terça-feira, 30 de junho de 2009

...e os motins da banlieue (2005) foram há tanto tempo que já ninguém se lembra.

Um estudo publicado recentemente mostra que um negro em França (ou pelo menos em Paris) tem quase 8 (OITO!) vezes mais de probabilidade de ser interpelado pela polícia do que um branco, e um árabe 6 (SEIS!) vezes mais. Embora as interpelações presenciadas pelos investigadores (mais de 500) tenham decorrido sem problemas, os membros de minorias étnicas interpelados queixaram-se do carácter repetitivo das mesmas. Ainda para mais sabe-se que interpelar com base na pertença a um grupo étnico nem sequer é eficaz na prevenção da delinquência. O que é curioso é que em França não há estatísticas oficiais que tenham em conta critérios étnicos, porque seria, note-se, uma forma de discriminação. Interpelar preferencialmente negros e árabes não é discriminação, mas fazer estatísticas que o demonstrem já o é. Faz todo o sentido. Sobretudo quando a própria polícia, em resposta a este estudo, alega "basear-se em critérios empíricos incontornáveis", sempre gostaria de conhecer esses estudos empíricos, já que as estatísticas étnicas oficiais são proibidas.
Entretanto nas banlieues os episódios de conflitos com as forças da ordem vão-se multiplicando. Claro que se se voltarem a repetir os motins seremos todos apanhados de surpresa.

sexta-feira, 26 de junho de 2009

hiper realidades Jacksonianas


Marcus, Greil: Lipstick Traces

Michael Jackson (1958-2009)

Eu não ia lá muito com a cara dele. Mas, enfim, ele conseguiu deixar a sua marca no universo da música pop. Mais informações aqui.



Atualização:

Um espectro que a si próprio se criara (roubado daqui)

"Tudo começou no dia 16 de Maio de 1983, com um programa especial de televisão que celebrava o vigésimo-quinto aniversário da companhia Motown Records.

Aos onze anos de idade e já vocalista principal dos Jackson 5, um grupo de irmãos que combinava a energia de teenager de Frankie Lymon com a movimentada determinação de Sly and The Family Stone, Michael Jackson gravara, em 1969 e 1970, êxitos para a Motown que fizeram história; regressava agora para prestar tributo, de mãos abertas. Ágil, belo, já homem, mas com ar de criança, afro-americano a quem uma operação plástica colocara traços caucasianos, andrógino, uma espécie de replicante, capaz de comunicar a mais ténue ameaça com um movimento de ombro ou o conforto através de um sorriso e cantando uma canção do álbum Thriller, dando passos para a frente mas parecendo recuar ao mesmo tempo e ocupando o palco não como se fosse seu dono mas como se a sua simples presença o tivesse convocado para ali, ele foi um choque para a nação.

Thriller, sem dúvida uma brilhante e competente versão da música pop, começou por vender dez milhões de discos, depois vinte, trinta, quarenta milhões. Cada canção extraída do álbum e editada como single, ascendeu ao top ten dos discos mais vendidos. Um vídeo-clip com a canção-título, orçamentado em 500 mil dólares e posto à venda por 30 dólares, vendeu 750 mil unidades.

Fechado na casa dos pais, sem conviver senão com a família, os seus animais de estimação e manequins que o visitavam, recusando dar entrevistas, tornando-se um espectro que a si próprio se criara, Michael Jackson era já, de entre os mais famosos, aquele de onde emanava maior intensidade."

Greil Marcus, Marcas de Baton - uma história secreta do século vinte, frenesi, Lisboa., 2000, pp.117-118.

***

“Morfhine”


quinta-feira, 25 de junho de 2009

Música europeia já tem pelo menos 35.000 anos

flautas Parece-me que viver há mais de 35.000 anos não era tão monótono assim como imaginamos. Ao que tudo indica, os primeiros homens modernos já se divertiam ao som de música tocada com instrumentos. É o que confirma um estudo publicado na revista Nature, que descreve flautas com mais de 35 mil anos, encontradas em cavernas na Alemanha. Os cientistas analisaram um exemplar quase completo, feito de osso de abutre, além de fragmentos de outras 3 flautas de marfim.

As flautas foram encontradas em um sítio arqueológico juntamente com outras evidências, as quais é possível concluir que os primeiros representantes do homem moderno na Europa eram também culturalmente modernos. Esta nova descoberta, feita por Nicholas Conard e equipe, comprova que os primeiros humanos modernos europeus já contavam com uma tradição musical bem acentuada. Outros vestígios musicais do Neandertal haviam sido sugeridos em estudos anteriores, mas faltavam evidências palpáveis. Mais.

(Aqui os sons emitidos pela flauta)

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Depois da derrota eleitoral, a derrota jurídica...

...do premiê português e do seu governo, evidentemente. Mas também é mais do que isso, num tempo de tentativas variadas de domesticação oficial do espaço público, de que é sinal mais recente a aquisição de c.1/3 da TVI por uma empresa (PT- Portugal Telecom) cuja golden share é detida pelo Estado português, Estado cujo governo actual denuncia aquela tv como estando a persegui-lo. Tal como hoje refere Daniel Oliveira no blogue Arrastão, trata-se duma vitória para a liberdade de expressão. E, adito eu, reitera-se a inalienabilidade, conferida aos cidadãos, da liberdade de escrutínio e de crítica do exercício da res publica.

Estas são ilações a retirar do arquivamento, pelo DIAP (Departamento de Investigação e Acção Penal) do processo relativo à queixa-crime apresentada por José Sócrates contra João Miguel Tavares (colunista do DN): «As expressões utilizadas pelo arguido João Miguel Tavares e dirigidas ao Primeiro-Ministro, figura pública, ainda que acintosas, indelicadas, devem ser apreciadas no contexto e conjuntura em que foram publicadas, e inserem-se no exercídio do direito de crítica, insusceptíveis de causar ofensa jurídica penalmente relevante».

Verde que não te quero ver-te.

irã - futebol Verde que te quero verde/ Verde vento. Verdes ramas/ O barco vai sobre o mar e o cavalo na montanha/ Com a sombra pela cintura / ela sonha na varanda, / verde carne, tranças verdes, /
com olhos de fria prata / Verde que te quero verde (...). Aqui, a poesia completa.

É o que diz as primeiras linhas da poesia “Romance Sonâmbulo”, de Federico García Lorca. Entretanto, este é um verso que os detentores do poder no Irã não querem sequer ouvir falar, quanto mais ver algo de cores verdejantes. E foi exatamente por usarem pulseiras verdes que 4 jogadores de futebol foram banidos da seleção do país. Mais.

Mayra Andrade, a diva alada pronta pra voar e romper fronteiras

mayra_storia_400

Definitivamente, Mayra Andrade veio pra se consagrar em diva. Não será mais uma daquelas “artistas étnicas” da moda (a tal world music, armadilha preconceituosa inventada pela poderosa indústria fonográfica para capturar os mais desatentos). Ao ouvir “Stória, Stória” (o seu segundo disco – o primeiro foi “Navega”) tem-se a certeza de que a cantora e compositora cabo-verdiana, nascida em Cuba, já é um nome definitivamente esculpido no universo musical. E melhor: esculpida com asas para ir além de qualquer fronteira.

