sexta-feira, 30 de novembro de 2007

Marioladas

Queixava-se Vasco Pulido Valente (há já uma semana) do esquecimento com que a Guerra Peninsular tem sido tratada no nosso país. De que não ocupa um grande lugar na «imagem heróica» do país, de que só a Monarquia e o Exército se lembram de a comemorar.
É uma opinião. Mas o pior é que perante tal lacuna, o cronista desata a lamentar-se por já ninguém ler as obras de Arnaldo Gama: o Segredo do Abade e o Sargento-Mor de Vilar. Este último é um livro que, alguns anos depois de o ter lido, recordo com enfado. A prosa romântica, já de segunda geração, enredada em descrições do povo portuense, sempre entre a turba amotinada e os «espíritos sãos» e nos amores de Luís Vasques com Camila de Vilalobos, que passa a vida a estremecer de sensibilidade e a comer caldos, é de modo a desanimar o maior entusiasta do desastre da Ponte das Barcas.
«- Que é isto? Que mariolada é esta, pelo inferno!
- Os francezes! Os francezes!»
Gama, Arnaldo – O sargento-mór de Villar. Lisboa: Empresa Lusitana Editora, [s.d.]. p. 124.
Imagem: Arnaldo Gama (1828-1869)

1 comments:

Daniel Melo disse...

Só tu, Sofia, para te lembrares de ir limpar o pó a este arremessos de literatura...
e, ainda por cima, cruzando-o com os delírios actuais...