segunda-feira, 31 de maio de 2010

Intolerância, deriva belicista e domínio geo-estratégico: o que permitem a inimputabilidade internacional e a cegueira ideológica

Ocorreu hoje um dos piores actos de agressão do Estado israelita contra a comunidade internacional. Leram bem, contra a comunidade internacional. Foi um massacre de civis activistas de 40 países ocidentais e orientais envolvidos numa campanha de solidariedade com a população palestiniana da Faixa de Gaza, após meses dum bloqueio israelita insano àquele território (neste momento, estão confirmados 10 mortos e dezenas de feridos).

A viagem da «Flotilha da Liberdade» estava programada há algum tempo e a comitiva de c.700 pessoas incluía  deputados da Alemanha, Noruega, Suécia, Bulgária e Irlanda, sendo a maioria dos restantes elementos membros de ong's humanitárias, além duma Prémio Nobel, dum sobrevivente do holocausto, dum ex-senador dos EUA, de jornalistas e de tripulantes (vd. aqui). Israel intimidou desde cedo, pressionando para o seu acostamento em território israelita e não em território palestiniano, como se uma comitiva com intuitos humanitários não pudesse atracar num porto palestiniano sem autorização do auto-declarado ocupante (mesmo que nesta situação, a resposta é completamente desproporcionada e, muito provavelmente, ao arrepio do próprio direito internacional).

O facto do morticínio provocado por comandos israelitas ter ocorrido em águas internacionais, e cujas imagens ecoam a pirataria somali, não demoveu o governo israelita de procurar justificar o injustificável com a mais sinistra propaganda, que alguns (poucos) media ainda acham por bem acolher, seguindo a política bushista da «guerra de civilizações» e da protecção à outrance do sionismo ultrabelicista. Felizmente que a maioria dos media, acompanhando o coro internacional e unânime de críticas a um acto tão atroz, se distanciou de tais derivas belicistas, as quais provocaram uma crise diplomática sem precedentes: vd. «Israel accused of state terrorism after attack». Também a opinião pública internacional tem-se manifestado contra este crime um pouco por todo o mundo: «Clamor internacional contra el "baño de sangre" de Israel».

Porquê agora isto? Rebobine-se um pouco o filme e chegamos a uns dias atrás em que uma iniciativa diplomática de países emergentes na cena internacional (e, por consequência, na respectiva área regional) procuraram resolver diplomaticamente o «caso iraninao». Assim, por iniciativa diplomática, o Brasil intercedeu junto do Irão para que suspende-se o seu programa nuclear, enviando o seu material nuclear para a Turquia. Ora, nesta comitiva solidária, a maioria dos membros eram turcos, antes um dos poucos interlocutores muçulmanos de Israel... Para bom entendedor...

(para quem tem dúvidas é favor ler «Turquia acusa Israel de ter cometido um acto de "terrorismo de Estado"»).

Sobre a acção israelita e seu enquadramento vale a pena ler «Israël veut montrer qu'il reste maître chez lui», do historiador Pierre Razoux.

domingo, 30 de maio de 2010

Para compreender os tempos que vivemos

«(…) no liberalismo clássico, exigia-se ao governo que respeitasse a forma do mercado e que deixasse fazer [laisser faire]. Agora transforma-se o deixar-fazer [laisser faire] num não deixar o governo fazer [ne-pas-laisser faire le gouvernement] em nome de uma lei do mercado que vai permitir aferir e avaliar todas as suas actividades. O laisser-faire transforma-se e o mercado deixa de ser um princípio de autolimitação do governo; é um princípio que é voltado contra o governo. É uma espécie de tribunal económico permanente face ao governo. Enquanto que o século XIX se esforçara por estabelecer, face e contra a desmesura da acção governamental, uma espécie de jurisdição administrativa que permitisse aferir a acção do poder público em termos de direito, temos agora uma espécie de tribunal económico que pretende aferir a acção do governo em termos estritamente de economia e de mercado.»
Lição proferida Collège de France a 21 de Março de 1979
Michel Foucault, Nascimento da Biopolítica, Lisboa, Edições 70, 2010, pp. 311-312.

Conselhos de médico avisado

Tudo à volta do elogio da dieta dita mediterrânica (e mais uns pózinhos)...
Nb: a imagem é referente a uma receita tradicional da gastronomia turca, uma sopa de tomate (domates çorbasi)

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Um Robin Hood muito lá de casa

por Tiago Ribeiro

Não ao PECado da gula dos especuladores

O acordo do governo PS com o PSD “para acalmar os mercados” protege o capital e penaliza trabalhadores, pensionistas e desempregados.
Só não pode acalmar o povo e os trabalhadores.
O essencial do pacote é o imposto sobre o trabalho e o consumo dos produtos e bens de primeira necessidade.
Por isso dizemos NÃO!

