Um grupo excursionista de idosos que veio à capital para ir ao teatro, por intermédio do INATEL, resolveu dar espectáculo dentro do espectáculo, e também já fora dele. Mais um pouco e ainda acabam contratados. É claro que seria para outro tipo de teatro, etéreo, imaculado, asséptico, certamente mais 'coltural'. Entre outras pérolas: «Isto é que é a cultura?», «Valia mais mandá-los semear batatas»; «É por isso que a nossa mocidade anda aí nas drogas. Aquilo que os ensinam é isto, os maus caminhos, em vez de lhes ensinarem o A e o B». O duplo espectáculo foi a 12/XI, o 2.º interrompendo o 1.º, mas só agora desaguou nos media e na blogosfera, se calhar para suscitar um debate público, se calhar para ajudar a puxar pelas audiências. Seja qual tenha sido a intenção, revela os curto-circuitos destes circuitos de divulgação cultural e os desencontros entre diferentes formas de estar e conceber a arte. Já agora, a peça em apreço (a 1.ª, que a 2.ª não tem nome) é «O que se leva desta vida», com Gonçalo Waddington e Tiago Rodrigues, e se for isto que se leva desta vida estamos tramadex.
domingo, 13 de dezembro de 2009
Quando o Diácono dos Remédios desce à cidade (versão excursionista)
Posted by Daniel Melo at 00:13
Labels: arte, censura, Cultura, liberdade de expressão, neo-realismos, Teatro
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
6 comments:
A culpa não é deles, nascidos e crescidos no tempo da anestesia...
Este Inatel é que continua a perecer-se com uma "velharia" que se chamava FNAT.
Confesso que achei graça a este post. Fez-me pensar no teatro dos tempos do Shakespeare, quando a audiência se insurgia contra uma peça, atirava legumes podres aos actores e fazia imenso barulho. Há pouco tempo ouvi um actor dizer que gostava de ter outra vez audiências mais descrontraídas, mais honestas, menos esmagadas pela seriedade imposta pela classe média. Enfim, não será talvez um argumento ideal quando se pagou para ver e se está a gostar, mas achei graça, os velhotes não se deixaram intimidar! Não acho que seja necessariamente deprimente...
jrd, 'quando même'; cada qual assume o seu gosto e o seu modo de assumir esse mesmo gosto, embora isso seja condicionado por muitos factores, alguns deles bem negativos e alheios à vontade das pessoas comuns.
Já o INATEL não sei como pode ter responsabilidade nisto, pois até tenta trazer os seus associados a estas iniciativas.
Paula, ainda bem que pegas desse modo, pois o meu post é capaz de ter sido curto demais.
O actor de que falas se calhar não quereria uma reacção tão enérgica como a dos «tempos de Shakespeare», apenas uma coisa menos cinzentona, digo eu. É que, a peça do S. Luís foi simplesmente suspensa: os actores não conseguiam fazer-se ouvir, além de se terem sentido intimidados fisicamente (vd. reportagem do jornal i). E quanto às pessoas que queriam assistir, como é?
Avançando, quanto à parte destes velhotes terem tido a iniciativa de se mostrarem: eu concordaria se fosse no fim da peça, ou no intervalo, ou, então, que se fossem embora durante o espectáculo, ou no intervalo. Isso acho que sim, que temos direito. O resto é um exagero.
E, sim, pode não ser deprimente, ou não ser só isso, pode ter vários ângulos de abordagem. Por isso, também referi que o facto do incidente só agora irromper se serviria «para suscitar um debate público, se calhar para ajudar a puxar pelas audiências». Ou seja, pode ter sido 'planeado' pelos próprios actores, ou alguém próximo deles. O que não deixaria de ser irónico...
Sim, claro. O Inatel terá tido boa vontade, mas talvez seja um caso de desfasamento em relação ao cliente. Afinal, do que adianta levar umas pessoas com este perfil a uma coisa moderna e talvez até meio experimental, não sei? Nesse sentido a falha é deles, parece-me... Faz-me pensar nas vantagens daqueles questionários "O que é que quer ver? 1 ' Teatro experimental, 2 ' Teatro de revista", etc. Enfim.
Ok, pode ser que aprendam e comecem a enviar mais informação aos associados antes do momento da escolha.
Enviar um comentário