O projecto liberal da direita é fundamentalmente de natureza económica. Neste sentido, ao apregoar-se a desregulação de todo o tipo de proteccionismos transforma-se o Estado no alvo principal de contestação. No entender da direita liberal, a liberdade individual só se concretiza plenamente por intermédio de um mercado livre despido das amarras perversas do Estado social. Tendo por base uma lógica meramente racionalista, a direita tende a confiar no indivíduo como um agente que toma a opção acertada perante a oferta e a procura. Por feitiços de uma tal 'mão invisível' as opções individuais são encaradas como o garante necessário para a auto-regulação do mercado.
Contudo, perante os valores, os indivíduos deixam de merecer a mesma confiança. Passa-se a não reconhecer as suas opções como uma tomada de posição consciente e eminentemente racional. Curiosamente, na questão dos valores, o Estado é encarado como um agente regulador que define as regras do jogo independentemente das vontades particulares. Assim, para a direita o primado da liberdade individual é uma concepção fundamentalmente materialista. Fora da mercadoria o indivíduo é reduzido a uma entidade irracional, imatura e destituída de senso. Esta postura de desconfiança relativamente ao direito da opção individual tem determinado, ao longo destas décadas, a posição da direita na campanha pelo ‘não’ à despenalização da interrupção voluntária da gravidez.
Contudo, perante os valores, os indivíduos deixam de merecer a mesma confiança. Passa-se a não reconhecer as suas opções como uma tomada de posição consciente e eminentemente racional. Curiosamente, na questão dos valores, o Estado é encarado como um agente regulador que define as regras do jogo independentemente das vontades particulares. Assim, para a direita o primado da liberdade individual é uma concepção fundamentalmente materialista. Fora da mercadoria o indivíduo é reduzido a uma entidade irracional, imatura e destituída de senso. Esta postura de desconfiança relativamente ao direito da opção individual tem determinado, ao longo destas décadas, a posição da direita na campanha pelo ‘não’ à despenalização da interrupção voluntária da gravidez.
No entanto, na presente campanha assistimos uma novidade: a utilização do argumento materialista para legitimar o voto contra. A opção em não aceitar a liberdade do outro é justificada pelo direito em não pagar a assistência médica de quem escolheu abortar. O acto de abortar é assim transformado numa mercadoria que se rege em função das mesmas leis mercantis de qualquer outro objecto. Paradoxalmente, a direita tenta impor a racionalidade materialista à liberdade de opção individual. O mercado passa a dominar tudo! Os valores (entre os quais o da liberdade) são reduzidos à simples lógica das contas. Este argumento é em si execrável e repugnante. Representa o esvaziamento de qualquer sentido de humanidade.
1 comments:
Eu sabia que me repugnava mas ainda não tinha deslindado exactamente os porquês. Obrigada por me ajudares a esclarecê-lo. Isabel
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