O
quarta-feira, 30 de abril de 2008
Albert Hofmann (1906 – 2008)
Posted by Sappo at 18:26 4 comments
Labels: Albert Hofmann, LSD, Timothy Leary
segunda-feira, 28 de abril de 2008
Ainda as imagens mentais (IV)
Primeiro tenho que reconhecer que o artigo de Gallant e colaboradores, de que temos estado a falar, não constitui uma demonstração formal da existência de imagens mentais. O artigo demonstra que, utilizando imagens de ressonância magnética e algoritmos apropriados, é possível modelizar com uma grau de aproximação muito apreciável os padrões de actividade cerebral quando o cérebro está a processar imagens que os olhos estão a ver. As imagens de ressonância magnética mostram apenas padrões de actividade cerebral. Fernando Belo prefere chamar-lhes, e bem, imagens cerebrais. No entanto, não sendo uma demonstração formal de que as imagens mentais existem, e menos ainda a visualização dessas imagens mentais. Se as imagens de ressonância, devidamente auxiliadas por um algoritmo, revelam ou não a existência de imagens mentais é uma questão de interpretação. Pela minha parte penso que os resultados são coerentes com a existência de imagens mentais. Se não o posso prová-lo, tampouco alguém o pode refutar formalmente, com base em observações empíricas. Estamos portanto no terreno do desconhecido, onde a especulação faz parte do processo de interpretação. É bom que se saiba, e que seja afirmado claramente, e as precauções necessárias devem ser tomadas. Isto é apenas uma opinião, ninguém tem que acreditar.
Apetece-me evocar aqui - desviando-me brevemente da discussão - a descoberta científica que, na minha humilde opinião, mais implicações filosóficas tem: princípio da incerteza de Heisenberg. Demonstra esse princípio que o observador não pode ter a percepção do 'verdadeiro' objecto, mas apenas a percepção da sua interacção sobre esse objecto. O observador não é portanto neutro, e altera forçosamente o próprio objecto. O exemplo em questão não podemos ver grande coisa do cérebro humano, a não ser que o alteremos, por exemplo com contrastantes que depois podem ser detectados por ressonância. A nossa observação não é neutra, é o resultado duma manipulação. E as conclusões que tiramos são necessariamente o resultado duma interpretação. Mas convém ter o princípio da incerteza presente também no momento de definir o próprio conceito de imagem, e de imagem mental.
Quanto à questão 'há' num automóvel, e aquilo que o automóvel é estamos de acordo (e daí..., talvez haja umas nuances). Na minha visão materialista uma coisa e outra estejam tão intimamente ligados que talvez se confundam. Aquilo que o carro 'é' resulta daquilo que nele 'há', mas aquilo que 'há' num carro tem que se constituir num processo coerente para que se transforme naquilo que o carro 'é'. Não basta ter porcas e parafusos, cilindros e cambotas, gasolina e explosão, combustão e piloto. Todos estes elementos, montados aleatoriamente dificilmente darão um carro que verdadeiramente o 'seja'. Aquilo que 'há' tem que constituir de uma determinada forma, coerente, que permita um encadeamento preciso de acontecimentos, os processos, que leve ao funcionamento do automóvel. As componentes encaixam-se segundo um plano preciso. O mesmo se passa com o cérebro. Não há apenas neurónios e sinapses, neurotransmissores e impulsos iónicos, há-os organizados de como uma série de processos coerentes, ou se preferirem de um modo funcional. A diferença entre o cérebro e o automóvel é que este é uma criação da mente humana, é fácil partir das partes, aquilo que 'há' perceber como se organizam e funcionam, é fácil perceber a coerência dos seus processos uma vez que foi o homem quem os criou. Já quanto ao cérebro não conhecemos o plano, temos que partir da nossa percepção daquilo que ele 'é' para tentar perceber aquilo que nele 'há' para depois ainda tentar perceber como as suas partes se organizam numa entidade funcional, aquilo que ele 'é'. Isto num constante vai-e-vem entre uma coisa e outra, aprofundando o nosso conhecimento passo a passo. E isto que digo não muito diferente, parece-me, do que diz Fernando Belo (parágrafo 5 do seu post).
