sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Um candidato para o futuro

Com o discurso de hoje, Fernando Nobre é o 3.º candidato presidencial independente que se afirma como representando a sociedade civil nestes 36 anos de liberdade reconquistada em Portugal. Os anteriores tinham sido Otelo Saraiva de Carvalho e Maria de Lurdes Pintasilgo*.
Embora Manuel Alegre não tenha este perfil, pois é militante co-fundador do PS, ele assumiu-se desde 2006 como um candidato da cidadania e pró-democracia participativa. Além disso, tem outros pontos a favor: 1) fez um acompanhamento crítico da governação desde então; 2) foi um defensor da intenção mais democrática do texto constitucional enquanto deputado (ainda que pouco activo fora disso); 3) lançou um movimento cívico (o MIC), no qual apresentou propostas de convergência para uma esquerda solidária e pró-activa e análises críticas de políticas públicas (basta ver a revista de opinião socialista Ops! ou manifestos sectoriais como este); 4) colaborou em plataformas de convergência unitária à esquerda.
Ora, nada disto consta do cv de Fernando Nobre, além de ser monárquico assumido... Todavia, a sua actividade filantrópica, enquanto presidente e co-fundador da ong AMI (Assistência Médica Internacional) tornou-o conhecido e um dos principais activistas da sociedade civil organizada. Isso confere-lhe a dimensão de alguém empenhado e com experiência na resolução de problemas da sociedade, com uma visão humanista da vida, apartidário mas que assume valores, princípios e compromissos solidários e cívicos (outros prós e contras de ambos os candidatos podem ser lidos aqui).
Em suma, a sua não é uma canditatura viável para 2011 mas pode ser-lhe útil que entre já, por permitir-lhe granjear experiência e espessura política para uma opção mais séria em 2016. Apesar de ser um candidato que os soaristas procuravam para ajustar contas com Alegre, e de poder retirar votos essenciais a Alegre para uma vitória eleitoral, seja na 1.ª ou na 2.ª voltas. Enquanto manobra de diversão do sector soarista acaba por encerrar um parodoxo irónico: é um indício mais do esgotamento duma certa forma de fazer política, monopolizada pelos directórios partidários, em circuito fechado, auto-centrado e de conflitualidade amiúde narcísica e vazia.
*Manuela Magno em 2006 viu anulada a sua candidatura por razões formais, pelo que não conta.

2 comments:

jrd disse...

Esperemos que vá além do "Voto Pio".

Daniel Melo disse...

Estou em crer que irá além, colhendo votos em todos os quadrantes.
A dimensão dessa colheita depende, em parte, da sua campanha e das alheias. Mas, daquilo que se sabe, não parece que consiga entrar com muito profundidade nos eleitorados potenciais de Alegre e Cavaco.