terça-feira, 1 de dezembro de 2009

A Igreja Católica e o referendo suíço

O Osservatore Romano, jornal oficial do Vaticano, deu conta, na edição de 30 de Novembro de 2009, dos termos em que a conferência episcopal suíça comentou os resultados do referendo que proíbe a construção de novos minaretes: «um duro golpe para a liberdade religiosa e a integração»; «uma tendência que complica as coisas para os cristãos que vivem em países onde tal liberdade é já limitada»; «um obstáculo, mas também um grande desafio, no caminho da integração no diálogo e no respeito recíproco». Os bispos católicos suíços sublinham que a situação prejudicou os «cristãos oprimidos ou perseguidos nos países islâmicos» e «a credibilidade do seu empenho nesses países.» (já não há link directo para a edição diária e a edição semanal ainda não está disponível - ver aqui uma referência ao texto).
Em Portugal há movimentos católicos empenhados na realização de um outro referendo que vai abrir a caixa de Pandora. O referendo sobre o casamento homossexual pode desencadear uma campanha homofóbica. Na mesma caixa estão a islamofobia, a xenofobia e todos os outros medos que saltarão cá para fora assim que a palavra «referendo» for pronunciada para tomar decisões sobre a vida privada dos outros, sobre os direitos de minorias. Esquecemos demasiado depressa que todas as minorias são relativas. Como os bispos suíços lembraram, também os católicos são minorias em países de maioria muçulmana. Não perguntes portanto que minoria viu os seus direitos limitados. Quando os direitos de uma pessoa são ameaçados, os direitos de todos são ameaçados.
PS Uma associação judaica criticou a interdição dos minaretes na Suíça e lembrou que há um século outro referendo suíço serviu para proibir o ritual judeu de matar animais (ver aqui). Deve acrescentar-se que Sarkozy comentou os resultados do referendo nos seguintes termos: «(...) esta é a prova de que as pessoas, na Suíça como na França, querem manter a sua identidade»; que Angela Merkel declarou ambiguamente: «Os resultados do referendo suíço são para ser levados a sério»; que Le Pen aplaudiu a proibição dos minaretes; que a extrema-direita holandesa quer fazer um referendo sobre o mesmo assunto na Holanda. Os minaretes suíços podem ser pontas de um iceberg esmagador.

2 comments:

jrd disse...

A Suiça é, ela própria, uma minoria, cuja Banca tem parasitado os povos explorados pelos seus "Depositantes".

Daniel Melo disse...

Bom post, João Miguel, e também uma posição de elogiar, a dos bispos suiços.