Apesar do seu lado mais convencional e do pendor para o ‘amiguismo’, vou ter saudades de Eduardo Prado Coelho e dos seus textos de ensaio e crónica jornalísticos, designadamente de «Fio do horizonte», aquele que foi o seu espaço de crónica no jornal Público nos últimos 10 anos.É verdade que EPC nunca se preocupou em fazer uma crítica literária (ou outra) assente na sistematização da qualidade das obras saídas. A sua opção pela escrita sobre autores e obras que agradavam ao seu gosto pessoal, quantas vezes seus amigos pessoais, não é em si mesma negativa. Contudo, o meio da crítica perdeu assim um dos nomes que mais poderia incentivar essa busca por uma sistematização, essa necessidade duma maior procura da qualidade e das insuficiências e limites das obras. Dum inventário mais plural baseado na qualidade, no risco e na experimentação.
Seja como for, é inegável o seu impressivo contributo para o ensaísmo jornalístico, para uma maior informalidade na crítica e para uma certa saída das torres de marfim. Articulou, como poucos por cá, a análise de distintas áreas do saber: poesia, romance, fotografia, artes plásticas, cinema, política, filosofia, etc.. Ajudou a divulgar e a consagrar vários artistas, escritores e iniciativas. Fez bastante pelo debate público, com ideias e argumentos, num país pouco dado a ele.
Ultimamente, as crónicas de que gostava mais eram aquelas em que se detinha a comentar aspectos do nosso quotidiano social e cultural.
Porque nos ajudou a pensar a nossa contemporaneidade, aqui fica o meu reconhecimento.
Nb: vd. obituário informativo aqui.


1 comments:
Quando se diz que o Sporting é um clube das elites, isso também tem muito a ver com o facto de ter adeptos e simpatizantes intelectuais como EPC, sem pejo de assumir que gostam de futebol e que têm um clube. EPC não tinha preconceitos pseudo-intelectuais. Era capaz de escrever sobre o “nosso” Sporting e, mesmo assim, ser lido por quem detesta futebol. Porque quando escrevia sobre futebol abordava o fenómeno como uma pessoa normal, com coração, cabeça e estômago. Também por isso, sendo um homem assumidamente de esquerda, chegando, às vezes, a escrever como se de um “spin doctor” do PS se tratasse, era lido e respeitado em todos os quadrantes políticos. Desde a fundação do jornal “Público”, em 1990, EPC escrevia diariamente sobre as grandezas e as misérias da cultura, da política e da sociedade portuguesas, a partir dos episódios do quotidiano. Tinha amigos de estimação. E inimigos também. Como qualquer ser humano marcante e perene.
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