segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

O galo de Barcelos e outras histórias...

Sendo o galo de Barcelos um dos ícones da portugalidade, é curioso como tão pouco se sabe sobre a sua criação, enquanto peça artesanal e enquanto símbolo. Sim, porque isto de criações, mesmo na vertente mais longue durée da cultura popular tradicional, tem uma origem, por muito longínqua ou vaga que ela possa ser.
Não, não estou a referir-me à lenda sobre o galo de Barcelos, mas sim à fixação desta figura do artesanato popular como ícone da portugalidade. Foi o salazarismo que o consagrou (naquele formato padronizado a preto e encarnado, com um coração inscrustado a pontilhado e base azul desmaiado, repetido ad nauseum), anexando-o ao seu programa de nacionalização e domesticação de aspectos «castiços» do folclore português. Na euforia nacionalista dos «magriços» de 1966, o galo de Barcelos foi vestido de cavaleiro medieval, calçado com chuteiras e de bola nos pés, como relembra Ana Santos. Em pleno PREC, os anarquistas desmontaram o ícone no seu cartaz «Ruim por ruim... vota em mim!...», figurando um exemplar atazanado. Há quem se lhe refira como um falso emblema nacional, mas a renovação do artesanto local por artistas populares como Rosa Ramalho, irmãos Baraça, Mistério e Júlia Côta, entre outros, permitiu que ele não ficasse refém dum estereótipo nacionalista, embora o comércio prossiga na sua uniformidade cansativa e, agora, transfronteiriça (o made in China tem sido o quebra-cabeças dos de Barcelos).
Há uns anos atrás, deparei-me com um artigo que falava da invenção deste ícone na I República. Infelizmente, não consigo localizar esse texto, mas não é de surpreender a datação, pois esse foi um período de redescoberta e reinvenção dum país com base nalgumas das suas tradições, costumes, gentes, monumentos e paisagens, fosse numa perspectiva mais de esquerda ou de direita. A título de exemplo, veja-se o Guia de Portugal, lançado por Raúl Brandão.
Vem este arrazoado a pretexto do último programa televisivo Câmara Clara, onde falaram dois peritos em museologia, Joaquim Pais de Brito e Raquel Henriques da Silva.
O tema era museologia e, a dada altura, saltou-se para o Museu de Olaria, onde está patente, até 2010, a mostra antológica «Rosa Ramalho: a colecção», dedicada à famosa artista popular barcelense.
O Museu da Olaria tem um grupo de amigos, a Amimuola, a exemplo dos Amigos do Museu do Trajo, de S. Brás de Alportel, e doutros. Este tipo de associações são um fenómeno novo, pois antes era exclusivo dalguns museus nacionais, como o MNAA ou a Cinemateca. São uma boa ideia, pois ajudam a promover estes museus locais e, desse modo, o próprio desenvolivmento local.

0 comments: