quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Uns pecam pelo excesso, outros pela falta. E todos erram (atualizado).

O caso envolvendo a advogada brasileira Paula Oliveira, que afirmava ter sido vítima de um ataque racista na Suíça, não só deixou a mídia (e este que vos fala) como também o governo brasileiro em maus lençóis. A imprensa por não ter confrontado a informação com diversas fontes pertinentes ao caso, afinal este é o seu trabalho fundamental. Já o governo paga um altíssimo preço por sua falta de astúcia, precipitação e por ter acreditado cegamente na Comunicação Social do país. Apesar de o episódio ter chocado a opinião pública brasileira, caberia ao Itamaraty (Ministério das Relações Exteriores) ter agido com cautela antes de se pronunciar de forma categórica sobre o assunto, assim como o fez o ministro Celso Amorim e em seguida o presidente Lula. Em outras palavras, o equívoco da mídia envenenou o governo e a precipitação do governo fortaleceu o equívoco da mídia. Ambos foram vítimas cegas do sensacionalismo e populismo. Sem se dar conta, um foi o algoz do outro.

Se por um lado mídia e governo brasileiro erraram, por outro as autoridades suíças também não são isentas de culpa pelo desdobramento e pelo rumo que o fato tomou. Primeiro, por sonegar toda e qualquer informação à mídia brasileira sobre o andamento da investigação policial. Depois, por ter desrespeitado uma autoridade diplomática ao não atender a uma solicitação de informações formulada pela cônsul-geral do Brasil em Zurique, Vitória Cleaver. No início, trataram a situação com desdém, parecendo não se importar com o ocorrido e com a suposta vítima. Só depois da ameaça (ou seja, 5 dias depois) do Brasil levar o assunto à ONU é que as autoridades suíças se manifestaram. E se manifestaram com o mesmo sensacionalismo e veneno da mídia brasileira que tanto criticam agora, principalmente ao tornarem público o laudo pericial da não-gravidez da brasileira, quando por ética médica essa informação deveria ter caráter sigiloso ser entregue apenas à autoridade policial e não à mídia como foi feito, mesmo porque naquela altura nada era conclusivo e nehuma alternativa poderia ser descartada.

Em suma, se os brasileiros pecaram pelo excesso, a polícia suíça pecou pela falta de uma política séria e ágil de informação. Se bem que uma coisa não justifica a outra. Enfim, creio que todos têm de rever as suas respectivas ações e Paula Oliveira responder judicialmente pelos seus atos. Qualquer julgamento público que se faça neste momento é incorrer no mesmos erros aqui expostos. E a mídia helvética está a tomar o mesmo caminho da imprensa brasileira, comportamento que já levou o o presidente da Suíça, Hanz Rudolf Merz, pedir calma em relação ao caso, uma vez que a brasileira já foi indiciada por ter dado falso testemunho. "Não vamos mais exagerar. Existe um processo penal aberto, que trará a verdade", disse.

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