Não sei muito bem se é este o mundo perfeito que desejaria Francisco José Viegas, já que das suas posições vagas e ambíguas, levemente demagógicas não se percebe se tem algumas propostas concretas, mas do pouco que se vê é essa a sensação que (me) fica. Só que a puta da realidade teima em dizer-nos que o mundo não é perfeito, é uma chatice de facto, mas é assim mesmo... E pior ainda, há quem já tenha tentado por este mundo perfeito em prática, e ao que parece os resultados não foram lá muito bons.
sábado, 10 de março de 2007
Num mundo perfeito
Não sei muito bem se é este o mundo perfeito que desejaria Francisco José Viegas, já que das suas posições vagas e ambíguas, levemente demagógicas não se percebe se tem algumas propostas concretas, mas do pouco que se vê é essa a sensação que (me) fica. Só que a puta da realidade teima em dizer-nos que o mundo não é perfeito, é uma chatice de facto, mas é assim mesmo... E pior ainda, há quem já tenha tentado por este mundo perfeito em prática, e ao que parece os resultados não foram lá muito bons.
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Zèd
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segunda-feira, 5 de março de 2007
Zéro de conduite
Em resposta ao post do Hugo e para os saudosos da disciplina, recomendo o visionamento do filme de Jean Vigo, Zéro de conduite: Jeunes diables au collège (1933).
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Sofia Rodrigues
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O bom demagogo
Francisco José Viegas pertence àquele grupo de pessoas que acha que a culpa da violência na escola é das "ciências da educação" e das suas "novas pedagogias", e em particular da ideia de "escola centrada no aluno". Devo dizer desde já que não sou nem porte-parole das primeiras nem fã (dos excessos) das segundas. Mas atribuir o problema da indisciplina e da violência - que são coisas diferentes, atenção - às alterações na pedagogia releva da mais profunda demagogia e do mais simples desconhecimento do inevitável impacto das mutações trazidas pelo crescimento da população escolar nas relações pedagógicas.
Não é preciso ser empenhado militante da causa para perceber que a "escola centrada no aluno" é uma inevitável e necessária banalidade: significa que deixou de se ver o aluno como um depositário passivo dos conteúdos de aprendizagem e que é preciso motivá-lo - e necessariamente atender às suas prévias motivações, ou falta delas - para aprender. A escola dos "bons velhos tempos" de Francisco José Viegas era - para fazer uma pequena trocar de esterótipos - frequentada pelos héritiers ou pelos boursiers, cuja cumplicidade apriorística com o saber escolar permitia-lhes aprender, passe o exagero, quase por osmose. Hoje, essa escola desapareceu. Não se inculca "«disciplina», «autoridade» e «recompensa»" porque "sim", como se a relação pedagógica não fosse isso mesmo, uma relação, que depende do comportamento dos dois lados, e independentemente das consequências do exercício da autoridade, em particular para o percurso escolar do aluno. Achar que podemos simplesmente voltar ao autoritarismo do antigamente é uma ideia tão oca como demagoga. Gostemos ou não das "novas pedagogias", elas são provavelmente "estratégias de sobrevivência" de um corpo docente procurando encontrar formas de lidar com populações que não valorizam e não aceitam a escola como os colegas de carteira de Francisco José Viegas. Essas "estratégias de sobrevivência" são suficientemente boas para o ensino e para a aprendizagem? Se calhar não, e não duvido que possa haver muito a melhorar neste aspecto. Mas continuar a enredar o debate sobre educação em torno das pedagogias é chover no molhado e completamente inútil, seja à esquerda ou à direita. O que pode fazer hoje a diferença não é uma enésima reforma pedagógica, mas a mudança de filosofia ao nível dos objectivos da educação e das regras de gestão das escolas e das carreiras. Isto já é polémico que chegue. A conversa do "bom selvagem" ou do "mau selvagem" não serve aqui senão para criar ruído.
P.S. - Francisco José Viegas evoca a "média (oficial) de duas agressões por dia nas escolas portuguesas", como, sem dizê-lo assumidamente, se este fosse um número alto. Este é outra questão onde a demagogia abunda. Imaginemos que este número oficial peca por escasso. Se quiserem, multipliquem-no por 3, 5, ou 10. Continuará a ser um número baixo. Baixo se tivermos em conta a quantidade de pessoas que interage na escola todos os dias: somando os quase 1.700.000 estudantes (do nível pré-escolar ao ensino secundário, considerando os ensinos público e privado) aos cerca de 160 mil professores e 80 mil funcionários, são quase 2 milhões de pessoas, praticamente um quinto da população nacional, que convive nas cerca de 12.500 escolas do país -, o número de actos de violência por ano é surpreendentemente baixo. E é baixo quando comparado com os números de actos violentos cometidos fora da escolas, que funcionam de facto como dispositivos institucionais bastante eficazes de gestão de massas populacionais muito heterogéneas do ponto de vista etário, estatutário, socio-económico, e em algumas situações, étnico.
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Hugo Mendes
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