segunda-feira, 23 de abril de 2007

Propostas aceitam-se

Para mostrar que não me é indiferente a questão do desemprego dos licenciados, estou disposto a encetar uma discussão mais a sério sobre ela. Na semana passada houve muito barulho sobre este ponto, mas ninguém forneceu medidas para a resolver...
A caixa de comentários aqui em baixo está aberta a quem quiser oferecer medidas para que resolver o problema da mão-de-obra qualificada (ali deve ler-se: medidas credíveis e exequíveis. Mas isso depois fica para a discussão). Se o problema é tão grande e preocupação das pessoas enorme, então a vontade de o resolver deve ser bem intensa, e a imaginação colocada em prática mais vasta ainda.

8 comments:

Miguel Madeira disse...

“A caixa de comentários aqui em baixo está aberta a quem quiser oferecer medidas para que resolver o problema da mão-de-obra qualificada”

Bem, eu não considero que o desemprego da mão-de-obra qualificada seja um problema especifico, mas apenas um sintoma do problema geral do desemprego/subemprego (a minha linha é “se até os trabalhadores qualificados tem dificuldade em arranjar emprego, como será para os outros?”). E soluções para reduzir o desemprego? Tenho uma proposta e meia:

Por um lado, a UE passar a ter uma política comum de estabilização macro-económica (um primeiro passo poderia ser, simplesmente, deixar de ter uma política comum de desestabilização macro-económica, como é o actual PEC)

Por outro lado, talvez a redução do horário de trabalho reduza o desemprego (esta é a meia proposta – os efeitos a curto prazo da redução do horário de trabalho sobre o desemprego são ambivalentes, e deveria ser feito um estudo prévio para estimar as suas possiveis consequências)

Hugo Mendes disse...

"(a minha linha é “se até os trabalhadores qualificados tem dificuldade em arranjar emprego, como será para os outros?”)."

Não necessariamente; num dado momento - mesmo que no futuro venha a ser radicalmente diferente - o mercado de trabalho pode ser perfeitamente capaz de absorver mais mao-da-obra não qualificada. Em Portugal esta capacidade de absorção foi boa até há uns anos.

"talvez a redução do horário de trabalho reduza o desemprego"

A medida é boa na teoria, na aplicação eu não acredito nisto: veja-se o que aconteceu em França, onde ela beneficiou - como sempre... - a classe média e média-alta e colocou maior pressão sobre os que têm que trabalhar mais porque os outros trabalham menos. Ou há uma medida de redução para todos ou então não. E como reduzir para todos me parece muito difícil, e sem qq efeito provado na redução do desemprego global, não me parece que esta seja uma saída viável.

Zèd disse...

Eu gostava de saber um pouco mais sobre a dimensao do problema. Talvez alguem me saiba informar. Quantos licenciados estao ainda no desemprego 3 anos depois de concluirem a licenciatura? Quantos continuam a ter empregos abaixo do seu nivel de qualificação 5 anos, ou 10 anos de dpois de terminarem o curso? Não sera o problema apenas uma fase transitoria no processo de integração dos licenciados no mercado de trabalho? Se, for esse o caso, sera um problema assim tão grave para o pais?

Hugo Mendes disse...

Zèd, dados que permitem uma comparação de Portugal com a UE estão aqui, no terceiro quadro:

http://avezdopeao.blogspot.com/2007/04/claro-que-compensa-daniel.html

Quanto ao resto das tuas perguntas, que são centrais para obter uma imagem do problema - antes de exigir politicamente o que quer que seja -, desconheço, pessoalmente, se há estudos, nomeadamente longitudinais, sobre a matéria. Tenho (temos todos, provavelmente) de ir fazer um bocado de TPC :)

Hugo Mendes disse...

Miguel, explica lá melhor essa da "política comum de estabilização macro-económica" :)

Miguel Madeira disse...

«Miguel, explica lá melhor essa da "política comum de estabilização macro-económica" :)»

Em economias bastantes abertas ao exterior e sem uma moeda própria, como são as de grande parte da UE, as receitas keynesianas tradicionais são difíceis de aplicar (mesmo que não existisse o PEC) - o resultado de uma politica de estimulo à procura (se feita apenas por um só país) acaba por ser, em grande parte, apenas mais importações (nomeadamente dos países ao lado).

Assim, acho que é necessário uma politica macro-económica comum na UE (já existe em parte essa politica, através do BCE, mas são os seus próprios estatutos que dizem que a sua função é, apenas, garantir a estabilidade dos preços, ao contrário do FED norte-americano, que tem também por função promover o emprego).

Hugo Mendes disse...

"já existe em parte essa politica, através do BCE, mas são os seus próprios estatutos que dizem que a sua função é, apenas, garantir a estabilidade dos preços, ao contrário do FED norte-americano, que tem também por função promover o emprego"

Sendo que isso implicava retirar autonomia aos Estados da UE no desenho das suas políticas macroeconomicas, é essa a - ou umas das - consequência(s)?

Miguel Madeira disse...

"sendo que isso implicava retirar autonomia aos Estados da UE no desenho das suas políticas macroeconomicas"

OS Estados já perderam a autonomia de politicas macroeconómicas - a politica monetária, perderam-na com o euro (pelo menos, os que aderiram ao euro); a politica orçamental com o PEC.

Agora, como poderia funcionar uma politica macro-económica coordenada? Várias hipoteses:

a) A mais simples era o BCE, alêm de ter metas para a inflacção na zona euro, passar a ter também metas para o desemprego

b) Poderia haver o sistema de, todos os anos, antes de serem aprovados os orçamentos de cada pais, serem estabelecidos niveis máximos e minimos paras os deficits orçamentais de cada pais, sendo esses limites alterados de acordo com a situação económica europeia

c)Em vez dessa politica macro-económica pan-europeia ser feita pelos orçamentos nacionais, poderia ser feita pelo orçamento comunitário; isso implicaria que este podesse ser deficitário, o que acho que não acontece agora (penso que a UE, actualmente, não se pode endividar, apenas os Estados que a constituem).