Não supreende ninguém que em política internacional os estados façam acordos envolvendo contrapartidas que envergonhariam qualquer cidadão. Quando assim é esconde-se a diplomacia no secretismo bem coberta pela chancela do interesse nacional. A aceitação geral que a política internacional não obedece ao (suposto) dever de transparência que obedecem as outras áreas da política parece-me em si bastante preocupante em regimes democráticos. Felizmente que de vez em quando há quem decida, talvez por inadvertência, desvendar de que são feitas essas trocas entre estados. Foi o caso esta semana de Saïf Al-Islam Kadhafi, filho e possível sucessor do Coronel Mouammar Kadhafi líder da Líbia, que revelou numa entrevista ao Le Monde os contornos das trocas que levaram à libertação das enfermeiras e médico búlgaros condenados à morte na Líbia, supostamente por terem infectado propositadamente crianças com o vírus da SIDA.
Convém referir que a acusção contra as enfermeiras e médico búlgaros é completamente descabida. Um relatório encomendado pelo próprio tribunal líbio que julgava o caso a Luc Montagnier e Vittorio Colizzi (que são "só" respectivamente o responsável pela descoberta do HIV e o presidente da Fundação Mundial para a investigação e prevenção da SIDA) conclui que as infecções das crianças com HIV não pode ser sido causada pelo pessoal médico búlgaro mas pela falta de condições de higiene no hospital em que ocorream. O tribunal recusou depois o relatório que havia encomendado a Montagnier e Colizzi, e elaborou o seu próprio parecer. A revista Nature solicitou a vários especialistas a opinião sobre ambos os relatórios, e o apoio a Montagnier e Colizzi é claro e unânime. A acusação levada a tribunal baseou-se apenas em confissões obtidas sob tortura.
As enfermeiras e o médico búlgaros foram libertados esta semana, poucos dias depois do presidente francês Nicolas Sarkozy ter visitado a Líbia. A União Europeia já tinha dado à Líbia ajuda financeira às famílias das vítimas. Mas na tal entrevista Saïf Kadhafi reconhece que a Líbia obteve como contrapartida para a libertação dos prisioneiros búlgaros por parte da França, e com intervenção directa de Nicolas Sarkozy, a negociação de dois contratos de fornecimento de armamento (de 168 e 128 milhões de euros). O negócio foi confirmado por líbios e franceses. Claro que estas declarações provocam o embraço do governo francês, mas não é só a França que tem razões para se preocupar. Saïf Kadhafi deixa também entender que o Reino Unido deu contrapartidas que envolvem Abdel Basset Ali Al-Megrahi, condenao a prisão perpétua na Escócia pelo atentado de Lockerbie. Foi precisamente por a Líbia ter aceite a extradição de Al-Megrahi que lhe foi levantado o embargo internacional em 2004. Parece agora que o direito de apelo que foi concedido pela segunda vez recentemente a Al-Megrahi é uma contrapartida para a libertação das enfermeiras e médico búlgaros. Saïf Kadhafi vai mais longe e afirma-se esperançado na extradição de Al-Megrahi para a Líbia em breve (o que foi desmentido por Londres).
Assim se faz portanto a diplomacia. Pessoal médico em missão humanitária vê-se acusado de crimes absurdos, torturados e condenados à morte. Mas não há problema, transformam-se os condenados em moeda de troca para venda de armamento. No pacote talvez se inclua ainda a troca daquele que há poucos anos era a condição absolutamente essencial para que a Líbia fosse aceite na comunidade internacional. Nisto algumas coincidências de datas parece-me estranhas; Quando a Líbia extraditou Al-Megrahi em 2003, já as enfermeiras búlgaras estavam presas, desde 1999, no entanto só foram condenadas pela primeira vez em 2004, quando a Bulgária fazia já parte da União Europeia.
Convém referir que a acusção contra as enfermeiras e médico búlgaros é completamente descabida. Um relatório encomendado pelo próprio tribunal líbio que julgava o caso a Luc Montagnier e Vittorio Colizzi (que são "só" respectivamente o responsável pela descoberta do HIV e o presidente da Fundação Mundial para a investigação e prevenção da SIDA) conclui que as infecções das crianças com HIV não pode ser sido causada pelo pessoal médico búlgaro mas pela falta de condições de higiene no hospital em que ocorream. O tribunal recusou depois o relatório que havia encomendado a Montagnier e Colizzi, e elaborou o seu próprio parecer. A revista Nature solicitou a vários especialistas a opinião sobre ambos os relatórios, e o apoio a Montagnier e Colizzi é claro e unânime. A acusação levada a tribunal baseou-se apenas em confissões obtidas sob tortura.
As enfermeiras e o médico búlgaros foram libertados esta semana, poucos dias depois do presidente francês Nicolas Sarkozy ter visitado a Líbia. A União Europeia já tinha dado à Líbia ajuda financeira às famílias das vítimas. Mas na tal entrevista Saïf Kadhafi reconhece que a Líbia obteve como contrapartida para a libertação dos prisioneiros búlgaros por parte da França, e com intervenção directa de Nicolas Sarkozy, a negociação de dois contratos de fornecimento de armamento (de 168 e 128 milhões de euros). O negócio foi confirmado por líbios e franceses. Claro que estas declarações provocam o embraço do governo francês, mas não é só a França que tem razões para se preocupar. Saïf Kadhafi deixa também entender que o Reino Unido deu contrapartidas que envolvem Abdel Basset Ali Al-Megrahi, condenao a prisão perpétua na Escócia pelo atentado de Lockerbie. Foi precisamente por a Líbia ter aceite a extradição de Al-Megrahi que lhe foi levantado o embargo internacional em 2004. Parece agora que o direito de apelo que foi concedido pela segunda vez recentemente a Al-Megrahi é uma contrapartida para a libertação das enfermeiras e médico búlgaros. Saïf Kadhafi vai mais longe e afirma-se esperançado na extradição de Al-Megrahi para a Líbia em breve (o que foi desmentido por Londres).
Assim se faz portanto a diplomacia. Pessoal médico em missão humanitária vê-se acusado de crimes absurdos, torturados e condenados à morte. Mas não há problema, transformam-se os condenados em moeda de troca para venda de armamento. No pacote talvez se inclua ainda a troca daquele que há poucos anos era a condição absolutamente essencial para que a Líbia fosse aceite na comunidade internacional. Nisto algumas coincidências de datas parece-me estranhas; Quando a Líbia extraditou Al-Megrahi em 2003, já as enfermeiras búlgaras estavam presas, desde 1999, no entanto só foram condenadas pela primeira vez em 2004, quando a Bulgária fazia já parte da União Europeia.
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