Pensava eu estar numa pausa na minha pesquisa de vinhos franceses, quando se deu a mais improvável das circunstâncias: uma amiga americana com quem jantava num restaurante do médio oriente deu-me a conhecer um vinho francês. Finda a tarefa de escolher o que comer - dum ménu com especialidades que têm tanto de apetitoso quanto a sua pronunciação tem de inverosívil (para a nossa parca capacidade fonética ocidental) - o empregado de mesa pergunta se queremos um vinho para acompanhar. A minha amiga pega na carta dos vinhos e dá uma olhada. E ela "Então que tal um Chinon?", e eu de mim para mim em pensamento "O quê?, os chinocas, como se não bastassem os texteis, agora também fazem vinho? Já chega os australianos...", e eu para ela "Chi-quê?", e ela outra vez para mim "Chinon, é um vinho do Val de la Loire", e eu para ela "Isso é aquela região onde há muitos Castelos não é?", e ela - cheia de paciência - para mim "Sim, mas também fazem um vinho ligeiro que é bastante bom", e eu para ela "Pode ser". OK, não me lembro dos detalhes do diálogo, talvez haja algumas imprecisões, mais isso agora não interessa nada. Bebemos então o Chinon a acompanhar as especialidades com tempero de menta similares, e a mélange não resultou nada mal. Deitei-me logo a analisar o Chinon na minha escala de classificação Bordeaux vs Bourgogne, e a coisa deu mais para o Bourgogne. Entretanto fui procurando um pouco mais de conhecimento empírico sobre o assunto e um par de garrafas mais tarde encontrei um Chinon Domaine du Beauséjour, de 2004, que me serviu de garrafa tipo para este post. O Chinon é um vinho não muito encorpado, pelo contrário, de paladar ligeiro, assim a dar mesmo para os frutos silvestres (normalmente isso dos frutos silvestres é tanga, mas se há um vinho em que senti realmente o aroma de frutos silvestres* é o Chinon). O Chinon é feito predominantemente com uvas da cepa Cabernet Franc, e no caso do Domaine du Beauséjour é 100% desta casta. É um vinho não muito alcoólico, 12-12,5% nos dias que correm não é muito. Curiosamente, para um vinho "levezito" tem uma cor a atirar para o escurito (eu nunca percebi muito bem a importância da cor do vinho em si mesma, o paladar é que importa, mas como é sempre referido eu não vou furgir à regra - mas para mim desde que não seja esbranquiçado, o que inclui o cor-de-rosa, está tudo bem). Pessoalmente acho que é um vinho que vai muito bem em refeições que não são do tipo enfarta-brutos, um peixe no forno, bacalhau, ou refeições ricas em legumes. Também vai muito bem com queijos.
*Não é de excluir a possibilidade de, ao fim de tanta tentativa, o meu paladar estar finalmente a desenvolver alguma sensibilidade aos aromas mais subtis.
*Não é de excluir a possibilidade de, ao fim de tanta tentativa, o meu paladar estar finalmente a desenvolver alguma sensibilidade aos aromas mais subtis.
6 comments:
Obrigada por mais esta sugestão. Vamos ver se o encontramos nas melhores casas da especialidade, para acompanhar as nossas misturas de legumes.
Nada como um suave tinto para aligeirar a densidade do debate ideológico.
Um abraço, Renato.
Já me abriste o apetite, pá! Vá lá que tenho aqui uma garrafita também boa, o Casa da Palmeira, um excelente tinto do Douro que recomendo vivamente a todos. Foi-me recomendado por transmontanos há 3 anos numa festa da Casa de Trás-os-Montes e Alto Douro e foi logo uma grande revelação.
Entretanto, num posto mais acima deixo-te uma surpresa irreprimível.... Tu mereces, Zèd.
A pedido de várias famílias, para a semana vou tentar escrever sobre a aguardente de medronho. Finalmente, está a chegar o dia desse plus ultra da Humanidade!
Isso é que é falar Daniel (e beber também, já agora)!
Se bem percebi, Daniel, também acabaste de nos prometer um post sobre o Casa da Palmeira, não é verdade?
Renato, retomamos o denso debate ideológico dentro de momentos.
Abraços a todos
Enfim, já percebi que me entalei à grande e à francesa!
Em vez duma saíram duas encomendas... Vida de escravo é dura, viu?
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