sábado, 6 de janeiro de 2007

A globalização falida

O modelo de globalização económica que tem imperado, assenta, em grande medida, numa premissa política que foi posta em prática em várias zonas do Mundo. A premissa de que o mercado livre e aberto é o melhor e o mais eficaz meio para o desenvolvimento económico. Instituições mundiais como o FMI, a Organização Mundial do Comércio e, até certo ponto, o Banco Mundial, não foram mais do que agentes no terreno deste postulado. Ao longo das décadas de 80 e 90, fomentou-se a liberalização e desregulação dos mercados (sobretudo os financeiros) em países com economias e sistemas políticos frágeis e recentes.
O resultado não podia ser mais claro. Em vez de promover o desenvolvimento esta política acabou por favorecer, por um lado, a corrupção das elites locais e, por outro, a acumulação de capital dos maiores grupos financeiros e económicos. Veja-se o que aconteceu em muitos países africanos, e em alguns países da Europa do Leste (nomeadamente a Rússia). Em contrapartida, os países que conseguiram bons índices de desenvolvimento foram precisamente aqueles que não cederam à atordoada liberalizante e fortaleceram e/ou reformaram certas instituições nacionais de carácter regulador.
Ao nível do comércio mundial fez-se a apologia da abertura das fronteiras livres de tarifas e impostos, que se impôs principalmente nos países mais pobres e fracos. No mundo desenvolvido os proteccionismos e os subsídios à produção não só não caíram, como se mascararam sob os feitiços da retórica liberal. Esta hipocrisia mundial, com a conivência da maior parte dos governos do Norte, tem provocado uma autêntica sangria nas já débeis economias subdesenvolvidas.
A generalização simultânea destes dois processos - liberalização financeira para todos e comércio livre só para alguns – teve como consequência o favorecimento dos interesses especulativos e o aumento do empobrecimento dos mais pobres. O Mundo tornou-se ainda mais assimétrico. E para muitos países a promessa de desenvolvimento económico e social não passou de uma miragem.
Duas décadas depois, podemos dizer que o mercado faliu para o desenvolvimento. Este não é a receita única. Pelo contrário, só em países com Estados relativamente estáveis e sólidos é possível encontrar mercados dinâmicos e equilibrados. Os mercados não podem continuar a ser encarados como um meio e um fim (em si mesmo) para o desenvolvimento. Esta foi a ideologia da direita liberal que falhou rotundamente.

2 comments:

AA disse...

hehehehe, sim, esqueçamos como chegaram à proposperidade os países prósperos, e o que está a acontecer na Ásia por exemplo :D

Renato Carmo disse...

Qual Ásia? Referes-te à China, à Coreia do Sul? Ou à Indonésia e às Filipinas?
A China é o exemplo mais paradigmático de desenvolvimento que não cedeu à receita liberalizante preconizada pelo FMI e seus pares. Por seu turno, a sua entrada na OMC foi acompanhada por uma política reformadora e planificada das instituições nacionais públicas. O Estado esteve sempre no comando.
Já o caso da Indonésia viu-se, com a crise financeira de 1998, como o tigre tinha afinal pés de papel.
No entanto, acho que nem um, nem outro caso, são exemplos a seguir.