Celebram-se hoje os 100 anos do nascimento da cantora e dançarina Carmen Miranda, ícone brasileiro divulgado em todo o mundo.
De seu nome civil Maria do Carmo Miranda da Cunha, nasceu numa aldeia minhota, filha de lavadeira e barbeiro, e cresceu no Rio de Janeiro, onde foi alcunhada de Carmen pelo gosto do seu pai por óperas. Aí ganhou o gosto e, também, o talento pelo canto, enquanto trabalhava como empregada de comércio (a sua irmã Olinda foi decisiva, e o canto atraía clientes).
A sua carreira começa com convites para cantar no teatro e na rádio cariocas, em 1929. O êxito é imediato, devido à sua imagem alegre e electrizante, plena de requebros e um misto de graciosidade e malícia hipnotizante. Passa para o suporte disco, popularizando-se rapidamente, com sambas e outras canções fáceis de reter e o seu jeito simples e animado de cantar. Em 1930 grava «Taí (pra você gostar de mim)», e ascende a maior fenómeno popular no Brasil, com mais de 35 mil cópias vendidas (a média era 10 mil).
Em 1939, monsieur Broadway convida-a para uma estadia no país da cultura de massas. Aí fica ano e meio, dando mais de 2 espectáculos por dia, numa agenda carregada de manhã à noite. Aguenta com gosto, mas também com barbitúricos, de que se tornará dependente. No curto regresso ao Brasil, tem uma recepção popular, mas muitos consideram-na «americanizada». Voltará aos EUA, para uma estadia mais prolongada (1942-53), agora em Hollywood, onde participa em 13 filmes, e em variados programas da rádio, tv, teatro, casinos e clubes nocturnos.
Em 1939, interpreta no filme Banana da terra aquela que será uma das suas canções mais conhecidas, «O que é que a bahiana tem?». Em 1943, e no contexto de aliança entre EUA e Brasil contra as potências do Eixo, arrancam uma série de iniciativas culturais de aproximação, de que o filme disneyano The gang's all here é um dos ícones, com Pato Donald ao lado do seu congénere brasileiro Zé Carioca, numa animação complementada com o meddle «Aquarela do Brasil»/ «Tico tico no fubá» e a presença de Carmen Miranda, em boneco animado e ao vivo.
Em 1944, é a vez da canção preferida dos americanos, «Mamãe eu quero», em Four jills in a jeep. Em 1947, será a vez de «Tico tico no fubá», no filme Copacabana, composição de Zequinha de Abreu. No ano anterior, tornara-se na artista mais bem paga de Hollywood.
Nos EUA, contracena com alguns dos actores mais conhecidos, como Groucho Marx, Dean Martin, Jerry Lewis, em filmes musicais e afins, onde por vezes tem que vestir 'peles' equivocadas, como as de mexicana, rumbeira, etc..
Após a sua morte precoce, por ataque cardíaco fulminante (1955), a divulgação não cessa. Desde logo, no seu velório, onde compareceram 60 mil pessoas. No ano seguinte, lança-se o Museu Carmen Miranda, no Rio de Janeiro, só inaugurado em 1976. Em 1972, Elis Regina canta em sua homenagem o enredo do desfile da Escola de Samba Império Serrano, escola vencedora nessa edição. Por ocasião da presente efeméride, foi lançado um site específico, Carmen Miranda, que tem muita informação útil e organizada. Uma boa iniciativa.
Além das fontes já citadas, baseei-me ainda numa reportagem de Anabela Mota Ribeiro («Morreu com um espelho na mão, sozinha no seu quarto», Pública, 8-2), que, por sua vez, entrevista o biógrafo Ruy Castro.
Na imagem, video antológico Carmen Miranda - Brazilian Career Medley.
3 comments:
Bravo, bravíssimo, Daniel.
Esta “Pequena Notável” é tudo de bom. Foi de fato a rainha dos Anos de Ouro da música brasileira, mas foi brutalmente injustiçada pela mídia tupiniquim da época, que a qualificou de “americanizada”. Veja no link a seguir o que Caetano Veloso escreveu sobre ela em 1991. É bem interessante. (http://biacamposcy.multiply.com/journal/item/34)
Maravilha de post.
Ainda bem que gostaste, Manolo, e ainda bem que chamas a atenção para a influência de Carmen Miranda no tropicalismo. É que tinha visto uma referência, mas era bastante lacónica.
Carmen Miranda é mesmo excelente! E a cinemateca vai festejar o Carnaval, já para a semana, com uma série de filmes com a «brazilian bombshell».
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