas banlieues os episódios de conflitos com as forças da ordem vão-se multiplicando. Claro que se se voltarem a repetir os motins seremos todos apanhados de surpresa.

domingo, 18 de janeiro de 2009

Porque será que ainda existe racismo?

Em França a polícia pode interpelar uma pessoa sem precisar de uma justificação para o fazer, são os "coltrôles au faciès". Não existem dados oficiais sobre estas interpelações, um polícia nem sequer tem que preencher papel algum. No entanto CRAN (Conseil Répresentatif des Associations de Noirs) solicitou uma sondagem à CSA sobre a incidência, e a conclusão foi que os membros das minorias visíveis são duas vezes mais controlados pela polícia do que a média da população. Infelizmente não é muito surpreendente, mas fica a demonstração de que as interpelações arbitrárias pela polícia resultam em discriminação, e mesmo em racismo institucional. O CRAN, lançou a semana passada uma campanha de sensibilização para o problema, e fez vir dos EUA um sósia de Barack Obama para realizar o vídeo que está ali abaixo. A campanha tem sido um sucesso pelo menos da internet, segundo o presidente do CRAN, Patrick Lozès, o vídeo foi visto 160000 vezes em dois dias. Note-se que o CRAN não deseja o fim do "contrôle au faciès", mas propõe que um polícia que interpele uma pessoa seja obrigado a preencher um relatório indicando os detalhes e - sobretudo - a justificação para a interpelação. É uma proposta, na minha humilde opinião, bastante razoável, pretende-se apenas responsabilizar o polícia. Uma medida idêntica foi adoptada do Illinois quando Obama era senador, e foi uma das experiências que inspirou a proposta do CRAN, ainda segundo Lozès. De notar também que a chefia da Polícia acolheu favoravelmente esta campanha, tal como os meios político (com a excepção do ministro da Imigração e Identidade Nacional Eric Besson).
Curiosamente, quando o CRAN lança esta iniciativa e quando Obama se prepara para tomar posse, a revista Science publicou um artigo científico em que se analisa o comportamento de indivíduos que presenciam actos de racismo. O ponto de partida do estudo é uma aparente contradição das sociedades actuais: se por um lado o racismo é hoje em dia geralmente condenado e fortemente reprimido, por outro lado os actos racistas continuam a fazer parte do nosso quotidiano. A conclusão principal do estudo que explica, pelo menos em parte essa contradição, é que geralmente alguém que testemunhe um acto de racismo reage muito mais passivamente do que pensaria reagir. Entre a reacção que uma pessoa diz que teria caso presenciasse um acto de racismo, e a reacção que ela efectivamente tem, vai uma distância considerável. Infelizmente, mais uma vez não surpreende, mas a prova empírica vale ouro. E sim, o racismo ainda existe...



terça-feira, 3 de junho de 2008

O rock 'n' roll perde todo o seu bomp, ba-bomp-bomp, bomp, bomp: ficou muda a guitarra retangular de Bo Diddley (1928 – 2008)


Bo Diddley, um dos pioneiros do rock 'n' roll, morreu ontem, aos 79 anos. Ao lado de Chuck Berry e Little Richard, Diddley fez parte de um grupo pioneiro de artistas negros que atravessaram a fronteira da divisão racial norte-americana para criar música que agradava ao público branco e por ele era imitada. Mesmo com poucos sucessos, Bo Diddley é um dos músicos que mais influenciaram o blues, o rock e o rap. A sua marca registrada é uma guitarra em formato retangular. O ritmo de sua "batida Bo Diddley" (bomp, ba-bomp-bomp, bomp, bomp), forneceu uma base rítmica poderosa ao rock'n'roll e foi “chupada” por várias gerações de roqueiros: desde Elvis Presley a Bon Jovi. Keith Richards, Ron Woods e Richie Sambora participaram das gravações de alguns de seus discos. O próprio Diddley tocou em bandas como The Clash e The Grateful Dead. Veja aqui um vídeo de 1960 e aqui ele tocando com Tom Petty.

sábado, 29 de março de 2008

A republicana Condoleezza Rice elogia discurso de Barack Obama

Tudo indica que Barack Obama se recuperou do tsunami provocado pelo seu ex-pastor Jeremiah Wright. Uma nova sondagem divulgada ontem pelo Instituto Pew Research Center mostra o senador democrata na frente da senhora Clinton (com 49% dos votos contra 39% ). Ainda segundo a sondagem, 51% dos entrevistados disseram que Obama soube como lidar com a polêmica. entre o grupo de seus eleitores, este número sobre pra 84% . Noutra simulação, o candidato democrata também venceria a disputa pela presidência dos Estados Unidos com 49%, contra 43% dos votos do republicano John McCain. Aqui os dados completos desta sondagem.

Parece-me que o discurso de Obama conquistou (de certa maneira) corações e mentes dos dois lados da política americana. É o caso, por exemplo, de Condoleezza Rice. A secretária de Estado, em conversa ontem com o ministro brasileiro da Defesa, Nelson Jobim, não escondeu a sua satisfação de como Obama lidou com a questão racial nos Estados Unidos. Além de elogiar e aprovar o discurso do democrata, afirmou que “há um paradoxo e uma contradição para este país e nós ainda não os resolvemos".

