sábado, 10 de março de 2007

Num mundo perfeito

Num mundo perfeito não haveria bons selvagens, nem bons nem maus, não haveria selvagens. Num mundo perfeito a escola não seria centrada no aluno, não seria centrada em coisa nenhuma, num mundo perfeito nem sequer se colocaria a questão de saber em que é centrada a escola. Num mundo perfeito os alunos iriam à escola, iriam apenas à escola, saberiam o significado das palavras "disciplina" e "autoridade", e receberiam por isso as suas recompensas. Num mundo perfeito perfeito não haveria mestres em "ciências pedagógicas", essas teorias que conduzem apenas e só à criação de crianças-monstros de mimos e egoísmo. Num mundo perfeito não haveria técnicos do ministério da educação com apenas uma vaga "recordação teórica" da escola, não haveria técnicos no ministério da educação de todo. Haveria apenas uma hierarquia e uma cadeia de comando. Num mundo perfeito a média de agressões nas escolas não seria baixa, seria zero. Num mundo perfeito os alunos seriam todos bem comportados, e alunos bem comportados não agridem os professores, num mundo perfeito os professores também não agrediriam os alunos, porque a isso se chamaria "castigos corporais" e não "agressão" (e de qualquer modo, sendo todos os alunos bem comportados, não seria necessário). Num mundo perfeito os alunos bem comportados iriam à escola para absorver os conhecimentos debitados pelos professores, os programas seriam ditados pela cadeia de comandos do ministério da educação. Num mundo perfeito um ou dois sábios - não mais - por encomenda do ministério da educação elaborariam os programas escolares, que os professores debitariam para os alunos bem comportados, estes conscientes do seu papel de receptáculo de matérias aceitá-lo-iam sem questionar. Num mundo perfeito perguntar-se-ia a Vasco Graça Moura qual a terminologia linguística a adoptar, este do alto da sua sapiência diria de sua justiça e a sua terminologia seria adoptada como a única gramática possível, seria assim "A" gramática simplesmente, e seria "A" gramática que os alunos bem-comportados absorveriam educadamente nas escolas. Num mundo perfeito não haveria debates, muito menos polémicas sobre a TLEBS, ou sobre qualquer outro assunto, a cadeia de comando do ministério da educação trataria de informar os professores sobre as verdades a debitar aos alunos, não haveria debates, muito menos polémicas sobre quaisquer conteúdos dos programas, isso seria uma inútil perda de tempo. Num mundo perfeito, de alunos bem comportados, não haveriam várias verdades, verdades relativas, mas uma só verdade, absoluta. Num mundo perfeito os alunos bem comportados sairiam assim da escola preparados para a vida, cheios das verdades que depois lhes permitiriam executar competemente as suas tarefas profissionais.

Não sei muito bem se é este o mundo perfeito que desejaria Francisco José Viegas, já que das suas posições vagas e ambíguas, levemente demagógicas não se percebe se tem algumas propostas concretas, mas do pouco que se vê é essa a sensação que (me) fica. Só que a puta da realidade teima em dizer-nos que o mundo não é perfeito, é uma chatice de facto, mas é assim mesmo... E pior ainda, há quem já tenha tentado por este mundo perfeito em prática, e ao que parece os resultados não foram lá muito bons.

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