Na passagem dos seus 100 anos de vida, Manoel de Oliveira merece um reconhecimento público, pela sua obra ímpar e pela sua personalidade humanista.
É com agrado que tenho acompanhado a homenagem que os media lhe estão a prestar por esta data (destaco o trabalho do Público). Vai ao arrepio duma certa tendência portuguesa para só homenagear as figuras públicas post mortem. Esta é uma tendência oriunda dum certo conservadorismo e elitismo, obcecado com certas figuras dum longínquo passado pátrio mitomizado. Pelos vistos, vai passando, ainda bem.
Manoel de Oliveira merece plenamente este reconhecimento. É lugar comum para uma certa opinião dizer que os seus filmes são chatos e lentos. Dos filmes que vi discordo.
O mais antigo que dele vi, Douro, faina fluvial, é um filme vanguardista para a época, pleno de movimento e surpresa, com o rio, o Porto e as suas gentes como personagens fortíssimos, combinando ficção e documentário (a 2.ª imagem do post é deste filme). Segue-se Aniki Bobó, na mesma cidade e em torno do quotidinao dum grupo de miúdos, um dos melhores filmes portugueses dos anos 40.
Acto de Primavera dá-nos a ver a representação da Paixão de Cristo por uma comunidade aldeã transmontana, num dos melhores documentários sobre o teatro popular tradicional e sobre o papel da tradição oral. A caça, também dos anos 60, é um filme incomum e será certamente alvo de revalorização. Non ou a vã glória de mandar é uma reflexão oportuna sobre a história de Portugal, desde a época moderna à actualidade, interpelando-nos quanto ao nosso conhecimento e perspectiva sobre a história, a mitografia e a política na construção dum discurso sobre a portugalidade.
Só não gostei do documentário Lisboa, parece que o cineasta não estava à vontade com o tema, em contraste com os filmes sobre a sua cidade natal, o Porto.
Como não tenho agora mais tempo, resta-me renovar as felicitações e desejar muitos mais filmes a Manoel de Oliveira.
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