Decorreu em Lisboa, durante o fim-de-semana, a Cimeira União Europa-África, organizada pela presidência portuguesa da UE. No topo da agenda estão em discussão acordos de parceria económica, embora também se discutam questões de segurança, direitos humanos, mobilidade, educação, ciência e tecnologia. À margem da cimeira oficial, foi organizada uma cimeira alternativa que denunciou os malefícios dos acordos comerciais, a falta de atenção aos direitos humanos (o conflito no Darfur, as ditaduras na Etiópia e no Zimbabwe) e os entraves à imigração.
Convinha igualmente promover o conhecimento histórico mútuo para uma melhor compreensão dos problemas actuais e para a definição de estratégias efectivas de cooperação, em pé de igualdade.
Ontem, António Pinto Ribeiro escrevia no Público que a imagem global que a Europa tem de África é marcada por 3 preconceitos: a ideia de uma homogeneidade/ausência de diversidade; a ideia de que o "continente negro" é apenas "natureza"; a ideia de que os africanos não se conseguem relacionar com a contemporaneidade.
Hoje, de manhã, Manuel João Ramos lembrou no Rádio Clube que em Portugal há um enorme desconhecimento de uma grande parte de África, de tal maneira que ontem muitos representantes à cimeira não comeram porque, à refeição, lhes foi apresentada carne de porco.
Este desconhecimento não é unilateral; tem dois sentidos. As academias dos países europeus e africanos têm especial responsabilidade de inverter esta situação.
Quatro centros de estudos africanos de universidades portuguesas deram recentemente um importante passo nesse sentido: criaram a Biblioteca Central de Estudos Africanos, numa ala da Biblioteca do ISCTE (Lisboa), com uma colecção generalista e multidisciplinar sobre África, constituída por 15 mil volumes.
Na próxima sexta-feira, às 17.30h, na Culturgest teremos ainda oportunidade de ouvir "A África perante o futuro: que recursos, que capital?", conferência proferida pelo historiador francês de origem congolesa, Elikia M’Bokolo. Seguidamente será lançado o seu livro África Negra – História e Civilizações, do Século XIX aos nossos dias. A apresentação estará a cargo de Alfredo Margarido.
3 comments:
Sugiro um livro bem velhinho, mas que se enquadra bem: "Cahier d'un retour au pays Natal" (1939), do poeta francês das antilhas (Martinique) Aimé Césaire.
Aimé Césaire é um personagem absolutamente extra-ordinário, do alto dos seus 94 anos, um dia hei-de postar sobre ele.
Cláudia,
absolutamente de acordo. Devo testemunhar que, mesmo depois vários anos a estudar História, não tinha a verdadeira noção deste facto. Só por motivos circunstanciais tive de investigar sobre as relações entre os dois continentes, e me deparei com a minha própria ignorância. Já agora, acrescento que, nesse processo, foi-me importante a leitura das suas duas dissertações.
Zèd, ficamos à espera do post sobre Césaire, um dos poetas maiores da Negritude, com Senghor e Damas.
Ana Cláudia, obrigada, mas sobre história de África ando também a aprender.
Entretanto, na próxima sexta-feira, 14 de Dezembro, também às 17.30h, no ICS, haverá uma conferência de Valentim Alexandre sobre "Salazar e os ventos da história: a resistência à descolonização".
Que pena não ter o dom da ubiquidade!
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