CGTP | Grande Manifestação Nacional | 29 de Maio de 2010 | Lisboa - 15h - Marquês de Pombal > Restauradores

Mais inf. aqui, aqui e aqui.

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Um livro para ajudar a esclarecer a história recente

»«

Falo de Álvaro Cunhal, sete fôlegos do combatente. Memórias, de Carlos Brito, hoje mesmo lançado em Lisboa.

Pelo que pude ler das primeiras impressões (p.e., aqui e aqui), este testemunho ajudará a esclarecer a história recente de Portugal através duma espécie de dupla 'viagem' biográfica, a do autor e a de Álvaro Cunhal, ambos dirigentes do PCP durante o meio século abordado na obra. Se outro contributo não tivesse, este já seria meritório. Mas parece-me que o livro vai mais além, permitindo ter uma versão mais desapaixonada e distante da história dum partido político que suscita controvérsias pontuais e emoções fortes junto de muitas pessoas. E também contribuirá para esclarecer a posição deste partido num período histórico sobre o qual paira ainda muitas sombras e pouca prova documental diversificada, que é o do PREC. Mais inf. neste post de Nuno Ramos de Almeida.

Zangam-se as comadres...

Contra ventos e marés, Lisboa bate Roma e Nova Iorque, ora tomem lá e embrulhem

E quem é que disse que ser radical é mau?

«Rainha Isabel II proclama "programa radical para um governo radical"», por Ana Fonseca Pereira

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Para maus acordos, bons remédios

«Oposição aprova revogação do [novo] contrato do terminal de Alcântara»

terça-feira, 25 de maio de 2010

Lutas pela memória

Rocío, documentário anti-franquista censurado em plena democracia, será transmitido em Coimbra e Lisboa, em sessões com a presença do cineasta, Fernando Ruiz Vergara, e do historiador Francisco Espinosa Maestre, co-fundador da Associação Todos Los Nombres e membro da comissão que colaborou com o juiz Baltasar Garzón na investigação dos crimes cometidos durante a Guerra Civil de Espanha e o franquismo.

O filme, que se centra numa romaria de Almonte (Huelva), vai além da contextualização político-social deste evento, revelando ainda a guerra civil e a posterior violência franquista na zona, identificando vítimas e principais responsáveis pela repressão. Este desaforo custou ao cineasta um processo judicial movido pela família Reales no início de 1980, pelo qual teve que pagar uma avultada indemnização, além da condenação a 2 anos e meio de prisão, de que só se descartou após recurso.

A este propósito Cláudia Castelo escreveu em 2007 o post Fernando Ruiz Vergara: crónica de uma perseguição política, com informação de Dulce Simões sobre este processo político e por sugestão de Paula Godinho. Nesse post podem ler-se comentários muito interessantes de Dulce Simões, de Francisco Espinosa Maestre (que refere outros casos de perseguição política) e do próprio Fernando Ruiz Vergara.

A versão integral do documentário permanece censurada em Espanha, mas em Portugal será possível vê-la, hoje em Coimbra, no Teatro da Cerca de S.Bernardo (21h30); amanhã, em Lisboa, na Livraria Ler Devagar da Lx-Factory (21h). A organização é da Cultra. Mais inf. sobre filme, lutas da memória, cineasta e historiador aqui.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Ferreira de Castro e a emigração, ontem como hoje

Começou hoje o Colóquio Internacional Ferreira de Castro e a Emigração, em Lisboa, que reúne especialistas de diferentes áreas para uma reflexão conjunta sobre a obra do escritor Ferreira de Castro relativa à emigração no Brasil e possíveis pontes com a actualidade.

Nele participam estudiosos como Antônio Dimas, Maria Eva Braz Letízia, Bernard Emery, Eugénio Lisboa, Miguel Real, Artur Anselmo, Luís Crespo de Andrade e Maria Beatriz Rocha-Trindade.

A iniciativa, que decorre até 4.ª feira no Auditório 1 da FCSH-UNL, é organizada pelo Centro de História da Cultura da Universidade Nova de Lisboa, em colaboração com o  Centro de Estudos Ferreira de Castro. O seu programa pode ser consultado aqui.

A crise grega explicada às crianças



domingo, 23 de maio de 2010

Os linces invadiram Lisboa!

É verdade, mas não se preocupem, que é só em lona e papel. Trata-se duma mostra de fotografia dedicada ao felino mais ameaçado do planeta, o lince ibérico, lynx pardina. Já só existem c. de duas dezenas deles e o fotógrafo espanhol Andoni Canela foi no seu encalço para nos oferecer este singular trabalho documentário e artístico.

Além do mais, a mostra está concebida dum modo simples e atraente: aproveita o acolhedor Jardim Botânico Tropical de Lisboa (por cima dos pastéis de Belém...) para aí colocar telas com grandes fotos nos relvados, ligadas entre si por sequências de patadas de lince pintadas com tinta branca nos caminhos... No fim do trilho chegamos ao edifício principal, no topo, agora reaberto justamente para encerrar esta exposição e para albergar uma outra, também muito interessante, sobre insectos dos países lusófonos.

A exposição dedicada ao lince abriu ao público ontem e encerra a 22/VII. O fotógrafo Canela recebeu o Prémio Godó de Fotojornalismo de 2009 (reportagem sobre o lobo-ibérico) e tem dezenas de reportagens nas revistas National Geographic, BBC Wildlife, Geo e Newsweek. Mais informações em «Terra de Linces».

sábado, 22 de maio de 2010

Pac-Man, 30 anos: brinde fantástico, só para verdadeiros fãs!

Basta ir ao Google e iniciar jogo numa caixa que diz «Inserir moeda», por debaixo do logo comemorativo desta consola única...

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Quando a realidade supera a ficção mais extravagante...

Até a morte era negócio (só mais um esforço: criem as farmácias sociais, há 10 anos no papel)




Desenvolver a mente através do jogo


Chamam-se "jogos de tabuleiro" e estimulam processos mentais equivalentes aos da prática matemática. Por isso ajudam as crianças a usar a cabeça com prazer. Quem disse que uma boa actividade intelectual tem de ser chata?


Assim começa o apelativo texto «Jogar com a cabeça», de Rita Pimenta. Como o acesso ao resto é só para subscritores, deixo aqui as referências dos jogos e links de livre acesso. Além de lista de livros com truques de magia e outras maravilhas!

1) jogo do semáforo (um jogo do galo maiorzito...)
2) lobisomens d'Aldeia Velha (para quem gosta de cluedos e afins)
3) jogo real de UR, da Babilónia (o mais antigo)
4) cartas (é isso mesmo, o velho baralho de cartas...)
5) surakarta, da ilha de Java
6) shakes up (da família do tangram, com tabuleiro, ampulheta e peças coloridas)
7) traverse (versão práfrentex do jogo das damas)

Leituras: Os matemágicos (de Jorge Nuno Silva e filhos, Apenas Livros, 3€); Jogos velhos, regras novas (João Pedro Neto, Clássica Editora, 13,50€).

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Divagações

Começar um livro no comboio para o Porto com significativo prefácio, «Assim, o romance que o leitor tem entre mãos representa menos uma saga multi-geracional do que uma viagem de descoberta literária. É um romance para quando estamos acordados a meio da noite e um foco de busca percorre o horizonte. É para quando estamos numa sala de espera, preocupados com notícias devastadoras. É para quando estamos resolvidos a nunca mais nos metermos no problema em que nos metemos ontem à noite. É para quando estamos no comboio, entre estações. É para quando estamos sós como nunca estivemos. É para quando nos embriagam as complexas ilusões e ambições de Verão e dançamos na rua. É para quando precisamos de mais testemunhos, de um pouco mais de contexto, a respeito do afecto.» Só podia ser o livro certo.
No Porto, a exposição de Lourdes Castro. Caminho de depuração artística até à obra Peça (c/ Francisco Tropa, 1998): uma mesa, um rolo de lençol branco, projectores. A impressão do que já é incorpóreo. O «negativo» de outro artista, outra exposição, Bartolomeu Cid dos Santos, a sua mesa com roldanas impressoras, o papel saturado de negro até ao limite, a sobreposição de imagens, paisagens, textos.
A demanda da artista vai connosco para fora do museu. Chove e faz frio e a exploração das «novas» ruas da cidade acaba na mais perfeita Pensão/Creperie. A Favorita.
Já em Lisboa, o livro certo termina com conselhos sensatos: «[...] Nunca durmam ao luar. Segundo os cientistas provoca loucura. Cortem o cabelo uma vez por semana. Comam peixe fresco ao pequeno almoço sempre que possível. Mantenham-se sempre aprumados. Apreciem o mundo [...]».
N.B.: O livro certo é de John Cheever, Crónica de Wapshot, Relógio de Água.

Começa-se a cortar e vai tudo a eito, que nem uma bola de neve

«Manifesto critica falta de estratégia cultural em Évora»

Ou se aprofunda este caminho ou continuaremos à mercê dos seus interesses predatórios...

