sexta-feira, 30 de março de 2012

Que política científica? - achegas a um debate urgente

O n.º 202 da revista Análise Social, que acaba de sair, integra um texto meu com diagnóstico e propostas para renovar a política científica em Portugal, num quadro de crise aguda com indícios preocupantes também neste domínio das políticas públicas. Chama-se «Ciência para o futuro – a propósito do relatório estratégico do Conselho Científico das Ciências Sociais e das Humanidades» e, como o título indica, parte da leitura dum relatório central para a definição da política pública nesta área, «Ciências Sociais e das Humanidades: mais excelência, maior impacte», elaborado recentemente por um órgão consultivo da agência científica FCT e presidido por José Mattoso. Além de abordar criticamente as suas principais propostas e medidas, também avanço com propostas minhas. Escrevi esse comentário porque entendo que o relatório em apreço deve ser lido, estudado e, se for caso disso, apoiado para servir de documento estratégico na orientação e tomada de decisão política.

No meu texto cito o testemunho dum físico belga e perito em política científica, Jean-Pierre Contzen, que nos interpela a todos: «Se não sairmos da crise em dois anos, vai haver problemas com a ciência portuguesa».

Entretanto, soube-se que a área dos Estudos Africanos deixou de ter um concurso específico no âmbito dos concursos de Investigação & Desenvolvimento que a FCT abriu este ano. Tal concurso específico surgiu em 2004 e foi um contributo decisivo para a consolidação impressiva desta área de estudos. Essa medida política deve ser motivo de perplexidade, por 4 razões principais: 1.ª) por ser uma área estratégica para o aprofundamento da lusofonia, eixo prioritário da política externa do Estado português; 2.ª) por ser uma das duas únicas áreas interdisciplinares existentes, num contexto em que se torna cada vez mais ingente reforçar a interdisciplinaridade; 3.ª) por ignorar o relatório supracitado do conselho consultivo presidido por José Mattoso; 4.ª) por não ter havido contacto directo com os principais visados por esta medida. Creio que estes são argumentos ponderosos que devem servir para repensar seriamente se se deseja que esta seja uma opção definitiva.

Para que não digam mais tarde que não houve chamadas de atenção e vontade em debater publicamente e construtivamente esta questão magna para o desenvolvimento do país.

quinta-feira, 29 de março de 2012

Para uma história do traje em Portugal: vestimenta de uso obrigatório em manif

Determinado por portaria do Ministério do Interior, com efeitos a partir de 28 de Maio de 1926.

Cumpra-se,

a bem da Nação.

domingo, 25 de março de 2012

Antonio Tabucchi, o mais pessoano dos italianos (1943-2012)

«Morreu Tabucchi, o escritor italiano que escolheu Portugal», por Sérgio B. Gomes, João Pedro Ferreira e Nicolau Ferreira
PS: o seu livro A cabeça perdida de Damasceno Monteiro será lido integralmente na Casa Fernando Pessoa, no próximo dia 2 de Abril, a partir das 10h30.

Mais boas notícias da frente cultural

Para fintarmos o Portugal sentado, deixo-vos com mais 3 bons registos na cultura:

1) a descentralização continua por obra das novas redes culturais (5 Sentidos, Recentrar), como no-lo confirma Tiago Bartolomeu CostaEm rede»)

2) os editores lusos de literatura infanto-juvenil foram as estrelas de feira em Bolonha, diz-nos a Rita PimentaOs livros infantis portugueses estão a conquistar o mercado internacional»)

3) o cineasta grego Angelopoulos, recentemente falecido, tem direito a retrospectiva na Cinemateca Portuguesa e é revisitado criticamente por Augusto M. SeabraOlhar a Grécia»)

Encontros livreiros é com o Medeiros!

Pois, pois, porque é já hoje a 3.ª edição dessa festa do livro e das suas gentes que o livreiro Manuel Medeiros organiza com tanto entusiasmo e rigor, sempre em Setúbal, na Av. 22 de Dezembro, 23, pelas 15h. Fica o desafio para quem puder, pois já são muitos os que prometeram comparecer. Este ano não posso, mas para o ano irei novamente.

sábado, 24 de março de 2012

Uma bela experiência de política cultural de bairro

«Campo de Ourique à espera do centro cultural prometido», por Inês Boaventura

A informação detalhada está no blogue do movimento SOS Cinema Europa.

