segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Bono (U2) fala merda

bono   clave do sul

Bono, vocalista da banda irlandesa U2, defendeu neste domingo o reforço da luta contra o download ilegal de filmes e músicas pela internet, afirmando que a prática prejudica muito os artistas.

Segundo Bono, os esforços empreendidos pelos Estados Unidos para combater a pornografia infantil na internet e a mobilização da China para caçar os “ciber-dissidentes” mostram que “é totalmente possível controlar” o conteúdo que circula na rede. Leia notícia completa aqui.

Que o senhor Bono se posicione contra download ilegal tudo bem. Tá no papel dele se tornar porta-voz da Universal Discos e defender os interesses das grandes corporações da indústria fonográfica. E só delas, pois a poderosa indústria fonográfica é quem mais fatura com a criação artística. O artista fica com menos de um décimo do valor final de um CD. Pior: é roubado por ela, que manipula desde sempre dados em seus borderôs pra subfaturar o total real das unidades vendidas. En outras palavras: repassa valores inferiores aos artistas e sonega impostos. E aqui fica a pergunta. Quem rouba quem, senhor Bono? Como se vê, o buraco é mais embaixo (ou em cima, como queiram).

Claro que a pornografia infantil tem de ser combatida de todas as maneiras possíveis. Agora, defender o controle da Internet pelo Estado já são outros quinhentos. O vocalista irlandês deveria medir melhor as suas palavras, mesmo porque de boas intenções o inferno está cheio.

Não importa o motivo. Nada pode servir de pretexto para que o Estado ou quem quer que seja crie mecanismos de controle de mídias. Muito me estranha que um ativista dos direitos humanos se entusiasme com o modelo chinês de controle da sociedade. Esse argumento do vocalista do U2 é a deixa que alguns governantes esperam para controlar efetivamente a Internet. Creio que ele foi bem infeliz nesse contexto. Usar a repressão chinesa como exemplo, além de lamentável é grotesco.

Quanto à pirataria de música, credito às gravadoras boa parcela da culpa. Primeiro pelo preço abusivo dos CDs. Segundo, pela resistência delas (e de muitos músicos) em colocar na rede as músicas individualmente para que se faça o download pago daquela que melhor agradar o consumidor. Uma simples mudança como essa na estratégia de venda reduziria brutamente o custo de produção, uma vez que se gastaria bem menos com matéria prima, encarte e distribuição. Talvez esta seja a melhor formar de combate ao download ilegal.

Não vejo sentido ter de pagar por 12 músicas quando a maioria das pessoas gosta apenas de 1 ou 2 de cada CD. Somente os fãs incondicionais primam por ter a obra completa do seu músico predileto. Esses compram até discos em branco de seus ídolos.

Aliás, o U2 é um bom exemplo disso. Dos seus últimos 3 ou 4 discos que ouvi (e não eram piratas), apenas uma ou 2 músicas se salvam em cada um deles. O resto é pura caquinha sonora. Neste caso, o único prejudicado fui eu, que paguei por várias canções e aproveitei nem um quinto do produto comprado. É como pagar pela feijoada completa e comer somente o arroz.

Enquanto o monopólio das gravadoras resistirem às mudanças tecnológicas e não baratearem o preço dos CDs, entendo a pirataria de música apenas como um ato de desobediência civil. Nada mais além disso. Vale lembrar que, segundo muitas pesquisas, os “baixadores” de músicas pirateadas são os que mais consomem música não-pirateada. Em nome de uma pretensa defesa dos artistas, o que se pretente na verdade é proteger os interesses econômicos do monopólio do entretenimento. O senhor Bono está atirando na pessoa errada ao defender o seu pior inimigo: a indústria fonográfica.

1 comments:

ms disse...

Esta mania ja vem de longe. Vale a pena investigar o caso de 1991 em que os u2 arruinaram os Negativland (uma banda experimental de San Francisco) http://www.negativland.com/news/?page_id=20 A solução é simples, boicote total. Para mim é facil porque nunca gostei dos u2.