
O quadro político angolano está tão viciado que poucos se deram ao trabalho de reprovarem a entorse democrática por detrás da recente
aprovação da 1.ª constituição do país. E, no entanto, o facto do futuro presidente angolano vir a ser eleito pelo parlamento significa, na prática, carta branca para a perpetuação de José Eduardo dos Santos, o sr. todo-poderoso que se mantém no poder há 31 anos e que nunca venceu uma eleição própria. Um presidente vitalício não se usa em democracia. Eis o perverso paradoxo: o parlamento escolhe, mas quem manda é o escolhido! Perante este cenário, a nova lei fundamental já é conhecida como «
a Constituição do Presidente». Que se junta assim ao novo bilhete de identidade, com uma
foto do Pai da nação, como deve ser.
E, depois, há uma ironia amarga nisto tudo: o MPLA que contribuiu para derrubar um Presidente do Conselho vitalício (2 até: Salazar e Caetano), contribui agora para eternizar um outro. E isto sob o olhar complacente dos países ocidentais, que fecham olhos face aos interesses em jogo. A realpolitik prossegue. A democracia pode esperar.
1 comments:
Diria antes: Meu voto meu passado.
Patético!
Enviar um comentário