Em “Stória, Stória”, Mayra faz uma deliciosa fusão rítmica. É um disco onde seu porto de partida é a música cabo-verdiana, mas que se encontra em alto-mar com o jazz, com a música brasileira, com a cubana, com outros ritmos africanos e com alguns elementos europeus. Enfim, é uma onda calidoscópica em constante mutação. Melodicamente, o disco tem um forte sotaque brazuca, onde a sua voz ligeiramente grave, quente, versátil e envolvente se mescla perfeitamente com a riqueza melódica e os arranjos primorosos.

“Stória, Stória” foi gravado no Brasil, França e Cuba e produzido por Alê Siqueira (que trabalhou com Tom Zé e Marisa Monte, entre outros). Alguns temas têm arranjos do talentoso músico brasileiro Jacques Morelenbaum (o preferido de Caetano Veloso). Da gravação deste disco participaram músicos cabo-verdianos, portugueses, brasileiros, guineenses e angolanos.

Por fim, ninguém melhor que a própria Mayra pra definir a sua música. “É um cão bastardo. Um cão que já não tem raça. É uma música ilegítima. A música cabo-verdiana é mestiça e eu ainda por cima sou permeável. Tudo que me encanta em outras entra na minha”, diz ela.

Centenário de Vasco de Carvalho, resistente antifascista e cooperativista

O resistente antifascista e cooperativista Vasco de Carvalho vai ser homenageado amanhã num colóquio especial, em Lisboa, na passagem do centenário do seu nascimento.
Dada a relevância do seu contributo político e cívico, aproveito para reproduzir o programa e notas desse evento:
«Centenário de Vasco de Carvalho - destacado resistente antifascista
Colóquio com São José Almeida (jornalista), José Hipólito dos Santos, Eugénio Mota e Isabel Rebelo (antigos companheiros de Vasco de Carvalho) e Luís Carvalho (investigador e organizador)
Quinta-feira, 25 de Junho de 200918h30
Biblioteca Museu República e Resistência (Espaço Cidade Universitária)
Natural de Alcântara, Lisboa, filho e neto de revolucionários republicanos, Vasco de Carvalho foi obrigado a passar à clandestinidade em 1934, por ter denunciado o assassinato pela polícia do operário Manuel Vieira Tomé, da Marinha Grande.
Assumiu a liderança da Secção Portuguesa do Socorro Vermelho Internacional, entre 1936 e 1939, e depois do Partido Comunista Português, entre 1940 e 1942, até ser capturado pela PIDE. Esteve preso no Aljube, em Caxias e em Peniche.
Continuando a lutar contra a ditadura, apoiou as candidaturas de Norton de Matos e Humberto Delgado, esteve na direcção do Boletim Cooperativista, fundado por António Sérgio, e foi presidente do Ateneu Cooperativo/Fraternidade Operária de Lisboa, que seria encerrado pela PIDE em 1972.
Foi um dos autores do livro dirigido por António Sérgio, O cooperativismo: objectivos e modalidades.
Depois do 25 de Abril de 1974 foi presidente da Associação dos Inquilinos Lisbonenses. Vasco de Carvalho destacou-se igualmente a nível profissional, como engenheiro electrotécnico. Participou na criação do Instituto de Soldadura e Qualidade, foi dirigente da Associação Portuguesa de Manutenção Industrial e docente na Universidade Nova de Lisboa.
Quando estava preso em Peniche, Vasco de Carvalho foi expulso do PCP, sob a falsa acusação de ser um provocador ao serviço da PIDE. Esta calúnia perseguiu-o o resto da vida e só muito tardiamente foi reconhecida como erro grave.
Vasco de Carvalho faleceu aos 97 anos de idade fiel às suas convicções, assumindo-se até ao fim como um marxista-leninista anti-estalinista».
*
Neste texto há mais detalhes sobre o empenho cívico de Vasco de Carvalho.
Vd. tb. este texto de José Pacheco Pereira sobre Vasco de Carvalho, a reconstituição da história do PCP nos anos 40 e a reabilitação da memória dum homem empenhado civicamente.

sábado, 20 de junho de 2009

O futuro dum Museu de Arte Popular

O  Museu de Arte Popular de Lisboa está em risco de desaparecer, e com ele os murais e pinturas de artistas plásticos reconhecidos, bem como o seu acervo. O pretexto é a construção dum Museu da Língua no seu lugar, sem se argumentar da validez em obliterar parte da arte popular portuguesa musealizada e da memória da Exposição do Mundo Português e da política cultural dum regime anterior, esse ditatorial.

Aliás, se mais nada ilustrasse, este caso é, lamentavelmente, um novo comprovativo da ausência de estratégia patrimonial por parte deste governo. Isto incluí a relevante vertente museológica.

Como o Estado central faz figura de «corpo presente», um movimento da sociedade civil forçou aquilo que deveria ser um pressuposto básico inicial: a existência dum debate público alargado, crítico, claro e informado. Esse movimento lançou esta petição e este blogue. Hoje fará uma apresentação pública das suas ideias junto ao  Museu de Arte Popular, em Belém, defronte ao CCB do lado do rio (e da ferrovia), pelas 16h. Esse colóquio público contará com as intervenções de Raquel Henriques da Silva, João Leal, Rui Afonso Santos, Vera Marques Alves, Alexandre Pomar, Catarina Portas, Joana Vasconcelos, Rosa Pomar, entre outros.

Para não parecer que o Estado é monolítico, convém dizer que a Assembleia Municipal de Lisboa aprovou esta moção apelando à defesa do MAP por parte do órgão executivo municipal.

Nb: imagem da fachada do MAP, foto de Mário Novais. Vd. também este mural de Tom e Manuel Lapa para a sala de Entre-Douro-e-Minho do MAP.

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Orçamento participativo em debate

Dadas as suas potencialidades como recurso para a democracia participativa e deliberativa, e a franca expansão que tem registado também em Portugal (e noutros países europeus, Brasil, etc.), aproveito para reproduzir informação relativo a um fórum sobre orçamentos participativos que decorre hoje e amanhã em Lisboa.



