Acreditem que até faço um esforço para não escreveu muito sobre Sarkozy, mas não é fácil, ele consegue sempre ir um bocadinho mais longe. Desta vez o homem decidiu falar sobre Genética, eu não podia deixar de escrever aqui qualquer coisa (disclaimer: sou geneticista de profissão). Acreditem também que não considero Sarkozy como fascista ou sequer próximo da extrema-direita. De direita, sim, uma direita autoritária, nacionalista, e que por estratégia eleitoral decidiu conquistar o eleitorado de Le Pen, mas isso não faz dele fascista. Talvez por isso, esta recente gafe da Genética seja bastante preocupante.
Numa longa entrevista dada ao filósofo Michel Onfray, para a revista "Philosophie Magazine", Sarkozy afirmou que a pedofilia é inata, e que os suicídios de jovens se devem a uma fragilidade genética (pode ler-se o excerto relevante da entrevista aqui). Claro que é algo dito no meio de uma conversa (algo crispada, conforme Onfray conta no seu próprio blog), talvez até retirada do seu contexto, mas é por isso mesmo muito reveladora. Não sendo uma tomada de posição política, refectida e programada, é uma gafe que certamente não estava nos apenas nos planos, mas por ser assim "expontânea", "natural" é mais que provavelmente aquilo que Sarkozy realmente pensa. Na sua visão das coisas o ser humano está geneticamente predestinado, determinado, condenado a ser pedófilo ou suicida, logo à nascença, está nos genes. Levanta-se logo a questão de saber o que mais acha Sarkozy ser determinado geneticamente; a agressividade?, a delinquência?, a criminalidade?, a inteligência?, e achará Sarkozy que esses determinantes genéticos são diferentes em "raças" diferentes?
A discordância não é, da minha parte, ideológica, é científica. Não recuso a priori que uma qualquer característica humana tenha uma forte componente genética por convicção ideológica. Simplesmente não há evidência científica nenhuma de que o suicídio ou a pedofilia sejam determinados geneticamente, pelo contrário tudo indica que o ambiente seja muito mais determinante. Se e quando houver alguma evidência em favor das causas genéticas a discussão pode e deve existir, no plano científico. Como seria de esperar as declarações de Sarkozy foram condenadas por diversos cientistas. Quando um candidato à presidência faz uma afirmação destas, está a trazer para o plano político uma questão que nem sequer foi resolvida no plano científico. Quando o faz sem qualquer suporte científico (bem pelo contrário), apenas por pura profissão de fé, está a revelar apenas uma coisa: preconceito.
Nunca esquecendo que foi Sarkozy quem lançou um projecto de lei que entre outras coisas preconizou a detecção de potenciais delinquentes a partir dos três anos (!), nunca esquecendo que Sarkozy tem uma visão racial dos problemas da banlieue - terá confidenciado a Thuram (ainda ele) que quem provoca disturbios nas banlieues são os negros e os árabes -, e é agora Sarkozy quem defende o determinismo genético, começa a traçar-se uma imagem muito inquietante do candidato à presidência.
Hoje em dia as novas teorias eugénicas já não se manifestam pela defesa da pureza e superioridade da raça (energúmenos neo-nazis à parte), mas por uma permanente justificação genética para todas as diferenças entre os individuos, sob uma capa pseudo-científica mais refinada. No fundo, a diferença não é assim tão grande.
Numa longa entrevista dada ao filósofo Michel Onfray, para a revista "Philosophie Magazine", Sarkozy afirmou que a pedofilia é inata, e que os suicídios de jovens se devem a uma fragilidade genética (pode ler-se o excerto relevante da entrevista aqui). Claro que é algo dito no meio de uma conversa (algo crispada, conforme Onfray conta no seu próprio blog), talvez até retirada do seu contexto, mas é por isso mesmo muito reveladora. Não sendo uma tomada de posição política, refectida e programada, é uma gafe que certamente não estava nos apenas nos planos, mas por ser assim "expontânea", "natural" é mais que provavelmente aquilo que Sarkozy realmente pensa. Na sua visão das coisas o ser humano está geneticamente predestinado, determinado, condenado a ser pedófilo ou suicida, logo à nascença, está nos genes. Levanta-se logo a questão de saber o que mais acha Sarkozy ser determinado geneticamente; a agressividade?, a delinquência?, a criminalidade?, a inteligência?, e achará Sarkozy que esses determinantes genéticos são diferentes em "raças" diferentes?
A discordância não é, da minha parte, ideológica, é científica. Não recuso a priori que uma qualquer característica humana tenha uma forte componente genética por convicção ideológica. Simplesmente não há evidência científica nenhuma de que o suicídio ou a pedofilia sejam determinados geneticamente, pelo contrário tudo indica que o ambiente seja muito mais determinante. Se e quando houver alguma evidência em favor das causas genéticas a discussão pode e deve existir, no plano científico. Como seria de esperar as declarações de Sarkozy foram condenadas por diversos cientistas. Quando um candidato à presidência faz uma afirmação destas, está a trazer para o plano político uma questão que nem sequer foi resolvida no plano científico. Quando o faz sem qualquer suporte científico (bem pelo contrário), apenas por pura profissão de fé, está a revelar apenas uma coisa: preconceito.
Nunca esquecendo que foi Sarkozy quem lançou um projecto de lei que entre outras coisas preconizou a detecção de potenciais delinquentes a partir dos três anos (!), nunca esquecendo que Sarkozy tem uma visão racial dos problemas da banlieue - terá confidenciado a Thuram (ainda ele) que quem provoca disturbios nas banlieues são os negros e os árabes -, e é agora Sarkozy quem defende o determinismo genético, começa a traçar-se uma imagem muito inquietante do candidato à presidência.
Hoje em dia as novas teorias eugénicas já não se manifestam pela defesa da pureza e superioridade da raça (energúmenos neo-nazis à parte), mas por uma permanente justificação genética para todas as diferenças entre os individuos, sob uma capa pseudo-científica mais refinada. No fundo, a diferença não é assim tão grande.
1 comments:
«uma permanente justificação genética para todas as diferenças entre os individuos, sob uma capa pseudo-científica mais refinada»
Tem toda a razão, um assunto a retomar no ladob
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