Refeito do susto, os principais alvos de Barack Obama agora são o estado da Pensilvância, em 22 de abril, no qual estão em jogo 158 delegados e depois os estados de Indiana (com a disputa por 72 delegados) e da Carolina do Norte (115), ambos em 6 de maio. Veja infográfico da corrida democrata abaixo.

OBS. Como os números sobre as primárias diferem entre os vários veículos de Comunicação Social, tenho adotado a AFP como fonte de informação.

quarta-feira, 26 de março de 2008

Por falar em racismo

Coisas destas ainda acontecem. A história passou-se com William Gallas, jogador de futebol titular da selecção francesa, e foi contada pelo próprio num programa de televisão. De passagem por Paris para jogar pela selecção francesa Gallas reuniu-se com a família e amigos, e quis celebrar a ocasião com Champanhe. Foi a uma loja no 16° bairro (a zona mais cara de Paris), e quis comprar 8 garrafas de Champanhe da melhor marca. O vendedor recusou sob o pretexto que apenas se podia vender duas garrafas de cada marca por cliente. Pequeno pormenor: Gallas é negro. Gallas saiu da loja e pediu ao chauffer para ir ele comprar as 8 garrafas de Champanhe. Pequeno pormenor: o chauffer era branco. Conseguiu comprar as garrafas de Champanhe sem problemas. Gallas regressou então à loja e confrontou o vendedor com a situação. A resposta do vendedor: "Desculpe, não o reconheci". Moral da história: racistas sim, mas para figuras públicas abrimos excepções.
Gallas apresentou queixa contra o vendedor e a loja.

O Poeta da Negritude

"mais l'œuvre de l'homme vient seulement de commencer
et il reste à l'homme à conquérir toute interdiction immobilisée aux coins de sa ferveur
et aucune race ne possède le monopole de la beauté, de l'intelligence, de la force
et il est place pour tous au rendez-vous de la conquête"(1)

Aimé Césaire, Cahier d’un retour au pays natal (1956)

(este post é uma promessa antiga à Cláudia)

Voltando ao episódio do rev. Wright que parece ter causado mossa na corrida de Barack Obama para a Casa Branca. Afinal o que tem o rev. Wright de tão escandaloso? Do tempo que tive nos EUA (que foi bastante, e adorei) uma das imagens que me ficou foi, quando assisti a um jogo da NBA, ver adeptos negros, que provavelmente pagaram com metade do ordenado o seu bilhete, levantarem-se, tirarem o chapéu, e com a mão no lado esquerdo do peito ouvir o hino dos EUA. Ficou para mim como um mistério insondável na natureza que negros, num país onde o racismo é quotidiano, onde as desigualdades socio-económica entre negros e brancos são gritantes, onde foi preciso passar por uma guerra civil para abolir a escravatura e onde nem sequer a promessa dos dois acres e uma mula foi cumprida, que negros, dizia eu, respeitem e sintam esse país como a sua pátria. Custa-me a perceber que cause tanta indignação que o rev. Wright diga "God Damn America!". Não temos que subscrever o que ele diz, mas a reacção da virgem ofendida soa-me a hipocrisia.

Este episódio fez-me reler o magnífico "Cahier d'un retour au pays natal" de Aimé Césire, o poeta da negritude. O Cahier é uma poema sublime, e ao mesmo tempo um murro no estômago, brutal, que deixa qualquer um encostado às cordas. É todo ele atravessado pela questão identitária da negritude. O que é ser negro? O que há de comum a todos os negros? A sua história, o seu sofrimento, a sua sorte. Há claro, quase nunca explicitado, o sentimento do branco como o inimigo e o culpado do sofrimento do negro. Mas por vezes o dedo apontado ao branco vem à tona. Com cinismo: "Parbleu les Blancs sont de grands guerriers, / Hosannah, pour le maitre et pour le chatre-negre! / Victoire! Victoire! / vous dis-je: les vaincus sont contents!"(2) Com rancor: "Ecoutez le monde blanc / horriblement las de son effort immense / ses articulations rebelles craquer sous les étoiles dures / ses raideurs d'acier bleu transperçant la chair mystique / écoute ses victoires proditoires trompeter ses défaites / écoute aux alibis grandioses son piètre trébuchement / Pitié pour nos vainqueurs omniscients et naïfs!"(3)

É claro que o discurso identitário pode levado longe demais, e correr riscos. O próprio Césaire se questiona: "Mais quel étrange orgeuil tout soudain m'illumine?"(4) É esse orgulho que pode lavar a pisar o risco. Não temos que concordar com tudo. Mas alguém pode negar o sofrimento negro? Alguém pode negar a escravidão? Alguém pode negar o direito a indignar-se contra esse sofrimento? E apontar o dedo a quem o causou? E, mais importante ainda, alguém acredita que sem este sentimento alguma vez teriam os negros alcançado metade do que alcançaram nas suas lutas pelos direitos civis?

