«...Continua a discussão sobre a campanha "este é o não-sei-quantos que não acabou os estudos". Ainda ninguém sugeriu que ela deveria pura e simplesmente ser retirada e apresentado um pedido de desculpas pelos responsáveis. Que eu saiba o classismo - e então oficial! - também está implicitamente proibido no artº 13º da Constituição. E já algum jornal confrontou os responsáveis?»
Miguel Vale de Almeida, n'Os Tempos que Correm
O Zèd dizia, lá atrás, que à distância, esta polémica lhe parecia surreal. Eu confesso que, depois do que tenho visto, já nada me espanta. Mas esta ideia de que a campanha do 'Novas Oportunidades' é "inconstitucional" está, para já, no topo das coisas inacreditáveis que para aí tenho lido (e falo de pessoas por quem tenho estima intelectual).
O 'classismo' de todos os dias, reproduzido no mercado de trabalho, tão brutal como invisível, esse, não interessa. O que interessa mesmo é que, quando alguém alerta para o problema para melhor lutar contra ele, ah, aí não, o 'classismo' tem de ser encoberto, escondido...
Não sei se o Zèd concorda com esta co-optação, mas o que ele escreveu é bom demais para ficar ali escondido na caixa de comentários:
"Que o discurso do pobre mas honrado venha de uma direita reaccionária não me espanta, mas que venha da esquerda que se quer igualitária é que já me surpreende mais. Esse romantismo "da gente que trabalha uma vida inteira" é apenas um equívoco, é contra isso que a esquerda deveria lutar. Qual é a dignidade ou a honra de se trabalhar uma vida inteira, mal pago, sem sequer ter usufruido de um dos direitos fundamentais que assiste a um cidadão: o direito à educação? O que é que deve ser valorizado pela esquerda?"
Desta - do Miguel Vale de Almeida - e doutras contribuições para o debate, eu retenho pelo menos duas coisas:
- que o síndroma do "politicamente correcto" está longe de se resumir às questões "culturais".
- que os gostam de protestar tantas vezes contra a indiferença da "esquerda caviar" são os que mais desvalorizam o que de mais valioso os trabalhadores não-qualificados podem adquirir e fazer toda a diferença no seu percurso profissional. Ai, uma qualificação, um diploma, que coisa tão 'rasteira'!
P.S. - Já agora gostava de saber se as pessoas se apercebem que dizer que tudo se resume a "arranjar o canudo" revela um reaccionarismo não apenas impressionante como, sobretudo, perigoso, porque mascarado de radicalismo progressista; e gostava de fazer um estudo para ver a correlação entre os que reproduzem este discurso e o seu grau de escolaridade. Talvez se concluísse que os que devem o seu estatuto profissional e/ou social, em grande medida, à posse do dito gostam particularmente de fazer uso do argumento do "canudo".
quarta-feira, 18 de abril de 2007
Para o Tribunal Constitucional, já!
Posted by Hugo Mendes at 03:20
Labels: desigualdades, Novas Oportunidades, qualificações
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3 comments:
Podes co-optar à vontade Hugo, mantenho o que escrevi.
Pois Hugo, é por estas e por outras (o Arrastão sobre Sócrates e o governo, p.ex.) que o BE é tão fiável como o PCP para quem quer uma política de esquerda para Portugal.
Seria aliás um post interessante para o ladob, ver como a derrota dessa «esquerda» significa progresso (vide o último referendo) e a sua exuberância significa derrota para políticas de real esquerda progressista (vide o referendo à IVG de 1998)...
"é por estas e por outras que o BE é tão fiável como o PCP para quem quer uma política de esquerda para Portugal"
Sem dúvida...
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