«Proibição dos movimentos especulativos na Alemanha atira bolsas para o vermelho»

Simplesmente ridículo

Depois de uma semana plena de feriados e «pontes» para acolher a visita papal, agora duas deputadas «católicas» do PS vêm propor o fim de 4 feriados e a sua 'substituição' pelo «Dia da Família» (enfim, dalgumas famílias, não deve ser a pensar nas famílias homosexuais).
Dizer o quê? Que os portugueses trabalham mais do que os alemães que, por sua vez, têm mais feriados e não dão sinal de quererem prescindir deles?
Se calhar era melhor começar por certas concessões e certas «tolerâncias de ponto» que só beneficiam alguns.
Já não bastam os cortes que aí vêm?! Os baixos salários? As maiores desigualdades salariais da Europa?

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Henri Cartier-Bresson vive, e a Brigada Lincoln revive.

Foi descoberta uma cópia do documentário "Con la Brigada Lincoln en España" da autoria de Henri Cartier-Bresson. A história está aqui: Cartier-Bresson esteve em Espanha durante a Guerra Civil para realizar filmes de apoio aos Republicanos, dois desses filmes eram já conhecidos, mas um terceiro continuava a ser não mais do que um rumor. Para muitos a existência desse terceiro filme era um mito, uma lenda sem fundamento, mas houve quem continuasse a procurá-lo. O filme retrata a vida da Brigada Lincoln, composta de idealistas estadunidenses, canadianos e britâncios, que lutavam sem uniforme do lado das Brigadas Internacionais republicanas. A cópia foi encontrada na sede dos antigos combatentes da Brigada Lincoln, em Nova Iorque.

terça-feira, 18 de maio de 2010

Hip, hip. Hurray!


segunda-feira, 17 de maio de 2010

Tugalândia, modo de usar

Nb: +inf. sobre o programa em apreço aqui (caso tenha dificuldades em ver o video até ao fim, sugere-se a sua visualização nesta hiperligação).

O que tem que ser tem muita força

Se a ferrovia é prioritária, não deviam cortar isto:

1) melhoria da oferta da rede (com reformulação de horários e redução de transbordos)
2) obras de modernização da linha do Norte (Lisboa-Porto com 1/3 de linha antiga)

O protesto de saias

Skirt Bike 1

Com o objetivo do promover o uso da bicicleta em vez do automóvel, um grupo de 200 mulheres romenas promoveu no último sábado um passeio ciclístico pelas ruas de Bucareste. Até tudo bem não fosse um pequeno detalhe: todas as ciclistas estavam de saias. O evento chama-se “Skirt Bike”, e portanto o uso de saia foi quesito obrigatório. Tai um ideia que deveria ser copiada. É sexy, charmosa, elegante e fundamentalmente ecológica. Fonte

domingo, 16 de maio de 2010

O cinema contra os silêncios políticos

Os filmes incómodos:
Draquila, l'Italia che trema, de Sabina Guzzanti [sobre a farsa da reconstrução da cidade L'Aquilla pós-terramoto e sua encenação para promoção de Berlusconi
Hors-la-loi, de Rachid Bouchareb [polémica sobre episódio da libertação argelina: o massacre de Setif]
O festival que os divulga: Cannes
Uma notícia relativa à perseguição ao segundo filme: «La polémique enfle autour du film "Hors-la-loi"»
Uma intervenção de cientistas sociais sobre as guerras da memória: «Le film "Hors-la-loi" de Rachid Bouchareb : les guerres de mémoires sont de retour»
Uma reportagem que destaca ambos os filmes: «A política meteu-se no cinema», por Vasco Câmara

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Castigo sem crime

«El poder judicial suspende a Garzón y aplaza su salida a La Haya», por Lázaro, Hernández e Altozano

«Un juez ante la historia», por José Antonio Martín Pallín (magistrado emérito do Tribunal Supremo, membro da Comisión Internacional de Juristas)

«CGPJ [Consejo General del Poder Judicial], un órgano lastrado por la política», por Francisco Gor

«Único objetivo: suspender a Garzón», por Araceli Manjón-Cabeza Olmeda (prof.ª de Direito Penal na Universidad Complutense de Madrid)

«"Es un golpe similar al 23-F"»: reacções de juristas, familiares de vítimas e defensores dos direitos humanos

«Garzón suspenso da Audiência Nacional», por Nuno Ribeiro

Saldanha Sanches (1944-2010): sempre irreverente, sempre incómodo

«Saldanha Sanches e as traquibérnias da República», por  Ricardo Noronha

«Viagem ao centro do mundo da Maria José e do Zé Luís», por Anabela Mota Ribeiro

PS: uma boa colecção de textos seus de opinião pode ser consultada aqui.