Voltanto à questão inicial, as imagens de ressonância magnética mostram a actividade cerebral não as imagens mentais. No entanto, na minha opinião, as imagens mentais existem, são o produto dos tais processos coerentes que constituem o funcionamento do cérebro, e estão subjacentes à actividade cerebral que é possível ver nas imagens de ressonância magnética.
Tomemos o exemplo dado Ana Matos Pires (quando se debateu esta questão no 5dias): os amputados continuam a sentir o membro que perderam. Sentem-no porque os terminais nervosos que antes transmitiam ao cérebro a sensação desse membro continuam a fazê-lo mesmo que o membro não esteja lá. Isto demonstra que no cérebro existe uma representação desse membro. Não é uma imagem, no sentido visual de uma imagem captada pelo sentido da visão, mas é uma representação resultante da propriocepção. O membro esse não existe mas a representação mental desse membro é bem real, como o atestam as dores que sentem os que foram amputados. A representação mental de um objecto percebido pelo sentido da visão funciona de modo análogo.
Fernando Belo dá-me aliás um excelente argumento quando diz que as únicas imagens mentais são os sonhos. Ora acontece que, tanto quanto sei (que reconheço, é pouco nesta matéria) o cérebro processa as imagens dos sonhos e outras quaisquer imagens - as que evocamos de memória por exemplo - da mesma maneira. Se umas são imagens mentais, então as outras também são.
No fundamental onde eu acho que estou em desacordo com Fernando Belo é na ideia de que o conceito de mente seja o herdeiro do conceito de alma. A alma, no sentido religioso, é uma entidade metafísica superior ao corpo, e que lhe sobrevive. A mente é o resultado do funcionamento dos processos "superiores" do cérebro (consciência, abstracção, etc...), há mente enquanto houver um cérebro com os seus processos superiores em funcionamento. A mente é bem material está alojada no corpo, mais precisamente no cérebro, e não lhe pode, por maioria de razão, sobreviver. Não estou certo que este minha posição seja uma defesa do "dualismo cérebro / mente" mas quanto às reservas de Fernando Belo sobre "irredutibilidade metodológica entre o acesso ao neuronal com a aparelhagem laboratorial e o acesso a esta estruturação psíquica, por via do discurso (ou da introspecção)" tendo a considerar todas as limitações das aparelhagens laboratoriais não como limitações fundamentais e inultrapassáveis, mas apenas como circunstanciais. Naturalmente que esses aparelhos nos dão uma imagem limitada, como o nosso conhecimento será sempre limitado e incompleto. Novas máquinas e novas técnicas permitir-nos-ão de ver um pouco melhor, e o nosso conhecimento do cérebro avançará um pouco mais, sempre parcial e incompleto mas um pouco melhor. Não me parece irredutível, e pelo contrário a via do discurso e da introspecção avançará a par das aparelhagens laboratoriais.
Ou dito de outro modo, onde eu estou em desacordo com Fernando Belo é na oposição entre o real e o mental, ideia de que o "ser-no-mundo" esteja nos "antípodas do mental" (parágrafo 4 do mesmo post). Do ponto de vista da actividade cerebral um e outro são processados do mesmo modo, utilizando as mesmas redes neuronais. O mental é tanto uma representação do real (o "ser-no-mundo"), tal como uma representação de outros reais possíveis.
P.S. - Num post anterior deixei uma provocação a João Galamba, que entretanto respondeu (por sinal com bastante mais elegância do que a minha provocação) na caixa dos comentários. Aproveito, porque é o direito de resposta, e sobretudo porque é mais uma interessante contribuição para o debate, e transcrevo aqui o comentário de João Galamba (com quem estou obviamente em desacordo):
Peço desculpa mas só vi este post agora. Eu não digo apenas "porque não". Se ler os meus posts com atenção e, sobretudo, os comentários vai ver que a minha posição é de outra natureza.
A mente é caracterizada por intencionalidade, o que faz com que ela não possa ser tratada como um objecto. A intencionalidade significa que ela é constituída por relações normativas de significado (algo totalmente diferente de relações causais) com o mundo que lhe é exterior, o que faz com que o paradigma interior-exterior deixe se ser uma dicotomia.
O problema da ciência é que ela pressupõe a noção de objecto (sem o qual não há ciência), e isso distorce a natureza da mente. Antes de se estudar o que quer que seja é necessário clarificar a ontologia subjacente ao nosso estudo. Ora isto é coisa que a ciência não faz nem pode fazer, pela simples razão que ela própria necessariamente pressupõe uma ontologia.
