terça-feira, 8 de março de 2011

Ainda mal apareceram e já começam a fazer estragos

Vale a pena pôr aqui a notícia toda, é pequena e esclarecedora, e sim, fazem bem em querer também falar, em 1968 era o estudante Alberto Martins (hoje ministro) que interrompia um ministro de Salazar na Universidade de Coimbra e sabemos como a liberdade de expressão e o pluralismo continuam a ser bens valiosos e insubstituíveis:
«Jovens acabam expulsos da sala
Movimento Geração à Rasca interrompe discurso de Sócrates
 
Perto de uma dezena de jovens do movimento Geração à Rasca manifestou-se hoje em Viseu, quando o secretário-geral do PS, José Sócrates, discursava sobre a sua moção política ao congresso do partido.
José Sócrates apenas tinha tido tempo para fazer os agradecimentos quando os jovens, munidos de um megafone, começaram a dizer: “Chegou a hora de a geração à rasca falar, isto é pacífico, só queremos falar”.
Os jovens foram colocados na rua pela segurança, queixando-se de terem sido agredidos.
“Eu fiz questão de dizer que era pacífico, mas fomos corridos a empurrões e houve uma rapariga que levou um pontapé”, lamentou aos jornalistas Paulo Agante, do movimento, que agendou para sábado uma manifestação anti-Governo».
nb: imagem de gui castro felga.

4 comments:

Fernando Lopes disse...

Ao que leio, doze jovens (doze), resolveram interromper o discurso de Sócrates, para se manifestarem. A blogosfera, cheia de activistas de sofá, deixou logo quinze posts no Twingly do Público a salivarem de contentamento. Sou insuspeito de gostar de Sócrates, já o disse aqui, mas não me parece o local indicado. Sabiam que o ambiente era hostil e mais do que isso, inadequado. É de má educação interromper o jantar de alguém, dizendo que a comida está um lixo. Mas isso não se aprende na universidade, aprende-se em casa. A agitação é na rua, e na rua doze gatos-pingados não têm visibilidade nenhuma. O que vocês querem é aparecer. Manifestem-se na rua, mobilizem, não façam agitprop para TV ver. É na rua que se travam os combates, não em salas partidárias ...
Ponham os olhinhos no médio oriente.

Maria Jose de Almeida disse...

Com a total incompetência de José Socrates como primeiro ministro e – sobretudo – depois de ter ouvido a reacção dele a este “incidente”, é fácil louvar estes protestos.
Difícil, mas se calhar mais consequente, era fazer a coisa de outra maneira.

Já repararam que esse incompetente primeiro ministro vai apresentar-se ao congresso do seu partido, outra vez, sem oposição? Porque é que não há vozes críticas dentro do seu partido? Porque é que não há massa crítica nos partidos?

Será porque é mais fácil levar um megafone a um jantar partidário do que ser militante?

O que eu quero dizer é que esta geração (parva, à rasca, o que quiserem) cresceu em democracia (como a minha, a rasca ou a privilegiada, como também quiserem). Nunca ninguém os/nos proibiu de participar, de criticar, de propor, de construir. E, como a nossa é uma democracia representativa, a sede própria para o fazer são os partidos (e os sindicatos e as associações, das profissionais às de moradores). Até agora não se arranjou maneira de organizar a democracia representativa de outra forma.

É verdade que nos partidos, sobretudo naqueles que costumam partilhar o poder, encontramos maioritariamente os piores de nós. Mas isso não será consequência directa dos melhores de nós se terem demitido da participação democrática?

Daniel Melo disse...

Caro Fernando Lopes, compreendo a sua preocupação com a boa digestão de compatriotas, já não percebo a sua resistência em aceitar este singelo happening como acção de rua.
Quanto à sua frase «O que vocês querem é aparecem», só posso dizer que falei em nome individual e que não faço parte da organização Geração à Rasca embora simpatize com a sua intervenção pública.

Por fim, e dada a sua alta consideração sobre a rua, só espero que também compareça numa das 16 cidades para onde já há manif marcada. Ou, em contrapartida, que sugira outras boas acções. Senão também o poderão acusar de ser mais um activista de sofá...

Daniel Melo disse...

Cara Maria José de Almeida, os partidos são pilares da democracia mas parece que não chegam, a confiar na experiência das últimas décadas.

Isso mesmo é admitido pelos deputados dos vários partidos com assento parlamentar: vd. Ramos, Cláudia Toriz (2007), "«O povo é quem mais ordena»: representative democracy and participatory democracy in portuguese parliamentary discourse", em Teresa Toldy e outros (ed.), Cidadania(s): Discursos e Práticas, Porto, Universidade Fernando Pessoa, pp. 133-149.

Não podemos fingir que não sabemos que, por cá, o Estado foi grandemente capturado por clientelas e interesses partidários. E que os partidos pouco ou nada fazem para acabar com essa perversão que está a levar o país para a ruína, como bem sabemos.

A militância partidária declinou bastante desde 1974, por alguma razão será. E a opinião pública quer mudanças, como o atestam as sondagens e inquéritos académicos feitos, parte das quais vão no sentido da democracia participativa, do envolvimento dos cidadãos. P.ex, mais concorrência eleitoral, através da possibilidade de listas de cidadãos independentes para o parlamento, o que é recusado pelos partidos.

Isto dito, não quer dizer que seja contra o maior envolvimento dos cidadãos na coisa pública, incluindo nos partidos. Apenas que estes pouco têm feito para serem atractivos no bom sentido. Não vamos agora atirar as culpas só para as pessoas, como se os partidos não tivem muita responsabilidade pela afastamento dos cidadãos.

Para concluir, só posso dizer que não me demiti da "participação democrática", apenas que considero a intervenção cívica através da internet ou de associações voluntárias tão válida como o envolvimento em partidos. E é isso que tenho feito. E, como eu, muitos milhares de concidadãos.