sexta-feira, 5 de abril de 2013

Depois da cegueira, a mentira ocultada (ou as trampas de Draghi para encolher salários...)

O grave é que o título principal desde post não é uma «frase batida» para martirizar o já fustigado cidadão português; remete para a conduta inaudita do líder do Banco Central Europeu. Em reunião do Eurogrupo, Mario Draghi, é dele que falo, refutou pedidos de inversão do austeritarismo (como os do presidente francês) contrapondo que a crise europeia foi causada por crescimento salarial acima da produtividade nos países da Europa do Sul e França, devendo estes seguir o exemplo alemão. Sucede que isto é uma falácia. E foi descoberta por um daqueles economistas que aindam se dão ao trabalho de conferir os dados apresentados pelos líderes da Europa: trata-se de Andrew Watt (cf. «Mario Draghi's Economic Ideology Revealed?», in Social Europe Journal). Esquematicamente, o logro de Draghi foi o de ter comparado o incomparável. Watt fez as contas usando indicadores comparáveis e deu uma coisa quase oposta, ou seja: em França e Espanha os salários não cresceram demasiado acima da produtividade (apud norma de estabilidade imposta pelo próprio BCE), enquanto na Alemanha os salários cresceram demasiado abaixo da produtividade, sendo isso causa maior do desequilíbrio dentro da união monetária, desequilíbrio esse que foi o principal factor da crise europeia.

Cegueira ideológica é uma coisa, mentira intencional é outra. Esta última não pode ser aceite no debate público, quanto mais no debate decisório. Quem aceitará políticas baseadas na manipulação grosseira dos dados?
A denúncia foi aprofundada por outro economista, o professor universitário espanhol Juan Torres López, em «Las trampas de Draghi para bajar salarios». Há tradução portuguesa aqui.

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