Um grupo de investigadores de Cleveland, Ohio, nos EUA, produziu uma estirpe ratinho transgénico com uma capacidade física fora do comum, conforme o artigo que publicaram a 9 de Novembro no Journal of Biological Chemistry (a imagem ao lado é a capa do número da respeitada revista científica em que o artigo foi publicado). O dito transgénico, como é normal, tem um nome esquisito: PEPCK-Cmus. O PEPCK-Cmus contém nos seus músculos níveis muito mais elevados do que o normal de uma enzima envolvida na produção do açucar glucose (a Fosfoenolpiruvato Carboxiquinase, ou PEPCK para os amigos). Neste caso essa produção de glucose é feita essencialmente transformando gordura em açucar, que depois pode ser utilizado como fonte de energia. O resultado é que os ratinhos PEPCK-Cmus tem uma actividade muito superior aos animais controlo (sete vezes mais activos), conseguem correr distâncias até 6km, quando os controlos correm 200m (ver o filme abaixo), comem 60% mais embora tenham metade da massa corporal e um décimo da gordura. Até aqui, embora a performance seja impresssionante, não é propriamente inesperado que aumentando a respiração celular nos músculos, devido à maior abundância de açucares, aumente a capacidade física. Bastante mais supreendente é a descoberta que estes transgénicos têm também uma longevidade bastante superior aos controlos. Até aqui toda a investigação em envelhecimento indica que quanto maior e mais intensa for a actividade, quanto mais calorias forem queimadas, mais rápido é o envelhecimento. Vai ser interessante ver as consequências destes resultados na estudo do envelhecimento. Outro aspecto surpreendente (ou nem tanto) é o sentido do humor dos investigadores, como se pode ver não só na capa da revista mas também no vídeo que foi colocado on-line juntamente com o artigo.
sexta-feira, 16 de novembro de 2007
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3 comments:
Olá, Zéd.
É bem possível que os investigadores em questão não pretendam utilizar os resultados dessas pesquisas para "melhorar geneticamente as pessoas", mas duvido que a Medicina Esportiva e, principalmente, a indústria farmacêutica não se valham dessa descoberta para desenvolverem algum tipo de droga que potencialize a capacidade física natural de atletas. Acredito que seria um tipo de doping impossível de ser detectado por exames laboratoriais.
Aqui há uns tempos ouvi falar de uma coisa de efeitos semelhantes mas na área da nanotecnologia. Respirócitos, substitutos dos góbulos vermelhos. Basicamente aumentariam o volume de oxigénio disponivel no sangue.
Importante para anemias crónicas, ou para repor niveis em caso de hemorragias graves, por exemplo. Mas se chegarem a ser desenvolvidos aposto que é antes por permitirem sprintar durante 15 minutos, ou estar debaixo de água durante 4 horas, apenas por hiperventilação.
Viva Manolo,
No Le Monde fizeram uma notícia sobre este artigo e falavam precisamente da possibilidade de se utilizar este conhecimento para desenvolver novas formas de dopping. Uma possibilidade seria fazer uma espécie de terapia génica, mas não só a terapia génica não está ainda suficientemente desenvolvida (daqui a uns anos talvez esteja) como nesse caso seria sempre possível de detectar por análises, quanto mais não seja fazendo biópsias. A possibilidade de desenvolver novas drogas como referes é bem mais plausível. Pode também usar-se esta descoberta para melhorar os métodos de treino ou os regimes alimentares de modo a melhorar de forma legítima a performance dos atletas. Mas o mais provável é o avanço da investigação se faça tanto nas áreas lícitas como nas ilícitas.
Caro L. Rodrigues,
Nunca tinha ouvido falar dos respirócitos, mas parece-me uma descoberta bastante interessante. E concordo que, se essa investigação avançar há-de ser tanto por boas razões como por más (mais uma vez).
Cabe aos investigadores terem um comportamento ético, mas também (sobretudo?) aos poderes públicos cabe zelar para que os resultados da investigação - que é feita à partida para melhorar o nosso modo de vida - não sejam mal utilizados.
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