terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Novas do austeritarismo

Enciclopédia do boy júnior

É um trabalho de sapa aquele que este blogue tem feito para nos revelar o maravilhoso mas intrincado mundo do assessor nova geração, pró-troika mas imune à partilha de penalizações salariais (isso é para o comum dos mortais).

Perante esta tendência com algum déjá vu, há quem ache que o perigo é a «esquerda caviar» ou, na expressão mais chã de Fátima Bonifácio, a «esquerda champagne». É que esta, se fosse poder, seria a «nomenclatura da nova situação». E, temor dos temores, concretizaria a ameaça letal: «Não fariam parte [os seus amigos ricos socialistas], como eu faria, se isso acontecesse, dos lumpen intelectuais a ganhar 25 tostões para dar dez horas de aulas por dia».

Pessoas como a insigne historiadora do século XIX dizem-se há muito vacinadas contra o esquerdismo dos anos 70, em que militou cegamente. No seu armário, contudo, é só fantasmas desse período. Aqueles que assim se expressam vivem todos nesse passado, como se não tivessem vivido mais nada, como se não houvesse mais referenciais do que um certo pensamento dualista desse tempo.

Entre o real e o imaginário, há todo um campo de opções. Optar pelo cenário mais inverossímil para neutralizar o dissenso político actual (ou, simplesmente, para evitar alongar-se sobre a situação actual) não deixa de ser o mais irónico possível para alguém que se «pela» por polémicas, gosta de política e se afirma provocadora.

Nb: para ler outras pérolas vd. aqui.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Tão liberais que nós somos


****Mais informação nesta entrevista a Pedro Rosa Mendes.

domingo, 22 de janeiro de 2012

Plataforma Inter-Bolsas: coisas simples, sementes de futuro

Há cerca dum ano atrás, o Rui Tavares teve a ideia de financiar umas bolsas de investigação científica, como modo de apoiar aqueles que precisam de amparo mínimo em tempos difíceis.

Foi uma iniciativa meritória, pela ousadia, pela carência existente e por vir de quem vinha, alguém 'de dentro', que também faz pesquisa e se disponibilizava para apoiar, seleccionar e avaliar as candidaturas. Mais ainda perante os excelentes resultados que o Rui referiu há um mês atrás, no jornal Público e também no seu blogue.

Agora prepara-se para aprofundar essa iniciativa com o projecto Plataforma Inter-Bolsas, de novo apoiado pelos comediantes dos Gato Fedorento e agora também pela eurodeputada Ana Gomes. E por quem quiser, através do patrocinato de ideias na internet. Cada vez melhor! Toda a informação estará disponível em site próprio a partir de Março próximo. Se posso dar um conselho, seria útil que o valor do apoio incluísse o pagamento da segurança social e pudesse ter um período de vigência mais extenso.

Parabéns ao Rui e seus cooperantes. Que mil ideias destas floresçam. Seria bom sinal. Não tem que ser o Estado a fazer tudo. A sociedade civil também pode (e deve) dar exemplos. Não é assim tão difícil. E a esquerda portuguesa está muito atrasada neste âmbito. Por isso, a quem diz que isto foi um golpe político, eu digo: ai é? Então façam também! Quantas mais iniciativas destas melhor!!

Um presidente falido...

... de decência.
De decência, simplesmente.

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Portugal no seu melhor: campeões europeus da desigualdade

por Daniel Oliveira

Mas só para quem tem a memória curta, ok?

E o tira-teimas é:

«Este Acordo [de concertação social relativo à fixação e evolução do salário mínimo nacional], subscrito em Dezembro de 2006, pelo Governo e por todas as confederações sindicais e patronais, fixou uma trajectória de evolução do salário mínimo de modo a que este alcance 500 euros em 2011»

nb: cartoon de Fernão Campos, retirado deste seu blogue.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

O caso da Loja Mozart49: queremos mesmo transparência?

Tipo, pegar no caso da semana passada para acabar com o clientelismo?
Se sim, então exija-se transparência máxima nos critérios, processos, concursos e avaliações que envolvam o Estado.
Acabe-se com os círculos viciosos, como a dependência das câmaras das licenças de construção, as excepções que se tornam regra (ajustes directos como modo de vida em Lisboa, as famosas «derrapagens orçamentais», etc.), as más negociações para o Estado (as PPP) e/ou cidadãos (BPP, BPN, TDT), a paralização do Estado pelos interesses partidários, a mercantilização da saúde e o esquecimento das farmácias sociais...
Mas se a ideia é avançar também nas 'identificações', então que seja para todos, membros da Maçonaria, do Opus Dei, e, não esquecer, das associações político-partidárias e das suas jotinhas. É aí que se concentra o grosso dos interesses.