A discussão é longa, mas acredite que se há coisa que eu não faço é dogmaticamente dizer que não.
Posted by Zèd at 10:04 6 comments
domingo, 27 de abril de 2008
É a bondade do mercado a funcionar
Adenda sob a forma de pergunta ingénua:
A subida dos preços dos alimentos estará relacionada com a subida do preço do petróleo? E a subida do preço do petróleo terá alguma coisa a ver com a guerra no Iraque?
Posted by Zèd at 09:46 1 comments
Labels: neoliberalismo
sábado, 26 de abril de 2008
My Blueberry Nights
Ainda assim, é um prazer ver um realizador ser fiel ao seu estilo ao mesmo tempo que pesquisa um novo território e uma nova língua – é o seu primeiro filme em inglês. Interessante é a forma como combina o road movie tão típico da América com temas que lhe são caros – a lenta depuração dos sentimentos pelo tempo e pela memória. Em vez da viagem de busca da «nova fronteira», em que o horizonte, por definição, é inalcançável, temos a viagem circular, cujo sentido só pode ser dado pelo regresso ao ponto de partida. Outra variação de uma história muitas vezes contada é que seja a personagem feminina a partir e a masculina – interpretada por Jude Law – a permanecer num bar de Nova Iorque, à espera da mulher por quem se apaixonou.
Posted by João Miguel Almeida at 15:38 0 comments
Labels: cinema, Wong Kar Wai
sexta-feira, 25 de abril de 2008
Uma pequena coisa, mas muito séria, que nos une
Como anunciei aqui, organizei este mês na minha universidade, uma "soirée" de festa dedicada ao 25 de Abril, com leituras de textos, música e vídeo.
Na realidade, foi uma co-organização com o Departamento de Italiano, para celebrarmos em conjunto os dois 25 de Abril. Como sabem, o 25 de Abril de 1945 é a data que marca o fim definitivo da ocupação nazi e do regime fascista em Itália. Assim, ambas as Repúblicas actuais de Portugal e Itália têm nesta data primaveril o seu momento fundador. Uma coisa pequena, mas absolutamente séria, que une os dois países. Penso que é importante dizer isto depois do resultado das eleições italianas (Berlusconi nunca comemorou o 25 de Abril sendo primeiro-ministro e anunciou, antes das eleições, intenções de reescrever os manuais escolares no que toca à data). E também à vista das tentativas quotidianas para, em Portugal, pôr a memória da democracia a andar para um país ausente.
Aqui fica, em estreia absoluta na blogosfera tuga, o vídeo que realizámos em conjunto (os leitores de italiano Giovanni Ambrosio, Andrea Masetti e eu próprio) e que exibimos no passado dia 10. Ficou com alguns problemas técnicos, decorrentes do adiantado da hora a que foi finalizado. Mas foi feito com entusiasmo, isso vos garanto, porque nem sempre a academia dá ocasiões para partilhas. Desta vez deu. A data merece.
Vejam o filme, vale a pena.
(com um agradecimento aos autores dos filmes e documentários que, involuntariamente, para ele também contribuíram)
Posted by andre at 17:58 1 comments
quinta-feira, 24 de abril de 2008
Lisboa efervescente
Nb: imagem de cartoon único do famoso cartoonista francês Siné, que se destacou no Maio de 68 com a sua revista L'enragé, mostrando um soldado português muito bem enfeitado :P
Posted by Daniel Melo at 00:31 2 comments
Labels: agenda cultural, cartoon, cartoonista Siné, celebrações, cinema, cinema documental, Cultura, José Saramago, Lisboa, Maio de 68, matança da Pascoela (1506), memória colectiva, revolução
quarta-feira, 23 de abril de 2008
Californication
Posted by Sofia Rodrigues at 22:54 2 comments
Labels: Californication, séries, televisão
Hillary Clinton, a maior aliada do republicano John McCain
Posted by Sappo at 18:25 2 comments
Labels: Barack Obama, Hillary Clinton, John McCain, Primárias americanas
Se há alguma coisa que é verdade, acho, é que nunca escapamos à nossa cultura, nunca escapamos à nossas história.
