
A forma do seu empenhamento cívico corria sob o disfarce da discreção».
(Manuel Ferreira,
«Um firme empenhamento cívico»,
Vértice, n.º 450/1, 1982, p.596/7)
Soneto
Acusam-me de mágoa e desalento,
como se toda a pena dos meus versos
não fosse carne vossa, homens dispersos,
e a minha dor a tua, pensamento.
Hei-de cantar-vos a beleza um dia,
quando a luz que não nego abrir o escuro
da noite que nos cerca como um muro,
e chegares a teus reinos, alegria.
Entretanto, deixai que me não cale:
até que o muro fenda, a treva estale,
seja a tristeza o vinho da vingança.
A minha voz de morte é a voz da luta:
se quem confia a própria dor perscruta,
maior glória tem em ter esperança.
Acusam-me de mágoa e desalento,
como se toda a pena dos meus versos
não fosse carne vossa, homens dispersos,
e a minha dor a tua, pensamento.
Hei-de cantar-vos a beleza um dia,
quando a luz que não nego abrir o escuro
da noite que nos cerca como um muro,
e chegares a teus reinos, alegria.
Entretanto, deixai que me não cale:
até que o muro fenda, a treva estale,
seja a tristeza o vinho da vingança.
A minha voz de morte é a voz da luta:
se quem confia a própria dor perscruta,
maior glória tem em ter esperança.
Nb: a acompanhar pelo poema «Colagem», de 1968.
2 comments:
RECADO PARA O CARLOS
Foram vários a partir,
vários a abandonar hábitos
máscaras aspirinas, o deserto
sem lacuna dos dias.
Lá onde estás, chegaste antes de mim.
O sítio deve ser mais asseado,
Guarda-me um lugar perto de ti.
21.X.82
Eugénio de Andrade
(Vértice, n.º 450/1,1982, pag.606)
Comovente evocação!
Não sabia que o Eugénio fora amigo próximo do Carlos de Oliveira.
Pensando bem, a referência às coisas elementares, há algo de 'naturista' (panteísta?) em ambos. Bem como de humanista.
Obrigado por essa recordação, jrd.
Enviar um comentário