Não será a exigência de democratização plena a melhor das visões?

Para ponderar na nossa zanga colectiva com a justiça

«Há uma crise no modo como o cidadão percebe a justiça», entrevista do ex-conselheiro Superior de Magistratura Rui Patrício à jornalista Mariana Oliveira

Boas e más notícias da igreja

José Maria Castillo Sánchez
(em entrevista a António Marujo)

9 conselhos para o Dr. Jardim...

... cada qual melhor que o anterior! Há dias de inspiração!! Ora veja e reveja este resumo por Francisco Teixeira da Mota, em versão autorizada pelo Tribunal da Relação.

domingo, 8 de janeiro de 2012

Sur l'Etat


Dez anos depois da morte de Pierre Bourdieu, a editora por ele criada – Raisons d’Agir – e Le Seuil publicam as aulas dadas pelo sociólogo, nos anos 1989-1992, no Collège de France.
O título é claro : « Sur l’Etat ». Se Bourdieu publicou vários trabalhos sobre o Estado e a génese do Estado, a edição crítica permite aprofundar o olhar crítico – e por vezes ambíguo – do sociólogo sobre o Estado. Para melhor indicar a “universalidade” da obra de Bourdieu, tanto Le Monde como Libération pediram à académicos estrangeiros – Craig Calhoun e Abram de Swaan - uma análise da obra de Bourdieu.
Em suma, uma boa leitura para o início do ano.

sábado, 7 de janeiro de 2012

As melhores exposições de 2011 (cá dentro)

*****Esta é a minha lista pessoal das melhores exposições temporárias vistas em 2011. Tenho muito prazer em ter feito este post, relembrei-me de bons momentos. Não tem hierarquia, mas procurei listá-las da mais antiga à mais recente. Mais coisa menos coisa.

«A Perspectiva das Coisas. A Natureza-morta na Europa, 1850-1955» (Lx, FCG, acaba a 8/I). 2.ª parte duma grande mostra dedicada à natureza-morta, um tema recorrente na arte, mesmo na contemporânea, embora aqui em novos moldes. Este é o fim-de-semana final, gratuito! Com pintura, fotografia e cinema, Matisse, Picasso, Amadeu, Leger e muitos outros.

AmadoraBD 2011 (Brandoa, Fórum Luís de Camões, etc.). Este ano foi a 22.ª edição e uma das melhores de sempre, com mostras para a «Sociedade dos Humoristas Portugueses» (centenário), «O Humor na Banda Desenhada Internacional», «Os Peanuts, 60 anos» (Shultz), «Astérix entre os Portugueses», «As Incríveis Aventuras de Dog Mendonça e Pizza Boy», etc.

«Adelino Lyon de Castro – O Fardo das Imagens (1945-1953)» (Lx, Museu do Chiado). Foi, pelo menos para mim, uma das grandes revelações na fotografia portuguesa, após a descoberta de Fernando Lemos, Costa Martins e Vítor Palla. O irmão do editor da Europa-América produziu, entre 1945 e 1953, um impressivo trabalho de cruzamento entre reportagem social e fotografia artística. É o negativo do Portugal de Salazar, um país na labuta diária, trabalhando no duro, ou descansando nas pausas possíveis, com uma grande força humana. O sempre atento crítico Alexandre Pomar faz uma avaliação muito severa desta mostra (vd. I, II, III, IV, V, VI e VII). Seja como for, a comissária tem provas dadas e, para uma boa parte das pessoas, foi a hipótese de descobrir um grande fotógrafo.
«Colares 100 anos da Região Demarcada 1908-2008» (Colares, Adega de Colares). Mostra com fotos, garrafas e rótulos de garrafas antigas, pequena mas interessante. Devia haver mais mostras destas, sobretudo com o bónus de se poder adquirir algum do néctar elogiado no final!

«Humor em Sustenido», de Zé dalmeida (Lx, Galeria Novo Século). Uma antológica do Zé dalmeida é sempre um acontecimento. Ainda por cima quando o ‘tema’ é a música (piano) e aquela ironia terna ainda nos consegue surpreender.