Lilian Thuram par Claire Denis
Colocado por quaibranly
Ainda no rescaldo da morte de Aimé Césaire, e dos posts sobre a negritude, deixo este vídeo de uma entrevista a Lilian Thuram (esqueçam quaisquer preconceitos que possam ter sobre a capacidade intelectual dos jogadores de futebol), é excelente. O título do post é a tradução da primeira frase de Thuram vídeo.
E lembro-me agora que me esqueci de assinalar o aniversário da morte (a 7 de Abril) de Toussaint Louverture, líder da revolta da então Saint Domingue contra o re-estabelecimento da escravatura por Napoleão. Primeira (das muitas) derrota militar de Napoleão que conduziu ao primeiro país negro a tornar-se independente do colonizador europeu, o Haiti. Louverture não viveu para ver a sua vitória.
Posted by Zèd at 08:09 0 comments
terça-feira, 22 de abril de 2008
Arriba, Paraguay!
Lugo foi eleito
Posted by Sappo at 06:42 2 comments
Labels: América do Sul, Paraguai
Electricidade nas veias
segunda-feira, 21 de abril de 2008
Belenensização do Benfica? Era bom, era...
Posted by Zèd at 23:02 1 comments
Labels: belenenses, Benfica, futebol
Uma questão de dinamismo
Posted by Sofia Rodrigues at 17:46 0 comments
Labels: Asa, cinema Quarteto, editoras, Manuel Alberto Valente, Pedro Bandeira Freire
domingo, 20 de abril de 2008
Ode a um pirata
Obrigadinho, pirata da net, quem quer que sejas
Obrigado, obrigado, obrigado, estejas onde estejas
O streaming que gentilmente me facultas é fixe
E vê-se bem — obrigado por isso
é um quadradinho só e faz-me ficar cada vez mais míope
Mas vê-se bem — os jogadores quase não têm momentos de buffering
entre a recepção da bola
e o tackle do adversário
Obrigado, pirata, por me permitires ver o Benfica
já estávamos a levar na ripa aos 7 minutos
(acho que é 7 minutos, não se vê bem por causa do tamanho da tv na net)
mas foi o Lisandro Lopez, lá isso viu-se bem
e que o Quim também teve alguma culpa
Obrigado, piratinha escondido, pela mercê suplementar de masoquismo
dares-te a todo este trabalho para eu sofrer assim
e ver
até onde podemos continuar a perder
perder, perder sempre
mas devagar
(e não tão depressa como na quarta-feira)
Perder nas Antas é já um hábito, pirata amigo,
das novas gerações — mas também das velhas
Não me quero
(de modo nenhum)
juntar ao coro dos vencidos do Eusébio
que atiram paus ao autocarro, mesmo que metafórico
dos jogadores do glorioso
são os meus heróis perdentes
filhos, filhos do meu internético vício
de acreditar até ao fim que o empate
ainda é possível
Por isso, por tudo isto,
obrigado pirata,
onde quer que estejas e sejas
a quebrar monopólios,
a romper contratos exclusivos,
de tv's de patrões luxuosos e burgueses e insensíveis
doem-me já os olhos
a coisa está no intervalo
e podia afigurar-se pior
ainda só está 0-1
obrigado por me deixares ver isto até ao fim
isto se não houver problemas técnicos
Este mês ainda faltam 29 dólares em doações para o site continuar a ser gratuito, eis uma maneira simpática de te agradecer, talvez um dia
ó pirata
Mas hoje não, hoje vou ficar só aqui,
frente ao pequeno pequeno pequeno écran
a ver o Porto dar-nos porrada (figurada)
e nós a darmos porrada (literal)
no Porto
O Zèd vai dizer que isto que aqui deixo é uma treta de quem já se abelenensizou
e provavelmente tem toda a razão
mas eu sou assim, na vanguarda do velho
e de qualquer das formas parece-me que não deve haver muitos exemplos anteriores a este
de comentário poético directo e em mau verso livre
a um jogo de bola previamente
condenado
Posted by andre at 21:10 4 comments
Ainda as imagens mentais III - A(s) resposta(s) de Fernando Belo
Posted by Zèd at 16:27 0 comments
China se prepara para a medalha de ouro (em execuções)
Posted by Sappo at 12:20 0 comments
Labels: execuções na China, Jogos Olímpicos 2008
Melhor tinto do mundo é português
Posted by Sappo at 10:45 3 comments
Labels: Casa Ermelinda de Freitas, Syrah 2005, vinhos ao domingo
sábado, 19 de abril de 2008
Homens e mulheres da raça negra!
