quarta-feira, 29 de junho de 2011

Porque é que boas reportagens já não redimem o inevitável

Ricky Martin e Cova do Vapor parecem temas desinteressantes, contudo, duas boas reportagens conseguiram dar-lhe a volta.

Quanto ao primeiro, um cantor de «música latina», passou de sex symbol heterossexual para sex symbol gay, no ano passado ou por aí. Assumir isso publicamente é bom, para tirar a questão do armário; agora parece que a coisa foi um pouco tardia demais, senão vejamos: em 1.º lugar, já dezenas de países aprovar o casamento homosexual e avançam na promoção da igualdade de género. Depois, o artista lançou em 2011 um álbum que se chama Música + Alma + Sexo e cujo sexo no fim do título foi justificado por ser a coisa mais natural do mundo. Pois, se assim fosse, porque é que teve que esconder a sua orientação sexual tanto tempo? E porque diz que orientação é diferente de preferência e que o facto de ser gay não é uma escolha?

A segunda reportagem falou-nos dum bairro popular de Setúbal que há mais de 30 anos vem lutando para ter a sua infra-estrutura própria e que agora consegue chamar peritos de várias areas, desde urbanistas e malta das energias renováveis. Nada mau.

Para quem estiver interessado pode ver na página do programa «30 minutos», da RTP1.

E chegámos à parte final do título do post: o inevitável é que vem aí a privatização da RTP e já ninguém vai protestar por isso. Para chegar a este estado de coisas não contribuiu apenas a crise geral, mas também a lentidão de processos da instituição. A SIC já anda a fazer deste tipo de reportagens há mais de 15 anos, não é assim? Enfim, nem tudo foi negativo, como se constata no noticiário regional, na programação humorística, na capacidade tecnológica. Mas enfim, com propaganda oficial, grelha populista (hoje, o telejornal abriu com a morte do actor Angélico Vieira, enquanto a SIC abria com a revolta nas ruas de Atenas) e descaracterizada, etc. e tal, o barco foi ficando muito para trás...

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Quando o calor aperta...

A defesa do ambiente e a promoção do uso da bicicleta em detrimento de transportes que usem combustíveis fósseis parecem-me muito bem, melhor ainda quando em pelota, invadindo a minha cidade!!!

É isso aí galera: no próximo domingo, Lisboa recebe a sua 1.ª World Naked Bike Ride. A equipa, aberta a todos os interessados, parte no pico do sol (12h), do Parque Eduardo VII rumo a Belém.

Melhor não tem. Boa pedalada, pessôal!

terça-feira, 21 de junho de 2011

Todo o Chico Buarque rolando aí

Por obra e graça do Instituto Tom Jobim está agora disponível na internet toda a musicografia de Chico Buarque. Para ouvir, ler e deleitar-se.
No site do mesma instituição já era possível aceder à obra do seu mentor, António Carlos (Tom) Jobim.
Uma boa prenda para todos os amantes de música brasileira.

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Quando a crise chega ao céu...

... só mesmo mirando, para saber o resultado!

quinta-feira, 16 de junho de 2011

O documento-chave da nova AD

Texto do acordo político «Maioria para a mudança», guia do novo governo PSD/ CDS. Entre várias flores de retórica que nos levam todas a um mundo perfeito, cabe destacar os seguintes 3 pontos, até para futura prestação de contas:

assegurar o reforço da independência e da autoridade do Estado, garantindo a não partidarização das estruturas e empresas da Administração e assegurando uma cultura de mérito, excelência e rigor em todas, com enfoque na qualidade dos serviços prestados ao cidadão.

O Governo valorizará os novos sectores estratégicos, designadamente os que têm maior impacto nos bens transaccionáveis, dando a devida prioridade à agricultura e florestas, à economia do mar e das pescas, ao turismo e à cultura, promovendo uma política de proteção ambiental e um desenvolvimento sustentado do território, sem descurar todos os restantes sectores que contribuam para o aumento da capacidade exportadora, que será crítica no curto e médio prazo para a criação de postos de trabalho e para o aumento do rendimento.

O Governo reconhece a importância da economia social e pugnará pela máxima utilização da capacidade instalada, nomeadamente nos sectores da educação, saúde e solidariedade.

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Vejam lá se em monchiqueiro nã fica melhor: E tudo o vento levou > Tá aí uma bezaranha que leva tudo à frente; Titanic > Tianica

Feito por alunos da turma B do curso EFA da Escola E.B. 2, 3 de Monchique. Parabéns à malta!

terça-feira, 14 de junho de 2011

Italianos recusam impunidade dos políticos, o nuclear e a água como negócio

E as votações foram bem expressivas: mais de 95% dos eleitores que votaram, sendo que os referendos têm força de lei ao superar os 50% de votantes.

Berlusconi apelou à abstenção, dizendo ser um direito dos cidadãos. Perdeu em toda a linha, pois um dos referendos era feito à medida, para o proteger dos processos judiciais que impendem contra ele.

Também em Itália alguma coisa começa a mudar. Desde logo, maior exigência por parte dos cidadãos quanto às suas elites e às escolhas que estas pretendem impingir ao país. Tiveram azar, em referendo não há hipótese de misturar tudo, como nos programas eleitorais...

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Eça 'revisitado': somos o modo como nos relacionamos, o que fazemos e como vemos o mundo

Entre as cidades e a serra: para saber mais eis o respectivo índice e introdução.



terça-feira, 7 de junho de 2011

Os parisienses são capazes de tudo!

«Bonecos Estrunfes vivem num regime estalinista e racista», por Cláudia Carvalho

Antoine Buéno é um professor francês que publicou agora um livro “Le Petit Livre Bleu: Analyse critique et politique de la société des Schtroumpfs”, onde faz uma análise sobre os bonecos azuis, investigando a história dos Estrunfes, as mensagens subliminares de cada personagem, o dia-a-dia das histórias. No seu estudo, o autor garante ter encontrado vários valores totalitários.

sábado, 4 de junho de 2011

À atenção da Sra. Merkel

Os Europeus do Sul trabalham mais, e durante mais tempo do que os alemães segundo um estudo do banco francês Natixis.
Por exemplo: em média um alemão trabalha por ano 1390 horas, um grego 2119 horas, um italiano 1773 horas, um português 1719 horas, um Espanhol 1654 horas e um Francês 1554 horas. Para a reforma é parecido.
Pergunto-me onde é que uma pessoa que é primeira-ministro da Alemanha, um dos pilares da União Europeia vai buscar a sua informação. Será possível que a este nível de governação se baseia apenas no preconceito?

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Notas de uma campanha anormal

Anormal, excepcional, quase não existente, atendendo à gravidade do contexto. Não foi uma campanha eleitoral normal, ao contrário do que alguns quiseram fazer crer. Desde logo, porque não devia ter sido necessária: as de 2009 deviam ter bastado para chegar à conclusão da necessidade dum bloco central (PS-PSD). Agora, novamente, parece básico que estes têm que se entender, independemente do resultado final. A diferença é que agora o entendimento tem que ser também com o CDS, coligados ou não. Ficam de fora CDU e BE, porque os próprios assim o quiseram.

Isto não tem a ver com avaliações políticas, mas sim com avaliação realista da conjuntura político-económica dos últimos anos.

Este PS socrático não percebeu que já perdeu em 2009, quando saltou em frente sem reflexão crítica. Aliás, foi perdendo desde 2005, por falta de vontade política em reformas-chave: racionalização de despesas e recursos, regionalização e reorganização administrativa a nível local, extinguindo os governos civis; reforma da justiça e fiscalidade; acção anti-economia clandestina e anti-despesismo; maior taxação das mais-valias financeiras. Acertou noutros pontos: alargamento dos horários e valências do ensino; SNS e indicadores de saúde pública; energias renováveis; política científica. Não chegou.

O PSD, esse irá conduzir o próximo governo mas não convenceu. Desde logo, não tem um programa claro, além das boas intenções de cortar na despesa (esperemos que corte mesmo nas chefias a mais, nos tachos para os boys, e por aí fora). A redução da taxa social única não se sabe em que valor se vai situar, nem onde se vai cortar. As políticas sociais, culturais e científicas teme-se que venham a ser sacrificadas demais. E a onda de privatizações que se avizinha, há sempre o risco de acentuarem a corrupção.

O CDS afirma uma imagem de centro que é logo desmentida pela tradição histórica de alinhamento ideológico à direita. Além disso, a declarada intenção social esbarra com os 2 submarinos que acentuaram o défice orçamental até hoje. Do lado positivo, destaque-se a bandeira das farmácias sociais, um trunfo que inexplicavelmente a esquerda deixou cair.