«III ENCONTRO NACIONAL SOBRE ORÇAMENTO PARTICIPATIVO
19 e 20 de Junho de 2009
Fórum Lisboa, Lisboa
Em menos de duas décadas, as experiências de Orçamento Participativo (OP) adquiriram uma importância significativa no cenário internacional. Desde a classe política de muitos países, a organizações como as Nações Unidas, a diferentes sectores da academia, bem como inúmeras organizações da sociedade civil, muitos são os que têm manifestado um grande interesse por este novo experimentalismo democrático. Disso é, aliás, reflexo a espantosa disseminação do OP a nível mundial, à qual Portugal não ficou alheio.
Desde o ano 2000 até à actualidade emergiram no nosso país mais de vinte experiências autárquicas de OP, sendo de esperar um crescimento significativo deste número nos próximos anos.
Perante este cenário, a parceria responsável pelo
Projecto Orçamento Participativo Portugal, apoiado pela Iniciativa Comunitária EQUAL, tem vindo a desenvolver uma oferta significativa de actividades em todo o país, merecendo especial destaque as acções de formação e workshops regionais, a consultoria gratuita, os encontros nacionais sobre o tema, a edição portuguesa do Manual das Nações Unidas "72 Perguntas Frequentes sobre Orçamento Participativo", assim como a criação de uma aplicação informática concebida para apoiar a concepção, gestão e avaliação deste tipo de práticas autárquicas (inf! oOP).
Depois de São Brás de Alportel, em 2007, e de Palmela em 2008, é agora a vez de Lisboa acolher a terceira edição do Encontro Nacional sobre Orçamento Participativo, prevista para os próximos dias 19 e 20 de Junho de 2009, no Fórum Lisboa, numa organização conjunta da parceria responsável pelo Projecto e da Câmara Municipal de Lisboa.
INSCRIÇÕES ABERTAS
ONLINE
PROGRAMA PRELIMINAR».

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Incha, incha, é o zé que paga


cartoon de GoRRo (c) 2009

Vd. informação sobre o fenómeno aqui, aqui e aqui.

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Lady Gaga - esta coisa é uma merda (ou será o resultado duma investigação genética feita com Madonna, Marilyn Manson, Britney Spears e 3 Barbie?)


Recebi este lixo por e-mail de alguém que se diz amiga. Ah, essas minhas más companhias.

terça-feira, 16 de junho de 2009

Israel e Palestina: o caminho da paz é difícil mas não inacessível

BandeirasIsraelPalestina Com os recentes acontecimentos no Irã, pouco ou quase nada se tem falado sobre as declarações do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, admitindo a possibilidade da criação de um Estado palestino. Esta foi a primeira vez que Netanyahu falou oficialmente sobre a questão. O premiê também destacou que a solução para o atual conflito se baseia no “reconhecimento sincero” por parte dos palestinos de que Israel é "um Estado nacional judeu". E assim, solicitou ao mundo árabe que colabore no sentido de se encontrar soluções de paz para a região e acrescentou estar disposto a negociar em qualquer lugar: seja em Beirute, em Damasco e também em Jerusalém.

Por seu lado, a Autoridade Nacional Palestina (ANP) considerou que o primeiro-ministro israelense “bombardeou” os esforços de paz no Oriente Médio com o discurso que fez, onde colocou várias condições à criação de um Estado palestino. “Este discurso “bombardeia” todas as iniciativas de paz na região. Coloca entraves aos esforços que visam salvar o processo de paz num desafio claro à administração norte-americana”, disse o porta-voz da ANP, Nabil Abou Rudeina, que também criticou o fato de Netanyahu não ter excluído o congelamento dos colonos nos territórios palestinos. Enfim, membros do alto escalão do governo palestino disseram que a imposição de determinadas condições significa fechar as portas às negociações. Mas não descartam a abertura de conversações.

Já o Hamas, que até ontem se opunha frontalmente a abertura de diálogo parece ter mudado um pouco de ideia e se diz disposto a negociar. Claro que impondo condições. Em seu encontro com ex-presidente dos Estados Unidos, Jimmy Carter, o chefe de governo do Hamas em Gaza, Ismail Haniyeh, afirmou que “se existe um projeto realista para resolver a causa palestina com o estabelecimento de um estado nos territórios ocupados em 1967 (Guerra dos Seis Dias) e com plena soberania, nós o apoiaremos”. O problema é que Netanyahu não aceita sentar-se à mesa de negociação com representantes do Hamas.

Em síntese, vejamos o que quer cada uma das partes.

Israel:

- Um Estado nacional judeu.

- Jerusalém como capital indivisível de Israel.

- Reconhecimento de Israel como um Estado judaico

- A questão dos refugiados deve ser negociada fora das fronteiras de Israel

- Um Estado palestino desmilitarizado.

- Não será admitido qualquer pacto militar com o Hezbollah e com o Irã.

Autoridade Nacional Palestina:

- Retorno de Israel às fronteiras pré-1967.

- Divisão de Jerusalém entre os 2 Estados.

- Desmantelamento dos assentamentos.

- Uma solução para os refugiados.

Hamas:

- Exige sem pré-condição a volta de todos os refugiados.

- E aceita uma trégua com Israel por apenas 10 anos se os israelenses retornarem para as fronteiras pré-1967.

Seja como for, é possível agora ver uma luz no final do túnel no processo de paz para palestinos e israelenses. Claro que as negociações poderão ser tenazes por parte dos envolvidos, cada qual defendendo seus interesses. Mas não impossível. O importante é que sejam dados os primeiros passos ao encontro de soluções consensuais para a coexistência pacífica e duradora entre esses 2 povos. Se usarem do bom senso, esta possibilidade não será mais uma miragem no desertol. O campo será sempre fecundo pra quem sabe conviver harmoniosamente com as diferenças e delas fazer uma coexistência edificante.

Para quem estava a reclamar do silêncio de Obama, aí vai: "Seria um erro de minha parte permanecer calado com o que estamos vendo na TV nos últimos dias".

obama Foi o que declarou o presidente dos EUA depois de se reunir na Casa Branca com o primeiro-ministro da Itália Silvio Berlusconi, “a coisa” - segundo Saramago (com a qual eu concordo plenamente). Obama salientou ainda que não há forma de saber se os resultados foram válidos, já que não houve observadores internacionais. Além de tais declarações, Obama deixou bem claro que depende dos iranianos decidirem quem serão os líderes do país, e se mostrou preocupado com as revoltas registradas após a vitória do atual presidente, Mahmoud Ahmadinejad. Por isso, considerou necessário que haja uma investigação cujo resultado "não acabe em um banho de sangue".

Em suma, Obama agiu como um verdadeiro estadista. Não só em suas declarações como em sua postura de saber esperar, se informar e só depois se manifestar. Ele melhor que ninguém sabe que o pedido de anulação das eleições proposto pela oposição tem poucas possibilidades de êxito. E “comprar” a deia de fraude eleitoral sem qualquer vestígio que comprove o fato é o mesmo que dar murro em ponta de faca e, pior, poderia comprometer uma tentativa de aproximação, neste momento o seu principal objetivo. Mais.