Mais novas sobre movimentos cívicos

«Foi revogado o regime de excepção da Parque Escolar», por Tiago Mota Saraiva

Se a inconstância pagasse imposto...

«A anatomia de um vaidoso incompetente», por Tiago Mota Saraiva

Novos movimentos cívicos ditam debate parlamentar sobre qualidade de vida das populações vs. interesses económicos

«Linha de alta tensão em Sintra vai hoje à discussão no Parlamento», por Carlos Filipe
«Oposição quer regras para a alta tensão»

Blogofrase da semana

«Queixarmo-nos das sobremesas serem demasiado doces, é como queixarmo-nos de que a nossa mulher é demasiado sexy.»
É da Time Out, e é muito boa. Escrita na crítica ao restaurante alentejano Galito e a propósito, claro está, das sobremesas alentejanas.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Estava tudo a correr tão bem


a belíssima missa no Terreiro do Paço, o cultural encontro no CCB, até que...

Ó Zé, aperta o cinto!

«Taxa adicional de IRS vai vigorar até ao fim de 2011», por Paulo Miguel Madeira

«Comunicado do Conselho de Ministros de 13/V/2010 [com parte sobre PEC 2010-2013: medidas adicionais]»

«Cortes nas autarquias ameaçam "apoio social" às populações»

«Os trabalhadores têm de se indignar: os ricos para serem cada vez mais ricos obrigam os trabalhadores a ficar mais pobres [comunicado de imprensa da CGTP]»

«Não pode ser igual para todos», por Daniel Oliveira

Nb: na imagem, cartoon «Paixão popular», de Rafael Bordalo Pinheiro (para ler a legenda é favor clicar na imagem).

A União Europeia numa encruzilhada

Por fim, a UE aprovou um fundo de estabilização de 750 mil milhões de euros passível de ser utilizado pelos países da União em dificuldades financeiras, o que é uma medida história de aprofundamento da integração europeia. Todavia, de par foi imposto um controlo mais rigoroso dos planos de estabilidade e crescimento de cada Estado-membro, «em particular antecipando e agravando as medidas mais recessivas nos países com maiores dificuldades financeiras». Ora, tal redundará no «mergulho da Eurozona em nova e mais profunda recessão. E como nenhum dos seus membros pode conduzir sozinho o relançamento da sua economia, o que é que nos espera?». Esta é a interrogação de Jorge Bateira, que responde aqui com 3 cenários possíveis. A ler com atenção.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Ainda sobre a mostra «Portugal nas trincheiras»: notas críticas

Há umas semanas atrás falei aqui da exposição «Portugal nas trincheiras: a I Guerra da República», alertando para o seu final eminente. Agora, aproveito para referir uma excelente recensão à mesma por Eduardo Cintra Torres. A crítica começa pela foto que encabeça a mostra, nada representativa por ser mera propaganda, ainda por cima mal conseguida: um solitário soldado na planície de guerra esforçando-se por mostrar contentamento (pela vitória militar). Depois refere-se ao facto da concepção seguir uma linha demasiado conservadora, omitindo a guerra entre alemães e portugueses em Angola e Moçambique, que redundaram em tantas mortes quanto na frente europeia. Na parte literária alude só a 3 escritores recorrentes (Jaime Cortesão, André Brun e Hernâni Cidade), olvidando Augusto Casimiro, António Granjo, Carlos Selvagem e António de Cértima.
Isto dito, a mostra tinha vários pontos de interesse, a começar pela encenação das trincheiras, os sons da guerra, a reconstituição da frente de batalha e a exibição contextualizada de muitos objectos e documentos de soldados e oficiais. Para quem quiser acompanhar os argumentos recomendo a leitura de «Propaganda, 1918» (Público, 7/V, p. 12-P2).
Nb: imagem retirada de Ilustração Portugueza, n.º 464, 11/I/1915 (via blogue Ilustração Portuguesa).

terça-feira, 11 de maio de 2010

Ainda a Feira do Livro de Lisboa

É verdade que este ano, apesar da antecipação não favorecer os passeios de fim de dia, a Feira do Livro de Lisboa está com maior adesão.
Além disso, adaptou-se às crianças e tem uma novidade há muito anseada pelos bibliófilos: a prévia divulgação dos livros do dia!!! Aleluia, meu irmão!!!
Contudo, há aspectos que podiam ainda ser melhorados, a começar pelos livros do dia, pois a pesquisa no site é difícil, para não dizer desencorajadora (e não dá para estar a imprimir listas diárias durante não sei quantos dias a ver se vem lá o tal que queríamos comprar). Devia ser possível fazer pesquisa por autor, tema, género e editora.
Outro ponto são os espectáculos de fado ao ar livre, que não são estimados nem pelos organizadores, pois enquanto aqueles decorrem continua o altifalante irritante a debitar sessões de autógrafos e não sei quê naquela voz inaudível e fanhosa de estação de transportes, calamidade já ironizada oportunamente em filme do sr. Hulot. Seria útil que os promotores vissem este filme.
Também deveria haver mais lugares de descanso e mais espaço entre pavilhões, eventualmente só 3 filas, subindo um pouco mais a feira de ambos os lados. Quanto ao sítio, o Parque Eduardo VII, ainda bem que o mantém, faz sempre bem passear, além da ocasião para espairecer vistas...

