sexta-feira, 13 de junho de 2008

Os 120 anos de Pessoa e o segredo da juventude

«Sou um ano mais velho do que o seu correspondente e sinto-me jovem pelas razões exactamente opostas às dele. Tenho trinta e oito anos e sinto-me mais novo cada ano, porque todos os anos estou mais próximo de nunca ter realizado coisa alguma na vida. A realização envelhece-nos. Tudo tem o seu preço; o preço da realização é a perda da juventude. Só a falta de objectivos e um modo de vida inconsequente – se a palavra “modo” pode ser aplicada a uma tal ausência de rumo – nos mantêm jovens. Não me casei e por isso mantive-me livre tanto dos prazeres especiais como dos cuidados próprios dessa espécie de parceria; e o bem e o mal desse estado são igualmente envelhecedores. Nunca assentei numa profissão ou num rumo de vida, nem sequer numa opinião que durasse mais que o minuto passageiro em que foi defendida. Nunca tive uma ambição que um belo dia (e Lisboa tem sobretudo dias belos, em todas as estações) ou um vento leve não dissipassem e reduzissem a um sonho agradável e acidental. Nunca fiz um esforço real atrás de coisa alguma, nem apliquei fortemente a minha atenção excepto a coisas fúteis, desnecessárias e ficcionais. Sinto-me jovem porque tenho vivido desta maneira.»

ZENITH, Richard (Edição), Cartas. Obra Essencial de Fernando Pessoa, Lisboa, Assírio & Alvim, 2007, pp. 274-275.

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