A edição original é de 1940.
Posted by Sofia Rodrigues at 18:47 2 comments
Labels: Carson McCullers, literatura americana, livros, Negritude
Carme Chacón vai à guerra esquecida do Afeganistão
Grávida de 7 meses, a ministra de Defesa, Carme Chacón, visita as tropas espanholas no Afeganistão. Nunca é demais lembrar que há outra guerra em curso por aí e que já fez mais de 20.000 cadáveres e aproximadamente 2.200.000 refugiados.
Posted by Sappo at 16:27 4 comments
Labels: Carme Chacón, Espanha/ Politica, gerra do Afeganistão
sexta-feira, 18 de abril de 2008
Acordo Ortográfico: não dói nada e não é bicho-de-sete-cabeças
vallera,
Ao
Na
Creio
Do
Repito
.....................
[#]
Posted by Sappo at 09:39 8 comments
Labels: Acordo Ortográfico, CPLP, Linguística
quinta-feira, 17 de abril de 2008
O mundo no sofá
Caros amigos,
já aqui expressei a minha defesa acérrima das virtudes epistemológicas do sofá. Como dizia aquele grande filósofo (chamado Ruy... espera, sou mesmo eu afinal! Mas que grande filósofo que me saí! Não se esqueçam de me citar), "eu tenho grandes ideias quando estou a adormecer no sofá; é pena não me acordar delas quando acordo".
Penso, aliás, que o assunto é merecedor, no mínimo, de um debate público em local apropriado. Sim, porque o governo, uma vez mais, está a atropelar os nossos direitos ao obrigar-nos a trabalhar em cadeiras, bancos e outros derivados. Já não basta ter de percorrer distâncias a pé e tal.
Não preciso de recordar a importância histórica desta peça de mobiliário - o que é , no fundo, o trono real se não um protótipo de sofá? Pelo menos, lá estavam os braços acolchoados, e as almofadinhas (outro elemento merecedor do meu mais profudo respeito). Muito sangue se derramou por esse antepassado mobiliárquico (e não nobiliárquico).
Pois bem, a partir deste momento, é com prazer que partilho que deixei de ser Dom Quixote e já não sou o único a lutar por esta causa - que, confesso, parecia perdida.
Um grupo de amigos, colegas e visionários levou esta ideia para a frente e produziu aquilo que os ingleses chamam de cornerstone, ou seja, pedra no canto.
Ok, a analogia não foi a melhor. Vou tentar outra: é a primeira peça a avançar no jogo de xadrez. Ou outra: produziu a primeira página da próxima revolução intelectual:
Recomendação: comprem este livro e deitem-se nos vossos divãs, sofás, vá lá, cadeirões. Verão o mundo com outros olhos (epá, devia ter vendido esta à editora, mas pronto). Não tentem é jogar xadrez ao mesmo tempo.
Posted by Ruy Blanes at 22:49 0 comments
Labels: Livro A Globalização no Divã
quarta-feira, 16 de abril de 2008
Ainda as imagens mentais II
Fernando Belo discorda:
"(...) não é possível dizer desta experiência que se trata de ‘fotografar imagens mentais’, só há imagens fotográficas exteriores e imagens de ecrã da actividade neuronal. E por conseguinte também não é possível, nem creio que fosse o intento dos autores, provar com ela que ‘há’ imagens mentais."
"(...)no cérebro o que há são células, química e electricidade iónica (que interage com a química). Palavras, músicas, imagens, tudo isso é exterior e ‘percebido’ por certos órgãos periféricos que os transformam em electricidade neuronal."