O PCP volta a apostar na recusa do projecto europeu tal como tem sido construído, questão agora mais actual, e na recusa de acordos financeiros que comprometem a margem de manobra política dos governos. Apostam na capacidade produtiva nacional, mas esqueceram-se de concretizar por sectores. Não foram à reunião da troika, ao contrário da CGTP, o que caiu mal.

O BE também é contra o acordo com a troika, mas também se esqueceu de apresentar um programa alternativo. Ainda assim, algumas das suas propostas foram mais tarde apreciadas por outros, pelo seu bom senso exemplar: orçamento zero na administração pública, integração das empresas públicas nas direcções-gerais, etc. Já sem bom senso é a insistência no jacobismo estatal, agora na versão de projectos ferroviários megalómanos. Também não foram à reunião da troika, além de terem apresentado uma moção de censura anacrónica e estapafúrdia. Apostaram na tecla da renegociação da dívida, que ainda está por saber até que ponto terá eco.

Há muitos mais partidos, mas falta o tempo. Enfim, aturem-nos, que eles bem precisam.

A cozinha lusa em registo minimal-repetitivo

Podem ser dos melhores chefs portugueses da actualidade, mas as listas pessoais sobre os melhores 7 pratos da gastronomia portuguesa soam demasiado pelo mesmo diapasão. Tenho pena de o dizer, mas é assim.

A perdiz e o leitão à bairrada vem em todos, caramba (o cozido desaparece, asssim como as tripas, o cabrito, o borrego, a vitela, o arroz de pato...)! Nas sopas, a açorda alentejana intercala com o caldo verde: estou farto do caldo verde cheio de batata e chouriço, meus amigos! Como se não existissem outros sopas boas (gaspacho, sopa de peixe, de beldroegas, de feijão verde...); o pastel de bacalhau é quase o único petisco: que vergonha, então, não temos peixinhos da horta, enchidos, ovos mexidos, saladas de ovas e polvo...? Nos doces, vir em maioria pastéis de Belém e pastéis de Tentúgal, por muito bons que sejam, é quase um sacrilégio. Meus amigos, isso não é sobremesa, é apenas aperitivo de sobremesa! Seja em que cozinha for!!!

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Imperdoável

Hamza Ali Al-Kateeb, um rapaz de 13 anos, foi torturado até à morte por polícias sírios há uns dias atrás. O crime: ter ido com a família a uma manifestação pela liberdade e democracia na Síria.
Além de torturado, partiram-lhe o pescoço, desfiguraram-lhe a face, queimaram-no com cigarros e dispararam-lhe balas no peito. No final, obrigaram os pais a assinar uma declaração de silêncio, quando nada sabiam do que se tinha passado com o seu filho.
Quando receberam o cadáver de Hamza, os pais pediram a um activista para filmar como estava e o video foi colocado no You Tube. Entretanto, apenas está acessível a adultos, dada a violência das imagens. Mas a mensagem ficou: é um limiar imperdoável aquele que foi franqueado pela ditadura síria. É verdade, todas as ditaduras têm como seu desporto favorito a tortura. Mas isto já está para além disso. Quando o esquecermos, será mais um passo rumo a um passado recente bem atroz.
Uma página no facebook relembra-nos isso.

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Uma descoberta

infelizmente impossível de partilhar em reprodução. Map of nowhere de Grayson Perry (2008).

Dois pontos de partida: um mappa mundi medieval (o mapa de Ebstorf), destruído durante a Segunda Guerra Mundial e Utopia de Thomas More, um «não-lugar».

Num esquema circular, Perry apresenta uma «planisférica» análise da sociedade contemporânea. No centro, lugar que já esteve ocupado por Jerusalém, surge a «Dúvida». Mas estão lá os locias de culto, como, naturalmente, a Microsoft ou o Starbucks, estão lá todas as epígrafes em modo de legenda às figuras e aos edifícios. Só temos de ver de perto.

A sátira é, ainda, ampliada pela confusão à medieval entre escala e proporção. Na base, o cenário é realista, a chegada de uma peregrinação ao sopé de uma colina, onde está um mosteiro num halo de luz que sai directamente do rabo do artista.

É escolha de Paula Rego e está na exposição My choice até 12 de Junho.