Foto AFP

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Um post (ligeiramente) contra-corrente, para relativizar

No seguimento dos dois posts anteriores do Manolo, ocorre-me uma questão: Será realmente impossível Ahmadinejad ter ganho as eleições no Irão com mais de 60%? Será que a única explicação possível para este resultado é uma gigantesca fraude eleitoral? Ou será que estamos (nós no ocidente) a projectar os nossos desejos no eleitorado iraniano? Essa é pelo menos a ideia defendida neste texto (escrito logo no sábado), que, concorde-se ou não, vale a pena ler.
O facto é que não vi em lado nenhum provas convincentes de que houve fraude. O facto é que as prisões de opositores e a proibição das manifestações demonstram que Ahmadinejad, e o resto do poder, não gosta de contestação, mas não demonstra que a houve fraude eleitoral. O facto é que no ocidente (quase) todos desejamos que Ahmadinejad não seja re-eleito, mas isso não prova que a maioria dos iranianos pensa o mesmo. O facto é que há enormes manifestações em Teerão, mas número de manifestantes e número de votantes não são a mesma coisa. O facto é que não somos nós no ocidente quem escolhe o presidente do Irão, pelo menos no caso de ser uma eleição democrática, e seja qual for a decisão do povo iraniano teremos que viver com ela. Dito isto, e porque continuo sem saber quem ganhou realmente as eleições no Irão, desejo sinceramente que tenha sido Mousavi, ou melhor, que não tenha sido Ahmadinejad, e que tendo sido essa a vontade expressa dos iranianos, que ela seja respeitada. Nunca esquecendo que entre o que eu desejo, e o que deseja o povo iraniano há uns quantos milhões de votos de diferença.

“Protesto no Irã é demonstração de quem perdeu”

É o que diz o presidente brazuca, Luiz Inácio Lula da Silva. Lula preferiu não comentar as alegações de fraude no Irã, mas insinuou que a votação do presidente Mahmoud Ahmadinejad seria suficiente para o eleger.

Segundo Washington Post resultado da eleição iraniana foi legítimo

iran_protest_ap1 Ao que parece, os resultados eleitorais no Iran parecem refletir a vontade do povo iraniano. É o que diz uma sondagem feita 3 semanas antes das eleições e publicadas hoje pelo Washington Post. De qualquer forma, o líder supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei, ordenou uma investigação sobre as acusações de fraude eleitoral supostamente cometida. A ação será julgada dentro de 10 dias. Mais.

Foto AP

domingo, 14 de junho de 2009

IMAGEM DOMINICAL

Gal Costa (1977)

Mamãe, Coragem” - Torquato Neto/Caetano Veloso

Mamãe, mamãe não chore
A vida é assim mesmo eu fui embora
Mamãe, mamãe não chore
Eu nunca mais vou voltar por aí
Mamãe, mamãe não chore
A vida é assim mesmo eu quero mesmo é isto aqui
Mamãe, mamãe não chore
Pegue uns panos pra lavar, leia um romance
Veja as contas do mercado, pague as prestações
Ser mãe é desdobrar fibra por fibra os corações dos filhos
Seja feliz, seja feliz
Mamãe, mamãe não chore
Eu quero, eu posso, eu quis, eu fiz, Mamãe, seja feliz
Mamãe, mamãe não chore
Não chore nunca mais, não adianta eu tenho um beijo preso na garganta
Eu tenho um jeito de quem não se espanta (Braço de ouro vale 10 milhões)
Eu tenho corações fora peito
Mamãe, não chore, não tem jeito
Pegue uns panos pra lavar leia um romance
Leia "Elzira, a morta virgem", "O Grande Industrial"
Eu por aqui vou indo muito bem , de vez em quando brinco Carnaval
E vou vivendo assim: felicidade na cidade que eu plantei pra mim
E que não tem mais fim, não tem mais fim, não tem mais fim

sábado, 13 de junho de 2009

Oposição iraniana vai às ruas. E Khatami pede anulação da eleição (atualizado).














Eleitores da oposição, muitos com o símbolo verde da campanha de Mir Hussein Mousavi, enfrentaram a força polícia nas ruas de Teerã, após o anúncio oficial da vitória do presidente ultraconservador Mahmoud Ahmadinejad nas eleições presidenciais de sexta-feira. Apesar de a polícia ter proibido as manifestações, os partidários da oposição tomaram as ruas da capital gritando palavras de ordem como "liberdade" e acusando o presidente reeleito de "ladrão".

O seu opositor, o moderado Mousavi, qualificou o resultado eleitoral de uma "charada perigosa", que poderá levar a uma tirania no país. É, portanto, o Irã dividido entre os que anseiam por mais liberdade e o conservadorismo radical que representaa figura do louco Ahmadinejad. Mais.

A associação de clérigos islâmicos da qual faz parte o ex-presidente reformista Mohammad Khatami (1997-2005) pediu ontem a anulação da eleição que deu a vitória ao presidente Mahmoud Ahmadinejad, e defendeu a realização de um novo pleito. Já o candidato derrotado pediu calma aos seus partidários. Segundo um jornal israelense (fonte não identifica), Hussein teria sido detido pela polícia. Mais.

O presidente Mahmoud Ahmadinejad é um dos melhores aliados neste mundo.

Hugo Chávez


Reeleição de Ahmadinejad agrada Israel

eleições no irã Parece contraditório mas não é. Segundo a lógica da direita (e da extrema-direita ) que governa Israel, quanto mais radicais forem seus inimigos mais argumentos ela terá para justificar um possível confronto armado. Ao atual governo israelense não interessa um presidente iraniano que promova o diálogo com os EUA e procure reduzir a tensão entre os dois países. Muito pelo contrário. Quanto mais hostis se mostrarem em relação ao Ocidente, melhor é para o premier israelense, Benjamin Netanyahu, que teria como justificar um ataque "preventivo". E Mir-Hussein Moussavi poderia ser esse homem, pois durante toda a sua campanha não se cansou de defender a necessidade de se combater a imagem "extremista" que o Irã tem no exterior. Isso por si só já seria algo de muito positivo e um grande avanço na política externa de Teerã.

Claro que Moussavi não seria sinônimo de grandes transformações internas como imaginam muitos, mesmo porque quem manda na República Islâmica são os aiatolás e cabe a eles de fato a decisão final sobre qualquer assunto de Estado. Porém, não tenho dúvidas de que o ex-primeiro-ministro derrotado (que não aceita a derrota e está a contestar o resultado oficial) seria, com certeza, mais cauteloso e equilibrado no trato das relações internacionais. Mas, enfim, o vitorioso ao que parece (com mais de 64 por cento dos votos - conoforme informação oficial) das eleições de sexta-feira foi o ultraconservador Mahmoud Ahmadinejad. Era tudo que Israel queria. Em outras palavras: juntou-se a fome com a vontade de comer. Vamos a ver no que isso vai dar. Mais aqui e aqui.

Foto AFP

sexta-feira, 12 de junho de 2009

World Naked Bike Ride

O grupo World Naked Bike Ride organizou um evento de três dias em cerca de 140 cidades do mundo. No Reino Unido os ciclistas nus vão circular em sete localidades e espera-se uma concentração particularmente numerosa em Hyde Park às 3 da tarde de sábado. Se estiverem de passagem, não pensem que estão a ficar doidos... é só mais uma iniciativa a pensar no ambiente. E se quiserem participar, dispam-se e aluguem uma bicicleta!

Locos y jodidos. ¡Y viva la puta España!

cristiano ronaldo “Voy a hacer la pregunta que todos pensamos: ¿Estamos locos en este país o qué? ¡Pagar 94 millones de euros, 65 millones más y lo que queda por pagar por unos jugadores que supuestamente sacarán de la crisis a un equipo de fútbol!

