domingo, 22 de abril de 2007

Literatura em estado líquido

Acreditam alguns islâmicos, creio que do Sudão, que se um sábio copiar determinadas suras do Livro e, se depois, mergulhar esse papel em água para que a tinta se dilua, obterá uma bebida com poderes curativos.
Gostava de aplicar tão poética ideia às comemorações do Dia do Livro (e de vos propôr o exercício). Embora já com poucos sábios, talvez se pudessem encontrar algumas cópias manuscritas que transformadas em beberagem, nos tansmitissem, por ingestão, o espírito das obras. Teríamos, assim, bebidas Paul Auster para vermos um significado no quotidiano, Amélie Nothomb para não vermos qualquer significado; J. D. Salinger para nos deprimir, David Lodge para nos alegrar; Raymond Carver para sermos concisos, Javier Marías para sermos prolixos; S. João da Cruz para o misticismo, Tom Wolfe para o cinismo; Duras para nos apaixonarmos, Bret Easton Ellis para ficarmos indiferentes.
Imagem: Knowing I lov'd my books he furnished me from my own library with volumes that I prize above my Dukedom. Propero's books de Peter Greenaway.

2 comments:

Anónimo disse...

Mas os bons livros não são aqueles que nos transmitem o seu espírito sem ser necessário transformá-los em beberagem?

Sofia Rodrigues disse...

Estava a aplicar uma imagem que considero muito bonita à leitura. Utilizei a palavra «beberagem» no seu sentido de «bebida curandeira» e não num sentido pejorativo de bebida desagradável.
Claro que os bons livros nos transmitem o seu espírito, mas aqui queria enfatizar a ideia da ingestão, do nosso organismo poder ficar embebido de literatura.