Quando um pobre pinta um graffiti numa parede, as pessoas bem classificam o acto de «vandalismo». Quando uns meninos bem se introduzem num local vedado ao público e ultrajam símbolos nacionais, classificam os seus próprios actos de «intervenção cívica». Registo com ironia a displicência com que certos sectores sociais têm encarado o episódio da troca da bandeira do município de Lisboa pela bandeira monárquica. Eu lembro-me que, num colégio por onde passei e esses sectores sociais estavam bem representados, um dos elementos mais picantes da «lenda negra» da direita sobre Mário Soares era que teria ultrajado uma bandeira nacional (republicana, claro), no Reino Unido.
O Rui Tavares escreveu sobre a «inépcia simbólica» de quem parafraseou a narrativa republicana de proclamar um novo regime da varanda do município e de quem colocou ao mesmo nível uma bandeira municipal republicana e uma bandeira nacional monárquica. A inépcia é relativa. Depende do ponto de vista e do contexto. Um dos 31 da Armada irritou-se com o facto do acto ter sido aplaudido pelo líder do Partido Popular Monárquico (PPM), como se pode ver aqui. Mas esse é um aplauso legítimo. Convém lembrar que Pedro Santana Lopes se candidata a Presidente da Câmara de Lisboa coligado com o PPM. O episódio inspirou-me uma visão. O que vi não foi uma batalha nas estrelas nem uma revolução monárquica. Vi, mais prosaicamente, o Darth Vader a abrir alas para Pedro Santana Lopes, o Presidente-Rei da traulitânia lisboeta, entrar com o PPM ao colo nos Paços do Concelho. A Força esteja connosco.
domingo, 16 de agosto de 2009
Da lisboeta traulitânia
Posted by João Miguel Almeida at 19:13
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2 comments:
Post oportuno, dás um ângulo diverso daquele que foi o mais corrente.
Não percebo, porém, essa ideia da displicência: o Arrastão e o 5 Dias parece-me que fizeram a crítica acertada.
Se é crime, aplica-se a lei, suponho que uma multa (espero que não seja nunca de prisão). Mas a coisa, pela sua envolvente folclórico-patética, não pretendia ser levada muito a sério. À falta de motivo de escrita para muitos, este era fácil de glosar.
Nada mais haveria a aditar, excepto um post como o teu, que abre outros caminhos.
Penso eu de que.
Olá Daniel,
Escrevi este post numa pausa das férias (o que é um bocado paradoxal), daí o atraso na resposta a este comentário. Quem me conhece sabe que não tenho nada tendências repressivas. Mas fiquei a achar que o pessoal da troca das bandeiras merecia uma multa quando um deles veio dizer que não valia a pena gastar o dinheiro dos contribuintes no processo policial/judicial. Se não queriam gastar o dinheiro dos contribuintes não infringissem a lei. Se infringiram a lei e o dinheiro dos contribuintes foi gasto a investigar o que se passou, aplica-se uma multa para repôr o dinheiro dos contribuintes gasto no processo.
Enfim, o caso teve muito mais atenção do que merecia e só escrevi sobre ele depois ver a história em capas de jornais e noticiários televisivos.
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