¿Cómo puede permitir eso la gente? No me lo explico. Prefieren ver a su equipo ganar títulos a que la gente que realmente necesita ese dinero deje de pasar hambre; es algo que no me entra en la cabeza. Y todo esto no es del bolsillo de un par de personas, sino de entidades financieras tales como bancos o cajas que seguro que participan en este partido. Mientras tanto, a todos los aficionados de este país, sean del color que sean, nos sangran con créditos y todo lo que conlleva. Señores, se están riendo en nuestra cara y encima lo permitimos.

De esperar no esperaremos nada, porque las cabezas pensantes de todo este tinglado estarán riéndose, contando billetes y pasándoselo bien allá donde estén, sin importarles en absoluto que el ciudadano de a pie se levante a las6de la mañana para cobrar un sueldo mileurista mensual cuando estos jugadores son mileuristas pero al día. Yel resto de personas, que sigan apoyando a estos acomodados, que después si a ellos les falta el pan, dudo que estos capitalistas vengan a salvarles. ¡Viva España!” Sem mais qualquer comentário.

Mais.

quinta-feira, 11 de junho de 2009

Uma imoralalidade

imagem Foi o que Real Madrid já gastou na compra de somente 2 jogadores para temporada 2009/2010: o brasileiro Kaká, por € 65.000.000,00, e agora Cristiano Ronaldo, por € 94.000.000,00 – o dinheiro envolvido neste negócio constitui um recorde no futebol mundial. O que aliás é totalmente imoral. Creio que a crise econômica ainda não afetou a Espanha.

Iranianos vão às urnas. E com muita festa.

TOPSHOTS-IRAN-VOTE-MOUSAVIApós 3 semanas de trocas de acusações entre candidatos e inúmeras manifestações em massa de seus partidários, numa demonstração inédita na República Islâmica, chegou ao fim hoje a campanha para as eleições presidenciais de amanha no Irã. Nas eleições de logo mais, o atual presidente ultraconservador Mahmud Ahmadinejad tem como principal rival o moderado Mir-Hossein Mussavi, que pretende voltar ao poder após uma ausência de quase 20 anos. Na foto da AFP, apoiadores do candidato Mousavi participam de manif em Teerã. Conheça os candidatos.

Com certeza o mundo está bem melhor: morreu o monstro fascista Rodolfo Almirón Sena

Rodolfo Almirón O ex-chefe do grupo de extrema-direita argentino Aliança Anticomunista Argentina (Triplo A), Rodolfo Almirón Sena, morreu aos 73 anos em um hospital de Buenos Aires. Acusado de crimes de lesa-humanidade e genocídio, Almirón liderou o Triplo A, organização que entre 1973/75 cometeu mais de 1.000 assassinatos durante o mandato da ex-presidente argentina María Estela Martínez de Perón - mais conhecida como Isabelita Perón. A humanidade não perde nada com esta morte. Ao contrário, só tem a comemorar. O Inferno agradece. Mais.

Nuas pelo futebol

jogadoras nuas Com o objetivo de promover os jogos da seleção feminina, a Federação Francesa de Futebol produziu uma campanha publicitária em que aparecerem 4 de suas futebolistas nuas. “Temos de estar nuas para nos verem jogar?”, diz o slogan. A campanha também servirá pra divulgar o Campeonato Europeu, que começa dia 23 de agosto na Finlândia. Outras fotos.

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Sarkozy nas alturas

obama e sarco brunishoes Não. Não estou a falar das Europeias. Mas sim dos truques do presidente da França para ganhar alguns centímetros na sua popularidade. Depois de usar um tacão de 7 centímetros para estar à altura da atual primeira-dama francesa, Sarkozy agora pretende estar à altura de Obama. Mais.

Na foto de baixo, da esquerda para a direita, príncipe Philip, Carla Bruni (sem salto), rainha da Inglaterra e Sarkozy. Foto retirada daqui.

Pressão cívica para acabar com os offshores e a economia de casino

Com o fim de pôr cobro a um dos cancros do sistema económico internacional, os offshores e a «economia de casino», a CGTP lançou a petição  «Para a urgente eliminação dos Paraísos Fiscais». A petição está em linha com os alertas e denúncias que têm vindo a ser produzidos por entidades de diversa índole, sejam estruturas públicas internacionais como a OIT, sejam sindicatos, sejam cientistas sociais e outros peritos. Em Portugal, pretende-se extinguir a «zona franca» da Madeira.

Como refere a petição, a economia de casino que nos têm apresentado como uma fatalidade, ou que têm combatido de modo débil, «é inseparável do agravamento das desigualdades sociais, da pobreza e da insustentabilidade do modelo económico e social seguido». Portanto, as opções políticas a tomar, e para as quais estas petições pretendem ser uma forma de pressão legítima e cidadã, são claras: ou se reage a sério ou se é cúmplice de efeitos muito negativos sobre a justiça e a paz sociais internacionais.

terça-feira, 9 de junho de 2009

A extrema-direita no PE

el-nazismo Quem diria, hein? Pare-me que extrema-direita volta a assombrar. A Europa deste milênio não pode mais voltar ao seu passado recente. Quando se imaginava que a criação de um continente unido significaria a consolidação da rejeição total a valores como racismo e xenofobia, o que se viu nestas Europeias foi o avanço de muitos partidos ultranacionalistas e xenófobos, com expressivos resultados eleitorais.

Claro que este fenômeno não indica ainda uma iminente chegada ao poder de um nazi-fascista. Mas os atuais resultados sinalizam que algo está errado na UE, principalmente na Holanda, Itália e em outros países de menor peso político. E atribuir simplesmente este efeito ao "voto de protesto", como dizem muitos, é tão perigoso quanto as ações extremistas desses partidos, que têm como único objetivo abalar a já consolidada democracia europeia.

Apesar de números desencontrados entre várias fontes de informação (creio pela diferença entre dados parciais e oficiais), não deixa de ser assustador os representantes da extrema-direita eleitos para o Parlamento Europeu. Dos 736 eurodeputados, 34 são defensores ferrenhos da xenofobia, do anti-islamismo, do anti-judaísmo, da homofobia. Enfim, são contrários a tudo que signifique liberdade individual. Foram eleitos por 13 países e têm no ultra-nacionalismo e na intolerância suas únicas demandas de Políticas de Estado.

Tudo começou na quinta-feira quando o PVV (Partido pela Liberdade), do polêmico Geert Wilders, se tornou a segunda força política da Holanda (com 25 representantes), ao obter 17 por centos dos votos e eleger 4 deputados. Esta é a situação não demais países:

Na Itália (com 72 representantes), os neonazistas da Liga Norte (pertencente à coligação partidária de Berlusconi) se consolidaram no cenário político ao eleger 8 deputados (o dobro de 2004), com 9,5% dos votos.

Na França (72), a Frente Nacional, de Le Pen, apesar de ter perdido espaço (elegeu 7 deputados em 2004), conseguiu sobreviver e manter 3 deles em Estrasburgo.

No Reino Unido (72), o Partido Nacional Britânico conquistou o seu primeiro assento no Parlamento Europeu, após uma votação que chegou perto dos 8%.