Sustentabilidade mundial em xeque: novos dados

«Perda da biodiversidade ameaça o ponto de ruptura, indica relatório das Nações Unidas», por Nicolau Ferreira

Caso Garzón mantém juiz em causa própria

«Juiz Garzón deverá será suspenso nos próximos dias», por Nuno Ribeiro

UNESCO mancha imagem com más companhias

«Críticas à UNESCO e ao Prémio Obiang [nome do ditador da Guiné Equatorial que patrocina um prémio de  Pesquisa em Ciências da Vida]»

Lukánikos, o cão veterano dos protestos

A propósito dos protestos gregos, o jornal The Guardian descobriu uma história fabulosa, a dum rafeiro grego que vai a todos os protestos em Atenas desde 2008, e se coloca sempre do lado dos protestantes. Isso mesmo comprovaram com esta galeria de fotos. Este cão resiste a tudo, desde gás lacrimogéneo a mangueiradas. De dia e de noite, lá está ele. Uma reportagem em tom bem humorado pode ser lida em «El perro 'antisistema'». Aí há outra galeria de imagens e hiperligações para outra imprensa internacional. Sim, porque a admiração pelo canídeo anti-sistema já se espalhou urbi et orbi. O nome Lukánikos significa salsicha, uma alcunha corriqueira. O cão por vezes dá um ar de Rantanplan nas fotos, mas é só o ar, pois a atitude é bem diferente.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

As escolhas dum seleccionador azulado demais

Carlos Queirós anunciou há um pouco os 24 futebolistas que escolheu para o Mundial de África do Sul e o mínimo que se pode dizer é que tomou opções discutíveis. O seleccionador português surpreendou convocando jogadores não esperados, convocando 4 do FC Porto (o maior contingente, incluindo um discutível Rolando e um guarda-redes que sofreu proporcionalmente mais golos do que o do Benfica: cf. aqui) e rejeitando todos os pré-seleccionados do Benfica, excepto Coentrão. De fora ficam jogadores centrais neste Benfica campeão, como Quim, Ruben Amorim e Carlos Martins (além de Nuno Gomes, que jogou menos). Miguel Veloso na vez de João Moutinho também não se percebe. Ver mais em: «Daniel Fernandes, Zé Castro e Ricardo Costa surpresas em lista de 24 convocados» e «Jorge Jesus: “Espero que no fim do Mundial Carlos Queiroz tenha razão”».
ADENDA: vd. ainda «E agora para algo completamente diferente», por Sérgio Lavos.

Joaquim Vital (1948-2010): exilado em Bruxelas e Paris, mentor da Éditions La Différence

A biografia de Joaquim Vital é marcada pela prisão, aos 16 anos, pela ditadura de Salazar. Foge para Bruxelas, e, 7 anos mais tarde, para Paris, onde criaria a editora La Différence, em 1976, já depois de ter voltado a Portugal e de não ter gostado do rumo das coisas. A La Différence editou mais de 1600 títulos, incluindo c. de 120 pertencentes a autores portugueses, o que significa uma impressiva divulgação da literatura portuguesa em França. Foi ainda autor de 4 livros, dispersos pelo ensaio, memórias e ficção (vd. aqui).

+inf. em «Joaquim Vital: literatura portuguesa em França era com ele», por Vítor Belanciano; e «Joaquim Vital (1948 -2010)», por Maria Luiza Rolim.

Vermelho, Vermelhaço, Vermelhusco, Vermelhante, Vermelhão

domingo, 9 de maio de 2010

Para quê o Papa se temos o Jesus e ainda por cima sem custos?

O troféu (campeão português de futebol pela 32.ª vez), a festa e a iconografia
(ah, e o hino original, uma relíquia!)
Para a próxima época, cá esperamos melhor Europa!!

Disse há 7 anos mas não o fez há 20, e dirige-se a Alegre qual frei Tomás

*
e o recado a Manuel Alegre, para confrontar com a pouco discreta investida anterior: «"Não devo interferir na governação", diz Cavaco Silva».


sábado, 8 de maio de 2010

Até que enfim alguma cenoura...

