Sobre a ASAE já muito foi dito, algumas das coisas neste blogue, mas olha, apetece-me mesmo pegar de novo nela, que há muito não havia nada que me causasse tanto pânico como a actuação desta entidade.
Um pânico (também mas não só) muito egoísta e quotidiano: da mercearia onde me aviava que fecha, alegando-se, entre outras coisas, o terror por uma inspecção da ASAE e a impossibilidade financeira de responder a todas as exigências impostas aos comerciantes, aos "so very clean" novos carrinhos de assar castanhas, todos iguais e em perfeito aço inoxidável.
Não é que não se deva zelar pela higiene e prevenir intoxicações alimentares, mas parece que estamos a seguir um caminho que corre sérios riscos de, levado à letra, extinguir algumas das melhores coisas deste país - pense-se na amada Ginginha do Rossio, veja-se o post do Daniel sobre o medronho e considere-se que a ASAE (ou a ASAE ao fiscalizar a aplicação de normativas comunitárias, como não se cansa de frisar) impõe que seja possível identificar a proveniência de todos os produtos alimentares e facilmente se percebe que muitas das coisas que as nossas delícias fazem estão ameaçadas de extinção.
A couve que o senhor Manel põe à venda na feira vinda directamente da sua horta passa a ser ilegal! Ora sebo. E isto parece particularmente preocupante por traduzir uma tendência para o refúgio no cumprimento cego das normas - tão mais fácil já que não é preciso pensar, basta executar - e numa higienização da cultura, ameçadora das manifestações populares da mesma, por inerência impossíveis de sistematizar, prever, categorizar, regulamentar.
Formatação e diversidade, espontaneidade e regulamentação, tendências das organizações humanas entre as quais é necessário encontrar equilíbrio, num exercício de bom-senso que parece não ser apanágio de alguns dirigentes em Portugal - para mal dos nossos pecados, nomeadamente o da gula.
quarta-feira, 9 de janeiro de 2008
ASAE - a higienização da cultura
Posted by Isabel Valente at 13:06
Labels: ASAE, cultura popular
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7 comments:
Entrada em GRANDE cara Isabel, belo post... e esperam-se muitos mais.
Bem-vinda aquilo que já se está a transformar numa espécie de comunidade: a comunidade do Peão. Dá jeito, nem que mais não seja, podemos organizar enormes jantaradas :)
Curto e grosso, ma non troppo:
realmente por este andar qq dia chegamos ao nível de higienizaçao dos países nórdicos, cujos habitantes são tão assépticos que quando comem em determinados sitios deste nosso Portugal, apanham valentes dores de barriga, pois não estão imunizados contra os microrganismos que por cá abundam, e para os quais o português comum tem defesas!
Caro Renato, esta troca de galhardetes entre a comunidade Peão é um conforto para o ego... Agora a sério, obrigada pelas boas vindas. E quanto às jantaradas, não digo nada que é para não dar mau resultado como da última vez. Boca fechada...
Sede Bem-Vinda Isabel!
E isso dos jantaradas, enfim, para a próxima não escapas.
A ASAE também tem lados bons, por exemplo dá imenso que escrever a bloguers como nós.
Excelente post!
Era difícil conseguir melhor equilíbrio na exposição dos dilemas e dos excessos ;)
De facto, isto está a ir por um caminho que põe em causa a própria credibilidade da instituição reguladora. E nós precisamos de boa regulação.
Sê bem-vinda Isabel, e continuação de boas postas!
Isabel, dou-te as boas vindas ao Peão. O nosso blogue está cada vez mais plural e diversificado.
Continuo a agradecer as boas-vindas de todos: obrigada!
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