domingo, 18 de janeiro de 2009

Porque será que ainda existe racismo?

Em França a polícia pode interpelar uma pessoa sem precisar de uma justificação para o fazer, são os "coltrôles au faciès". Não existem dados oficiais sobre estas interpelações, um polícia nem sequer tem que preencher papel algum. No entanto CRAN (Conseil Répresentatif des Associations de Noirs) solicitou uma sondagem à CSA sobre a incidência, e a conclusão foi que os membros das minorias visíveis são duas vezes mais controlados pela polícia do que a média da população. Infelizmente não é muito surpreendente, mas fica a demonstração de que as interpelações arbitrárias pela polícia resultam em discriminação, e mesmo em racismo institucional. O CRAN, lançou a semana passada uma campanha de sensibilização para o problema, e fez vir dos EUA um sósia de Barack Obama para realizar o vídeo que está ali abaixo. A campanha tem sido um sucesso pelo menos da internet, segundo o presidente do CRAN, Patrick Lozès, o vídeo foi visto 160000 vezes em dois dias. Note-se que o CRAN não deseja o fim do "contrôle au faciès", mas propõe que um polícia que interpele uma pessoa seja obrigado a preencher um relatório indicando os detalhes e - sobretudo - a justificação para a interpelação. É uma proposta, na minha humilde opinião, bastante razoável, pretende-se apenas responsabilizar o polícia. Uma medida idêntica foi adoptada do Illinois quando Obama era senador, e foi uma das experiências que inspirou a proposta do CRAN, ainda segundo Lozès. De notar também que a chefia da Polícia acolheu favoravelmente esta campanha, tal como os meios político (com a excepção do ministro da Imigração e Identidade Nacional Eric Besson).
Curiosamente, quando o CRAN lança esta iniciativa e quando Obama se prepara para tomar posse, a revista Science publicou um artigo científico em que se analisa o comportamento de indivíduos que presenciam actos de racismo. O ponto de partida do estudo é uma aparente contradição das sociedades actuais: se por um lado o racismo é hoje em dia geralmente condenado e fortemente reprimido, por outro lado os actos racistas continuam a fazer parte do nosso quotidiano. A conclusão principal do estudo que explica, pelo menos em parte essa contradição, é que geralmente alguém que testemunhe um acto de racismo reage muito mais passivamente do que pensaria reagir. Entre a reacção que uma pessoa diz que teria caso presenciasse um acto de racismo, e a reacção que ela efectivamente tem, vai uma distância considerável. Infelizmente, mais uma vez não surpreende, mas a prova empírica vale ouro. E sim, o racismo ainda existe...



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