terça-feira, 11 de novembro de 2008

Avaliação pelos pares - bom para os cientistas mas mau para os professores?

Nota prévia - Nada do que eu escreva aqui reflecte o meu acordo com as propostas concretas da ministra da educação, propostas que aliás desconheço. Simplesmente, parece-me que a discussão entre o Daniel Oliveira e o João Pinto e Castro (caixa de comentários incluída) anda mais à volta do princípio da avaliação pelos pares (ou da avaliação pura e simples) do que do modo concreto como o ministério da educação pretende pôr essa avaliação em prática.

Se a questão é de facto se se deve avaliar os professores, e não apenas como se deve avaliá-los, na minha humilde opinião a resposta é mais que óbvia: Claro que se deve avaliar, e a avaliação deve ser feita pelos pares. Tome-se o exemplo da Ciência. Presumo que seja desnecessário estar aqui a enumerar os sucessos da Ciência dos últimos 150 anos. Acontece que pelo menos neste período (se não mais) a avaliação pelos pares é um dos pilares fundamentais, se não mesmo o pilar fundamental, em que assenta a empresa científica. E se não o é em todo o mundo, é-o seguramente nos países onde a investigação científica é mais bem sucedida, dos EUA ao Japão, passando pela Europa (quase) toda, e mais recentemente a China. E quanto mais forte e transparente é essa avaliação mais bem sucedida é a Ciência. Se eu quero publicar um artigo científico envio-o para uma revista da especialidade que vai enviar esse artigo a 2 ou 3 cientistas como eu, que vão avaliar de forma crítica e racional se o meu artigo é bom ou não. Amanhã posso ser eu a avaliar um artigo desses mesmos cientistas, e isso não é um problema. Mesmo se em teoria esta avaliação é anónima, na prática frequentemente não o é, e isso continua a não ser um problema. Se eu quero um doutoramento presto provas, ou seja sou avaliado. Se quero uma bolsa submeto um plano de trabalhos e o meu CV, ou seja sou avaliado. Se quero um financiamento para o meu laboratório submeto um projecto, e sou avaliado. Sou avaliado sempre por outros cientistas como eu, porque são os mais bem colocados para avaliar o meu trabalho de forma crítica e rigorosa. Porquê? É simples, têm conhecimento de causa. Sabem do que eu estou a falar. E há uma reciprocidade, amanhã posso ser eu a avaliá-los, o que é uma forma de responsabilização, e evita excessos de autoridade. Se me aparecer à frente um artigo de alguém que eu não gosto, seja a Inês Pedrosa ou o Miguel Sousa Tavares, se o trabalho é bom aceito, se não é bom não aceito. Amanhã os papéis podem inverter-se. Entre pessoas sérias, responsáveis e crescidinhas não vejo porque razão o princípio da avaliação pelos pares não possa funcionar.
Por um lado há uma questão de justiça, continuo achar (sem embarcar nas derivas meritocráticas neo-liberais) que o mérito deve ser recompensado, logo tem que haver avaliação. Por outro lado são os próprios avaliados que beneficiam, a responsabilização obriga ao mérito. Pelo que conheço da Ciência, os que se dedicam ao amiguismo, sem terem sólidos resultados científicos para se apoiar não costumam ter grande sucesso (já para os que têm bons resultados científicos, o amiguismo por vezes ajuda..., nenhum sistema é perfeito, mas há uns bastante mais imperfeitos que outros).

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