quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Desfazendo equívocos, a propósito de Maria Keil e duma recente polémica

O metro de Lisboa tem uma das colecções de arte pública mais singulares entre todos os metros do mundo, com os seus painéis de azulejos revistindo as suas estações, da autoria de vários artistas portugueses e estrangeiros. A ideia original foi do arq. Francisco Keil do Amaral, que pediu à sua esposa, a artista plástica Maria Keil, uma intervenção artística nas estações inaugurais, obra que executou gratuitamente. Posteriormente, foram convidados outros artistas, até que, há c. de 9 anos, alguns dos painéis de Maria Keil foram destruídos pela administração da empresa, aquando da renovação da estação dos Restauradores. A memória e arte desta prestigiada artista estiveram em vias de ser sacrificadas por uma administração sem gratidão nem visão. Dada a gravidade de tal atitude, houve uma campanha contra isso, o que levou a um repensar da questão pela empresa que, entretanto, convidou Maria Keil para renovar os painéis que fizera na estação de S. Sebastião da Pedreira.
Neste Agosto, a questão ressurgiu, parcialmente em equívoco, através da blogosfera, e que a Júlia Coutinho oportunamente desfaz, neste seu recente post. Nesse contexto, foi lançada esta petição, que exorta "o Conselho de Gerência do Metropolitano de Lisboa a, rapidamente, diligenciar obter os desenhos dos painéis destruidos e mandar executar, à empresa que produziu (Viúva Lamego) novos painéis" e reclamando uma indemnização para a lesada. Como a autora não pretende ser ressarcida, esta última parte está arrumada. Como recém-subscritor de tal petição (já quase com 2500 assinantes), e para desfazer possíveis equívocos, devo aditar que a responsabilidade daquela destruição não cabe à actual administração, embora esta devesse proceder à salvaguarda de cópia de tais painéis (e respectiva documentação), pois como refere Rini Luyks: "sabemos agora quais são os estragos, mas o Metro ainda não assumiu nenhuma culpa por incúria". Como sugestão pessoal, uma amostra dessa cópia poderia ser emprestada ao Museu do Azulejo, dando-lhe assim a visibilidade que merece.
Nb: imagem de pormenor de painel de Maria Keil retirado daqui.

5 comments:

Sofia Rodrigues disse...

Ainda bem que falaste deste caso (eu também o queria fazer, mas acho que foi impedida pela preguiça de início do ano ;-), porque com referes ele é só parcialmente um equívoco. Por não ter sido esta administração, ou pelo caso ter ocorrido há 10 anos, não o torna menos grave e não justifica que ainda nada tenha sido feito, para, de algum modo emendar o vandalismo cometido. Temo que, pelo meio, esteja esta visão mercantilista da arte, a artista nem cobrou pelo seu trabalho, logo não deve valer muito, e até era mulher do arquitecto, logo fica um assunto doméstico.

Júlia Coutinho disse...

Daniel,
Lê a carta do Pitum Keil do Amaral que publiquei ontem no meu blog.
Acho que nada pode ser mais claro.
O problema fundamental neste momento é que uma senhora de 94 anos, a Maria Keil, está neste a ser incomodada e infernizada por uma polémica pública que não desencadeou nem quer. Chegam a telefonar-lhe a pedir para também assinar a dita petição!
Acho que uma artista como ela nos devia merecer maior respeito.

Anónimo disse...

muito oportuno. Pequena correcção: a estação de S. Sebastião tem o mesmo nome. Palhavã é agora Praça de Espanha. Uma alteração sem proveito tal como a Rotunda, o Socorro e, principalmente, Sete Rios que agora é Jardim Zoológico, que fica em Sete Rios onde há a estação ferroviária de Sete Rios, o terminal rodoviário e as paragens de autocarros de Sete Rios, o centro de Saúde, etc., etc. Isto não são só cá coisas... gmr.

Daniel Melo disse...

Júlia e gmr, só agora vos posso responder. Já li e recomendo aos leitores a leitura do teu post (http://ascausasdajulia.blogspot.com/2008/09/mensagem-do-pitum-filho-de-maria-keil.html). Parece-me que não contradiz nada do que escrevi. Quanto às revisitações críticas de assuntos controversos, muitas vezes elas sucedem de modo irreprimível, e é saudável que haja debate e esclarecimento num país muito avesso ao escrutínio público.
Gmr, tens razão, foi um lapso, já corrigi. E, concordo, deviam ter mantido os nomes antigos das estações de metro.

Unknown disse...

finalmente, alguém que põe o link devido para a minha fotografia. com esta "polémica" toda fartei-me de ver duas das minhas fotografias a passear por blogs alheios sem uma única referência.