«Eurolândia cria mecanismo permanente de socorro aos países em dificuldades»

A teologia da metralhadora

la pedrita

A Igreja Católica venezuelana condenou um mural que mostra o Menino Jesus com um fuzil, acompanhando da Nossa Senhora de Coromoto, padroeira da Venezuela, instando os católicos a repudiar o uso de figuras sagradas com fins políticos e de violência.

O polêmico grafite está pintado numa parede do bairro 23 de Janeiro, um dos mais pobres e perigosos de Caracas e contém ainda a expressão “La Piedrita, venceremos” em alusão a um grupo armado simpatizante do presidente Hugo Chávez que reside na localidade.

“Manifestamos o mais firme repúdio por este uso indevido de imagens para fins políticos e de violência. A arte é para elevar e promover o gosto pelo belo não pela violência nem pela morte”, disse o cardeal Jorge Urosa Sabino, arcebispo de Caracas.

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Anoribal, o contrabandista louco

Um dia Deus deu um traque e houve neve.

António Moreira, o louco da Bismula, conhecido pelo Anoribal, viu os campos todos brancos e disse no largo da aldeia
Hoje vou fazer contrabando de cães, quem quer vir comigo?
Passou diante da casa do senhor Mendes que tinha ideias da Rússia, toda a gente sabia e disse
Cão munista
Nisto ouviu um cão a ladrar para os lados do Escabralhado
É um cão positor
Chegou a casa e viu o pai cansado a comer uma cebola
Ó cão ponês, conheces algum cão terrâneo que queira vir comigo às Batocas apanhar um cão estipação.
O pai não tinha cães e pôs-se a chorar.
Manuel da Silva Ramos,
Três vidas ao espelho, P. D. Quixote, 2010, p. 114.

O patinho feio da política museológica não se dá por vencido

«Amigos do MNA avançam com acção popular contra mudança», por Alexandra Prado Coelho

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Preguiça editorial



















Eu queria o da esquerda, mas na confusão da barraquinha na Feira do Livro, quase ia comprando o da direita. Será este um caso de descubra as diferenças?
É verdade que a preguiça editorial é, geralmente muita: pouca informação sobre os autores e os livros, ausência de notas de tradução, onde, muitas vezes, são precisas (talvez mesmo ausência de tradução), revisão duvidosa, mas agora até já chegou às capas.

Descoberto o Neandertal que há em nós...

O debate durou anos: o homem moderno (nós) e o Homem de Neandertal, hoje extinto, ter-se-iam cruzado e procriado juntos – ou não? Hoje a questão foi definitivamente arrumada pela genética, com a publicação na "Science" do primeiro rascunho do genoma dos Neandertais. A resposta? Sim!

Bracarenses defendem património da sua cidade e do país

Orçamento participativo de Lisboa: melhorias ainda insuficientes

«Orçamento participativo deixa de ser exclusivo da Net», por Inês Boaventura

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Pensar o socialismo, hoje


O ciclo de conferências «Pensar os pensadores do socialismo», organizado pela Cultra, propõe-se apresentar alguns dos nomes sonantes do pensamento socialista mundial: Marx, Lenine, Trotsky, Rosa Luxemburgo, Antonio Gramsci e Mao Tsé-Tung. Começou este mês e decorre até 8 de Junho, às 3.ªs, às 21h, na liv.ª Ler Devagar da Lx-Factory, em Lisboa.

A vida cultural na Lisboa da I República, & etc.


A vida cultural na Lisboa da I República é o título do colóquio que se realiza a 7-8 deste mês nos paços do concelho de Lisboa (salão nobre) e onde participarão Raquel Henriques da Silva, Cecília Barreira, António Ventura, António Gomes, Daniel Pires, Tiago Baptista e Mário Vieira de Carvalho, entre outros.
No mesmo espaço, abriu anteontem a mostra «O jogo da política moderna!», com desenhos humorísticos e caricaturas da I República, encerrando a 23/IX (vd. +inf. aqui).

terça-feira, 4 de maio de 2010

Alegre já é candidato suprapartidário, e aliado e companheiro de viagem, de quem se quiser juntar e de Antero de Quental

Actualidade do conceito de democracia de Antero de Quental: «É a igualdade económica e social tendo por instrumento a liberdade política».

Actualidade da sua ideia de tolerância: «Não pretendemos impor opiniões, vimos simplesmente expor as nossas; não pedimos adesão, pedimos apenas discussão».