Sem querer transformar o debate numa mera questão semântica, parece-me que o significado da palavra imagem é central nesta discussão. Convém definir claramente o que se entende por imagem. Se entendermos por imagem uma representação visual de um objecto, então as imagens mentais existem. Uma fotografia de uma bola é uma imagem, a bola é o objecto. A fotografia, seja ela uma película de negativo, uma impressão em papel, ou um ficheiro JPEG é sempre uma imagem, é sempre uma representação do objecto. Então e se forem sinapses em vez de grãos de prata em película ou bytes em JPEG, é menos imagem por isso? Como Fernando Belo refere há a percepção do objecto que é exterior, até dada altura. A luz que é emitida pela bola e captada pela retina é exterior até precisamente ao momento em que é captada pela retina, mas até aí não há representação do objecto, apenas a primeira fase (por assim dizer) da percepção. E de cada vez que evocamos a imagem da bola sem que ela esteja à nossa vista, mas que conseguimos visualizá-la mentalmente há uma imagem (por maioria de razão) mental que se forma, tal como se fizermos duplo-clique no icon do ficheiro JPEG há uma imagem digital que se forma.
Sem surpresa a única coisa que Castro Caldas diz de interessante (cf. o post de ontem) é quando se digna argumentar: "Quando Fernando Belo diz que no cérebro só há células, química e electricidade, está a ser extraordinariamente reducionista." De facto a imagem de que no cérebro só há células, química e electricidade é algo redutora. É como dizer que o motor de um carro é só cilindros, porcas, parafuso, cambotas, óleo e gasolina. Sim é tudo isso, mas um motor parado é só isso, e um motor parado não nos interessa muito. O que nos interessa é perceber como funciona o motor, quando está em movimento. Assim também o cérebro é células, química e electricidade, mas é também os seus processos: a transmissão sináptica, a formação de sinapses, os potenciais de acção, etc... É isso que o artigo de Gallant consegue demonstrar pela primeira vez: que determinados padrões de actividade neuronal correspondem a determinadas imagens. Por isso o título da notícia de Ana Gerschenfeld "Cientistas fotografam imagens mentais" é tão certeiro. Uma fotografia, ou um padrão de actividade cerebral, podem ser uma imagem e um objecto ao mesmo tempo. Pode obter-se portanto uma imagem duma imagem (fotografar imagens). O artigo da equipa de Gallant mostra imagens de fRMI de imagens mentais, como muito pouca resolução obviamente (por enquanto). É como se se fizesse uma radiografia de uma máquina fotográfica para perceber como ela funciona, enquanto ela própria gera imagens fotográficas.
A argumentação de Fernando Belo é estimulante, e espero ter dado alguma resposta. Já este post de João Galamba, ainda sobre o mesmo tema, é-me mais difícil perceber. Parece-me uma recusa liminar de uma abordagem científica do estudo da mente, apenas porque sim. E porque não? Quais mistificações? Por que raio não há-se ser a mente passível deste tipo de abordagem? É um objecto de estudo como outro qualquer. Parece-me aliás bastante plausível que a actividade neuronal seja bem mais do que suficiente para explicar a mente humana, sem recurso a explicações metafísicas (sim, sou profundamente materialista).
Nota: A imagem é retirada do artigo da equipa de Gallant.
Posted by Zèd at 20:02 1 comments
Palavras de desconforto
Posted by Sofia Rodrigues at 00:20 0 comments
Labels: British Library, Evelyn Waugh, literatura, livros
terça-feira, 15 de abril de 2008
Ainda as imagens mentais I
Fernando Belo contesta a existência de imagens mentais, e por consequência considera que o artigo da Nature não demonstra a existência de imagens mentais. A. Castro Caldas respondeu a Fernado Belo num artigo de opinião, também no 'Público'. O artigo de Castro Caldas, embora sobre a questão científica estejamos provavelmente de acordo, parece-me bastante infeliz e mesmo deselegante. Começa por nos lembrar que os leigos têm em geral uma visão disparatada dessas coisas das Neurociências, de onde se deduz que provavelmente não vale a pena discutir estes assuntos com leigos. Depois sugere a Fernando Belo que os filósofos se devem dedicar à Filosofia e os cientistas à Ciência, concedendo que "não são graves as incursões pontuais nos campos e metodologias uns dos outros" (esta é um primor, o negrito é meu). Este tipo de atitude é antes de mais de uma lamentável