Na Áustria (17), o Partido da Liberdade, liderado por Andreas Moltzer, foi o quarto mais votado no país com quase 14%. Fez 2 deputados.

Na Hungria (22), o partido nacionalista e populista elegeu 3 deputados. O Jobbik (Para uma Melhor Hungria) conquistou 14,77% e o terceiro lugar.

Na Grécia (22), o LAOS (Aliança Popular Ortodoxa), do líder Georgios Karatzaferis, é a primeira formação de extrema-direta a chegar ao Parlamento Grego, desde 1974. Na sua retórica nacionalista, Georgios destaca a Albânia, Macedônia, Turquia e a imigração como “inimigos” do povo grego. Fez 2 deputados com 7% dos votos.

Na Bélgica (22), o Vlaams Beleng (Interesse Flamengo), que é claramente separatista e luta pela independência da Flandes, chegou a 6% e se garantiu com 2 deputados (contra os 3 eleitos em 2004).

Na Romênia (33), os ultranacionalistas liderados por Vadim Tudor, do Partido da Grande Romênia, obtiveram 7,2% dos votos e elegeram 2.

Na Dinamarca (13), o DF (Partido Popular) chegou aos 13,5% com 2 deputados.

Destaco ainda o avanço da extrema-direita na Finlândia (13). A formação partidária nacionalista True Finns (Verdadeiros Finlandeses) avançou de 0,5%, em 2004, para perto dos 10% dos votos e 1 eurodeputado. O ATAKA (algo como União Nacional Ataque), partido ultranacionalista da Bulgária (17) manteve os seus 2 deputados com os 12% de votos. Na Eslováquia (13), o SNS (Partido Nacionalista Eslovaco), que defende a expulsão de todos os ciganos do país, também elegeu 1 deputado.

Fontes: Agencias de notícias (AFP, AP e BBC) e Euronews.

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Ainda a propósito das eleições europeias

Após uma análise mais panorâmica, onde realcei a persistência da direita na liderança do Parlamento europeu, a crise do PSE e a reconfiguração distinta ocorrida em Portugal, falta referir alguns detalhes relevantes.

Em 1.º lugar, há um aumento significativo da direita xenófoba (o grupo dos «não inscritos») e dos verdes, este à custa do GUE/ NGL (esquerda) e do PSE. Ou seja, a UE virou um pouco mais à direita e, à esquerda, reforçaram-se alternativas ditas «pós-materialistas», mas que serão mais do que isso, caso os partidos ecologistas representados tenham uma visão mais holística, o que a campanha de Daniel Cohn-Bendit prenuncia. A abstenção subiu ainda mais, perante a indiferença preocupante dos responsáveis da UE.

Em 2.º lugar, em Portugal, o partido vencedor (PSD) ficou aquém dum resultado fora-de-série, e, por isso, a direita coligada ainda não é maioritária (vd. resultados aqui). O PS é que deu um trambolhão histórico, averbando um dos piores resultados de sempre. É caso para muita reflexão num partido que se eclipsou para deixar brilhar a arrogância do rei-sol Sócrates. Mas as primeiras declarações pós-queda do rei-sol são mais do mesmo: manter o rumo, etc. e tal: assim foi com o Titanic. Os Jethro Tull têm um disco sobre o tema: chama-se «Thick as a brick» e recomenda-se.

Destaque-se ainda o peso dos restantes partidos (c.12%) e do voto em branco (quase 5%) e pode-se dizer que, para as próximas eleições legislativas, muito está ainda em jogo.

Outros aspectos a salientar, tomando de empréstimo a análise do João Miguel Almeida: «As eleições europeias tornam ainda mais distante a hipótese de uma nova maioria absoluta do PS e desvanecem de vez a miragem de um bloco central. Corremos o risco de ter um eleitorado à esquerda e um governo PSD/PP mais forte e mais de direita do que o de Santana Lopes e sem dar nenhuma vontade de rir». Resumindo, um mau prenúncio, contra dois bons efeitos.

Outra boa notícia foi a eleição do 3.º eurodeputado do BE, o independente Rui Tavares. É uma voz das novas gerações, com intervenção pública inovadora consolidada na blogosfera (Barnabé, 5 Dias, etc.) antes de dar o salto para a imprensa, o que deve ser elogiado num país onde os media mainstream persistem em fabricar um monopólio afunilado e enviezado para a direita, o da chamada «opinião publicada». Mas, sobretudo, pelo seu contributo para um debate de ideias mais aberto e argumentado (onde a agenda internacional sempre esteve bem presente, Europa incluída), não politiqueiro e não convencional, à margem dos humores e tiques monótonos das elites e do «Portugal sentado». Depois da polémica com o vereador independente Sá Fernandes, o BE sai por cima, mostrando que faz sentido abrir-se a independentes e novas figuras que aditem valor ao debate público, cívico e político, casos óbvios de Rui Tavares e Fernando Nobre (dirigente da AMI e mandatário dessa campanha).

Ademais, o contigente parlamentar português, no conjunto, parece-me mais habilitado. O próprio Vital Moreira, que fez uma campanha desastrada, tem condições para um contributo válido, ele que é perito em questões europeias e direito constitucional.

Quem duvida do afunilamento ideológico da «opinião publicada» em Portugal basta atentar no painel de comentadores da noite eleitoral nas tv's lusas, onde os de esquerda assumida eram um resquício. Aliás, se o critério fosse restritivo, só o humorista Ricardo Araújo Pereira entrara em estúdio, e, mesmo este, deslocado num contexto de análise de resultados eleitorais. O socratismo tem-se queixado de perseguição por alguns órgãos de comunicação social (TVI, Público, Sol), mas, a avaliar pela orientação prevalecente, quem realmente poderá alegar discriminação negativa são os partidos da esquerda assumida (BE e PCP) que, com quase 1/4 dos votos, quase não têm visibilidade. O mesmo é extensivo aos movimentos de esquerda, sindicais, etc., bem como ao terceiro sector e às agendas de teor cívico e social, desvalorizadas pelos media convencionais.

Este défice evidente de tratamento proporcional também agudiza a respectiva crise de audiências, o que deveria ser motivo de reflexão por parte desses media, caso queiram contribuir para uma democracia mais pluralista, claro.

IMAGEM DOMINICAL

logo BE Uma cor bonita e que se aviva.

150 euros: é o que cada um de nós gastou na compra de armas

gasto c armas 1 Parece-me que a atual crise econômica não está a afetar o gasto militar global. Muito pelo contrário. Chegou até a bater um novo e triste recorde. 1.464.000.000 de dólares (mais de 1.000.000.000 de euros) foi que o mundo gastou para se armar em 2008. Este valor equivale ao gasto de US$ 217 (pouco mais de 150 euros) por habitante. As vendas de equipamentos bélicos subiram 4 por cento no mundo todo em relação a 2007 e 45 por cento em relação a 1999, informou hoje um estudo divulgado pelo Instituto Internacional de Pesquisas da Paz de Estocolmo (SIPRI, em inglês).

