É verdade que tenho uma fraqueza por novidades gastronómicas e também é verdade que nutro um semi-secreto desejo por experimentar o Noma, restaurante dinamarquês, premiado como o melhor do mundo. Por isso, sempre que há notícias de um ou do outro tema lanço-me numa leitura interessada. Aconteceu no Público online (há um tempo já tinha saído outra versão na edição impressa) sobre o Noma, descrevendo a experiência que se há-de situar entre o gélido Mar do Norte e os bosques das sagas, até porque é política do cozinheiro os sabores locais, a sazonalidade e tudo fazer in loco. Parecia tudo bem, até chegar aos comentários da notícia. Foi com algum alarme que percebi o chauvinismo gastronómico. Depois da descrição de salivar, aos comentadores nada mais ocorria do que menosprezar a cozinha nórdica e puxar o lustro à cozinha portuguesa de uma maneira muito primitiva. Só podia elogiar tal restaurante e tradição culinária quem nunca tinha provado a comida nacional.
A comida portugesa é muito boa, todos sabemos, mas transformar isso num ponto de desmedido orgulho nacional, onde não podem caber outras gastronomias já me parece suspeito. E é claro que todos temos «tops» das cozinhas nacionais, em que enaltecemos certos países (no meu caso a Bélgica) e desprezamos outros (a Holanda), mas talvez não seja preciso fazer disso uma corrida nacionalista.
A comida portugesa é muito boa, todos sabemos, mas transformar isso num ponto de desmedido orgulho nacional, onde não podem caber outras gastronomias já me parece suspeito. E é claro que todos temos «tops» das cozinhas nacionais, em que enaltecemos certos países (no meu caso a Bélgica) e desprezamos outros (a Holanda), mas talvez não seja preciso fazer disso uma corrida nacionalista.
[Para os chauvinistas das praias vou só acrescentar que vi na Dinamarca das mais belas praias]
Dias depois, para acalmar os ânimos e repôr o bom orgulho português sai a notícia que a Francesinha esta no Top 10 das sandwiches do mundo.
[Ainda melhor quando pedida no Capa Negra II à chegada ao Porto. Mas isso, talvez seja só mito lisboeta]
Imagem - William Michael Harnett - For sunday's dinner. 1888.
4 comments:
Tinha visto a notícia e sorri, começou logo a circular pelo Facebook... só comi uma vez e não me lembro bem da coisa, mas enfim, hei-de voltar a experimentar. O nacionalismo gastronómico e das praias etc, é um bocado a história do rio da minha aldeia, são coisas do coração. Realmente a comida, porque enfim temos dela memórias imemoriais, é uma questão sempre controversa. Noto que os imigrantes sentem sobretudo e durante mais tempo saudades da comida do país de onde vêm. Assim que uma pequena comunidade se instala, lá aparece a lojinha e o restaurante com os comes da terra. É um fenómeno engraçado que tornou Londres, por exemplo, uma cidade gastronomicamente fascinante. E concordo contigo, claro, acho sempre incrível que à primeira oportunidade as pessoas se esganem a debater o mérito da caldeirada versus outra coisa qualquer estrangeira... Por falar nisso, conheci uma mãe marroquina que fazia um bacalhau com passas e umas quantas coisas exóticas, uma coisa maravilhosa que nos uniu numa cumplicidade feliz. O mapa gastronómico tem claramente outras fronteiras e referências emocionais, um bocado como a biografia da Isabelle do Bottom.
Também para mim, a comida é feita para unir as pessoas na «cumplicidade feliz» de que falas, não para as dividir em arrufos patrióticos.
Nenhum desses chefes de cozinha chega aos calcanhares da minha avó, essa é que é essa.
Ide lá ao Noma, que eu me ficarei pelo Retiro da Irene...
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