Finalmente temos o Botas encapsulado

«Um vinho para testar a marca Salazar», por Graça Barbosa Ribeiro

«No mínimo, é de mau gosto, no máximo um insulto às vítimas do Estado Novo»: opinião de Filipe Ribeiro de Menezes, o historiador em voga do jornal Público

Ter esperança em tempos de incultura e elitismo

Mas como dizer a um desempregado, a um criador sem condições financeiras de produção, a um recém-licenciado sem emprego nos tempos próximos e com uma expectativa de vida de 75 anos que, sendo racional, deverá ser optimista? Claramente, dizê-lo seria cair na demagogia; há que ter bem presente que a tese bem fundamentada de Ridley [The rational optimist] é sobre a espécie humana e a sua longa história, não sobre o indivíduo em particular. Mas é sobre a situação de fragilidade individual que tem intervindo a maioria dos governantes europeus, e os portugueses em especial: ao construírem uma auto-representação negativa, miserabilista, culpabilizada das sociedades que actualmente governam, exercem uma chantagem emocional e condenam [...] as sociedades a que pertencem a uma extinção simbólica.

Este pessimismo apocalíptico [...] é resultado da incultura, da negação da democracia [...] e da atracção pela barbárie.

António Pinto Ribeiro, «O racional optimista», Público, 2/III/2012, p.39-Ípsilon

sexta-feira, 23 de março de 2012

O Dia do Estudante e as lutas pela democracia

São combates de várias gerações, mas só uma celebrará amanhã o Dia do Estudante (na Reitoria da Universidade de Lisboa). Com legitimidade, diga-se: é que este sábado passam 50 anos sobre o dia que marcou o arranque do protesto estudantil em Lisboa contra a ditadura salazarista.

A celebração nesse ano de 1962 foi abruptamente proibida pelo regime, para travar a propagação da acção anti-colonialista surgida em Coimbra, e os estudantes reagiram: a Reunião Inter-Associações decretou Luto Académico para 26 de Março. O protesto ressurgiu em Coimbra e deu origem a várias formas de luta: greve de fome com ocupação da cantina, manifestações de rua, panfletos, jornais, etc. O rastilho marcaria os anos 60.

O festejo nacional do Dia do Estudante foi, segundo o dirigente estudantil José Joaquim Fragoso (AEIST, 1945-52), uma ideia que surgiu em reunião entre academias, e pretendia ser mobilizador para todos os universitários. Nessa altura o dia escolhido foi 25 de Novembro, que então representava uma «tomada da Bastilha» na academia de Coimbra, nos idos de 1921. Pelo meio houve outros combates, como a reacção a diploma de 1956 que pretendia acabar com as associações de estudantes (refiro-me ao malfadado decreto-lei 40900). Só em 1974 é que ficou definido o dia 24 de Março, em tributo aos eventos.

A geração de 62 criou um site muito interessante, o «Crise de 62», com notícias, cronologia, documentos, depoimentos & etc. Vale a pena vê-lo.

PS: destaques da cobertura pelos media: reconstituição da greve de fome (Expresso, já on-line); artigo grande na revista de domingo do Correio da Manhã; a RDP1 vai estar em direto da Reitoria no próximo sábado (das 12 às 13h).

quarta-feira, 21 de março de 2012

Pela dignificação do trabalho e da vida

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Já está no terreno a próxima greve geral em Portugal. Infelizmente, esta não é unitária, mas também não é só da CGTP: «A austeridade é a arma deles, parar é a tua». A intenção une os trabalhadores.

terça-feira, 20 de março de 2012

Uma vitória da criatividade sobre o calculismo

Nem mais nem menos: em noite de jogo frenético, o SLB ganhou merecidamente ao FCP e, a haver justiça poética plena, teria ficado 4-2. Foi 3-2, mas o jogo foi bem disputado e emotivo. A Taça da Liga é troféu secundário, certo, mas o FCPorto veio com toda a força (o resto foi bluff descarado).

