O título, emprestado da ficção científica, é o que melhor resume o que sentem os personagens de Kazuo Ishiguro e é essa característica que me faz seguir a sua obra.
Não que tenha saído um novo livro, mas terminei há pouco Quando éramos orfãos, (comprado, na feira, a 5 € no monte de saldos da Gradiva, que o nosso mercado editorial tem destas coisas), e, novamente, para além das memórias e da viagem (interior) do personagem, lá estava a estranheza, desta feita de um improvável detective inglês em Xangai dos anos 30, mas que também pode ser de um mordomo numa casa senhorial inglesa, no seu romance mais conhecido, Os despojos do dia, ou até de um grupo de clones, no recente Nunca me deixes.
E é o mesmo desconforto existencial que perpassa na sua narrativa, até já não haver lugar para o humano, e que engloba toda as relações sociais, da família ao emprego, mas sobretudo as relações afectivas, como se aí residisse a essência da compreensão do que é o humano, mas que está, naturalmente, vedada a personagens que se remetem para uma auto-contenção permanente.
Ignoro se este traço provém de ecos autobiográficos do escritor nascido no Japão, Nagasaqui, mas que vive em Inglaterra desde os seis anos e que tem como objectivo escrever romances internacionais e, portanto, desde logo gerados para além do que cada um consegue identificar como familiar ou próximo.
*HEINLEIN, Robert A. - Um estranho numa terra estranha. Europa-América.
2 comments:
o título é, na origem, uma citação bíblica. procura o exodus 2:22 numa bíblia em inglês...
Obrigada, não sabia a origem bíblica. Não tenho bíblia inglesa, mas, sim, nas portuguesas cá de casa entre «imigrante», «residente»
«terra alheia» e «terra estrangeira», o sentido é o mesmo.
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