sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Chega de saudade

Este post da Cláudia sobre saudosismos «salazarentos» por parte de instituições do Estado, levou-me a outro momento nacional das férias em que conheci Guimarães.
Visitei o centro histórico (o largo dos anúncios de cervejas durante os campeonatos de futebol, na vida real está deserto, sem esplanadas, ou multidões a brindar, mas a desolação das cidades portuguesas não tem, aqui, lugar) e o complexo arquitectónico formado pelo castelo e Paço Ducal.
Depois da visita ao Paço decidi, erradamente, comprar um livrinho/folheto explicativo que pelo aspecto gráfico me pareceu bem. Foi quando o li que comecei a ficar confusa. A prosa de Barroso da Fonte, designa Guimarães de «Altar da Pátria» e o sítio dos monumentos como «Colina Sagrada». Lá, viveram Duques magníficos, cheios de «ensejos» e «sonhos» e «Santas Duquesas», sempre os «melhores representantes da coroa Portuguesa», e toda a história do Paço vai sendo narrada neste estilo, até que nas «breves notas sobre o restauro», o saudosismo sobe mesmo de tom e inicia com o deslumbramento de Salazar ao visitar ao «Colina Sagrada» e de como depois do restauro «Salazar discursou do alto do castelo para muitos milhares de Portugueses que enchiam o campo de S. Mamede (onde diz a tradição se travou a decisiva Batalha com o mesmo nome)».
Já muito baralhada, pensei ter comprado um folheto comemorativo das Festas Centenárias de Guimarães, de 1940, portanto, mas a edição era de 1993. Depois, ocorreu-me que seria de uma inflamada editora vimaranense, mas era do IPPAR. Instituição que até mandou traduzir o dito texto, certamente para que a mensagem se possa espalhar em várias línguas, noutros países.
Agora que se pode ficar a perceber que o IPPAR não tem qualquer critério nas suas publicações, pode, e sabe-se lá como serão outros livros de divulgação de outros monumentos.

3 comments:

Matos disse...

mas o IPAR mentiu?

ou a você não lhe agradaram os factos ?

é suposto suprimir-se o período do estado novo, da história de Portugal?

Sofia Rodrigues disse...

Claro que não, só era desejável que não se instrumentalizasse o discurso, ou o caro Matos também acredita que a Duquesa era santa?

Matos disse...

trata-se de romancear a história, algo bastante normal, não só por cá ...