Perante tal perfume inibriante, a eminência parda do futebolês tuga correu a terreiro para o seu papel preferido deste último trinténio: o de fustigar a arbitragem e tutti quanti para condicionar as arbitragens das jornadas seguintes a seu favor. Já só cai quem quer, ou quem lhe deve. O problema é que, no duelo anterior, o FCP só ganhou com um 3.º golo em fora-de-jogo (o resultado justo desse jogo teria sido 2-2), mas com essa vitória passou a liderar o campeonato. E é dessas arbitragens que os dirigentes do FCP não falam. Não lhes convém.

quinta-feira, 15 de março de 2012

É sempre bom rever David & Golias...

... mesmo que o David seja o Sporting CP! É mais do que merecido pois, ainda por cima, mostrou surpreendente qualidade estética durante mais 1 hora, o que é obra, dado que do outro lado estavam dos artistas mais bem pagos do planeta na arte de pontapear o esférico. E esta, hein?

Última sondagem dá PSD em queda livre, e ainda é pré-negociatas com BPN, Lusoponte, EDP...

Para os interessados é favor consultar o Barómetro Político Marktest.

Di qualcosa di sinistra! - onde António Costa faz que quer falar de democracia participativa mas não consegue dar um único exemplo ou proposta...

Um politiquês balofo e oco. É pena mas é assim, pelo menos quanto ao assunto em epígrafe. Se não acredita confira esta metade de entrevista ao Público de quarta-feira passada (vd. final desse post). O resto está aqui e não adianta nada - o livro de que era suposto falar escapará ao naufrágio?

segunda-feira, 12 de março de 2012

É já amanhã!

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Relatos de experiências: as editoras da resistência, 1960-1970 | 13 de Março | 18h30
- Sérgio Ribeiro (Prelo Editora)
- José Antunes Ribeiro (editoras Ulmeiro e Assírio & Alvim)
- João Barrote (editoras Paisagem, Escorpião e col. Textos Exemplares)
- Daniel Melo (comentador, FCSH-UNL)
Apareçam, nem que seja para ver este entardecer veranil em pleno inverno.

domingo, 11 de março de 2012

Giraud/ Moebius, o desenhador versátil que recriou o western e a ficção científica (1938-2012)

«Morreu Jean Giraud, o autor que mais influenciou os criadores do seu tempo», por Carlos Pessoa

quinta-feira, 8 de março de 2012

Mano, respeita as tuas raízes, já que não tens vergonha na cara

«Sarkozy diz que há demasiados estrangeiros em França».

E que tal começar por si e a sua família?

Escrutínio público do presente é o que faz falta

No início, impuseram cidadãos de 1.ª e de 2.ª (assalariados do público vs. privado), agora há funcionários públicos de 1.ª e de 2.ª

«Governo abre excepção para a TAP e autoriza empresa a manter salários», por Raquel Almeida Correia (nb: a excepção é extensiva aos funcionários do banco público, CGD)

dia internacional é quando a mulher quer

quarta-feira, 7 de março de 2012

RTP faz 55 anos em ambiente de apagão

Não gramo a RTP, já aqui o dei a entender várias vezes, unica e exclusivamente por uma razão: o seu situacionismo crónico e insuportável. Só não vê quem não quer. Isso não significa que a maioria dos seus profissionais sejam situacionistas ou que haja manipulação das notícias. É, de facto, uma tradição e uma formatação das relações entre chefias e poder político que determinam o essencial.
Seja como for, hoje a RTP faz 55 anos e está a ser atacada dum modo inacreditável (vd. aqui , aqui e aqui), pelo próprios governantes que supostamente deveriam zelar pelo serviço público (ao permitirem mudança de medição de audiências sem qualidade garantida e sem qualquer fiscalização atempada). Falam mais alto agora os interesses particulares do que a propaganda encapotada?

Guerra colonial - Tarrafal 50 anos depois


Mais detalhes no site da SPA.

sábado, 3 de março de 2012

Livros que tomaram partido

Na próxima 2.ª feira será inaugurada a mostra «Livros que tomam partido: editoras de caráter político na transição da ditadura em Portugal (1968-1982)», na Biblioteca Museu República e Resistência, em Lisboa (Estrada de Benfica, 419).

