A revista New England Journal of Medecine (a revista médica internacional mais cotada nos rankings de publicações científicas) acaba de publicar um estudo de saúde pública em que analisa o impacto das desigualdades socio-económicas na saúde. Foram estudados 22 países europeus, e o principal indicador utilizado foi a taxa de mortalidade.
Não é muito surpreendente que o estudo conclua que os grupos mais desfavorecidos tenham maiores taxas de mortalidade. Nunca é demais repeti-lo: a pobreza mata. No entanto o estudo vai mais além, e é isso que é mais interessante, no estudo das causas destas desigualdades. A primeira conclusão é que as desigualdades socio-económicas têm um impacto muito diferente na mortalidade consoante os países. Assim na Suécia e na Grã-Bretanha (i.e. Inglaterra e Gales, a Escócia não faz parte do estudo) são os países onde as desigualdades menos impacto têm na mortalidade. Curiosamente são países onde existe um sistema de saúde público e universal. No polo oposto, é em países do leste da Europa e Báltico que é maior a diferença na mortalidade entre grupos socio-económicos.
Este estudo analisa vários factores que podem contribuir para o impacto das desigualdades nas taxas de mortalidade (e.g. alcoolismo, tabagismo, obesidade). Desses factores a análise feita determina que um dos factores que mais peso tem é o acesso a cuidados de saúde, daí a necessidade de um sistema de saúde universal. O que me parece também bastante relevante, é que a consciência para os problemas de saúde aparece também como um factor determinante. Ou seja capacidade das pessoas diagnosticarem os seus próprios problemas de saúde (o "self-acessement") é menor nos grupos mais desfavorecidos, e isso causa uma maior taxa de mortalidade nestes grupos. Quer isto dizer que é uma questão de educação. As populações mais desfavorecidas parecem não ter consciência dos seus próprios problemas de saúde, e talvez procurem menos os cuidados médicos quando deles precisam. Os outros factores analisados parecem ter pouco peso, no que respeita às desigualdades.
No caso de Portugal, é dos países onde são detectadas maiores desigualdades em termos de educação e de rendimentos. É também dos países onde as desigualdades socio-económicas têm uma maior correlação com a obesidade (especialmente nas mulheres), mas por outro lado é dos raros países onde existe uma correlação negativa com o tabagismo (os mais pobres fumam menos, especialmente as mulheres). Finalmente em Portugal, apesar das desigualdades nos rendimentos e na educação, as desigualdades socio-económicas têm um impacto relativamente reduzido na mortalidade comparado com outros paíes (anda lá pelo meio da tabela). Talvez o sistema de saúde português não seja tão mau quanto isso, e consiga atenuar o impacto das desigualdades socio-económicas na saúde.
Não é muito surpreendente que o estudo conclua que os grupos mais desfavorecidos tenham maiores taxas de mortalidade. Nunca é demais repeti-lo: a pobreza mata. No entanto o estudo vai mais além, e é isso que é mais interessante, no estudo das causas destas desigualdades. A primeira conclusão é que as desigualdades socio-económicas têm um impacto muito diferente na mortalidade consoante os países. Assim na Suécia e na Grã-Bretanha (i.e. Inglaterra e Gales, a Escócia não faz parte do estudo) são os países onde as desigualdades menos impacto têm na mortalidade. Curiosamente são países onde existe um sistema de saúde público e universal. No polo oposto, é em países do leste da Europa e Báltico que é maior a diferença na mortalidade entre grupos socio-económicos.
Este estudo analisa vários factores que podem contribuir para o impacto das desigualdades nas taxas de mortalidade (e.g. alcoolismo, tabagismo, obesidade). Desses factores a análise feita determina que um dos factores que mais peso tem é o acesso a cuidados de saúde, daí a necessidade de um sistema de saúde universal. O que me parece também bastante relevante, é que a consciência para os problemas de saúde aparece também como um factor determinante. Ou seja capacidade das pessoas diagnosticarem os seus próprios problemas de saúde (o "self-acessement") é menor nos grupos mais desfavorecidos, e isso causa uma maior taxa de mortalidade nestes grupos. Quer isto dizer que é uma questão de educação. As populações mais desfavorecidas parecem não ter consciência dos seus próprios problemas de saúde, e talvez procurem menos os cuidados médicos quando deles precisam. Os outros factores analisados parecem ter pouco peso, no que respeita às desigualdades.
No caso de Portugal, é dos países onde são detectadas maiores desigualdades em termos de educação e de rendimentos. É também dos países onde as desigualdades socio-económicas têm uma maior correlação com a obesidade (especialmente nas mulheres), mas por outro lado é dos raros países onde existe uma correlação negativa com o tabagismo (os mais pobres fumam menos, especialmente as mulheres). Finalmente em Portugal, apesar das desigualdades nos rendimentos e na educação, as desigualdades socio-económicas têm um impacto relativamente reduzido na mortalidade comparado com outros paíes (anda lá pelo meio da tabela). Talvez o sistema de saúde português não seja tão mau quanto isso, e consiga atenuar o impacto das desigualdades socio-económicas na saúde.
2 comments:
Zed
discordo:
basta ler o abstract para ver que os sistemas nacionais de saude sao um factor menor na reducao das desigualdades na saude
mias, basta pensar que as doencas que matam mais na europa sao cronicas e incuraveis
um sistema de acesso 'a saude nao pode ter muitas repercussoes sobre isso (apesar das promessas da biomedicina), infelizmente...
por outro lado o estado social pode, como se sabe, reduzir as desigualdades economicas (e o caso da suecia e exemplar nao pelas politicas de redistruicao do rendimento atraves de impostos mas pela concertaco de niveis de salarios)
tiago moreira
Caro Tiago Moreira,
Na última frase do abstract pode ler-se: "These inequalities might be reduced by improving educational opportunities, income distribution, health-related behavior, or access to health care." (o negrito é meu)
E na discussão os autores afirmam ainda "Our results suggest that inequalities in access to good-quality health care have a role in generating inequalities in mortality." quando discutem o caso dos países da Europa de Leste onde as desigualdades têm maior impacto na mortalidade.
A questão das doenças crónicas e incuráveis é interessante, mas não me parece incoerente com o papel dos sistemas de saúde. O acesso a bons cuidados de saúde pode melhorar a qualidade de vida e aumentar a esperança de vida mesmo para as doenças crónicas e incuráveis, ou seja diminui as taxas de mortalidade devidas a essas doenças. Como este estudo dá grande peso à taxa de mortalidade é natural que detectem o acesso aos cuidados de saúde como factor relevante.
Por outro lado o factor que os autores dizem ter mais peso é o da consciencialização para os problemas de saúde, que é uma questão de educação, e aí também um bom sistema de saúde tem um papel importante. O sistema de saúde não é apenas necessário no combate à doença, mas também na medicina da prevenção. Parece-me portanto que um bom sistema de saúde pode diminuir o impacto das desigualdades socio-económicas na saúde.
Não quero com isto dizer que uma boa política de saúde possa substituir uma boa política de redistribuição dos rendimentos. Essa continua a ser essencial, independentemente até das questões de saúde. O sistema da saúde não substitui o Estado Social.
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