«Duchamp: A Arte de Negar a Arte» (Évora, Fundação Eugénio de Almeida). Um espaço recente com uma programação muito interessante, que consegue preencher muito bem um espaço relativamente pequeno. Bom trabalho nos catálogos.

«Linha de Montagem», de Miguel Palma (Lx, CAM-FCG). Uma surpresa bem agradável, a desta maluquinho pelas engenhocas, com uma certeira ironia do maquinal.

«Ver a República» (Coimbra, Museu da Ciência). Uma boa mostra documental, dispersa por 3 espaços, com boa apresentação e textos. Uma abordagem diferente, mais temática.
«A Voz das Vítimas», de Fundação Mário Soares, IHC-UNL e ANAM (Lx, Antiga Cadeia do Aljube). Uma excelente mostra de denúncia da repressão política do salazarismo. Além da componente científica, de sistematização de informação sobre o sistema prisional e repressivo, dá espaço às vítimas, pela encenação da sua vida nas prisões e a escolha dum conjunto de documentários audiovisuais com testemunhos de ex-presos políticos. A parte de reconstituição é preciosa, o design excelente, com lettring inspirado no logo de João Tito Basto para o ex-Movimento Cívico e actual Associação Não Apaguem a Memória!. Infelizmente o catálogo não está à altura da mostra, é muito antiquado e sem recurso ao multimédia, quando devia ter sido aproveitado o trabalho de levantamento de Diana Andringa para criar um documento incontornável para memória colectiva, em especial para aqueles que não puderam visitar a mostra. Valha-nos o site oficial, bastante exaustivo. Esperemos que fique para sempre.

«Muros de Abrigo», de Ana Vieira (Lx, CAM-FCG). Uma interrogação irónica e terna sobre a infância. Uma revelação para quem não conhecia bem o trabalho desta artista plástica.
A finalizar, vale a pena referir uma mostra permanente.
«Segredos da luz e da matéria» (Coimbra, Museu da Ciência). Uma exposição permanente muito bem feita, num museu que tem acumulado prémios internacionais.

Para uma agenda futura recomendo visitas ao site Galerias de Arte em Portugal.

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Afinal, os media de Murdoch não se interessam só por celebridades...

As escutas ilegais da imprensa de Murdoch chegaram a ser relativizadas sobre o argumento de que só pretendiam apanhar «celebridades», aquela fauna que apenas vive de aparecer nos media, donde, tomem lá o troco.
Sucede que não foi só isso. Foi uma autêntica indústria da devassa, que não poupou ninguém, gente comum e políticos importantes. Neste último grupo, notícia recente do The Independent corfirma a devassa a Gordon Brown enquanto ministro das Finanças (o que já fora revelado pelo The Guardian), havendo quem diga que era prática generalizada no jornalismo tablóide.
O que, a ser verdade, não deixa de relativizar a posição de Murdoch, campeão neste segmento. E de comprovar o nexo entre jornalismo tablóide e campanhas políticas. Muito feio. Agora, imaginem que este mano continua a ter nas mãos parte influente dos media dos EUA, RU e Austrália, e ficam com uma ideia do que ainda pode fazer.

domingo, 1 de janeiro de 2012

Bom ano de 2012!!!

Receita de ano novo

Para você ganhar belíssimo Ano Novo 
cor do arco-íris, ou da cor da sua paz, 
Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido 
(mal vivido talvez ou sem sentido) 
para você ganhar um ano 
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras, 
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser; 
novo 
até no coração das coisas menos percebidas 
(a começar pelo seu interior) 
novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota, 
mas com ele se come, se passeia, 
se ama, se compreende, se trabalha, 
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita, 
não precisa expedir nem receber mensagens 
(planta recebe mensagens? 
passa telegramas?)

Não precisa 
fazer lista de boas intenções 
para arquivá-las na gaveta. 
Não precisa chorar arrependido 
pelas besteiras consumidas 
nem parvamente acreditar 
que por decreto de esperança 
a partir de janeiro as coisas mudem 
e seja tudo claridade, recompensa, 
justiça entre os homens e as nações, 
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal, 
direitos respeitados, começando 
pelo direito augusto de viver. 

Para ganhar um Ano Novo 
que mereça este nome, 
você, meu caro, tem de merecê-lo, 
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil, 
mas tente, experimente, consciente. 
É dentro de você que o Ano Novo 
cochila e espera desde sempre.

Carlos Drummond de Andrade