pequenez, é fácil esquivar-se ao debate e ao escrutínio escudando-se atrás de uma autoridade académica/científica. Quando alguém, seja quem for, nos interpela para debater uma assunto, qualquer que seja, tentar remeter esse alguém para um acantonamento de posições é deselegante, mais ainda se a pessoa em questão tem bagagem e argumentos suficientes para um debate de qualidade. Antes de mais faz parte do trabalho do cientista, não apenas produzir conhecimento mas difundi-lo, e não apenas no domínio da sua especialidade mas para todos quantos o queiram. É um dever ético. E não chega uma declaração de intenções, não chega afirmar "os neurocientistas estão cientes disso [a má informação do público], desenvolvendo trabalho para corrigir esses erros" quando o resto do que escreve pouco faz para o demonstrar. Castro Caldas exibe também um profundo desprezo pela pluridisciplinaridade, erro típico de uma tradição científica e académica arcaica. Nem é necessário estar a lembrar a quantidade de avanços na ciência moderna apenas possíveis graças ao diálogo entre disciplinas diversas. Mais ainda, é esquecer que todas as questões (realmente importantes) a que os cientistas se dedicam foram formuladas primeiro por filósofos (o que é a vida?, o que é Universo?, o que é a mente?, etc...). Fernando Belo fala da filosofia espontânea dos cientistas, eu vou mais longe, os cientistas limitam-se (e eu incluo-me) a recuperar as questões já formuladas pelos filósofos. Mas permita-se-me uma provocação, e puxo a brasa à minha sardinha, serão sempre os cientistas a dar resposta a essas perguntas. Quando se coloca uma questão sobre determinado objecto, para se encontrar resposta não basta pensar, debater, discutir, divagar, ou opinar, é preciso manipular o objecto e testar hipóteses, sem o que nunca se terá uma resposta digna desse nome. É aí que os cientistas entram em acção.
E eu que queria discutir 'imagens mentais' e expor as razões porque discordo de Fernando Belo, e acho que as imagens mentais de facto existem... O post já vai longo, e desviou-se ligeiramente. Fica para a próxima.
Nota: Fernando Belo tem um blogue onde apresenta resumidamente a sua mais recente obra: "Le Jeu des Sciences avec Heidegger et Derrida", uma obra em dois volumes em que debate a Ciência moderna de forma aprofundada, do seu ponto de vista de filósofo. Tem um capítulo dedicado precisamente à questão neurológica.
Posted by Zèd at 22:08 0 comments
Uma proposta: o iberismo europeu
Mais um espinho cravado na história da esperança do povo de esquerda. Berlusconi venceu de novo, acumulando mais material para mais um filme obsessivo de Nanni Moretti. Sempre o mesmo. Já não se esperava muito, apenas que vencesse por pouco e que o seu governo fosse fraco. Mas venceu destacado, e ainda por cima devendo a maioria absoluta a um reforço da extrema-direita xenófoba em versão italiana: a Lega Nord.
Mais um espinho na já tão maltratada história da esperança. Como se a história tivesse deixado de andar para a frente em Itália, tivesse deixado de renovar as gerações políticas. Como se a história não fosse mais do que uma cirurgia plástica, um novo implante capilar, e o Velho aparecesse como sempre novo.
A esquerda da esquerda desaparece do parlamento e do senado. Apenas o Centro-Esquerda fica representado. A sensação é de claustrofobia democrática. Berlusconi venceu, o povo é soberano, o povo é sereno, não se pode mudar de povo. O povo italiano é assim, sempre foi assim. A luta armada não é solução. A emigração não é solução (já emigrámos).
A minha proposta, para não ficar aqui a lamber feridas (sem ser italiano, sou um patriota italiano), é progressista e reaccionária ao mesmo tempo: todos com a Espanha. A Espanha por toda a parte, em todos nós. Neo-habsburguismo. 1580 outra vez e em todo o velho continente, mas sem império. Um Z de Zapatero rasgando a Europa das nações, essa velharia.
Posted by andre at 11:10 4 comments
segunda-feira, 14 de abril de 2008
O batuque de Feliciano dos Santos ganha o “Nobel” ambiental
Posted by Sappo at 14:11 0 comments
Labels: ambiente, Feliciano dos Santos, Massukos, Moçambique, música
domingo, 13 de abril de 2008
Ele há vinhos do Carvalho!
* Falando em transgénicos, espero que ninguém tenha a ideia de pôr uma cepa a expressar os genes do casco de Carvalho nas uvas... e daí talvez nem fosse assim tão mau.
Posted by Zèd at 10:09 0 comments
Labels: crítica de vinhos, vinhos ao domingo