Segundo o estudo, os EUA foram responsáveis por 58 por cento do aumento dos gastos militares no mundo entre 1999 e 2008. China e Rússia quase triplicaram seus gastos militares em uma década. Outros países, como Índia, Arábia Saudita, Irã, Israel, Brasil, Coreia do Norte, Coreia do Sul, Argélia e Inglaterra também contribuíram substancialmente para este aumento total.

Aliança pró-ocidente deixa Hezbollah a ver navios no Líbano (atualizado)

eleições no libano

Confirmado. Contrariando todas as sondagens de véspera, a coalizão pró-ocidente (leia-se Estados Unidos da América) e contra a Síria venceu as eleições no Líbano, realizadas ontem. A aliança denominada 14 de Março conquistou 71 cadeiras, enquanto a oposição 8 de Março, liderada pelo grupo Hezbollah e com apoio da Síria e do Irã, ficou com 57 assentos. Caberá assim ao 14 de Março formar o novo governo libanês. Segundo segundo o sistema eleitoral vigente (muito confuso, diga-se) , o presidente do país deverá ser um católico maronita, o primeiro-ministro um muçulmano sunita e o presidente do Parlamento um xiita.

Os candidatos disputaram 128 mandatos no Parlamento, divididos em 64 vagas para cristãos e 64 para muçulmanos assim distribuídos: Os muçulmanos sunitas têm 27 cadeiras, o mesmo número concedido aos muçulmanos xiitas; os drusos têm direito a 8 assentos e os alauítas, 2. Entre os cristãos, 34 cadeiras cabem aos maronitas, 14 para os ortodoxos gregos, 8 para os católicos romanos, 6 para a Igreja Armênia, e 2 para outras minorias cristãs. Mais aqui e aqui.

Foto: Reuters

domingo, 7 de junho de 2009

Manolo acertou nas Europeias, a direita mantém-se

É isso aí, Manolo Piriz acertou no vaticínio que fez aqui há umas semanas atrás: a direita voltou a ganhar as eleições europeias, infelizmente.

Para quem tem uma posição de esquerda, e embora não seja certo que o eleitorado europeu tenha votado sobretudo pela divisão esquerda/ direita, tudo indica que os resultados destas eleições abarcando um território com 375 milhões de habitantes, tenham sido algo decepcionantes. Durão Barroso lá se manterá à frente da Comissão Europeia, o que é mau para uma reforma progressista das estruturas da UE e da sua governação. Esse é o efeito negativo mais directo. Mas antes disso, o parlamento europeu continuará a ter como corrente liderante o PPE, que é o representante da direita/ centro-direita. Ou os eleitores europeus acharam que a culpa da crise económico-social não era das políticas que esses partidos preconizaram, ou acham que estão a tentar resolver os problemas do melhor modo. Ambas as opções são, porém, para reflexão séria. Quer dizer que os partidos socialistas europeus não são vistos na Europa como materializando uma escolha válida.

Os partidos de centro-direita que lideram nos principais países europeus mantiveram-se na frente (Alemanha, França, Itália, etc.), enquanto noutros países com governos de centro-esquerda, estes tiveram derrotas significativas: são o caso do Reino Unido, Espanha e Portugal.

Em Portugal, a coisa vai ser dura para o partido no governo, o PS, pois o centro-direita (PSD) conseguiu um resultado liderante forte, o socratismo foi muito penalizado e os anti-Bloco central (partidos de esquerda e direita: BE, PCP e CDS) obtiveram quase 1/3 dos votos.

O PS de Sócrates vai penar muito nos próximos meses: primeiro, porque a performance de Paulo Rangel arrebanhou uma dinâmica de vitória que coloca o PSD na pole position para as eleições legislativas a ocorrerem já daqui a 3 meses. Depois, porque essa dinâmica se reforçará nas locais de entremezes, pois os «laranjinhas» são campeões autárquicos.

A votação do BE e PCP é auspiciosa e reforça a ideia de que a esquerda pode ser uma alternativa de médio prazo (em aliança pós-eleitoral ou liderando mesmo), caso a esquerda do PS tenha a ousadia de se juntar numa coligação de verdadeira alternativa ao rotativismo sem saída que imperou nas últimas décadas em Portugal.

Oxalá também aí se consiga criar uma dinâmica de convergência capaz de ser uma opção de poder e governação, e já não só de oposição séria e combatente. Que supere as inevitáveis prudências de Alegre e da sua corrente da esquerda socialista, atendendo à campanha presidencial de esquerda para que trabalha desde o milhão e cem mil votantes que obteve nas presidenciais de 2005.

PS: para quem quiser ver resultados globais e por país vale a pena ir ao site do Euronews, onde um mapa permite fazer as várias pesquisas.

sábado, 6 de junho de 2009

O que Berlusconi faz com o seu pênis é problema dele e de quem se satisfaz com ele

berlusconi O primeiro-ministro italiano não é flor que se cheire e política e pessoalmente não tenho a menor simpatia por ele. Ao contrário. Tenho tudo contra. Entretanto, o que ele faz com o seu pênis (desde que não nós foda com ele) é problema exclusivamente dele e de suas parceiras de alcova, que aliás deveriam escolher melhor quem as penetra. Porém, gosto é gosto e não serei eu a criticar eventuais desvios sexuais de quem quer que seja. Digo desvios porque, valha-me Deus, ter qualquer tesão por um homem tipo Berlusconi é uma evidência incontestável de muito mau gosto e demonstração de profundo desrespeito com a respectiva genitália. É como jogá-la ao lixo, digamos. Agora, o que é condenável de fato é a exploração sensacionalista do El Pais sobre este fato. Mas, enfim, um jornal que se aliou ao asqueroso Aznar ao responsabilizar sumariamente o grupo separatista basco ETA (longe de mim defender as suas ações terroristas - que fique claro) sem qualquer investigação prévia pelos atentados terroristas do 11-M não é lá muito sério.

sexta-feira, 5 de junho de 2009

O descarrilamento do Simplex

Pois, pois, a desburocratização é uma coisa muito bonita, etc. e tal. Já todos o sabemos. Enfim, exceptuando uns quantos acólitos, também sabemos que o nome de guerra que lhe deram por terras portuguesas, Simplex, nem sempre é tão simples assim.

Vejamos este caso revelado pelo jornalista Carlos Cipriano: a viagem de comboio Lisboa-Madrid é 60% mais cara na CP do que na congénere espanhola Renfe, e, ainda por cima, só esta possibilita a compra via Internet! É de pasmar! A viagem ibérica já de si é cansativa, de tão demorada. Só nos faltava era porem preços tão altos que nem concorrem com o avião. O comboio Talgo Lusitânia Hotel merecia outra atitude. Mas a coisa não se fica por aqui: o apagão internético ocorre também nas restantes viagens da CP para Europa, Sud Express incluído... Eh pá, e que tal ligar a malta lusa a essa rede europeia do Hermes para desbloquear a coisa? Era capaz de não ser má ideia, até porque já foi anunciada há mais dum ano por um exmo. administrador da CP... Sobretudo para quem se diz «nós, europeus», é capaz de não bater a bota com a perdigota...

É caso para dizer: com atitudes destas, quem descarrila é o Simplex. E o dinheirex, ambientex e tempex dos tugas...