E no entanto, a mesma pena que incita ao orgulho negro, apela à tolerância e à convivência entre raças, como na frase que coloquei em epígrafe.

Aimé Césaire é originário da Martinique, que tal como a Guadeloupe e a Guiana Francesa, é um departamento ultramarino francês nas Caraíbas e cuja população é numa enorme maioria negra ou mestiça, descendente de escravos. Nos anos 1930 Césaire, estudante brilhante, foi para Paris estudar e conseguiu um lugar na elitista Ecole Normale Supérieure. Aí conheceu Léopold Senghor (primeiro presidente do Senegal independente) de quem se tornou amigo pessoal, amizade que durou até à morte de Senghor. Césaire, Senghor e outros inciaram então o movimento intelectual que denominaram a "Negritude". Foi pelo, pelo menos em França, o primeiro movimento intelectual de negros para defesa dos negros, com um real impacto junto dos brancos. Editaram jornais e revistas em que falavam das questões raciais, e publicaram as suas obras literárias. O Cahier foi publicado pela primeira vez em 1939, sendo revisto mais tarde, e re-publicado em 1956. Aimé Césaire, como Senghor, teve também uma vida política activa, e com uma longevidade assinalável. Foi deputado no Assembleia Nacional no pós-guerra, participando à redefinição dos departamentos regionais franceses, e foi maire de Port-de-France, a capital da Martinique, durante 56 (cinquenta e seis) anos. É ainda maire honorário. Com 95 anos continua ainda intelectualmente activo, de uma lucidez impressionante (foi um crítico particularmente certeiro de Sarkozy antes das eleições). E é sobretudo uma referência incontornável para os antilheses.

Sim, o orgulho negro pode ser levado longe de mais, mas sem ele, e sem negritude, nada teria mudado, e nunca teria existido qualquer movimento anti-racista. Aimé Césaire e Jeremiah Wright são diferentes, muito diferentes, mas o sentimento é muito parecido.

O Cahier d'un retour au pays natal, é uma obra-prima, e é de facto um murro no estômago. Absolutamente essencial para (tentar) perceber o ponto de vista de um negro, por impossível que seja a quem não é negro percebê-lo. Foi logo de início e é ainda hoje uma obra emblemática, em França, em África, e até nos EUA. Começa assim: "Au bout du petit matin... / Va-t-en, lui disais-je, gueule de flic, guele de vache, va-t-en je deteste les larbins de l'ordre et les hannetons de l'esperance."(5)



tradução (possível):
(1)"mas a obra do homem apenas agora começou
e falta ainda ao homem conquistar todas as interdições fixadas nos resquícios do seu fervor
e nenhuma raça possui o monopólio da beleza, da inteligência, da força
e é um lugar para todos o encontro marcado com a conquista"
(2) Oh Céus os brancos são grandes guerreiros, Hosanah para o mestre e para o capado-negro! Vitória! Vitória! digo-vos eu: os vencidos estão contentes!"
(3) Oiçam o mundo branco horrivelmente exausto do seu imenso esforço / as suas articulações rebeldes sucumbir sob as estrelas duras / a sua rigidez de aço azul trespassa a carne mística / ouve as suas vitórias pérfidas aclamar as suas derrotas / ouve dos álibis grandiosos o seu miserável tropeçar / Piedade pelos nossos vencedores omniscientes e ingénuos
(4) Mas que estranho orgulho tão subitamente me ilumina?
(5) Ao cair da aurora... / Desaparece, dizia-lhe eu, focinho de bófia, focinho de vaca, desaparece detesto os labirintos da ordem e os escaravelhos da esperança.

domingo, 16 de setembro de 2007

REUNIÃO NA ONU:DIRIGENTES AFRICANOS PENSANDO EM DESENVOLVIMENTO















“Caras(os) ,
Todos nós somos testemunhas daquelas sonolências monumentais que nos Congressos, Conferências e reuniões importantes, acometem até o mais diferenciado participante, congressista, o mais sisudo cientista- independentemente da sua cor, da convicção religiosa ou filosófica, e dos gostos musicais; especialmente depois da pausa para o almoço. E se o dito incluir um Tintol alentejano...
Pois é: esta foto carrega consigo alguma maldade..., ou, eventualmente, intenções cavilosas, como dizia um político local que gostava de usar o bom Português.
A foto dos nossos ilustres congressistas faz-me recordar a história de um polícia americano, num dos Estados do Sul, onde o preconceito racial ainda vigora ora quieto, ora escondido, e frequentemente de modo claro e transparente, que dizia o seguinte( anos 60/70):
"...Os Negros não fazem jogging, são é uma cambada de ladrões...". E acrescentava: "...Na dúvida, sobretudo se for ao anoitecer, disparo!..." .
Anda um tipo a seguir os conselhos e as sugestões dos médicos acerca da importância do exercício físico aeróbico e...choca com uma bala perdida; sem saber ler nem escrever.
Tudo isto, meus caros - pessoas sem preconceitos de ordem racial - é apenas para retomar o trabalho neste 2º período com um sorriso nos lábios. E sem aquela sonolência da foto...
Saudações amigas
Jerónimo Belo "