Actualidade e modernidade de Antero, quando nos alerta para os riscos da indiferença em política: «Um dos piores sintomas de desorganização social que num povo livre se pode manifestar é a indiferença da parte dos governados para o que diz respeito aos homens e às cousas do governo. Um povo de dormentes só no cemitério se encontrará».

Actualidade e modernidade de Antero quando nos adverte para o perigo dessa doença chamada atonia: «No mundo político manifesta-se pelo abatimento de todos os centros locais, pelo desaparecimento de qualquer iniciativa independente da direcção oficial, pela substituição de um mecanismo superficial e mesquinho à bela e rica manifestação espontânea das forças livres e originais, pelo arrefecimento, pelo empobrecimento da vida nacional, em proveito de uma coisa falsa, artificiosa e estéril, a centralização».

Modernidade e actualidade de Antero quando a si e aos seus deste modo se define: «Como homens de acção a nossa divisa é esta: crítica e reforma das instituições, paz e tolerância aos homens».

(retirado daqui, excepto o título do post, claro; informação sobre o discurso aqui)

É controverso e tem a sua ironia: se calhar no próximo censo já não haverá tanta gente a dizer-se católica...

Os trabalhadores do sector privado que tenham de faltar devido ao encerramento de escolas no dia 13 de Maio [3.º dia da visita do Papa a Portugal] terão de perder um dia de férias ou um dia de salário [vd. «Escolas fechadas: pais têm de perder um dia de férias ou de salário»]

O pior é para quem não se assume como católico...

O pior powerpoint de sempre:


Da praga do powerpoint à estratégia de guerra dos EUA no Afeganistão também tinha dado um bom título. Parece mentira mas é verdade, é mesmo um documento oficial, e, segundo o general que o apresentou, está aí a chave para a vitória...

Que mais dizer? Boa sorte para a charada?

Nb: via Vento Sueste, por sua vez via Flip Chart Fairy Tales e New York Times.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Um passo inteligente: a regionalização cultural

A sul, o apoio do Ministério da Cultura à rede museológica pára por alturas de Évora. Por isso, e porque um conjunto alargado de actores institucionais do Algarve descobriu que a difusão cultural tem potencial económico e identitário, 13 municípios algarvios resolveram juntar esforços e vontades. Neste sentido, criaram uma rede museológica regional (em X/2007) e lançaram agora a primeira mega-produção, «Algarve - do Reino à Região: mil anos de história e cultura algarvia», que se desdobra por 13 mostras simultâneas distribuídas pelos museus envolvidos. Um dos principais promotores é o director do Museu de Portimão, José Gameiro, museu este que ganhou o prémio de melhor museu europeu 2010, tal como referi aqui.
Estranhamente ou não, o programa oficial Allgarve não apoia esta mostra nem a Rede de Museus do Algarve, sob o pretexto de que apenas apoia a arte contemporânea... Ainda há algumas arestas a limar, mas é bem melhor assim do que nos ficarmos pelo lamento quanto à indiferença atávica do Terreiro do Paço...

A saúde pública, novamente

É este tipo de coisas que acaba por dividir as pessoas comuns e comprometer o serviço público... ainda por cima, entrando em jogo uma pública Caixa Geral de Depósitos. Não seria melhor nivelar por cima os salários, acabar com a promiscuidade público-privado e com o abuso das horas extraordinárias?

Cá ficamos a aguardar as acções concretas

«Ministra da Economia de França quer controlar agências de notação» (um título muito sensacionalista, dado o fraco sumo do que vem lá dentro, frainchement!)

«Comissão Europeia ameaça agências de rating com criação de agência central»

Tour-de-force de Fausto no Festival Música e Revolução

«Fausto: a cantiga ainda é uma arma», por João Pedro Barros

domingo, 2 de maio de 2010

Grupo de Acção Cultural: a música da revolução

Há alguns meses que queria escrever sobre este grupo que juntou parte dos melhores músicos dos anos 70, com José Mário Branco à cabeça, num projecto de composição e canto colectivo no período revolucionário. Agora surgiu o pretexto ideal: a publicação em 4 cd's da discografia (quase) completa, i.e., abrangendo os 4 lp's saídos entre 1974 e 1978: «A cantiga é uma arma», «Pois, canté!», «Vira bom» e «Ronda da alegria!!» (chancela da i play). Toda a informação sobre esta edição atribulada mas de grande oportunidade musical aqui. E digo oportunidade dado o contexto actual de recuperação da memória de tempos cidadãos (incluso nos concertos Três Cantos) e porque as novas gerações estavam sem acesso a essas músicas, uma vez que só existia edição em vinil (e umas quantas audições fanhosas no youtube, como esta, esta e esta).

sábado, 1 de maio de 2010

Slogans velhos mas certeiros