Como se comunicar em castelhano (quase) erudito

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Extrema-direita avança na Holanda (atualizado)

As Europeias começaram. E muito mal, diga-se. Segundo as primeiras sondagens de boca de urna, o partido de extrema-direita de Geert Wilders (PVV - Partido pela Liberdade) se transformou na segunda maior força política nas Erupeias da Holanda, com quase 15 por cento dos votos. O partido, que concorreu pela primeira vez às eleições ao Parlamento Europeu, supera assim o Partido Trabalhista (Pvda) e só tem pela frente os democratas-cristãos (CDA), do primeiro-ministro, Jan Peter Balkenende, que se mantêm como a principal legenda, com pouco mais de 20 por cento. Na Legislativas de 2006 foi o quinto partido mais votado, com apenas 6 por cento dos votos e fez 9 deputados em 150.

Em número de cadeiras, o PVV obteria 4 das 25 determinadas a Holanda , enquanto o CDA (Apelo Cristão-Democrático) ficaria com 5 e Pvda com com 4. As demais forças ficariam assim: 3 para os liberais do VVD (Popular por Liberdade e Democracia/Liberal da Holanda) e para a esquerda do D66 (Democratas 66); e 2 para os Groen Links (Esquerda Verde), os socialistas e os cristãos do CU (União Cristã). Detalhe: a abstenção chegou a quase 60 por cento. Mais.

Prémio Camões distingue o poeta cabo-verdiano Arménio Vieira

A edição deste ano do Prémio Camões reconheceu a obra de Arménio Vieira, escritor nascido na cidade da Praia, na Ilha de Santiago, no começo de 1941.
Sobre Arménio Vieira e a justeza desta premiação sugere-se a leitura dum texto doutro grande poeta cabo-verdiano (e português de adopção), José Luís Tavares, intitulado «Bouquet de estrelas para Arménio Vieira, dito conde, rei à nossa maneira».
*
PS: só existem 2 livros de Vieira publicados em Portugal - Poemas, África Editora, 1981; e No inferno, Editorial Caminho, 2001.

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Indiana Jones and the Temple of Doom - II

IndianaJonesAndTheTempleOfDoom O biólogo e escritor Jared Diamond publicou um artigo na revista “The New Yorker” sobre supostos conflitos em Papua Nova Guiné. Até aí, tudo bem. Mas longe de ser uma obra de investigação científica, tudo não passou de um prodto de ficção. Segundo 2 cidadãos do país, o laureado escritor os difamou, colocando-os como protagonistas de uma guerra tribal inexistente. Resultado. Agora pedem à justiça uma indenização de 10.000.000,00 de dólares, pois afirmam que Jared inventou tudo. Como não sou lá muito pessimista, acredito que nem tudo está perdido para o biólogo. Que tal ele fazer a adaptação do tal artigo para o cinema? Creio que Harrison Ford toparia mais esse desafio. Como não ando lá muito criativo, a única sugestão de nome para o tal filme que me vem à cabeça agora é Indiana Jones and the Temple of Doom - II”. Mais.

terça-feira, 2 de junho de 2009

Cuba já tem seus “Neuróticos Anônimos”

neroticos cubanos Se padeces de ansiedade, nervosismo, depressão, solidão, etc. Junte-se ao grupo Aprendendo a amar. Neuróticos Anônimos.

É o que diz um cartaz colocado numa rua qualquer de Havana. Pronto. Este é um forte indício de que a dinástica Cuba de los hermanos Castro já está pronta pro capitalismo e pra uma perfeita sociedade de consumo.

Via La Vanaguardia.es

Governo chinês quer apagar da memória o massacre da Paz Celestial

paz celstical Na próxima quinta-feira (4/06) cumprem-se exatos 20 anos do massacre comandado pelo governo chinês contra os estudantes e trabalhadores, que se manifestavam na praça da Paz Celestial para pedir por reformas políticas na China. O resultado dessa ação violenta foi a morte de mais de 3.000 pessoas e aproximadamente 60.000 feridos. O episódio foi imortalizado pela imagem de um jovem se colocando em frente a uma fileira de tanques militares, na tentativa de impedir o combate. Até hoje não é sabida a identidade e o destino desse jovem.

Para que esta data não seja lembrada, as autoridades de Pequim bloquearam hoje todas as redes sociais na internet, como o Twitter, o Flickr e os serviços do Hotmail. A censura aos endereços na web começou há algumas semanas, quando outras ferramentas da web como os servidores de blog Blogspot, Wordpress e o portal de vídeos YouTube foram bloqueados.

Até os dias que correm a China não permitiu qualquer investigação independente sobre este massacre e tem se portado da mesma forma que há 20 anos. No período que antecedeu as Olimpíadas, o governo aumentou a repressão contra os defensores de direitos humanos, contra as pessoas que praticavam alguma religião, contra minorias étnicas, advogados e jornalistas em todo o país. Além disso, a China é o país que mais executa pessoas no mundo. Leia aqui Relatório 2009 da Anistia Internacional.

“O mundo está sentado sobre uma bomba-relógio social, política e econômica alimentada por uma crescente crise de direitos humanos”

Vídeo produzido pela Anistia Internacional



A Anistia Internacional (AI) divulgou o relatório anual sobre o estado de direitos humanos no mundo. No documento, a organização chama a atenção em favor de um Novo Acordo mundial em relação aos direitos humanos, dado o pouco investimento no assunto pelos líderes mundiais. Segundo o Relatório 2009, o mundo está “em plena crise de direitos humanos”, que, caso não consiga ser solucionada, agravará ainda mais os problemas sociais, políticos e econômicos.

A insegurança, as injustiças e a falta de dignidade estão afetando a vida de bilhões de seres humanos em todo o mundo. Apesar de muitos dos aspectos dessa crise serem anteriores à recessão econômica, é evidente que a crise nas finanças mundiais está agravando ainda mais a crise dos direitos humanos, que pode se transformar num barril de pólvora prestes a explodir, pois mais pessoas foram empurradas para a pobreza e aumentou o risco de que seus direitos básicos sejam violados. A seguir, alguns tópicos do relatório.

­África - A crise alimentar que marcou 2008 teve um impacto desproporcional sobre os grupos vulneráveis.

Ásia - Milhões de pessoas engrossaram as fileiras daquelas que já vivem na pobreza, pois o custo dos alimentos, dos combustíveis e de outros produtos básicos subiu de modo drástico em 2008.

Oriente Médio e no Norte da África - A crise financeira e a alta no preço dos alimentos atingiu quem já vivia imerso ou muito próximo da pobreza, enquanto que na Europa diversos Estados precisaram que o Fundo Monetário Internacional interviesse para apoiar suas economias. Por toda a região, o abismo que separa ricos e pobres continuou enorme.

América Latina e no Caribe - Mais de 70 milhões de pessoas vivem com menos de um dólar por dia - a pobreza, as desigualdades e a discriminação aumentaram o número de povos indígenas que veem seus direitos à saúde, à educação, à água potável e à moradia adequada lhes serem negados.

Aqui o Relatório 2009 completo.