quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

E agora, José?

Israel acordou hoje sob a indefinição política. A atual chanceler e líder do Kadima, Tzipi Livni, venceu (fez 28 cadeiras), mas pode não levar. Já o ex-primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, líder do Likud, perdeu (fez 27), mas tem tudo pra compor com a ultradireita laica e religiosa e se tornar o premiê israelense. Poderá contar com 65 dos 120 mandatos do Knesset (Parlamento), enquanto um suposto bloco mais à esquerda soma no máximo 55 cadeiras, isso contando com as 11 conquistadas pelos partidos árabes, que já se manifestaram claramente que não apoiarão qualquer uma das coalizões, pois foram banidos do Parlamento com o apóio de ambas. Decisão derrubada felizmente pelo Supremo Tribunal dias depois de aprovada.

Para governar, a líder do Kadima não terá outra alternativa senão a de compor com o Likud e com os socialdemocratas do Partido Trabalhista (14), o que me parece uma missão quase impossível, uma vez que Netanyahu também quer voltar a ser premiê . Pra piorar a situação, já que merda pouca é bobagem, há uma pedra no sapato de qualquer que seja o bloco governista. E essa pedra no sapato chama-se Avigdor Lieberman, um ultranacionalista e líder do Yisrael Beitenu. Com os 15 mandatos conquistados, deverá preitear um ministério importante que lhe garanta influência decisória e visibilidade política. Ou seja, será muito difícil livrar-se dele na composição do próximo governo. Talvez impossível.

Em suma, seja qual for o próximo governante de Israel não vejo no horizonte a possibilidade de uma abertura de diálogo que dê condições políticas para a elaboração de um projeto sério e determinante que garanta a criação de um Estado palestino livre e soberano. Ao contrário. Tudo deverá ficar como está ou pior. Por isso, ao povo palestino só me resta deixar aqui excerto da poesia de Carlos Drummond de Andrade, “José?”:

E agora, José?/ A festa acabou, / a luz apagou,/o povo sumiu,/ a noite esfriou, /e agora, José ?/ você que é sem nome,/ que zomba dos outros,/ você que faz versos,/ que ama protesta,/ e agora, José ?/ Está sem mulher, está sem discurso,/ está sem carinho, / já não pode beber,/ já não pode fumar,/ cuspir já não pode,/ a noite esfriou,/ o dia não veio,/ o bonde não veio,/ o riso não veio,/ não veio a utopia...

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