Em paralelo, decorrerá um ciclo de debates, organizado pelo historiador Flamarion Maués. Tenho o prazer de coordenar a 2.ª sessão, dedicada a testemunhos de representantes de editoras da resistência, como Sérgio Ribeiro (Prelo Editora), José Antunes Ribeiro (Ulmeiro e Assírio & Alvim) e João Barrote (Paisagem, Publicações Escorpião e Textos Exemplares). Deixo-vos em baixo o programa completo dos 3 debates.

Sessão 1 – 6 de março de 2012, às 18h30
A edição de caráter político em Portugal no período 1968-1982, por Flamarion Maués (doutorando na Universidade de São Paulo e investigador do IHC-FCSH-UNL)
– comentadores: profs. Maria Inácia Rezola (Univ. Nova Lisboa) e José Manuel Lopes Cordeiro (Univ. Minho)

Sessão 2 – 13 de março de 2012, às 18h30
Relatos de experiências: as editoras da resistência, 1960-1970
- Sérgio Ribeiro (Prelo Editora)
- José Antunes Ribeiro (editoras Ulmeiro e Assírio & Alvim)
- João Barrote (editoras Paisagem, Escorpião e Textos Exemplares) 
- comentador: prof. Daniel Melo (FCSH-UNL)

Sessão 3 – 20 de março de 2012, às 18h30
Relatos de experiências: as editoras da Revolução, 1974-1976
- Francisco Melo (UNICEPE e Editorial Avante!)
- João Soares (Perspectivas & Realidades) 
- Fernando Abreu (Edições Base) 
- comentador: prof. Nuno Medeiros (FCSH-UNL)

quinta-feira, 1 de março de 2012

Ciao Lucio, sei un grande

No dia da sua imprevista morte, aos 68 anos, em plena digressão, nada melhor que escolher «4/3/1943». Canção autobiográfica, conta-nos a história da concepção de Lucio, por Lúcia, mãe adolescente do cantautor. Foi censurada na RAI. Para os fans, reenvio uma versão inédita. Anos depois, Chico Buarque torna-se amigo de Dalla, e adapta a letra para português, na belíssima «Minha história». Em baixo, a letra da versão em português.

Ele vinha sem muita conversa, sem muito explicar
Eu só sei que falava e cheirava e gostava de mar
Sei que tinha tatuagem no braço e dourado no dente
E minha mãe se entregou a esse homem perdidamente, laiá, laiá, laiá, laiá
Ele assim como veio partiu não se sabe prá onde
E deixou minha mãe com o olhar cada dia mais longe
Esperando, parada, pregada na pedra do porto
Com seu único velho vestido, cada dia mais curto, laiá, laiá, laiá, laiá
Quando enfim eu nasci, minha mãe embrulhou-me num manto
Me vestiu como se eu fosse assim uma espécie de santo
Mas por não se lembrar de acalantos, a pobre mulher
Me ninava cantando cantigas de cabaré, laiá, laiá, laiá, laiá
Minha mãe não tardou alertar toda a vizinhança
A mostrar que ali estava bem mais que uma simples criança
E não sei bem se por ironia ou se por amor
Resolveu me chamar com o nome do Nosso Senhor, laiá, laiá, laiá, laiá
Minha história e esse nome que ainda carrego comigo
Quando vou bar em bar, viro a mesa, berro, bebo e brigo
Os ladrões e as amantes, meus colegas de copo e de cruz
Me conhecem só pelo meu nome de menino Jesus, laiá, laiá
Os ladrões e as amantes, meus colegas de copo e de cruz
Me conhecem só pelo meu nome de menino Jesus, laiá, laiá, laiá, laiá.

Tiradas

Na Catalunha como em toda a parte, em 1942 como agora.

«Ganhar dinheiro trabalhando muito é considerado uma mera redundância, uma vulgaridade desinteressante. Ganhar dinheiro sem fazer praticamente nada, eis o que tem mérito»

Josep Pla - Viagem de autocarro, p.132.