Passamos a vida a levar com campanhas de "sensibilização" alertando para a importância de uma alimentação saudável. Talvez o problema não seja falta de sensibilidade. Uma alimentação saudável custa caro, e cada vez mais caro (pelo menos em França a fruta e os legumes são os que mais têm encarecido). O poder de compra, esse está em baixa, e a correlação entre a má nutrição e a pobreza é fortíssima.
segunda-feira, 9 de junho de 2008
É a bondade do mercado a funcionar II
Posted by Zèd at 10:21
Labels: combate à pobreza, crise económica, neoliberalismo, Saúde, saúde pública
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7 comments:
O problema é mais de educação do que de dinheiro.
As pessoas que preferem um hamburger, ou uma pizza plastificada, a meio quilo de sardinhas não estão a poupar.
O mesmo se aplica a quem prefere um Ice Tea açucarado a um copo de tinto.Etc, etc, etc...
Sejamos rigorosos...
O MacDonalds, nos EUA, tem hamburgers a $1. Quem não tem dinheiro pode fazer uma refeição equilibrada com $1, ou vai ao MacDonald's?
Sejamos rigorosos, por exemplo:
http://www.who.int/bulletin/volumes/86/4/07-044800/en/
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/17964317?ordinalpos=3&itool=EntrezSystem2.PEntrez.Pubmed.Pubmed_ResultsPanel.Pubmed_RVDocSum
E o FPR, em que se baseia para dizer que o problema é a educação mais do que dinheiro?
Caro f.
Pode ser um fenômeno cultural entre os mais ricos, porém entre os mais pobres a situação é bem outra. Há inúmeros estudos que confirmam que a obesidade tem crescido em países mais pobres. Um paradoxo? Não, pois a “dieta” alimentar das pessoas de baixa renda é caracterizada pela seleção de alimentos baratos, onde o consumo de frutas e hortaliças se torna incompatível com o seu poder de compra. Não têm alternativa senão a de consumir alimentos de alto valor calórico e de baixo valor nutritivo: ou seja, consomem apenas o necessário para sobreviver.
Pensava que tinha sido até bastante claro. Mas repito sob outra forma:
1. A maior parte das pessoas que faz uma alimentação errada não o faz, no essencial, por razões económicas. Essas práticas podem ser observadas até nas famílias com altos rendimentos. Estou a falar de Portugal.
2. Não há em Portugal pessoas a morrer de fome e é ridículo, com o que se passa por exemplo em África, argumentar como se tal acontecesse.
Felizmente somos um país onde há alimentos de alta qualidade nutricional a preços muito baixos.
Foi como exemplo que referi as sardinhas que comprei há dias no mercado a 3 euros o quilo.
3. As quantidades de comida que são desperdiçadas todos os anos em Portugal é gigantesca.
Milhões de quilos de fruta, por exemplo, caem das árvores e apodrecem no chão sem qualquer utilidade.
Não há nenhuma instituição que se preocupe em recolher esses produtos pois não há quem esteja suficientemente necessitado para se dar a esse esforço. Estou convencido de que a maior parte dos donos das terras não se oporiam se tal lhes fosse proposto.
Deixe-mo-nos de teorias e regressemos à terra.
Caro f. Penim Redondo,
Agradeço os seus comentários.
Como deve ter reparado o meu post não referia apenas, nem sequer principalmente, a Portugal. Dai até como exemplo o caso francês, mas o problema é global. Se quiser falar apenas do caso português é consigo.
Não me preocupo apenas, aliás preocupo-me muito pouco, com quem tem dinheiro para fazer uma alimentação de qualidade mas não o faz. Se se preocupas com esses, é consigo. Eu preocupo-me é com quem tem poucos rendimentos e por isso tem que fazer uma alimentação pobre em nutrientes e rica em calorias, como refere o Manolo. Não é preciso estar numa situação extrema de fome para se ser obrigado a fazer estas escolhas. Uma franja muito grande, demasiado grande da população portuguesa é suficientemente pobre para isso (se quiser estudos empíricos sobre a pobreza em Portugal pode dar uma vista de olhos nos blogues "ladrões de bicicletas" ou "pensamento do meio-dia", por exemplo).
Não posso deixar de ficar perplexo com o seu "Deixe-mo-nos de teorias e regressemos à terra."
Eu esforço-me por sustentar o que digo com dados empíricos que referi no post e no comentário acima. Já o FPR, não faço ideia onde foi buscar os seus dados (algum estudo que andou a ler?), e assim de repente parece-me até "conversa de café" (para não dizer de taxista). Não sei a que terra quer que regressemos...
Não sei se você vive dentro de um laboratório, eu não.
Como já devia saber há estudos para todos os gostos e, em geral, eles dizem aquilo que os autores ou mandantes gostam de ouvir.
Por isso, ao fim de muitos anos, aprendi a lê-los com bastante distanciamento e a filtrá-los com aquilo que a experiência me ensina.
Não vou no entanto maçá-lo com as razões pelas quais considero improváveis os números sobre a pobreza que têm recentemente estado na berra.
Talvez noutra altura.
P.S.
O seu post põe em causa, sem razão, as campanhas de sensibilização para a "educação alimentar". Pelo menos para os tais que a si não preocupam, elas podem ser bem úteis.
Talvez não tenha pensado nisso mas uma pessoa pelo facto de ter o frigorífico cheio não deixa de ser um cidadão e um ser humano.
As pessoas como você não poderiam viver numa sociedade sem pobres pois perderiam a razão de existir.
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