quinta-feira, 12 de abril de 2007

Deixem o homem explicar

O desempenho dos jornalistas, José Alberto Carvalho e Maria Flor Pedroso, deixou, hoje à noite, muito a desejar. É verdade que a sua tarefa não era fácil. Depois do silêncio - provavelmente demasiado longo - de Sócrates, todo o país estava de olhos postos na TV, e nenhum deles queria ficar na história como o "jornalista-que-estendeu-a-passadeira-vermelha-ao-primeiro-ministro" numa entrevista onde estava em avaliação muito mais do que o balanço de dois anos de governo.
Na parte relativa à Universidade Independente, a coisa não foi particularmente má: deixaram José Sócrates falar (para aqueles que acham que ele não respondeu a todas as suspeitas, então é porque contra suspeitas baseadas em insinuações fáceis que atacam directamente a honra pessoal, então a vítima não pode fazer muito mais jurar a pés juntos que "isso é, obviamente, mentira". Como é lógico, no fim deste exercício ficamos basicamente no mesmo sítio de onde começámos: a insinuação vale o que vale, e o desmentido vale o que vale. Acredita quem quiser, no que quiser. Para aqueles que, depois disto, acham que ele é um aldrabão, então o estrago está feito).
Mas foi na parte relativa ao desempenho económico que a agressividade jornalística veio ao de cima, e José Alberto Carvalho fez lembrar os saudosos tempos de Manuela Moura Guedes, conhecida por tentar intimidar o seu adversário, perdão, entrevistado, não o deixando falar. O problema, aqui, é que José Sócrates precisava mesmo de falar, de explicar, pedagogicamente, com calma e por A mais B porque é que o desempenho da economia é o que é, porque é que é muito difícil ser de outra forma, e porque não vale a pena estar aqui a pedir a política da varinha mágica. Mas os jornalistas não estavam interessados em saber porque é que coisas são como são, ou porque é muito difícil serem de forma bastante diferente: se calhar porque não percebiam a explicação, que estava ao nível da cadeira de 1º ano de macroeconomia (se Sócrates pedir uma equivalência, ainda lha dão). Ora, obrigá-lo a fazer promessas milagrosas de números de crescimento e de redução de desemprego sem ter minimamente em conta a fragilidade estrutural da nossa economia, o ponto de partida conjuntural deste governo há 2 anos atrás, e de como é difícil conseguir um crescimento à base das exportações (ou seja, não é o crescimento insuflado pela procura interna) enquanto se procede à redução do défice que foi efectuada não é muito sério.
Pode ser um display de agressividade e pode lavar algumas consciências, mas não é bom jornalismo, quanto mais não seja porque demonstra ignorância de alguns factos básicos.

2 comments:

Ricardo disse...

Viva Hugo,

Sobre a primeira parte da entrevista abstenho-me de comentar. Sobre os jornalistas, numa entrevista particularmente fraca, da parte de quem entrevistava e de quem foi entrevistado, achei que houve uma pergunta particularmente infeliz (para além da pergunta sobre a SONAE). A certa altura Maria Flor Pedroso sustentou que a mobilidade especial levava, eventualmente, ao desemprego. Uma jornalista que nem sabe do que está a falar, e pior, não procurou saber nem devia fazer perguntas sobre esse tema. E insistiu no erro...

Tenho escrito vários textos sobre o PRACE, suas vantagens e desvantagens, e procurei, antes de comentá-lo, percebê-lo. Se um jornalista não acha necessário saber do que está a discutir então nem o devia ser. Quero acreditar que foi um mero lapso.

Abraço,

Hugo Mendes disse...

Olá Ricardo, é verdade, esse(s) momento(s) foram particularmente infeliz(es). Mas demonstram bem o problema da ausência do trabalho de casa.

abraço
Hugo