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quinta-feira, 20 de maio de 2010

Divagações

Começar um livro no comboio para o Porto com significativo prefácio, «Assim, o romance que o leitor tem entre mãos representa menos uma saga multi-geracional do que uma viagem de descoberta literária. É um romance para quando estamos acordados a meio da noite e um foco de busca percorre o horizonte. É para quando estamos numa sala de espera, preocupados com notícias devastadoras. É para quando estamos resolvidos a nunca mais nos metermos no problema em que nos metemos ontem à noite. É para quando estamos no comboio, entre estações. É para quando estamos sós como nunca estivemos. É para quando nos embriagam as complexas ilusões e ambições de Verão e dançamos na rua. É para quando precisamos de mais testemunhos, de um pouco mais de contexto, a respeito do afecto.» Só podia ser o livro certo.
No Porto, a exposição de Lourdes Castro. Caminho de depuração artística até à obra Peça (c/ Francisco Tropa, 1998): uma mesa, um rolo de lençol branco, projectores. A impressão do que já é incorpóreo. O «negativo» de outro artista, outra exposição, Bartolomeu Cid dos Santos, a sua mesa com roldanas impressoras, o papel saturado de negro até ao limite, a sobreposição de imagens, paisagens, textos.
A demanda da artista vai connosco para fora do museu. Chove e faz frio e a exploração das «novas» ruas da cidade acaba na mais perfeita Pensão/Creperie. A Favorita.
Já em Lisboa, o livro certo termina com conselhos sensatos: «[...] Nunca durmam ao luar. Segundo os cientistas provoca loucura. Cortem o cabelo uma vez por semana. Comam peixe fresco ao pequeno almoço sempre que possível. Mantenham-se sempre aprumados. Apreciem o mundo [...]».
N.B.: O livro certo é de John Cheever, Crónica de Wapshot, Relógio de Água.

sábado, 16 de janeiro de 2010

Lourdes Castro

Ainda o fim de semana para ver a exposição de Lourdes Castro no Centro de Arte Manuel de Brito, Palácio dos Anjos.
Exposição pequena, sem as suas, e minhas favoritas, «caixas» de memórias (col. CAM), onde harmoniosamente convivem artefactos de um Portugal acanhado, quando Lourdes Castro vivia já numa Paris artística.
Em Algés estão as sombras recortadas, fotografadas, bordadas numa multiplicidade de técnicas e com um espírito muito Arts and Crafts, só que Pop e em plexiglass.
Também um vídeo, inspirada entrevista à RTP, em que a autora conta o início da sua experiência artística em «caravana» para a Alemanha (o mesmo vídeo estava na exposição sobre o anos 70 no CAM).
Do folheto da exposição as palavras de Maria Arlete da Silva: «Conheci Lourdes Castro em Paris nos finais do anos 60 e a sua atitude perante a vida, os seu despojamento das coisas materiais, o proporcionar felicidade aos outros com pequenos gestos e o seu contacto com a natureza influenciaram profundamente a minha maneira de ver o mundo. As casas onde morou eram lugares mágicos. Recordo o sótão onde morou em Paris porque apesar de muito pequeno e nele morarem e trabalharem duas pessoas, a artista e o seu marido René Bértholo, tudo estava devidamente estruturado para as necessidades do casal. Ao fundo um jardim de vasos, depois uma cama com um lençol bordado com os contornos dos corpos dos dois artistas. Numa parede estava inserida uma pequena mesa tendo desenhadas na parede as silhuetas sentadas do casal. Havia ainda uma zona de trabalho para cada um deles. Num armário uma colecção enorme de carimbos.»
Depois, em Março, outra exposição em Serralves da sua faceta gráfica no grupo KWY. E é bom ver mostras mais ou menos sistemáticas de uma artista maior como Lourdes Castro.
Imagem: Sombra Projectada de Claudine Bury, 1964.